Velhice não é doença: confira opções de atividades para a terceira idade na Maré

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Idosos mostram que envelhecer não é motivo para deixar de viver

Por Hélio Euclides e Letícia Moser 

No fim de 2021, a Organização Mundial de Saúde (OMS) desistiu de classificar a velhice como doença. O órgão recuou por conta da pressão de organizações científicas e da sociedade civil, que apresentaram o argumento óbvio: velhice não é doença. Especialistas apontam que esta fase não é diferente das outras: para vivê-la bem é preciso apostar em atividades físicas, cursos, lazer e diversão. Mas nem sempre é fácil achar espaços que acolham quem envelhece, mas continua muito vivo. 

A Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro criou o Programa Academia Carioca, sob responsabilidade do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf). Uma ação desse grupo acontece na Clínica da Família Ministro Adib Jatene, na Vila dos Pinheiros. Criado há seis anos por Leonardo Borges, profissional de educação física do programa, o Grupo Artes Saúde Senhoras da Maré reúne 14 pessoas que mostram jovialidade nas criações manuais. 

Elas fazem gorros, brincos, mamas de alpiste (um tipo de prótese caseira para mulheres que retiraram os seios), pulseiras, fuxicos e máscaras de dormir — tudo é destinado a pacientes internados no Instituto Nacional de Câncer (Inca) e no Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), entre outros centros médicos.

A mascote do grupo é Iranice Guedes, de 56 anos: “Me aposentei e comecei a trabalhar aqui com o grupo. Posso dizer que isso foi o melhor para minha vida.” Outra que elogia a atividade na terceira idade é Creusa Ricardo da Silva, de 81 anos. “Antes só ficava em frente à televisão, comendo e engordando. Mudei de vida quando comecei a frequentar atividades como esta e outras direcionadas para a gente”, diz.

Outro local com atividades do Programa Academia Carioca é Marcílio Dias. Bruno de Moraes é o profissional de educação física responsável pelas atividades. Médicos do Centro Municipal de Saúde João Cândido são parceiros do projeto, e orientam a prática ideal de exercícios para hipertensos, diabéticos, quem tem problemas na coluna e joelho, quadro de ansiedade e depressão. 

As atividades ajudam a controlar o nível de colesterol, aumentar a autoestima e cuidar do bem-estar geral trabalhando não só o corpo, como também a mente. “Ainda realizamos atividade de auriculoterapia (uma prática da medicina tradicional chinesa), que usa sementes de mostarda aderidas à orelha. Esse tratamento serve para amenizar dores no corpo e ansiedade”, explica.

 É importante não parar

Projeto criado pela Secretaria Municipal do Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida, o Vida Ativa atende pessoas a partir dos 40 anos. Na Maré são dois núcleos: um na Vila do Pinheiro e outro na Vila do João. O projeto oferta atividades físicas, profiláticas, sociais, culturais, educativas e integrativas, e busca a melhoria e a manutenção da independência funcional dos seus participantes, bem como o aumento da sua capacidade cognitiva e o incremento das relações sociais. Cada núcleo é formado por uma equipe de cinco profissionais para atender os 180 inscritos. 

Para Georgina Silva, de 65 anos, estar em grupo ajuda na formação de amizade e na saúde: “Com a ginástica, diminuíram as dores do corpo e sinto que fez bem para minha mente; me estimulou a caminhar e desfilar em escolas de samba. Na nossa idade é bom não ter excesso de peso.” Segundo ela, o projeto é “mais um motivo para se movimentar e não ficar parada. Sinto que a comunidade precisa de mais espaços como este”. Ela só reclama da falta, na Maré, de mais espaços de lazer para a terceira idade, como locais de noite dançante. 

O Vida Ativa vai além da ginástica: ele promove passeios em lugares como a Feira de São Cristovão e o AquaRio. “Amo o que faço, pois aprendemos com os integrantes. São três horas que não considero trabalho e sim, uma atividade na qual me divirto com a alegria de quem participa”, diz Natália Campos, que integra o Vida Ativa

Já o Esporte Presente, do governo do Estado em parceria com a Associação de Moradores do Rubens Vaz, leva ginástica para cerca de 45 alunos. Flávio Alves é o professor de educação física do projeto: “Há idosos que não têm atenção, que não têm com quem conversar e brincar. Aqui, além do corpo, estimulamos a questão da memorização. Eles nos procuram com o intuito de diminuir o peso, o que acarreta a queda na taxa de colesterol e da pressão arterial. O resultado final é menos remédios e o aumento da autoestima.”

Projeto vai além das atividades nas quadras e promove passeios em lugares como a Feira de São Cristóvão – Foto: Matheus Affonso

 Mais uma etapa

É importante ressaltar que envelhecimento não é sinônimo de incapacidade e dependência. “Esse é o melhor público para se trabalhar, que reconhece o trabalho, que chora e ri comigo. Descarregam a emoção e sabem das minhas dificuldades. Lembram de datas especiais como Dia do Professor e o meu aniversário. Faço este trabalho de coração”, conclui.  

A terceira idade é um período de grandes transformações para o indivíduo. Essa transição pode trazer um sentimento de solidão, um aumento no impacto do isolamento na saúde mental. Um grupo de pesquisadores da Universidade de York, na Inglaterra, divulgou um estudo indicando que a solidão e o isolamento social podem aumentar o risco de doenças cardíacas em 29% e o de acidentes vasculares em até 32% — isso tudo decorre do aumento da pressão e dos níveis de colesterol, da diminuição na capacidade cognitiva e do agravamento de quadros depressivos.

A sociedade precisa ter um olhar diferenciado para essa faixa etária da população. Ela aumentou em 4,8 milhões de habitantes desde 2012, superando a marca dos 30,2 milhões em 2017, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As mulheres são maioria expressiva, com 16,9 milhões, num total de 56%, enquanto os homens idosos são 44% (13,3 milhões). De acordo com o último Censo Demográfico de 2010, na cidade do Rio de Janeiro 14,9% da população é de pessoas na terceira idade — é segunda capital mais idosa do país.

A Constituição Federal assegura, no Artigo 230, o direito das pessoas que envelhecem: família, sociedade e Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida. 

Para isso, é necessário que existam políticas públicas que garantam a qualidade de vida dos idosos, e isso inclui a prevenção de doenças mais recorrentes (e fatais) a partir dos 60 anos. De acordo com o Ministério da Saúde, 25,1% dos idosos são diabéticos, 66,8% têm excesso de peso, 18,7% são obesos e 57,1% sofrem de hipertensão — doenças que são responsáveis por mais de 70% das mortes do país.

Atividades e locais

  • Grupo Artes Saúde Senhoras da Maré — Terças e quintas, das 14h às 15h30. 
  • Envelhecimento Ativo — oferece serviços de fisioterapia e reabilitação. Das 8h às 17h. Clínica da Família Ministro Adib Jatene: Avenida Bento Ribeiro Dantas, s/nº, Vila dos Pinheiros.
  • Vida Ativa – Segunda a sexta, das 7h às 10h. Quadra da Vila do João: Rua 17, s/nº; Ciclovia do Conjunto Pinheiro: Avenida Bento Ribeiro Dantas; Estrada do Itararé, 320, Complexo do Alemão.
  • Esporte Presente – Segundas, quartas e sextas, das 8h às 9h. Quadra de esportes na Rua João Araújo, s/nº, Rubens Vaz.
  • Vila Olímpica Municipal Seu Amaro – oferece diversas atividades (incluindo para pessoas com deficiência) como alongamento, basquete, caminhada, capoeira, dança da terceira idade, futevôlei, futsal, ginástica, hidroginástica, hidroterapia, jiu-jítsu, karatê, natação, pilates, recreação aquática, treinamento funcional e zumba. Rua Tancredo Neves, s/n, Nova Maré.
  • Projeto Mais Ellos – são duas turmas de natação, das 7h às 8h20. Sede náutica do São Cristovão: Avenida Brigadeiro Trompowski, 580, próximo ao Parque União. Grupo de Atividade Física do Programa Academia Carioca — oferece atividades físicas e auriculoterapia. Terças e sextas, a partir das 7h. Campo de futebol  na Rua Barão de Mauá, em Marcílio Dias.

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