Vacina Maré é pioneirismo em ciência na favela

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Pesquisa realizada após a vacinação em massa dá suporte a estudos sobre a eficácia da vacina, as variantes do coronavírus e os efeitos da doença a longo prazo 

Por Luciana Bento* 

A campanha #VacinaMaré, que teve início no fim de julho de 2021, foi um marco no combate à covid-19 no território. Com a imunização de um alto percentual de moradores em tempo recorde, a Maré se tornou o local ideal para o Vacina Maré, levantamento de dados para uma série de importantes estudos que têm auxiliado no enfrentamento ao coronavírus no mundo.

Liderado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com a Redes da Maré e a Prefeitura do Rio, a pesquisa dá suporte a estudos que tratam da eficácia da vacina, de variantes do coronavírus e dos efeitos da doença a longo prazo (a chamada covid longa, doença já reconhecida e classificada pela Organização Mundial da Saúde).

No entanto, este não é um processo simples. Afinal, cerca de duas mil famílias moradoras da Maré (mais ou menos 6.500 pessoas, incluindo crianças) precisam ser monitoradas ao longo de pelo menos dois anos. 

É aí que entra a equipe de mobilizadores e articuladores, em sua maioria moradores do território, que atua em conjunto com os agentes comunitários de saúde (ACS) ligados às clínicas da família. Batendo de porta em porta, eles fazem o trabalho de esclarecer os moradores sobre o andamento do Vacina Rio e de convidá-los a coletar sangue e responder a entrevistas. 

A articuladora Elizabeth Gonçalves, de 34 anos, moradora de Rubens Vaz, faz parte dessa equipe. Ela busca participantes da pesquisa por meio de visitas domiciliares a moradores que ainda não se apresentaram para a segunda coleta de sangue visando o exame sorológico (a primeira foi feita em 2021). “Por mais que as pessoas não entendam a metodologia da pesquisa, elas compreendem a importância de um estudo como este da Fiocruz acontecer aqui”, explica. 

Para Elizabeth, que é estudante de Geografia, ter uma equipe formada por moradores é fundamental não só pelo conhecimento do território, como pela proximidade com as pessoas e compreensão da realidade da favela: “A Maré reúne 16 favelas distintas, com suas culturas e peculiaridades, e ter pessoas com sensibilidade para entender estas características é um grande diferencial, principalmente para o sucesso da pesquisa.” 

Uma das participantes acompanhadas pela articuladora é a dona de casa Helena Maria Gomes da Silva, de 67 anos. Moradora do Parque União, ela teve contato com a pesquisa durante a campanha #VacinaMaré e resolveu aderir.

“Fiquei muito tempo afastada dos netos durante a pandemia e, graças à vacina, a situação está mais calma e já posso conviver com minha família e os amigos. Este estudo é importante pra saber se a vacina vai continuar protegendo a gente; por isso estou participando dele”, conta.

Ela observa o que o cenário epidemiológico já mostrou: “Depois que a vacina contra a covid foi distribuída você não vê mais ninguém internado e nem morrendo. Se acontece ainda é com pessoas que não estão se vacinando. Aqui em casa coloco todo mundo pra vacinar. É filho, é nora, é marido… Levo todo mundo!” 

Parcerias fundamentais 

Além dos mobilizadores, os agentes comunitários de saúde (ACS) atuam no esclarecimento de moradores e na coleta de material para o teste sorológico. A parceria com a Secretaria Municipal de Saúde é fundamental para o andamento do estudo, já que as clínicas da família (referência em saúde para os moradores) tem capilaridade no território. 

A técnica de enfermagem Daniele Brito, de 40 anos, moradora da Nova Holanda, trabalha na pesquisa e é agente de saúde. Ela considera especial o fato de a pesquisa acontecer na Maré: “É a única favela do Brasil que tem uma pesquisa desse porte; isso já diz muito sobre a importância do estudo.”  

Para ela, trabalhar no combate ao coronavírus e ajudar na proteção dos moradores tem um significado ainda mais profundo. “Perdi um tio logo no início da pandemia, em abril de 2020. A esposa de outro tio faleceu na semana seguinte. Em 2021, meu irmão e minha cunhada foram internados no CTI, eu tive covid, minha filha teve, minha família toda foi contaminada… Foi bem difícil”, desabafa. 

Segundo Daniele, “a covid deixou em mim marcas muito fortes, então me sinto lisonjeada de trabalhar na pesquisa, em algo que vai beneficiar não só a comunidade, como as pessoas de todo o mundo”. 

Convidada a participar do estudo também durante a campanha #VacinaMaré, a técnica de enfermagem Roberta Gomes, de 40 anos, moradora da Nova Holanda, percebe que a pesquisa, por acontecer em uma favela, abrange pessoas que não teriam acesso a estudos como esse: “É algo que beneficia todo mundo, estou muito feliz de participar.” 

Com 19 anos, a estudante do Parque União Kaylane Evelin Alves é um exemplo de como a covid preocupa pessoas de todas as idades. Convidada pela madrasta a participar da pesquisa, ela tem achado a experiência interessante: “Eu nunca vi esse tipo de trabalho científico por aqui;  é um movimento que incentiva a tomar vacinas, e não só contra a covid, como outras doenças também.” 

*Colaboração de Carolina Dias

Foto: Gabi Lino

Faz parte da pesquisa ou conhece alguém que faça? 

É hora da segunda coleta de sangue!

– Vá a uma unidade de saúde ou ao Galpão Ritma (Rua Teixeira Ribeiro, 521 – Parque Maré) de segunda a sexta, das 9h às 16h

– Mande sua dúvida para o  WhatsApp: 99924-6462 

Quer saber mais sobre a pesquisa? 

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