Congresso na Maré promove debate entre candidatos

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Aspirantes ao cargo de governo do RJ discutem sobre o território periférico

Por:  Hélio Euclides e Andrezza Paulo *aluna do Laboratório de Formação em Jornalismo do Maré de Notícias 

Editado por: Jéssica Pires e Jorge Melo

A programação do 1º Congresso Internacional Falando Sobre Segurança Pública na Maré que aconteceu na última semana, entre os dias 10 e 12 de agosto, foi finalizada com um debate reunindo os candidatos ao governo do Estado. Estiveram presentes Paulo Ganime, do Partido Novo; Cyro Garcia, do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU); Marcelo Freixo, do Partido Socialista Brasileiro (PSB); Juliete Pantoja, do Unidade Popular (UP). O debate teve a mediação de Edu Carvalho (escritor e jornalista do Maré de Notícias).

Todos que chegavam ao Centro de Artes da Maré para o debate acompanhavam uma exposição de cartolinas, todas contendo desenhos que mostravam a temática da Segurança Pública na Maré, feitas por alunos da Escola Municipal Primário Erpídio Cabral de Souza (Índio da Maré) e do projeto Primeira Infância, da Redes da Maré. Os trabalhos foram feitos no 1º Congresso Falando sobre Segurança Pública com Crianças e Adolescentes da Maré, realizado na terça-feira (09/08), na Lona Cultural Municipal Herbert Vianna, na Nova Maré.  

Foram também adolescentes (Douglas Antonio, Gabriela Barros, Marcos Vinícius, Vitória da Silva e Vitória Carvalho) que participaram do congresso que apresentaram oito propostas para Segurança Pública na Maré para os candidatos:

  1. O uso de câmeras e sistema de posicionamento global (GPS) nas operações policiais das favelas.
  2. Que o Estado arque com algum prejuízo que moradores tenham em virtude de operações policiais. 
  3. Que a corporação não julgue os policiais, com corporativismo. Policial não pode julgar policial. 
  4. Um treinamento humanizado para os policiais, para um respeito ao morador.
  5. Um trabalho que fiscalize a entrada de armas nas fronteiras.
  6. Construção de um plano de redução da letalidade nas operações policiais.

Um debate sobre a favela

Após o sorteio da ordem de respostas, os candidatos participaram do debate que foi dividido em três blocos, com uma pergunta da organização do congresso, outra do representante do Fórum Basta de Violência Outra Maré é Possível e duas do público. Os questionamentos eram referentes às propostas para a favela, à violência, o conselho de segurança pública, à letalidade, à criminalidade e à juventude. No meio do debate, a candidata Juliete Pantoja precisou se ausentar para compromissos e foi substituída por sua vice, Juliana Alves. 

O Maré de Notícias, que colaborou com a produção e organização do debate junto à equipe do congresso, fez o convite a todos os candidatos ao governo do estado, via assessores. Assessores do atual governador do estado, Cláudio Castro, não responderam ao convite. O candidato Rodrigo Neves confirmou a participação, também via equipe, que na véspera do debate informou sobre a impossibilidade de participação do candidato.

Foto: Gabi Lino | Edu Carvalho, jornalista do Maré de Noticias, foi o responsável pela mediação do debate

Para Edu Carvalho, o debate é o fortalecimento da democracia. “Temos um território que na verdade é penalizado todos os dias pela democracia ou pela falta dela. Quando a gente tem, um dia antes do debate, um acontecimento como uma operação, a gente vê que é nesse lugar que o debate precisa ser feito compreendendo todos os candidatos ao Governo do Estado”, comenta. Ele acrescenta que é importante o reconhecimento e a garantia dos direitos plenos aos cidadãos que moram nesses territórios, favela ou periferia.

O eleitor Matheus Henrique, de 16 anos, vai votar pela primeira vez. O jovem gostou do debate que apresentou boas propostas. “Foram propostas para a favela. Uma pena que não falaram tanto sobre esporte, pois aqui tem muitos atletas bons, que ninguém sabe que existem, não tem o reconhecimento”, conta. Luize Sampaio, de 25 anos, participou do congresso e analisa que depois das discussões que ocorreram nas mesas, foi bom encerrar com um debate. “Foi a oportunidade de discutir olho no olho e de igual para igual sobre segurança pública, e as propostas que eles têm para população do território”, expõe. 

Veja abaixo propostas dos candidatos: 

Paulo Ganime: “Participamos de um debate dentro da favela para ouvir a população, não só para falar. Fui a 89 municípios do estado para ver a realidade. O Estado precisa estar próximo as pessoas, para que volte a acreditar no governo. A educação é fundamental, com escolas profissionalizantes, com jovens qualificados. Vamos ajudar o ensino fundamental dos municípios, com gratificação e incentivo ao estudo em tempo integral e boa alimentação. É preciso qualificar a polícia, com tecnologia, inteligência e integração, para que os bandidos sejam presos. Todas as secretarias impactam na segurança pública. Não só a polícia deve ocupar os territórios, mas todos os serviços. Na federação somos o 20º colocado na educação e o 17º em gerações de soluções, é preciso enfrentar a ausência do Estado, para que tenhamos dignidade”. 

Marcelo Freixo: “É preciso ter um olhar para a favela, um lugar de vida, de potência e não de crime. Eu vou criar uma moeda social, e a Maré vai ser o primeiro lugar a ser implantada. Não vai haver outro Brasil, se a democracia não vier da favela. O Estado precisa ser parceiro dos projetos existentes. Duas propostas são a melhoria do sistema de regulamentação (Sisreg) e a educação em tempo integral. Não podemos aceitar a evasão escolar e a necessidade de uma mãe da Maré precisar pagar uma explicadora, muitas vezes após perder o seu emprego na pandemia. Sobre segurança, é preciso a redução dos índices de violência, reativar o conselho e ter uma polícia eficiente, treinada e próxima a população. É necessário entender que as maiores apreensões de armas não foram na favela e sim no aeroporto e em mansão”.

Cyro Garcia: Não podemos aceitar que o governo esteja presente na favela só em operação, como fez na quinta-feira (11/08) na Maré. A população espera educação integral, cultura, esporte, oportunidade de emprego, saúde de qualidade e urbanização. Sou a favor da descriminalização das drogas. A violência do Estado tem a desculpa do combate às drogas e às armas. Defendo uma polícia unificada, com salário digno que tenha respeito pela população. Se existe bandido na favela, ele precisa ter um julgamento justo. A participação popular é primordial, com eleição até para escolha de delegados. Com a população no governo será possível saber as políticas públicas necessárias. Sou a favor da democracia, não a dos ricos e poderosos, mas a que tem a favela inserida”.

Juliete Pantoja: “Defendemos uma reformulação da política no Estado, sem comprometimento do orçamento com dívidas federais e internas, que retiram a autonomia. Penso na criação de um banco estatal público que traga perspectiva para a juventude. Sou a favor do passe livre e do auxílio permanência nas escolas para os jovens. Investir firme na saúde e educação. Defendemos a desmilitarização. A política de segurança pública é desastrosa e assassina. É preciso reformular a polícia, com inteligência, algo que a civil não faz, pois não há soluções de casos. A verdadeira segurança pública tem que ter o negro e a favela no poder. Acredito no conselho deliberativo. Tem que ter o voto popular, não só nesta eleição, mas em ações do governo, como a privatização da Cedae, que a maioria da população é contra”. 

Os candidatos fizeram declarações para o jornal Maré de Notícias:

Paulo Ganime: “O debate foi importante por incluir a população na administração estadual. É preciso que o governador entenda que a favela tem muita coisa boa e trabalhos de referência que servem de exemplos para os nossos jovens. O governador precisa conhecer os espaços e suas necessidades”.

Marcelo Freixo: “Sempre estive presente nas favelas e nos movimentos sociais. É bom destacar, que aqui na Maré não venho só em tempo de eleição, como outros políticos. Um debate na favela é uma oportunidade para olhar para a população e falar de políticas públicas para o território”.

Cyro Garcia: “É diferenciado pois é um debate de ideias para a favela. Num lugar onde há ausência de uma política de segurança. Hoje temos uma polícia que criminaliza o pobre, realizando um genocídio contra o negro e a juventude. São operações que deixam as crianças sem aulas. Como lá na frente esse jovem vai competir com um aluno de uma escola privada?”.

Juliete Pantoja: “Nós somos a única candidatura de mulheres. Não conseguimos participar do debate da televisão para mostrar as nossas propostas. Aqui foi o lugar do debate para a população, isso é democracia. Nossa candidatura é uma adesão profunda ao enfrentamento desse sistema que prejudica as pessoas”.

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