Pintor foi encontrado sem vida em sua casa por familiares na última segunda-feira (29)
Por Denilson Queiroz, em 03/10/2021 às 17h14. Editado por Tamyres Matos
O artista Afonso Carlos, 67 anos, também conhecido como Carlinhos da Varig, faleceu nesta segunda-feira, na Vila do João. Familiares encontraram o pintor já sem vida em sua casa. A causa de sua morte foi um infarto.
Afonso era figura bastante conhecida na Vila. Moradores relatam que a história de Carlinhos se confunde com a própria história da Vila do João. O mestre de capoeira Yrann Santos o conhecia há 50 anos e apreciava seu trabalho: “Seu irmão, Fábio, foi dono da primeira oficina de bicicletas da Vila do João. A pesca e a pintura sempre foram as suas paixões. Aqui em casa, nós o admiramos muito. Inclusive, temos três quadros dele”, conta.
Vida colorida
Um atelier em plena Rua Catorze, conhecida como a principal da Vila do João, um dos locais mais movimentados da Maré, onde passam pessoas indo e vindo do trabalho: esse foi o local escolhido por Afonso Carlos para criar suas obras de arte, um pintor ao ar livre. Esse ambiente eufórico fascina o artista, que acaba pintando de quatro a cinco quadros por dia. A grande maioria é composta de natureza, praias e verde. Ele nunca fez curso, acreditava ser um “dom de Deus”!.
Tudo começou no período de infância, quando fugia da escola para fazer desenho de letra japonesa. Por isso, só terminou o curso primário. Mas o talento acompanhou a sua vida. Contudo, Carlinhos da Varig fez outras atividades como segurança da Linha Vermelha e pescador. Seu retorno à arte foi fazendo quadro em madeira. O Maré de Notícias conversou com o artista em janeiro do ano passado.
“É com o que criei meus filhos, com dinheiro da pesca e da pintura. Agora quero passar a profissão para frente. Tem um neto de 6 anos que mostra um dom para trabalhar com pincel, chora para pintar”, contou à época.
Carlos usa para pintura tinta plástica Acrilex, e se destaca por reciclar madeiras e criar seus próprios quadros. Durante a entrevista, ele se emocionou ao lembrar que a pintura o tirou do caminho errado e diz que seus quadros já chegaram nos Estados Unidos e em Portugal: “Isso me faz chorar de emoção, ter quadros no exterior”.
Mas é na Maré que ele se realizava. “Falam que há um artista na comunidade. As escolas daqui me chamam para expor e ainda vendo para os pais e professoras. O que me deixa feliz é o sorriso dos clientes, de orelha a orelha”, comentou.