A força das mães no Festival Mulheres do Mundo

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No terceiro e último dia do Festival Mulheres do Mundo – WOW, a mesa “Encontro de Mães” e “Comunicação para a Democracia” emocionaram o público

No terceiro e último dia do Festival Mulheres do Mundo – WOW, a mesa “Encontro de Mães”, que reuniu Maria Cecília Castro, integrante do coletivo Mães da Diversidade, Ana Paula Oliveira, do grupo  Mães de Manguinhos e Sofía Gatica, da organização argentina  Madres de Ituzaingó, com mediação de Aline Regina, assistente social, emocionou o público de uma das salas do segundo andar do Museu de Arte do Rio.

O encontro revelou a força das mulheres unidas em seus grupos, coletivos e organizações.  É o caso de Maria Cecília Castro, mãe de Caio, um menino trans. “Eu ensino ao meu filho a ética e o respeito. No início eu tive medo, então fui acolhida por outra mãe e hoje lutamos juntas. Só queremos um mundo melhor. Não somos mulheres maravilha, mas formamos uma rede para o fortalecimento da luta. Precisamos de uma luta coletiva, para vender o medo”, diz. 

Um rapaz, que estava na cadeia quando ficou doente de tuberculose e ao sair da prisão, morreu no  dia de aniversário de sua mãe, foi um exemplo relatado na mesa sobre violações de direitos. O caso foi mencionado pelo grupo  Mães de Manguinhos para falar da responsabilidade do Estado perante a situação.

“Estamos realizando uma formação política para que as mães percebam a responsabilidade do Estado. A luta não pode ser só das mães, a sociedade precisa trazer para si, e  assim fortalecer o grito contra o preconceito e a violência. A mídia traz a versão policial, deixando a população das favelas na invisibilidade. Com isso, as mães perdem a saúde, emprego e vontade de viver. Hoje não sou apenas a voz e mãe do Johnatha, mas de outras mães que sofrem e filhos que sofrem.

Ana Paula Oliveira, do grupo  Mães de Manguinhos

A resistência é a palavra nas vidas dessas mulheres. Sofia Gatica falou do seu trabalho pela justiça ambiental e direitos humanos, contra a pressão agroindustrial na saúde e o uso dos agrotóxicos. “Estamos numa luta e por isso estamos aqui. Sabe aquela menina que aos 15 anos ganha um diário? Nós também temos o nosso diário e estamos anotando há 23 anos tudo,  e isso é catalogar a história do nosso trabalho”, relata.

Aline Regina avaliou a atividade como um encontro acolhedor. “Foi maravilhoso a troca de vivência. Ocorreu um entrelaçamento na diversidade. A gente quer continuar conectadas. São mães que lutam pela vida, bem-estar e justiça para os filhos”, comenta.

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A importância da comunicação 

Ainda pela manhã foi realizada a mesa Comunicação para a Democracia, com Carolina Oms, jornalista, feminista e fundadora do Instituto Azmina, Nadine Nascimento, repórter de comida e turismo da Folha de São Paulo, Amanda Célio, jornalista e roteirista, Camila Marins, jornalista e editora da revista Brejeiras e Jéssica Pires, jornalista e coordenadora do Maré de Notícias, com a mediação de Daiene Mendes, jornalista. 

Com sala cheia, o encontro reuniu jornalistas comprometidas com agendas democráticas. “Pensamos na garantia dos direitos. Não estamos para fazer um jornalismo de denúncia, mas de mobilização de moradores para a luta por políticas públicas. O Maré de Notícias atua desde a sua gestação, com a escolha do nome por meio dos moradores até na sua total produção”, conta Jéssica Pires. 

Foi uma conversa proveitosa com profissionais que realizam uma produção de informações sobre seus  territórios, grupos e corpos comumente estigmatizados pela mídia hegemônica. “A democracia é para quem? Para uma grande população que precisa dessa forma de comunicação. Isso é revelado nesse Festival, onde seis mesas são sobre a discursão do aborto legal, a necessidade da inclusão e da democracia”, diz Amanda Célio

“A cultura e a comunicação tem o papel de questionar. A arte e a comunicação precisam quebrar paradigma, eu acredito nisso. A revista que atuo na Folha existe há mais de 100 anos e pela primeira vez tem uma mulher negra na coordenação. Um salto foi conseguir usar a palavra ocupação no lugar de invasão, algo que parecia impossível por conter no manual de redação, mas conseguimos pautar.”

Nadine Nascimento, repórter de comida e turismo da Folha de São Paulo,

As participantes contaram a importância da resistência. “Quando percebemos que a comunidade negra conquista espaços em outras mídias, precisamos entender que não é parceria e sim uma luta. Conseguimos avanços, mas os conservadores querem o retrocesso, por isso a luta continua”, expõe Carolina Oms

 “Nosso trabalho consiste em lutar nas questões negras e feministas. Como fortalecer isso? Através de parcerias entre essa mídia que comunitária. Falam que a mídia impressa vai acabar, mas com a luta lésbica da revista Brejeiras estamos sempre com as edições esgotadas. Isso acontece porque comunicação é afeto”, finaliza Camila Marins

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