Vamos conhecer a cara atualizada da Maré

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Coleta de dados domiciliar do Censo Demográfico do IBGE  começa em agosto em todo Brasil

Por Hélio Euclides em 15/08/22 às 07h

“Até o IBGE passou aqui e nunca mais voltou. Numerou os barracos, fez uma pá de perguntas…”. Esse é um fragmento da música Homem na Estrada, composta por Mano Brown, líder do Racionais MC’s. No site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Melissa Ronconi, professora da Fundação Instituto de Educação de Barueri discordou do cantor. “Se o Mano Brown tivesse esperado dez anos, o IBGE teria voltado”, diz. Contudo, esta edição demorou um pouco mais para acontecer devido a pandemia, em 2020, e por falta de orçamento em 2021. 

A Maré não vai ficar de fora: é primordial receber bem os profissionais responsáveis pela coleta de dados, fundamentais para a compreensão do cenário atual e a formulação de políticas públicas para melhorar a qualidade de vida da população. 

O levantamento de informações vai atingir 89 milhões de endereços, sendo 75 milhões de domicílios (215 milhões de habitantes) nos 5.568 municípios do Brasil. O Censo 2022 será a principal fonte de referência para o conhecimento das condições de vida da população. 

O recenseamento é uma das mais complexas e grandiosas operações estatísticas: precisa cobrir um território de mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados para retratar as condições de vida dos brasileiros e imigrantes que vivem no país. O registro de dados é feito via dois tipos de questionário: o ampliado ou da amostra, com 77 perguntas, que será aplicado em 11% dos domicílios do país; e o questionário simplificado ou básico, com 26 perguntas, a ser preenchido nos restantes 89% dos domicílios.

Retrato populacional

Além da contagem de população, o censo mapeia e identifica como são oferecidos os serviços de abastecimento de água, coleta de esgoto e de lixo, e fornecimento de energia elétrica. Mostrar as características geográficas é fundamental para conhecer as singularidades do território e monitorar as mudanças ao longo do tempo. Em 2022, o Brasil completa 150 anos de história de recenseamentos. O primeiro censo foi realizado em 1872, contabilizando 9,9 milhões de habitantes. 

O questionário básico traz os seguintes blocos de perguntas: identificação e características do domicílio, informações sobre moradores, identificação étnico-racial, registro civil, educação, rendimento do responsável pelo domicílio, mortalidade e dados da pessoa que prestou as informações. Já o questionário da amostra, além dos blocos contidos no questionário básico, investiga também trabalho, rendimento, nupcialidade, núcleo familiar, fecundidade, religião ou culto, pessoas com deficiência e autismo, migração interna e internacional, e deslocamento para estudo e para trabalho. O tempo médio para o preenchimento dos dois tipos de questionário é de 5 e 16 minutos, respectivamente.

Os recenseadores podem ser identificados pelo uniforme: colete, boné, crachá e computador de mão. É possível confirmar a identidade do profissional no site respondendo.ibge.gov.br ou pelo telefone 0800 721 8181. Serão visitados todos os domicílios do país; qualquer morador, acima de 12 anos e capaz de preencher os questionários, pode responder ao recenseador. 

Levantamento de informações vai atingir 89 milhões de endereços, sendo 75 milhões de domicílios nos 5.568 municípios do Brasil – Foto: Helena Pontes

Um raio X do Censo

O especialista em demografia e geografia Ricardo Dagnino lembra que o censo é apenas uma das muitas pesquisas realizadas pelo IBGE. Entre 2002 e 2004 ele trabalhou na fundação como agente de pesquisa para avaliar o desemprego nas periferias de Porto Alegre, especificamente nas vilas, como são conhecidas as favelas no Rio Grande do Sul. “O meu trabalho era sem falhas, pois era fiscalizado por supervisores. Isso mostra que as informações coletadas são verídicas e exatas”, conta.

Atualmente professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ele aponta que o país está “dois anos atrasado, por vários fatores, mas principalmente pelo corte de verbas. Outro erro surgiu em 2019, quando o governo federal começou um processo de desinformação e descrédito das instituições, incluindo o IBGE. Isso é assédio institucional. O IBGE é reconhecido mundialmente por realizar um trabalho sério”, diz. Segundo ele, o censo é praticamente uma operação de guerra, com grande logística para atender todo o país. 

Uma apreensão é o medo da violência, que pode prejudicar o recenseador. “Uma meta é sensibilizar os síndicos e garantir que o recenseador esteja bem identificado, com uso de bonezinho, crachá e colete. Nunca tive problema nas favelas, que recebem bem o recenseador. Quando atuei, era chamado para entrar e tomar um cafezinho. No condomínio é diferente, não passava da porta e perguntavam se iria demorar”, comenta. Ele garante que trabalhar como recenseador é uma escola, pois aprendeu como se aproximar das pessoas. Ele se identifica como um ibgeano.

O resultado final do censo vai contribuir para que as políticas públicas, como saneamento básico, vagas nas escolas e a mobilidade urbana cheguem na favela de forma mais qualificada. Os indicadores vão servir para identificar onde há necessidade pelos serviços oferecidos. 

“Vai ser como calibrar um pneu, para que fique cheio e sem risco de acidentes. Será possível ver o número alto da desigualdade social. Espero que o censo mostre a realidade. Chega de esconder como vem acontecendo”, diz o ex-recenseador. Segundo Ricardo, um resultado aguardado é o número maior de pessoas autoidentificadas como negras, resultado de um trabalho de reafirmação. 

O Censo Demográfico na Maré

O censo chegou com plena força na Maré. Em julho ocorreram a observação do espaço urbano e o mapeamento. Agora é a vez da coleta de dados domiciliar. Na Maré foram montados dois postos de coletas, um na Nova Holanda e outro na Vila dos Pinheiros, funcionando de segunda a sexta, das 8h às 17h, nos prédios da Redes da Maré. São 120 recenseadores divididos em 11 equipes, com 90% de supervisores residentes da Maré.

Alguns moradores já estão ansiosos para responder os questionários — um deles é Douglas Oliveira, morador da Nova Holanda: “O censo qualifica o olhar e traz a sensibilidade do local. É possível, através dele, perceber as necessidades das comunidades. O censo fortalece as políticas públicas, pois agrega a elas a precisão dos dados.” É possível também encontrar mareenses com dúvidas. “Ainda estou por fora do censo. Não sei se as respostas que dou ajudam ou não o Brasil”, conta Luzinete da Silva, moradora do Parque Maré.

Um recado importante do IBGE: o órgão tem o compromisso de não vazar dados pessoais — eles são sigilosos e informá-los ao recenseador é totalmente seguro. “Este ano, na opção ‘renda familiar’, se desejar o morador vai poder digitar o número para que nem o recenseador saiba o valor informado. Outra novidade é que além do recenseador ser identificado pelo uniforme, quem tiver dúvida também poderá verificar, pelo QR Code do crachá, as informações do funcionário”, explica a coordenadora censitária da Ilha do Governador e Maré, Paola Costa.

 “É bom lembrar que este ano também é de eleição, mas não há políticos envolvidos no nosso trabalho. O resultado vai ajudar nas políticas públicas e na defesa de direitos básicos. Os desafios são os mesmos das outras edições: fazer com que as pessoas passem as informações corretamente. Para isso, pedimos o apoio da população”, pede Edson Passos, substituto de chefe de área. 

Segundo ele, o recenseador que não encontrar o morador em casa voltará outras vezes. A previsão é que a coleta de dados seja encerrada em três meses, mas esse prazo poderá ser estendido até dezembro.

Censo já começou em julho, foi realizado mapeamento no território – Foto: Cal Guimarães
Censo em números:
Investimento de R$ 2,3 bilhões, equivalente a R$ 13,59 por pessoa
População de cerca de 215 milhões de pessoas
São 211 mil pessoas contratadas
Aproximadamente 89 milhões de endereços
Sendo 75 milhões de domicílios a serem visitados
Utilizando 183.538 Dispositivos Móveis de Coleta (DMC)
Um total de 6.044 postos de coleta
São 1.444 coordenações regionais ou subáreas
Gerenciadas por 566 agências do IBGE ativas

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