Violência armada, contra crianças e mulheres em debate na Semana dos Direitos Humanos da Maré 

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Congresso de Segurança Pública discute efeitos da violência armada na vida de moradoras e moradores

“Quando negras se levantam, o mundo se ergue conosco.” Essa frase usada pela militância pelos direitos das mulheres e contra a discriminação social e racial, de Angela Davis, foi lembrada por Vera Marques, da Fiocruz, no segundo dia (07/12) do II Congresso Falando Sobre Segurança Pública na Maré, que debateu a violência e a ausência de direitos na vida de crianças, adolescentes e mulheres de favelas.

A discussão sobre o Sistema Prisional e Políticas de Drogas, o Impacto da Violência Armada na Trajetória de Crianças e Adolescentes Moradoras da Maré e Formas de Acolhimento e Enfrentamento à Violência Contra Mulheres e Meninas em Favelas foram pautas que marcaram o segundo dia do Congresso Falando Sobre Segurança Pública na Maré, realizado na última quinta-feira (7). Oficinas de Perícia Independente de Reconstrução em 3D da Cena do Crime e Registro de Violações em Audiovisual também fizeram parte da programação. 

A forma como é tratada a segurança pública nas favelas é algo traumático, detalhou Tainara Cardoso, psicóloga, coordenadora técnica do Centro de Atenção Psicossocial Infanto-juvenil (CAPSi) de Alcântara, durante diálogos sobre “O impacto da violência armada na trajetória de crianças e adolescentes moradoras de favelas”. 

“Foram 269 operações policiais que impactam as escolas e tantas atividades de moradores. Essa segurança pública que está instalada nos traz medo, pois persegue os meninos pretos e pobres do Brasil. Isso precisa ser discutido, pois essa violência afeta essa criança de forma letal, física e mental, não dando o direito à vida. A sociedade o classifica como ‘sementinha do mal’ e são vistos como criminosos. Não se pode naturalizar isso, pois eles matam o corpo e depois a alma dos moradores de favela”, comentou a psicóloga.

Daniel Nascimento Viana, do Conselho Estadual de Defesa da Criança e do Adolescente trouxe a defesa de que o jovem precisa ser ouvido. “Ocupar a cidade não é só ir ao Centro, pois falta dignidade e respeito para se ter o acesso. Não há um acolhimento e uma vida digna para o cidadão que constrói a vida do opressor e não consegue suas metas. Nos tiram o direito de sonhar, nossa identidade, nossa cor e nosso lugar. Violam nossas vidas todos os dias. O opressor se incomoda com a gente, pois falamos o que ele não quer ouvir”, expõe. 

Maria Isabel, representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) trouxe dados. “É preciso promover o bem-estar, a proteção e o direito das crianças, pois 68% dos tiroteios em 2023 ocorreram próximo a escola. O resultado é que 11% não se sentem seguros para irem à escola e já são dois milhões fora das salas de aula. Entre 2016 e 2020, já são 35 mil mortes de jovens, detalha. Já Victória Carvalho, moradora da Maré, declamou uma poesia que exaltava o direito do favelado. O peso de uma bala que interrompe a vida não só de uma pessoa, mas de uma família. 

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Mulheres sofrem com falta de acolhimento

Na mesa que falou sobre violências contra as mulheres, Pagu Rodrigues, coordenadora de Prevenção a Violência do Ministério das Mulheres, mencionou sobre o genocídio da população negra e indígena e disse: “Para reverter isso é preciso políticas públicas. O morador de território periférico é excluído do acesso a serviço público. Além disso, há uma subnotificação dos casos de violência contra a mulher. Ela precisa se sentir segura para ir a redes de acolhimento e cuidado, para direcionamento dos casos”.

Joyce Trindade, da Secretaria Municipal de Políticas e Promoção da Mulher, questionou como garantir políticas públicas numa cidade de lugares tão variados. “São 124 bairros, com atuação da nossa secretaria em 60 deles. Não adianta criar um castelo para a mulher se ela não conseguir chegar lá. É preciso criar meios onde as políticas públicas possam chegar a essas mulheres, só sendo possível por meio de redes de apoio e cuidado. Para isso, pensamos em estruturar essas redes”, diz.

Fernanda Andrade, psicóloga e integrante da Casa das Mulheres, falou sobre o protagonismo do equipamento. “Oferecemos a essa mulher uma possibilidade de serviços, como profissional, de educação e sóciojurídico, que ajudam a conseguir seus direitos. Há diversas barreiras para se chegar às políticas públicas, como acesso a benefícios e emprego. A Lei Maria da Penha é um avanço, que infelizmente não chega na favela. Para piorar, existem as operações policiais que causam muita tensão e doenças nessa mulher. São violações do Estado e em casa por parte do companheiro”, conta. 

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