A união de três iniciativas de moradores da Vila do João resultou na mais nova escola de samba que vem balançar o carnaval 2024 da favela
Sentiu? É a escola de samba Balanço da Maré que vem chegando! A cria da Vila do João (VJ), no Conjunto de Favelas da Maré, quer trazer muita alegria para o carnaval 2024 carioca. Principalmente da favela.
A escola foi oficialmente apresentada para a Maré no último domingo (21), em um evento que reuniu as escolas de samba Gato de Bonsucesso, da Nova Holanda e a Lins Imperial, de Lins de Vasconcelos. E a bateria já tem sua rainha, MC Jessi, cantora, cria da Vila do Pinheiro.
Bateria da Balanço da Maré se apresentou no último domingo | Foto: Vando Campos
Vando Campos, Vandinho, presidente de honra da Balanço da Maré, conta que a ideia de ter mais uma escola de samba já existe desde 2021 mas só agora está saindo do papel. “O Balanço da Maré é a junção do Maré tá ON que eu coordeno com o Maré Sem Preconceito do Beto” explica Vandinho, o Maré Tá On, promove treinos esportivos para crianças e adultos.
Já o coletivo Maré Sem Preconceito que é coordenado por Alberto Duarte, o Beto que é o presidente da Balanço da Maré, é um coletivo que realiza doação de quentinhas para pessoas em situação de rua. Ele também é quem organiza a tradicional parada do Orgulho LGBTQIA+ da Maré, a primeira realizada em uma favela, que está caminhando para a 16ª edição este ano.
“Ô abre alas que eu quero passar”
O sonho do balanço da Maré é desfilar no carnaval 2024 da Intendente Magalhães, “Se a gente conseguir resolver todas as documentações até lá a gente desfila”, explica Vandinho. Mas caso não consiga ele já tem a solução em mente: “a gente faz o desfile aqui mesmo na Maré, seria o Carnaval da Disney” – em referência ao Baile da Disney que acontece no campo de futebol da VJ – Beto complementa qual seria o roteiro “Aqui da Entrada da Vila do João até o Brizolão [CIEP Gustavo Capanema na Vila do Pinheiro]”
Beto é o presidente da escola de samba | Foto: Vando Campos
Vandinho fala sobre o plano de desfilar na favela com animação “a gente que colocar três carros alegóricos, vamos ter parceria com as torcidas organizadas do Fla Maré e Fla Bagda e da comunidade LGBTQIAP+” e Beto completa “a gente quer que os moradores venham participar do projeto, aqui é um ambiente familiar, que venham e tragam as crianças, as senhoras porque estamos de portas abertas para receber todo mundo”.
Como participar desse balanço no carnaval 2024?
A escola já está capacitando a comunidade para compor as alegorias no carnaval do próximo ano. Com aulas de percussão aos sábados para as crianças e os ensaios para os adultos nas quintas-feiras à noite. “A gente ‘tá’ igual coração de mãe, pode vir qualquer um, que sempre cabe” conta Gláucio Duque, mestre de bateria. Para ser membro basta ir na quadra e procurar por Pedro Henrique, o Pedro Pinguim, vice-presidente da agremiação.
A Balanço da Maré também está promovendo um concurso para eleger a sua musa para o carnaval 2024, as pessoas interessadas podem entrar em contato com Bianca Barbosa, coordenadora de musas, pelo celular (21) 97449-2846. A quadra fica localizada por trás do campo de futebol da VJ, e a escola estampa as cores azul e amarela. Para saber mais acompanhe a agremiação no Instagram: @gremiorecreativ.o.
Empreendedores da gastronomia devem se inscrever até dia 23 de junho
Júlia Bruce/Redes da Maré e Jessica Pires
O Festival Comida de Favela é um evento gastronômico que acontecerá pela 2ª vez na Maré, em novembro de 2023. Bares e restaurantes que funcionam nas 16 favelas da Maré poderão se inscrever, para participar do Festival, que irá escolher 16 estabelecimentos para uma segunda etapa, na qual terão que preparar um prato a partir da categoria que estão participando.
O festival será composto por duas categorias: comida de bar, restaurante ou pensão; e comida de rua – trailers, carrinhos, etc. Ao fim, serão premiados com valores em dinheiro os três locais melhores classificados de cada categoria.
Um júri formado por profissionais especializados irá selecionar três pratos em cada categoria, que receberão prêmios para impulsionar seus negócios, valorizando a culinária tradicional e a criatividade dos pratos locais. Haverá também a votação pelo público do seu prato preferido, em que os clientes serão convidados a dar sua nota logo após a refeição, no próprio estabelecimento. O Festival acontecerá durante o mês de novembro na Maré e os participantes vão receber consultoria e divulgação.
O festival recebe pessoas de diferentes espaços da cidade para conhecer e experimentar os sabores da Maré e, além da experiência gastronômica, também promove reflexões sobre o direito à livre circulação nos territórios e ao intercâmbio de experiências, e a possibilidade de evidenciar os tantos fazeres positivos que existem na favela.
“A expectativa é termos a oportunidade de consolidar a identidade gastronômica e cultural das favelas cariocas, partindo da Maré, através da valorização da culinária tradicional, da criatividade de pratos e restaurantes locais”, comenta Mariana Aleixo, coordenadora do Projeto Maré de Sabores.
O edital de participação e link de inscrição estão disponíveis no site da Redes da Maré.
O pulsante mercado gastronômico da Maré:
De acordo com o Censo de Empreendimentos Econômicos da Maré (2014), há 3.182 empreendimentos nas 16 favelas da Maré. Desses, 1.118 (37,9%) são voltados para o setor de alimentos e bebidas.
Com essa quantidade e variedade de empreendimentos em um território que abriga, segundo o Censo demográfico do IBGE, uma população de 134.810 habitantes (hoje, mais de 140 mil), percebe-se que existe em torno de um empreendimento para cada 42 pessoas.
A estimativa resultante do Censo Maré é de que comércios e serviços geraram empregos para 9.371 pessoas no período da pesquisa, dos quais 76,4% eram residentes na Maré.
Esses números confirmam a grande importância desta economia, tanto no que diz respeito à oferta de bens e serviços para o consumo local quanto para a geração de trabalho e renda entre os moradores.
Para Mariana Aleixo esses dados estimularam a reflexão sobre projetos que possam promover a melhoria dos serviços oferecidos aos moradores e moradoras da Maré, além de buscar desenvolver o comércio local voltado para o setor.
“O Festival Comida de Favela possibilita a construção, a longo prazo, do fortalecimento de políticas públicas que promovam o desenvolvimento no setor de alimentação na Maré”, encerra Mariana.
Comemoração faz homenagem aos povos originários e tem participação da Aldeia Maracanã nas atividades
Por Teresa Santos
O Museu da Vida Fiocruz, em parceria com a Aldeia Maracanã, celebra 24 anos de fundação com um evento especial. O ’Aniversário do Museu da Vida Fiocruz 2023: Aprendendo com os povos originários’ acontece no campus Fiocruz Manguinhos entre os dias 25 e 27 de maio, com entrada gratuita e uma programação comemorativa. Pela primeira vez este ano, o Museu terá as atividades no sábado, quando estará aberto ao público para visitação livre.
A lista de atividades inclui oficina de grafismo corporal, de tupi-guarani, contação de histórias, feira de artesanato e medicinas da floresta e apresentação de cânticos. Os visitantes também vão poder conferir exposições, peças teatrais, atividades ao ar livre e muito mais. Algumas atividades vão contar com intérpretes de libras. Também haverá espaço para piquenique.
Paula Bonatto, coordenadora do Serviço de Educação do Museu da Vida Fiocruz, explica que, dentro da visão que se constrói de popularização da ciência, a promoção do diálogo com os movimentos populares é muito importante. “Cabe a nós, como Museu da Vida Fiocruz, como pessoas que estão na luta pela saúde de qualidade para todos, nos alinharmos com esses povos, principalmente, considerando o conceito de equidade, que é dar mais atenção aos que mais precisam”, explica Bonatto, que ressalta também a relevância fundamental das trocas de saberes e experiências com os grupos. “São conhecimentos e sabedoria que temos como patrimônios a serem conservados e aprendidos por nós”, conclui a educadora.
Povos indígenas por eles mesmos
Ninguém melhor para compartilhar conhecimentos sobre cultura indígena do que os próprios indígenas. Sendo assim, o Museu da Vida Fiocruz está trazendo a Aldeia Maracanã (Aldeia Maraká’nà) para estabelecer este diálogo junto aos visitantes.
Durante os três dias de evento, o público poderá partilhar da visão e do conhecimento dos indígenas que ocupam a Aldeia Maracanã, aldeia urbana que reúne povos de várias etnias e se localiza no bairro do Maracanã, Zona Norte do Rio de Janeiro. Há ainda a Universidade Pluriétnica Indígena Aldeia Maracanã, que cultiva e promove o compartilhamento de conhecimentos tradicionais.
“Pensar e planejar o evento com o museu tem sido uma troca de emoções, memórias e afetos. A todo instante, sentimos muito respeito à cultura e à espiritualidade dos povos originários. Percebo o esforço para que realmente tenhamos o protagonismo”, explica Mônica Lima Tripuira Kuarahy Manaú Arawak, professora da Universidade Pluriétnica Indígena Aldeia Maracanã, doutora em Biologia e servidora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC).
Ela lembrou que o evento possibilitará a abordagem de aspectos da medicina da floresta e da cosmovisão indígena, uma discussão que contribui para a cura do planeta e da sociedade. “Penso que as pessoas do museu estão realmente mergulhando neste resgate ancestral a cada contato conosco”, ressaltou. O desejo é que este sentimento seja transmitido ao público durante os três dias de evento. “Que as pessoas possam vivenciar a espiritualidade dos povos da floresta, pois é na floresta que reside toda ciência e vida”.
A professora destacou ainda que a expectativa é que o encontro traga desdobramentos futuros, divulgando aos visitantes as mais urgentes pautas indígenas e ajudando na formação de parcerias dentro e fora da Fiocruz junto a questões como a demarcação da Aldeia Maracanã e de sua Universidade Pluriétnica Indígena, maior atenção à Casa do Índio (localizada na Ilha do Governador – RJ) e as violações e violências contra os povos originários.
Localizado na Avenida Brasil, 4365, em Manguinhos, o Museu da Vida Fiocruz tem entrada gratuita e a visitação é livre. O agendamento para grupos (acima de dez pessoas) já está esgotado para os dias 25 e 26 de maio. Não haverá agendamento também no dia 27, quando o Museu estará de portas abertas ao público. A programação completa da comemoração está disponível no site do Museu da Vida.
Há 8 anos, mãe e filho buscam reparação em caso de violência durante a ocupação do exército
Maré de Notícias #148 – maio de 2023
PorHélio Euclides, Jéssica Pires e Matheus Affonso
A vida de Vitor Santiago Borges mudou drasticamente há oito anos, na noite de 12 de fevereiro de 2015, quando o carro em que ele estava foi alvejado por um soldado das Forças de Pacificação do Exército, que ocupavam a Maré na época. Até hoje, ele aguarda uma resposta da Justiça e, mais importante, a indenização que vai dar a ele a chance de viver uma vida digna, com todos os cuidados de que ele precisa.
Já passava das 2h da madrugada do dia 12 de fevereiro quando Vitor e mais três jovens voltaram para a Maré depois de assistir a uma partida de futebol do Flamengo na Vila do João. Já no centro da comunidade, o carro onde eles estavam foi alvejado quatro vezes por um fuzil 762.
Duas balas atingiram Vitor. Uma entrou pelo tórax e atravessou o pulmão e a medula, deixando-o sem movimentos do peito para baixo; a outra atravessou sua perna esquerda, que acabou sendo amputada. Os três amigos de Vitor que estavam no carro (um deles havia se mudado para Manaus e passava férias no Rio de Janeiro) sofreram ferimentos leves.
“Lembro do barulho das botas no chão, das lanternas brilhando na minha cara, da textura do chão e do cheiro forte de diesel. Lembro de tudo”, conta Vitor. Entre apagões e flashes de memória sobre os momentos depois de ser atingido, ele fala sobre a visão das botas ao seu lado, o que fez ele entender que estava dentro de um tanque do exército.
Foram 98 dias de internação. Ele precisou ser entubado e receber transfusões de sangue, fez hemodiálise e cirurgias. Depois, Vitor precisou passar por fisioterapia motora e respiratória, enfrentou medo e insegurança, e teve que se adaptar a mudanças em seu estilo de vida como morador da Vila dos Pinheiros.
Sem reparação
Vitor sonhava em viver da música, mas precisava trabalhar para, aos 29 anos, cuidar da filha de dois anos. Decidiu fazer um curso técnico e planejava cursar Engenharia. Em fevereiro daquele ano, ele foi desligado do emprego e estava na expectativa de curtir o carnaval carioca com os amigos.
Nada do que planejara se realizou depois dos tiros disparados contra o carro na noite de fevereiro de 2015. Com o retorno para casa e a necessidade de adaptações para lidar com sua nova condição de cadeirante, Vitor esperava receber apoio do Estado, mas isso não aconteceu. Atualmente, ele tem apenas direito a atendimento no Hospital Geral do Exército. Vitor precisou se mudar e, para conseguir uma cadeira de rodas e uma cama adaptada, contou com doações de amigos, pessoas e organizações. Desde sua alta há oito anos, ele tem custeado seus próprios medicamentos.
Vitor descobriu, durante a internação, que era testemunha em um caso investigado pelo exército brasileiro, mas ainda não havia processo civil através do qual ele buscaria reparação. Com o apoio de organizações que lutam em prol das vítimas da violência do Estado, a ação foi elaborada.
Em 2018, o juiz Sérgio Bocayuva Tavares de Oliveira Dias, da 5ª Vara Federal do Rio de Janeiro, julgou procedentes os pedidos de Vitor, determinando que o Estado pagasse indenizações por dano moral e estético e os custos com cuidadores e um veículo adaptado, entre outras demandas de natureza médica.
O caso ainda está em segunda instância, o que significa que o Estado pode recorrer da decisão. Em 2020, o cabo do exército Diego Neitzke, autor dos disparos de fuzil que atingiram o carro onde Vitor estava, foi inocentado pela Justiça Militar com base na teoria da “legítima defesa putativa”, ou seja, o militar alegou que atirou porque imaginou que estava sob risco.
Vitor afirma que tinha uma visão favorável da ocupação e até cumprimentava os soldados no início. Contudo, sua opinião foi abalada depois de vivenciar o lado perverso da ação militar que, em teoria, deveria protegê-lo.
Mãe não se cala
“Confesso que por um tempo eu tive medo, mas então percebi a força e a garra da minha mãe, e decidi começar a falar. Desde então, venho lutando. Infelizmente, minha mãe adoeceu e teve um aneurisma cerebral por causa do estresse. Ela sabia da injustiça na qual eu vivo e pela qual outras pessoas ainda estavam sofrendo”, reflete Vitor sobre a importância de sua mãe, Irone Santiago, durante todo o processo de cuidado e busca por justiça em seu caso.
Irone é uma costureira e mobilizadora do Eixo de Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré. Moradora da Vila dos Pinheiros, ela clama por justiça, lutando para que os culpados sejam obrigados a pagar indenizações que proporcionem casa e carro adaptados para o filho; compensação por danos morais e estéticos; e a continuidade da pensão por invalidez e do fornecimento de materiais médicos.
As mudanças na vida de Vitor fizeram com que a voz de Irone Santiago, em vez de se calar, falasse mais alto: “Ele disparou seis tiros, quatro atingiram o carro. Como um homem assim pode ser inocentado? Ele teve a intenção de matar. Ainda há um processo em andamento contra a União e o Ministério da Defesa. Fico chateada com a demora. Temos que exigir justiça, com prisão e indenização.”
Apesar do sofrimento que dura quase uma década, Irone é firme em suas convicções e afirma que, se for necessário, vai até o presidente da República. “Estou muito revoltada ao ver meu filho, dependente até o fim da vida de uma cadeira de rodas. Temos a causa ganha, mas não recebemos nada. A imagem da justiça é cega, tem uma venda nos olhos, mas ela enxerga para alguns. Meu filho é pobre e favelado; se fosse rico, será que as coisas seriam assim?”, questiona ela.
Pele como agravante
Para Irone, a desigualdade social e as questões raciais estão em evidência na favela. Segundo ela, “somos sempre prejudicados e vistos como restos da sociedade. Fazemos parte da cidade, mas mesmo assim a polícia entra atirando e colocando o pé no portão. A cor da pele é um agravante. Quando ocorre operação policial, a vida para. O que está acontecendo hoje é um genocídio dos mais pobres. Nossos direitos são violados diariamente”.
Como forma de unir forças, Irone fortalece grupos de mães e de mulheres que perderam seus entes queridos em situações de violência: “Sou a porta-voz de muitas mulheres que precisam ter forças para lutar. Pensemos no Dia das Mães; nesta data, todas as guerreiras vão lembrar que estão passando por violações do Estado. Não podemos calar a voz, que cobra do Estado que nos dê uma resposta.” Em maio, acontece o VI Encontro Nacional de Mães e Familiares de Vítimas do Estado, no Espírito Santo.
Irone descobriu, no hospital, que seu filho era apenas uma testemunha no processo criminal instaurado na Justiça Militar (que culpava o amigo de Vitor, Adriano da Silva Bezerra, por ter “ignorado a ordem de parada dada pelos soldados”); foi quando ela começou a lutar para mudar a situação, e Vitor passou a ser autor da ação de indenização contra o Estado. Ainda hoje, persistem algumas perguntas sem resposta: “Por que não pararam o carro de outra forma? O veículo foi revistado na entrada da Vila do João, por que precisavam fazer o mesmo procedimento dez minutos depois? Ainda poderia ter havido mais vítimas. Foi uma total falta de preparo.”
A imagem de Vitor no hospital continua na mente de Irone, que teve que aprender a cuidar das feridas do filho, já que não teve direito a atendimento médico domiciliar. “É uma luta diária por resultados, mas vamos conseguir justiça”, conclui.
Vitor conta que no início sentiu medo de denunciar, mas percebendo a força e a garra da mãe, decidiu começar a falar – Foto: Douglas Lopes
Ocorreu uma cerimônia de comemoração das bodas de ferro que contou com uma programação envolvendo toda comunidade escolar
Hélio Euclides
No Brasil, os trabalhadores com idade mínima de 65 anos chegam a aposentadoria. Já a Escola Municipal IV Centenário, localizada na Baixa do Sapateiro, chega a mais de seis décadas com a experiência de um idoso, a garra de um jovem, a sabedoria de um adulto e a alegria de uma criança. Para comemorar, na última quarta-feira (17/05), ocorreu a cerimônia de comemoração das bodas de ferro que contou com uma programação especial. Professores, alunos, pais e representantes da Secretaria Municipal de Educação (SME) e da 4ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) participaram do evento.
A tarde de festa começou com o hino da escola, criado em 2016 por alunos, com arranjo da professora de Música Vanja Dee e mais duas amigas. Logo após, a turma 1501 contou a história da escola desde a fundação. Já a turma 1302 declarou o carinho pelo colégio cantando a música “Comtero é grande o meu amor por você”. Depois, Helena Gomes, a representante do grêmio estudantil da unidade escolar, Marcos Menezes, assessor do secretário de educação, e Charles Gonçalves, presidente da Associação de Moradores da Baixa do Sapateiro, discursaram e ressaltaram a importância da escola.
Os alunos mirins do primeiro ano também participaram da festa com a declamação de uma poesia em homenagem à escola. Alessandra Aguiar, diretora da EM IV Centenário fez questão de apresentar todo o corpo docente e demais profissionais do colégio. “Fazer parte da história do IV Centenário me deixa muito feliz. Tenho um amor muito grande por essa comunidade e gosto muito de trabalhar com essas crianças. Aqui abraçam, honram e respeitam o nosso trabalho. É muito bom como funcionária pública fazer o trabalho com dedicação e qualidade”, comenta.
A diretora contou o desafio para o futuro. “Essa escola se prepara para ser um Ginásio Experimental Tecnológico, uma unidade de última geração. Estamos escrevendo a história da Maré e significando a escolas para as crianças, mostrando que é um espaço de confraternização, de saber e de construção de laços. A escola e os funcionários nesses 65 anos conseguiram fazer parte da vida dessas crianças e famílias, buscando priorizar uma educação de qualidade”, destaca.
O representante da SME, Marcos Menezes, enfatizou a emoção e a gratidão com a marca de 65 anos. “É marcante para cada aluno os momentos vivenciados. São cinco dias na semana com suas professoras que ao final do ano conhecem de forma profunda cada aluno. A escola é o espaço onde se diverte, aprende, faz amigos e que garante acolhimento. Assim como nós amadurecemos com o passar dos anos, a escola vai evoluindo, se solidificando no território como referência de espaço importante e desejado pela comunidade local. Vale ressaltar a qualidade de ensino da escola que é fruto do excelente trabalho de toda a equipe que se dedica a realizar diariamente com amor pelos e com nossos alunos”, afirma.
Menezes ressaltou as gerações que já passaram pela escola. “Quando uma unidade completa 65 anos, temos a oportunidade de ver netos de ex-alunos ali iniciando sua trajetória e o brilho nos olhos dos avós quando eles falam com orgulho que estudaram ali e que fazem questão de matricular seus netos na escola. Temos a certeza de que só com a educação pública de qualidade poderemos ter as crianças da Maré, num futuro próximo, como jovens e adultos que poderão vencer os obstáculos da vida e mudarem diversas estatísticas como a de apenas 7% frequentarem a universidade. Entenderem que sonhar é necessário e realizar é possível”, conclui.
Ao término do evento, alunos da turma 1401 cantaram “A Paz” (Heal The World). O encerramento foi com um parabéns e distribuição de bolo para os presentes.
Na Maré, projeto AfroGames completa um ano e Zona Norte do Rio terá primeira arena de jogos eletrônicos no Engenho de Dentro
Thaís Cavalcante
Com a chegada do Projeto AfroGames na Maré, jogar no celular ou no computador deixou de ser apenas uma diversão com os amigos e passou a ser a carreira sonhada por muitos jovens: atleta de eSports. AfroGames é o primeiro centro de formação em esportes eletrônicos em favelas do mundo, com aulas gratuitas dos jogos Valorant, League of Legends e Free Fire, assim como Desenvolvimento de Jogos e inglês básico. O Projeto que comemora um ano em junho já alcançou 300 jovens nas unidades da Nova Holanda e Morro do Timbau. O tema interessa não só as favelas, a cidade também busca ser referência no tema ao nível global.
Matheus Alberto, 16, jogava só por diversão, mas depois da indicação de colegas na escola, convenceu sua mãe a levá-lo três vezes na semana para as aulas de Free Fire, na Nova Holanda. “Aqui, eu aprendo a jogar com objetivo de me tornar um atleta de eSports. Me inspiro no Bruno ‘Nobru’, ele já ganhou o mundial de Free Fire.” As aulas têm o objetivo de ensinar estratégias básicas e avançadas, para que os alunos alcancem o modo competitivo e participem de campeonatos. O Free Fire, sendo um jogo gratuito e leve para o celular, sua fama é enorme entre as crianças.
Na última aula, Matheus escolheu como personagem o Dj Alok e tentou sobreviver em uma ilha, eliminando seus adversários. Além da orientação de um professor, ele e outros jovens jogadores têm sala climatizada, boa conexão com a internet, lanche após a aula e podem usar equipamentos como: headphone, celular, computadores e cadeira gamer. Na Maré, o patrocínio vem da empresa de torres de telecomunicações IHS Towers. O projeto tem outras unidades em Vigário Geral, Zona Norte e no Morro do Estado, em Niterói.
Ainda que a estrutura seja suficiente, a realidade ainda é muito desafiadora para os alunos. Para ser um atleta de eSports é preciso praticar e ter equipamentos em casa, como computador ou celular, além da conexão com a internet ou pacote de dados. Segundo o Instituto Locomotiva, 43% dos moradores de favelas não têm internet de qualidade. A violência também atrapalha. Só no mês de abril, a Maré teve 4 operações policiais em diferentes favelas do Complexo, fazendo as aulas do AfroGames e de todos os outros projetos serem canceladas. As operações policiais constantemente atrapalham o funcionamento das aulas, aumentam a insegurança e causam a evasão de muitos jogadores também.
eSports nas favelas, na cidade e no mundo
O Prefeito Eduardo Paes reforçou o desejo de transformar o Rio em um polo gamer e de esportes eletrônicos. Em fevereiro, iniciou a Coordenadoria de Games e eSports com Chandy Teixeira, que garante que a cidade já é uma candidata aos eventos internacionais de jogos. O que deve movimentar a economia, o turismo e gerar emprego e renda. “São várias as possibilidades: atração de grandes eventos, fomento das empresas cariocas que desenvolvem jogos e promover a democratização desta área.”
A promessa também está no diálogo com projetos que já existem, como o próprio AfroGames e as Naves do Conhecimento, três delas localizadas em favelas. Em maio, foi lançada a primeira Arena Gamer, na Nave do Conhecimento do Engenhão, para ser palco de competições e torneios de pequeno porte.
A cidade busca um mercado de esportes eletrônicos que cresce em todo o mundo. Ele movimenta 150 bilhões de dólares anualmente, segundo a Consultoria Newzoo. Incentivar a formação qualificada de jogadores é o caminho que o Conjunto de Favelas da Maré segue há anos, com seu incentivo à educação e inclusão digital, com internet de qualidade em equipamentos culturais e instituições locais.
Esse também foi um dos motivos que atraiu o aluno Matheus para sonhar com uma carreira na área. “Pesquisando, vi que os jogos são uma grande fonte de renda. Não só para quem joga, mas para os programadores de jogos também. E é uma área nova que, além dos gamers, quase ninguém conhece. Querendo ou não, tem bastante vaga de emprego nela.”, conta.
Os últimos 10 anos foram relevantes para os eSports, tanto para o jogador amador, competidor, ou até para quem só assiste e torce. É o que diz a Pesquisa Game Brasil de 2023, que traz o resultado das principais tendências e hábitos de consumo do gamer brasileiro. Além de ser uma opção para profissão, jogar continua sendo entretenimento: 82,1% afirmam que os jogos eletrônicos são uma das suas principais formas de diversão.
Aula de Free Fire mobile para jovens do projeto AfroGames na Nova Holanda | Foto: Thaís Cavalcante.
AfroGames incentiva novos jogadores no Rio2C
O eSports também foi destaque no Rio2C, o maior evento de criatividade e inovação da América Latina realizado em abril. Ele trouxe em um de seus painéis sobre periferias e inovações a Oficina “Como transformar ideias em Projetos de Jogos”, oferecida pelo Projeto AfroGames. Os inscritos aprenderam sobre jogos na teoria e prática, além de conferir de perto os games que, ajudam na criação de ideias, despertam a criatividade e solucionam problemas.
AfroGames oferece oficina “Como transformar ideias em Projetos de Jogos” no Rio2C. | Foto: Thaís Cavalcante.
Patrick Scoralick, 23, está no Projeto desde o começo e participou da Oficina no Rio2C. Hoje, é professor de Desenvolvimento de Jogos e Coordenador de Planejamento do AfroGames. “A ideia é democratizar o desenvolvimento de jogos e mostrar ferramentas para criar jogos interessantes. A gente sabe que, numa turma de 20 alunos, nem todos vão sair programadores ou atletas, mas alguns vão sair game designers e outros vão se entender como artistas”, garante.
Ele explica que, além das aulas semanais, os alunos participam de maratonas de desenvolvimento de jogos guiados por seus professores. Às vezes, os jogos são até vendidos para empresas interessadas. Em seu portfólio online é possível jogar os games prontos, contribuir financeiramente para o desenvolvedor e entender qual a proposta de cada um deles. Eles levaram de dois dias há alguns meses para serem programados. Dê o start aqui: https://afrogamesdev.itch.io/ Sugestão: ‘embedar’ o site na matéria.
Seja aluno do Projeto AfroGames
As inscrições são presenciais e gratuitas. Para menores de 18 anos, é preciso o acompanhamento do responsável. Documentos necessários: RG e CPF do aluno; RG e CPF do responsável; comprovante de residência. Horário de atendimento: 10h às 16h. Cada curso tem duração de até 10 meses, com aulas 2x na semana e duração de 2 horas. Você também pode ser aluno nas unidades de Vigário Geral e Morro do Estado.
Unidade do AfroGames da Nova Holanda foi inaugurada em junho de 2022. | Foto: Thaís Cavalcante.
Unidade Nova Holanda – Rua Sargento Silva Nunes, 608 – Nova Holanda
Cursos da manhã: Valorant, League of Legends, Programação e Free Fire
Cursos da tarde: Programação e Free Fire
Unidade Morro do Timbau – Endereço: Rua dos Caetés, 131 – Morro do Timbau
Prédio da Associação de Moradores do Morro do Timbau