Vila do João recebe mais uma edição de evento Parada LGBTQIA+

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Evento acontece neste domingo, 14, na Vila do João

Por Hélio Euclides, em 12/11/2021 ás 16h28. Editado por Edu Carvalho

Mais do que uma festa, a Parada do Orgulho LGBT é uma mobilização que tem como objetivo conscientizar a população sobre o combate à homofobia. Um movimento que tem ponto de partida em Nova York e chega ao Brasil em 1995, especificamente em Copacabana. Em 2006 foi a vez do evento ser realizado pela primeira vez dentro de uma favela, na Vila do João, uma das 16 comunidades da Maré. De lá para cá, já são 14 anos, não ocorrendo apenas em 2020, em virtude da pandemia.

A Parada da Vila do João começou pois muitos integrantes sofriam violência física por causa de sua orientação. “Um dia chegaram no meu salão na Vila do João e pediram socorro. Sugeriram que eu realizasse uma Parada Gay para quebrar o preconceito. Na hora pensei como fazer um evento desse porte dentro de uma comunidade, algo que só acontecia em Copacabana, Madureira e Duque de Caxias. Ficaram em cima pedindo, então resolvi fazer”, explica Alberto Araújo, conhecido como Beto, organizador do evento e um dos representantes do Movimento LGBTQIA+ na Maré.

O primeiro evento aconteceu dentro da garagem da empresa de ônibus Real, na Avenida Brasil, próximo à entrada da Vila do João, com cerca de 800 pessoas, o que fez lotar o pátio da garagem. Da segunda edição em diante, a parada já foi realizada na rua paralela à Avenida Brasil, com concentração para 30, 40 e até 50 mil pessoas. “É um evento família, que tem o apoio das unidades de saúde da Vila do João e da Vila dos Pinheiros, Fiocruz e Grupo Pela Vidda”, conta.

“Para essa nossa parada queremos que realmente a nossa voz mais uma vez seja ouvida, depois de tantos anos pedindo respeito pela classe. Merecemos mais que respeito, lutamos pela igualdade e inclusão no meio social e político. Lutamos por direitos e deveres, é esse o objetivo da parada não nos calar diante de uma sociedade hipócrita e preconceituosa”, destaca. Ele deseja que o público se divirta e curta com alegria, depois de tudo que passaram com a pandemia. 

De Nova York para o Brasil

O ativismo LGBTQIA+ já existia, mas criou visibilidade em 1969. Um grupo de gays, lésbicas e trans se divertiam no bar Stonewall Inn, em Nova York, quando ocorreu uma blitz da polícia local com a justificativa de que ocorria conduta imoral. A madrugada foi de protesto, porém, os envolvidos na ação do bar resolveram reagir e contaram com o apoio de simpatizantes. Uma multidão se concentrou fora do local em favor da Rebelião de Stonewall. Foram três noites de mobilização contra a perseguição policial e o preconceito. 

Esse ato foi o ponto de partida para diversos outros em favor dos direitos e contra a homofobia. No dia 1° de julho de 1970, foi organizada a primeira parada do orgulho LGBTQIA+, realizada para lembrar o episódio do ano anterior. A mobilização também serviu de inspiração para a criação do Dia do Orgulho Gay. 

No Brasil, em 1995, aconteceu no Rio de Janeiro a 17° conferência do ILGA (Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersex) que terminou com uma pequena marcha na praia de Copacabana. No ano seguinte, o ato foi realizado na Praça Roosevelt, em São Paulo, com a presença de 500 pessoas. Já com o propósito de ser uma parada, em 1997, aconteceu o primeiro evento oficial na cidade de São Paulo, com cerca de duas mil pessoas.

Levar alegria ao evento

Para quem participa desde a primeira Parada LGBTQIA+ da Maré, a percepção de que há uma evolução a cada ano é grande. Ariel Julio, conhecido como Mc Ariell, morador da Nova Holanda, está desde o início nas edições do evento da Vila do João, mas por dois anos participa como cantor, com show de funk. “Participar deste projeto é muito gratificante. Estar presente como convidado é muito satisfatório. Além da visibilidade que te dá, ainda posso mostrar o talento de uma pessoa cria da Maré. É demais receber aplausos, ainda mais por pessoas que desejam inovar e levantar a bandeira do combate do preconceito”, diz. 

Júlio lembra que a parada local é o lugar de protesto contra a homofobia e onde ninguém é julgado ou criticado. “São pessoas de todas as idades, gêneros, raças ou crenças. É um ambiente onde vão te respeitar.  Para mim é uma honra estar ali, tanto como artista ou como participante de um projeto lindo. Então a minha intenção é levar alegria, dança e música para todos”, comenta. Ele acredita que a parada traz viabilidade e proporção, e assim mais pessoas ficam interessadas em poder estar junto no evento.

A 14ª parada LGBTQIA+ da Maré vai acontecer no dia 14 de novembro, na entrada da Vila do João, com uma ação social de 9h ao meio-dia, com direito a barraca de coleta de alimentos não perecíveis para ajudar os mais vulneráveis, palestra e entrega de preservativos. “Além disso, este ano vamos receber o nosso público com muito sorriso no rosto para mostrar que dias melhores viram”, conclui Beto. 

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