A vacinação contra coronavírus está fluindo muito bem na Maré, segundo representantes das unidades de saúde locais, apesar de ser proporcionalmente menor que outros bairros da cidade
Por Kelly San, em 26/03/2021 às 18h10. Editado por Daniele Moura
Autoridades de saúde identificaram o primeiro caso positivo de covid no Brasil em fevereiro de 2020. A doença já vinha se propagando em outros países, como China, Itália e França, onde havia centenas de casos da doença . Em março, foi decretada a pandemia pela OMS – Organização Mundial da Saúde. Neste mesmo mês, ocorreu a primeira morte por coronavírus no país: uma mulher de 57 anos do estado de São Paulo. De lá pra cá passamos de 300 mil brasileiros mortos pelo “inimigo invisível”.
O que é covid-19?
A covid-19 é uma doença causada pelo novo coronavírus que, pode ser assintomática, e também levar a quadros graves. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a maioria (cerca de 80%) dos pacientes com covid podem ser assintomáticos ou terem sintomas leves, e aproximadamente 20% dos casos detectados, requerem atendimento hospitalar por apresentarem dificuldade respiratória, sendo que 5% destes, evoluem para forma mais grave da doença. Considerando a alta taxa de transmissão entre a população, o mundo tem criado medidas para conter a propagação do vírus, e não sobrecarregar os seus sistemas de saúde, já que a vacinação não acontece de forma acelerada.
Em dezembro de 2020, a OMS (Organização mundial da saúde) deu sua primeira autorização para uso emergencial das vacinas produzidas pelas farmacêuticas americana Pfizer e a alemã BioNTech. Cientistas do Instituto Buntatan, aqui no Brasil, no início da pandemia, fizeram uma parceria com a fabricante chinesa de medicamentos Sinovac para desenvolver e testar a CoronaVac, parceria que garantiu a compra das primeiras doses da vacina.
O Brasil tem batido tristes marcas de mais de 12 milhões de casos e 300 mil mortes, o que aponta para uma urgência na criação de medidas mais eficazes por parte do governo federal para conter o avanço do vírus. Na cidade do Rio de Janeiro a vacinação contra covid- 19 iniciou em janeiro deste ano, com aplicações das vacinas Coronavac e AstraZeneca desenvolvida pela universidade de Oxford.
Vacinação na Maré
Nas 16 favelas da Maré, segundo profissionais de saúde que a equipe de reportagem do Maré de Notícias teve acesso, a vacinação segue sem aglomeração e de forma tranquila, nas unidades de saúde do bairro. Jaqueline Araújo Ramos, de 36 anos, é a enfermeira responsável pela imunização do Centro Municipal de Saúde da Vila do João (CMS) “nesse momento com a organização da Prefeitura, não estamos tendo aglomeração na unidade, está sendo bem organizado, não temos filas na unidade os idosos chegam e prontamente são atendidos”.
Apesar de tranquila, a vacinação na Maré acontece de maneira mais lenta do que no resto da cidade. Enquanto na Maré 12% da população está imunizada, na zona sul da cidade esse percentual é de 16%.
A Maré é um bairro composto por 16 favelas e tem 8 unidades de saúde, sendo elas quatro Clínicas da Família, três Centros Municipais de Saúde e uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). O Maré de Notícias percorreu todas as unidades de saúde que estão ofertando a vacina e teve a informação de que não há muita procura pelas pessoas com mais de 75 anos de idade. Isso pode estar ocorrendo devido ao baixo número de idosos no bairro, segundo o Censo Populacional da Maré (2019) – 7,4% dos 140 mil habitantes. Já os jovens com menos de 30 anos, correspondem a 51,9% da população mareense. Há temor, neste sentido, por parte das gestões das unidades de saúde, de aglomeração no período de vacinação dos mais jovens no bairro. Segundo Maria das Dores da Silva, gerente do Centro Municipal de Saúde (CMS) da Vila do João, “já está sendo pensada uma logística para atender a população mais jovem quando for o momento”.
Outra preocupação de todos os profissionais de saúde entrevistados é a grande quantidade de pacientes com sintomas respiratórios mais graves, nos últimos 20 dias. Segundo Thainna Nogueira, 30 anos, gerente da Clínica da Família Augusto Boal, localizada na favela de Bento Ribeiro Dantas, são atendidas, em média, 30 pessoas por dia com sintomas de covid. A unidade tem atendido, também, crianças com sintomas da doença.
“Tem duas coisas que podem estar acontecendo, uma é porque temos outros vírus respiratórios causando doenças em crianças neste período, e a outra é que, com maior nível de transmissão do coronavírus, há um aumento do número de casos de covid em crianças. É um momento bem difícil, que nem sempre, a gente consegue saber se aquela infecção respiratória é covid, ou outro vírus, ou ainda, os dois juntos”
Isabela Balallai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações
Nos últimos 14 dias (de 9/3 a 22/3), de acordo com o Boletim Conexão Saúde, De Olho no Corona, a Maré teve um aumento significativo de casos de em relação a um mês atrás. Entre 23/02 e 08/03 foram notificados 4.301 novos casos no município do Rio de Janeiro, nas duas semanas seguintes, o registro foi de 8.925 novos casos – um aumento de 107% quando comparado os dois períodos. Na Maré, o crescimento de novos casos foi 144% e em Manguinhos a diferença chegou a 450%, como mostra o gráfico abaixo.
O projeto Conexão Saúde: de Olho na Covid vem produzindo dados de testagem desde agosto do ano passado, a partir dos Centros de Testagem do Dados do Bem, que contribuem para a vigilância em saúde do território. Na Maré, desde agosto, até o último dia 22/03 foram coletadas 11.558 amostras para testes de moradores, sendo 1.872 com resultado positivo, 16% do total. Já em Manguinhos o Centro de Testagem inaugurado em dezembro – e contou até 22/02 com 1.865 amostras de testes coletados, sendo 285 com resultado positivo, 15 % do total. Todos os casos positivos testados pelo Dados do Bem, parceira do projeto, são notificados ao Poder Público e, portanto, passam a compor os dados oficiais do Painel Rio COVID-19.
O boletim é uma publicação do projeto Conexão Saúde- De Olho na Covid, uma iniciativa da Redes da Maré, Fiocruz, Dados do Bem, SAS Brasil, Centro Comunitário de Manguinhos e União Rio. ? Acesse-o na íntegra aqui.
Enquanto esperamos a vacina, a melhor maneira de se proteger do coronavírus é o isolamento social e o uso de máscaras. Por isso, medidas de fechamento do comércio não essencial são fundamentais para impedir o avanço da doença. Crianças podem estar mais protegidas do vírus mas não imunes a ele. Segundo o portal de notícias do Instituto Oswaldo Cruz – a Fiocruz, se faz necessário o uso de máscaras em crianças acima de 2 anos sem o uso da chupeta e sempre com a supervisão de um adulto.