Às mortes – 1 ano de pandemia

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Por Jéssica Moreira, blog Morte Sem Tabu – Folha

A morte sempre foi assunto presente nas periferias e favelas. Muitas vezes, na surdina, porque é proibido dizer quem matou, quem mandou matar. 

Segundo o Atlas da Violência 2020, 75,7% das vítimas de homicídios são pretas e pardas. Entre 2008 e 2018, as taxas de homicídio apresentaram um aumento de 11,5% para os negros, enquanto para os não negros houve uma diminuição de 12,9%. 

Outras tantas vezes, a morte é esquecida, como se a gente não tivesse existido nem em vida. Até pra morrer há privilégios. Quem sobe o morro para recolher corpos mortos? 

A morte nos ronda das mais diversas formas e, em muitos casos, chega antes da hora. No hospital não construído, no aperto diário do ônibus ou trem, no prato vazio em meio a uma crise sanitária e social.

Há um ano, a morte também bateu invisivelmente no portão. Diziam que bastava lavar as mãos. Mas quem tem água potável em casa? Disseram que bastava trabalhar de casa. Mas quem tem essa opção? Disseram que era uma gripezinha.

Batemos a triste marca de dois mil mortos em um único dia. A cada 100 mil mortos, um milhão de pessoas seguem em luto. Já somamos mais de 270 mil óbitos, mais de 2 milhões de enlutados no Brasil. Gente que também precisa de cuidado.

A morte sempre me arrebata. Uma ou mil. Uma ou duas mil. Por minuto, por hora ou por anos. Ela não me deixa ignorar o medo, a raiva e também a agressividade de quem assina dia após dia novos protocolos de morte. 

Mas disseram que precisamos parar de ‘mimimimi’, enquanto no dia seguinte o sistema de saúde continua em colapso. 

Há muito a gente vem morrendo. De uma morte prematura carimbada pela ausência, essa morte de tudo. Moro num país tropical desgraçado pela mão de um homem que mata.

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