Por Hélio Euclides, em 07/10/2021 às 09h10. Editado por Edu Carvalho.
O bairro de Madureira é conhecido como berço do samba, local que reúne duas escolas de samba e nomes das velhas guardas que preservam a tradição dos antigos festejos realizados nos quintais das casas, de mães e pais de santo, compositores e intérpretes, jongueiros e cozinheiras. Mas o bairro também é lugar de parque e de horta. Na última semana, a Prefeitura anunciou a expansão do cultivo de hortaliças em terrenos às margens da linha férrea do Parque Madureira, projeto que faz parte do Programa Hortas Cariocas. No ano que vem, com a ampliação do espaço, a horta urbana será a maior do mundo, com 110 mil metros quadrados.
Hoje o bairro suburbano tem duas pequenas hortas que serão conectadas, chegando a um território de 11 hectares, o equivalente a 15 campos de futebol. A implementação ocorrerá ainda em 2022, com recursos de R$ 3 milhões. A ampliação vai beneficiar 50 mil pessoas por safra, até 2024. A horta tem a parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e com a Light. Além do tamanho, a nova horta terá outro destaque, o Memorial Quilombo Agrícola Madureira, que será erguido na entrada. Uma homenagem aos antigos moradores do local.
O Programa Hortas Cariocas é um incentivo à agroecologia urbana e atualmente conta com 49 unidades produtivas, sendo 24 unidades em favelas e 25 em equipamentos da Secretaria Municipal de Educação. O programa começou em 2006 e conta com 220 pessoas que recebem bolsa para participarem do plantio e colheita. O Hortas Cariocas foi premiado no Pacto de Milão, por se destacar na saúde alimentar.
A Secretária Municipal de Meio Ambiente da Cidade (SMAC) afirmou que o Programa Hortas Cariocas está consolidado. Acrescentou que a horta do Parque Madureira é o projeto mais ousado da gestão.
Hortas em toda a cidade
Com 49 espaços de plantio, a Prefeitura ressalta que a manutenção das hortas existentes implica esforço constante. A Maré conta com duas unidades do programa, uma entre os CIEPs Samora Machel e Elis Regina, na Nova Holanda. No início do programa eram mais de 50 canteiros entre as escolas, com o passar do tempo grande parte do terreno virou criadouro de animais e hoje são apenas 14 canteiros. Mesmo assim, a horta ajuda na alimentação dos estudantes e moradores do entorno. Plantas como hortelã, boldo chinês, saião além de frutos como tomate-cereja, mamão, quiabo, inhame, manjericão, alfavaca e pimenta malagueta são alguns dos achados que podem ser colhidos.
Outro local de horta mareense é no Parque Ecológico da Vila dos Pinheiros. Em matéria no Maré de Notícias, em maio de 2021, Cláudia Lúcia, presidente da Associação de Moradores do Parque Ecológico, estava receosa com a continuidade do programa. “Depois da reportagem tivemos a visita do secretário de Meio Ambiente, Eduardo Cavaliere que olhou e ficou de nos ajudar com ampliação da horta. Estou no aguardo do retorno dele e dos engenheiros para avaliar as melhorias em especial o gradil que está todo deteriorado”, diz. A horta é composta por 18 canteiros, nos quais são semeados pimentão, coentro, quiabo, batata, inhame, aipim, feijão, abacate, goiaba, saião, boldo e capim-santo.
No início do ano, Ezequiel Dias, agente integrador de Manguinhos, onde fica a maior horta da América Latina, com mais de 600 canteiros, estava desanimado com a falta de recursos e os atrasos de salários. “Hoje a horta está indo direitinho, com o pagamento em dia. Os insumos estão chegando devagar, não está em falta. A terra demora a chegar, mas está tudo bem, não encontramos obstáculos”, conta. A horta conta com 21 profissionais.
A Prefeitura garante que todas as hortas estão passando por processo de modernização da irrigação, que passará a ser por gotejamento. Contudo, não informou prazos, mas confirmou que o cronograma está sendo definido.
Uma horta-escola
Em Marcílio Dias a mobilização de moradores motiva o surgimento de uma horta comunitária. A iniciativa é do professor Walmyr Junior, militante do Movimento Negro Unificado (MNU) e presidente da Associação de Moradores de Marcílio Dias, que sempre teve o desejo pessoal de cuidar do verde, algo que começou em sua casa. Para fortalecer o trabalho, o projeto iniciou um diálogo com estudantes da Pontífice Universidade Católica (PUC), em especial com Marina Mahfuz, do projeto Norte de Impacto Social. “Compartilhei o meu sonho com uma galera que pensa inovação socioambiental num projeto de extensão. No meio do caminho começamos a desenvolver o projeto Articula Social/Horta Comunitária Maria Angu, que visa sustentabilidade de ações socioambientais no território”, conta.
Com as articulações nasceu a ideia de uma horta escolar, integrando creches privadas, o colégio público local e estudantes da universidade. A proposta do projeto é garantir que os estudantes possam se integrar à favela, com uma troca de saberes. “Uma troca com função de extensão universitária, uma formação extracurricular. Esse projeto vai favorecer a favela e a formação de uma rede de parceria como a PUC Rio, Arquidiocese do Rio, Ecoletivo, o Norte de Impacto Social, Coletivo João de Barros e a associação de moradores”, destaca.
Tudo começou em abril, com o pensamento de viabilizar a horta de Marcílio Dias. O grande problema era a falta de dinheiro. Foi aberto um diálogo com a Prefeitura, que levou representantes ao local, mas o projeto não foi à frente. Assim, moradores partiram para o plano B. “Surgiu a ideia de disputar o edital interno da universidade que iria facilitar o investimento financeiro e o projeto sustentável durante a pandemia. Submetemos o projeto da horta na PUC e conseguimos o apoio financeiro, que deve chegar em breve, para começar a organizar tudo”, expõe. Ele destaca que ainda não sabe a quantidade de canteiros que serão construídos, mas o tamanho da horta será de sete por quatro metros, aproveitando as paredes do entorno para um plantio vertical.