O Piscinão não é mais aquele

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O lago artificial da Praia de Ramos está preparado para o verão?

Hélio Euclides

O lago artificial da Praia de Ramos, batizado de “Piscinão”, foi inaugurado em dezembro de 2001, com glamour e chafariz político. Em agosto de 2007, o espaço deixou de ser administrado pelo Governo do Estado e passou a ser gerido pela Prefeitura do Rio. Em 2011, o lugar recebeu uma reforma e uma promessa da antiga gestão municipal: a construção da Arena Cultural de Ramos. Infelizmente, a ideia não saiu do papel.

A antiga Lona do Circo Voador em atividade em 2002 | Foto: Hélio Euclides

A antiga lona, chamada de Circo Voador, teve o seu primeiro estrago com rasgões na cobertura e depois veio a deterioração da estrutura, que virou um canteiro de ferros retorcidos. Recentemente, a Prefeitura fez a retirada de toda a armação metálica. “Tivemos a informação de que iria virar um campo de beisebol, mas até agora nada. Se não construírem aqui, vai virar um piscinão da dengue, por causa das grandes poças de água da chuva que se formaram”, revela Emerson Silva, morador da Praia de Ramos.  Lindenberg Cícero, cantor e compositor, acredita que não se pode deixar terminar um espaço cultural. “Temos de brigar todos os dias pela cultura. Pelo tamanho do terreno, daria para fazer um teatro, ou uma sala de exibição de filmes, ou um espaço de dança. Precisamos de espaços para os artistas locais mostrarem o seu talento. Falta respeito pelo tão pouco tempo que durou a lona. É triste ver a cultura abandonada. O meu sentimento é de sonho roubado, de ver a lona se deteriorar, até chegar ao fim”.

 

Um Piscinão no verão

Com a chegada do verão e o aumento do uso do Piscinão, que costuma ficar lotado, o Conselho Regional de Química fez uma operação de fiscalização na primeira semana de dezembro para o controle da qualidade da água. O Conselho faz algumas ressalvas, como por exemplo de que a empresa contratada para gerir o Piscinão tenha um responsável técnico registrado.

A piscina artificial tem capacidade para 30 milhões de litros de água. A manutenção do Piscinão é da DT Engenharia. Há tempos ele não é esvaziado para limpeza geral. Segundo funcionários da empresa, que não quiseram se identificar por medo de represálias, a pretensão é de que aconteça no inverno desse ano. Por ter uma grande demanda era necessário fazer uma limpeza geral pelo menos uma vez por ano – algo que não vem acontecendo. Com a chuva, apareceu uma língua negra que deixou o Piscinão com lodo. A Cedae foi ao local e fez o reparo do esgoto. Três funcionários da DT Engenharia fizeram uma limpeza utilizando vassouras e ancinho para a retirada de lodo. Um deles explicou que, apesar do grande número de banhistas no verão, a água continua limpa, e que há a utilização de três mil litros de cloro por dia. A Fundação Rio-Águas, vinculada à Secretaria Municipal de Conservação e Meio Ambiente, informou que mantém o tratamento diário da água do Lago Salgado do Parque da Vizinhança de Ramos.

Moradores escolhem o local da entrada de água para ficar, próximo à Estação de Tratamento da Água (ETA), pois identificam como a área mais limpa. “Eu e minha filha de cinco anos entramos nessa parte, mas acredito que está na hora de uma limpeza”, sugere Cíntia Cristina. Para Valeria Medeiros, o período das chuvas é o mais complicado. “Agora está bom, ao contrário de três meses atrás. Deveria limpar frequentemente, antes do período de sol”, recomenda. A banhista Maria Josenice não confia no Piscinão: “não gosto do cheiro de cloro, já que não há troca de água, é necessário o grande uso. Venho para cá, com meu balde, tomo banho com água do chuveiro”, explica.

A piscina tem 30 milhões de litros de água, que deveriam ser limpos anualmente, o que não acontece | Foto: Elisângela Leite

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