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Pensando a educação ambiental de maneira crítica

Muda Maré, projeto de extensão da UFRJ, convida a pensar a educação ambiental sob diferentes perspectivas

Por Vanessa Almeida e Estela Cezário (*)

Quando pensamos em Educação Ambiental, o que vem às nossas cabeças? Orientações para desligar as luzes, consumir menos água, preservar as plantas são temas que geralmente conseguimos identificar. Mas a Educação Ambiental deve ser tratada da mesma forma para todas as realidades? O projeto de extensão Muda Maré − Educação Ambiental e Agricultura Urbana na Maré ensina que não. É necessário tanto considerar as diferenças sociais quanto pensar em políticas públicas e econômicas que atuem diretamente nesse viés.

A Maré é composta por 16 favelas. Desde 1994 o conjunto de favelas é reconhecido como um bairro, sendo um dos nove mais populosos do município do Rio de Janeiro, com cerca de 130 mil habitantes. Os dados são do Censo Demográfico 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estática (IBGE).

O Muda Maré teve início em 2011, a partir da iniciativa de estudantes, em sua maioria do curso de Biologia. Segundo Carlos Alexandre Pereira, atual coordenador do projeto, esse é um diferencial até hoje: ter sido, desde o surgimento, idealizado pelos estudantes a partir da perspectiva deles.

Atualmente, a coordenação do projeto está sob a responsabilidade do Núcleo Interdisciplinar para o Desenvolvimento Social (Nides), da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Os encontros ocorrem geralmente em quatro favelas do Conjunto de Favelas da Maré (Nova Holanda, Parque União, Parque Maré e Vila dos Pinheiros). Há também atividades no Parque Ecológico da Maré, que fica na Vila dos Pinheiros. O parque possui área equivalente a 10 campos de futebol e era conhecido como Ilha dos Macacos na década de 1980. Foi o primeiro criadouro de macacos da América Latina e tinha um espaço reservado para pesquisas. Hoje é um espaço primordial de área verde e de uso múltiplo aos moradores locais.

A formação do grupo Muda Maré, que era majoritariamente constituído por estudantes de fora da Maré, transformou-se muito ao longo dos quase doze anos de existência. Segundo Carlos Alexandre, hoje a maior parte do grupo é de pessoas negras, da comunidade LGBTQIA+, moradores da Maré ou de outras periferias e favelas. Isso faz diferença na maior característica que o projeto tem agora, que é “fazer educação ambiental crítica”.

Apesar de possuir, em sua maioria, estudantes dos cursos de Biologia, Geografia, Serviço Social, Psicologia e Engenharia Ambiental, o projeto aceita alunos de qualquer curso e até mesmo de outras instituições. Essa pluralidade de disciplinas ajuda a mantê-lo abrangente, enriquecendo as oficinas e trabalhos realizados.

Respeitar e entender as diferenças: fundamental quando pensamos em educação ambiental

A Educação Ambiental, como a maioria dos assuntos estudados academicamente, em geral não é pensada se respeitando as diferenças de realidades socioeconômicas ou de territórios. “Se pegar um livro de educação ambiental, você vai achar lá coisas muito importantes, mas dificilmente vai achar alguma coisa que foi escrita para ou por favelas. Então, diz muito pouco sobre a realidade de quem mora em favela e periferia, sobre a relação de um morador de favela com o ambiente”, afirma Carlos Alexandre. 

Nesse sentido, o projeto procura criar uma base teórica sobre educação ambiental partindo-se da realidade da periferia. Uma das ações é construir um curso de formação de educadores ambientais que tem como ponto de partida a realidade da favela e da periferia, e assim pensar a diversidade de forma ampla, como uma base de Educação Ambiental crítica.

Pensar a Educação Ambiental a partir da perspectiva das periferias significa incluir na pauta, por exemplo, as questões do racismo ambiental, da soberania alimentar e dos movimentos civilizatórios. Racismo ambiental é um termo utilizado para descrever a injustiça ambiental em um contexto racializado. Refere-se a comunidades de minorias étnicas que são sistematicamente submetidas a situações de degradação ambiental, já que os impactos ambientais não são distribuídos por toda a população da mesma maneira. Já a soberania alimentar é o direito de os povos definirem as próprias políticas e estratégias sustentáveis de produção, distribuição e consumo de alimentos. Carlos Alexandre dá um exemplo que ajuda a entender essa perspectiva:

“Eu vou falar para a dona de casa que mora na favela, que tem um pratinho de vaso de planta, que ela não pode deixar água naquele pratinho porque senão o problema do surto de dengue vai ser responsabilidade dela, sendo que a gente sabe que o principal problema da dengue é o déficit sanitário? A gente não vê propaganda sobre a dengue falando do déficit sanitário, mas a gente vê propaganda falando do vasinho de planta”.

Carlos Alexandre Pereira, coordenador do Muda Maré

Déficit sanitário é o déficit em abastecimento de água potável, esgotamento sanitário e manejo de resíduos sólidos. No Brasil, ainda hoje, não são todas as casas que contam com saneamento básico adequado. “Para falar sobre questões ambientais, você tem que falar de todo o resto. Você tem que falar de economia, política, justiça…”, complementa Carlos Alexandre sobre o conceito Educação Ambiental Crítica.

“Ela tenta visualizar a questão, dos determinantes, para além do plantar ou do abraçar a árvore. O que mais temos que observar é o que está relacionado ao seu modo de vida, ao processo de formação do seu território, seus processos de socialização, que acabam determinando aquela sua condição.”

Carlos Alexandre Pereira, coordenador do Muda Maré

Carlos Alexandre lembra também a importância de considerar a favela um espaço de potência, não apenas de ausências. “Se a gente for falar de favela, talvez, para muita gente, vai ser só ‘falta isso, falta aquilo, falta segurança, falta saneamento’. Então, vamos levar projetos de extensão. Preferimos encarar a Maré como um lugar de potência e a partir do convívio cotidiano pensar em coisas que desejamos e podemos fazer juntos.”  O coordenador revela que a lógica de funcionamento do projeto é a da construção conjunta, entre a Academia e o território, acreditando-se que muitas vezes a potência da favela está ali, mas talvez ainda não tenha sido desenvolvida por falta de oportunidade.

Os integrantes do projeto Muda Maré. Foto: Fábio Caffé

Matheus Nogueira Pessoa é estudante do 8º período do curso de Serviço Social na UFRJ. Morador da Maré, faz parte do projeto desde 2020. Ele destaca o grande diferencial que existe na abordagem da educação ambiental crítica: “É uma abordagem que busca desenvolver habilidades críticas e reflexivas nos indivíduos, para que possam compreender os problemas ambientais de forma mais ampla e abrangente. E assim transpor essa perspectiva pela nossa ótica e identificação como favelados, compreender os aspectos econômicos e sociais para que possamos desvelar as nuances sobre diversas temáticas, cuja transversalidade advém desde o racismo ambiental, a gentrificação pela lógica do mercado hegemônico etc. Em síntese, questões que atravessam direitos à cidade, saúde e sustentabilidade”.

Matheus afirma que desde que entrou para o projeto sua relação e perspectiva com a territorialidade se ampliaram:

“A minha identificação com a minha favela veio à tona; questionar e abstrair as temáticas supracitadas se tornou rotina. O racismo ambiental, a gentrificação e o espaço estratégico que a Maré possui na cidade são questões profundas que estão agregando muito na minha formação; sobretudo, no momento em que participei do projeto, surgiu uma semente programada para disseminar uma educação ambiental crítica favelada e periférica”. 

Matheus Nogueira Pessoa é estudante do 8º período do curso de Serviço Social na UFRJ.

O estudante ainda destaca que a relação dos moradores da Maré com o projeto é longa e pertinente, e que, durante essa jornada de mais de uma década, moradores da Maré que integraram a proposta elaboraram e construíram diversas ações para reduzir as expressões de desigualdade no bairro.

A respeito da questão ambiental, o Muda Maré desenvolve também outras diversas atividades, como o treinamento em mídias sociais para a produção de conteúdo voltados ao tema, cursos para capacitação de educadores ambientais focados na diversidade, treinamento de educadores ambientais mirins, entre outras.

(*)Vanessa Almeida e Estela Cezário fazem parte do projeto Conexão UFRJ, uma parceria do Maré de Notícias com a Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Residência artística com as inscrições abertas até 14/5

Em formato inédito no Brasil o AB Cinema Expandido – Rio de Janeiro: Máscaras, Fantasmas e Territórios, é gratuito e oferece realização de obras inéditas aos artistas selecionados, além de atividades para o público em geral

Por Daniele Moura

A sala escura não é a única possibilidade do cinema. A interação entre o cinema, o espaço físico da apresentação e o efeito dessa experiência no espectador é o conceito básico do Cinema Expandido, que aponta para novos dispositivos e práticas sensoriais, com fortes implicações subjetivas. É justamente esse conceito que norteia a residência artística LAB Cinema Expandido, idealizada pela cineasta Mariana Meliande, que será realizada no Rio de Janeiro, entre junho e agosto de 2023. O laboratório propõe uma interlocução entre o cinema, a música, dança, dramaturgia, atuação, literatura, artes visuais tendo como foco a linguagem audiovisual.

Inspirado em residências de cinema internacionais, em um formato ainda inédito no Brasil, como as realizadas em Le Fresnoy (França), Pavillon – Palais de Tokyo (França) e Biennale College Cinema (Itália), o LAB Cinema Expandido se baseia na realização de obras fílmicas, configurando-se como um local de produção, experimentação e difusão pouco explorado no Brasil.  A iniciativa por aqui tem como tema Rio de Janeiro: Máscaras, Fantasmas e Territórios e irá discutir o imaginário da cidade do Rio de Janeiro, sempre em transformação.

A residência terá como convidados o multiartista mineiro Cao Guimarães (caoguimaraes.com) e a cineasta paraguaia Paz Encina (pazencina.com) que darão duas palestras gratuitas sobre seus trabalhos e processos criativos. Já os Ciclos de Conversas – encontros com intelectuais e artistas que abordarão diferentes formas de se criação acontece entre os dias 15 de junho e 16 de julho, às sextas, sábados e domingos, na Cinemateca do MAM.  Alguns dos nomes já confirmados para o Ciclo são os escritores Alberto Mussa e Luiz Rufino, os artistas Denilson Baniwa, Wescla Vasconcelos e Ana Lira, a artista e professora Paola Leblanc, o carnavalesco Leonardo Bora e o grupo teatral AQUELA CIA.

Podem se inscrever no LAB Cinema Expandido artistas que apresentem um projeto, a ser realizado em dupla, que se relacione com a temática Fantasmas, Máscaras e Territórios. As duplas devem ser formadas por uma pessoa ligada diretamente ao cinema e outra pessoa ligada a uma outra forma de arte (artes visuais, música, dramaturgia, atuação, dança, literatura, performance etc).

LAB busca reunir artistas, a partir de 20 anos de idade, em início ou meio de carreira, que pensem a cidade e seus arredores por meio de imagens, sons, performances e outras expressões culturais. Serão selecionadas nove duplas, que terão suas obras produzidas pelo LAB. O desenvolvimento dos trabalhos será acompanhado pela equipe do projeto e pelos artistas Cao Guimarães e Paz Encina, que também produzirão cada um uma obra audiovisual. A ideia é que os artistas selecionados e os dois artistas convidados possam contribuir e participar também das obras uns dos outros. Os onze trabalhos finais – obras em vídeo, que possam ser exibidas tanto em salas de cinema, quanto como vídeo instalação – serão apresentados no encerramento do LAB, em uma exposição coletiva.

As inscrições são gratuitas e estão abertas até 14 de maio, através do e-mail [email protected]. Os interessados devem apresentar portfólio de seus trabalhos, carta de intenção e proposta da obra audiovisual a ser desenvolvida. Serão aceitas inscrições de pessoas residentes ou naturais do Estado do Rio de Janeiro. Os artistas selecionados devem estar disponíveis para participar das atividades entre junho e agosto de 2023. 

Mais informações sobre as inscrições no site www.labcinemaexpandido.com

O LAB é coordenado por Marina Meliande e pelo cineasta e roteirista Felipe M. Bragança, que também coordena o Ciclo de Conversas, junto com a socióloga e professora Ana Paula Alves Ribeiro.

“O tema Fantasmas, Máscaras e Territórios foi elaborado a partir do fato de que falar nas cidades brasileiras hoje é falar também de suas transformações aceleradas. Na forma como a cidade, como um corpo vivo, vai reconfigurando seus territórios, assumindo novas identidades, máscaras, que se expressam como novos corpos, novas latitudes, novas representações, e abandonam os fantasmas de suas memórias. Falar em fantasmas, máscaras e territórios no Rio de janeiro de hoje é falar daquilo que a cidade tenta esquecer, daquilo que ela é, e daquilo que ela deseja ser. Esse é o conceito por trás da Residência”, comenta a cineasta Mariana Meliande.

Perfil dos artistas convidados Paz Encima e Cao Guimarãeshttps://labcinemaexpandido.com/7/

Equipe LABhttps://labcinemaexpandido.com/6/

Entenda a polêmica do PL das fake news

Sob pressão de big techs como Google, TikTok e Meta (controladora do Facebook) votação do PL 2630 foi adiada

Por Daniele Moura

Depois de três anos de tramitação e de ser aprovado pelo Senado, o PL 2630 (que regula plataformas digitais para combater abusos como desinformação, ódio, ameaças ao Estado Democrático de Direito e violações de direitos humanos) foi colocado em votação ontem na Câmara dos Deputados.

Na semana passada, deputados aprovaram, por 238 votos a 192, o pedido de urgência da matéria, o que permite que o texto seja votado diretamente no plenário, sem passar por comissões. Mas apesar disso, o PL não foi votado ontem. O relator do projeto, deputado Orlando Silva, ao perceber que não teria de votos suficientes para aprovação, pediu adiamento da votação, decisão que foi acatada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira. De acordo com ele, o projeto voltará a ser apreciado em duas semanas.

O projeto estava adormecido na Câmara desde o final de 2020, mas ganhou impulso como forma de impedir novos episódios como os assassinatos em escolas, alguns praticados por menores de idade, que vem se intensificando nos últimos meses incentivados por extremistas organizados na internet. Os ataques golpistas do dia 8 de janeiro também deram novo ar ao texto.

Entenda o PL 2630/2023

A proposta traz avanços fundamentais para o combate a abusos nessas redes, a despeito de suas limitações e de problemas pontuais. Entre as diversas medidas propostas no projeto de lei estão a obrigatoriedade de identificação de contas em redes sociais e serviços de mensagens instantâneas, a criação de mecanismos de verificação de conteúdo, a responsabilização de plataformas digitais e usuários por danos causados pela disseminação de informações falsas. Além disso, o projeto original prevê que a reprodução de conteúdo jornalístico nessas plataformas gere remuneração para as empresas jornalísticas e propõe que as plataformas digitais tenham a obrigação de verificar a veracidade de informações que possam causar danos à saúde, à segurança pública e à ordem econômica, e de excluir ou suspender imediatamente perfis que desrespeitem as normas de conduta.

Além disso, o projeto de lei:

  • obriga que provedores sejam representados por pessoa jurídica no Brasil;
  • criminaliza a divulgação de conteúdos falsos por meio de contas automatizadas, as chamadas contas-robô;
  • responsabiliza os provedores pelos conteúdos de terceiros cuja distribuição tenha sido impulsionada por pagamento;
  • determina que as plataformas digitais mantenham regras transparentes de moderação;
  • determina a retirada imediata de conteúdos que violem direitos de crianças e adolescentes;
  • estabelece remuneração pelo conteúdo jornalístico utilizado por provedores;
  • estende a imunidade parlamentar às redes sociais;
  • deixa claro que a liberdade de expressão é direito fundamental dos usuários dos provedores e que as proibições presentes não lei não podem restringir: o livre desenvolvimento da personalidade individual; a livre expressão; e a manifestação artística, intelectual, de conteúdo satírico, religioso, político, ficcional, literário ou qualquer outra forma de manifestação cultural.


Mudança no texto

O texto do projeto foi modificado diversas vezes pelo relator Orlando Silva. Um dos pontos retirados da proposta foi a criação de um órgão regulatório. Há deputados que querem que a regulação seja feita pelas próprias plataformas. Outra sugestão partiu da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que se ofereceu para servir como entidade reguladora. Do outro lado, o Comitê Gestor da Internet (GSI) resiste que o papel fique com a Anatel e disse que eles já acumulam outras funções e não teriam capacitação e foco para isso.

O relator também modificou, a um pedido da Frente Parlamentar Evangélica, a questão da restrição à liberdade religiosa. A versão anterior do texto citava a previsão constitucional de livre expressão de religião, mas Orlando também acrescentou no relatório que deverá ser respeitada a “exposição plena dos seus dogmas e livros sagrados”.

Fake news contra fake news

A extrema-direita e as plataformas digitais têm promovido uma pesada campanha de mentiras nas redes e junto a parlamentares bolsonaristas que acusam o a iniciativa falsamente como censura. Também houve pressão por parte das big techs Google contra o projeto.

Na segunda-feira (01/05) o Google lançou uma ofensiva contra o PL 2630 que criou um link bem embaixo da caixa de busca, com os dizeres: “O PL das fake news pode piorar sua internet”. O link direciona para um post do blog do Google com inúmeras críticas ao projeto. Segundo o site de dados Statista, 97% dos brasileiros usam o Google para buscas na internet. De acordo com o Laboratório de Estudos de Internet e Mídias Sociais (NetLab), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) a plataforma também privilegiou links contra o projeto nos resultados das buscas sobre o assunto, como também liberou anúncios criticando a nova legislação.

Além disso, youtubers vêm recebendo desde sexta (28) e-mails do YouTube afirmando que eles vão perder dinheiro se o projeto for aprovado. As mensagens afirmam que o PL compromete “nosso modelo de compartilhamento de receita”. As big techs dizem que, ao ser obrigada a pagar por conteúdo jornalístico, como prevê o artigo 32 do PL, sobrariam “menos fundos para investir em você, em todos os nossos criadores e nos programas para ajudá-lo a desenvolver seu público”. No final, insta os youtubers a falar “com seus deputados nas redes sociais.”

Determinações jurídicas


Isso gerou questionamentos por parte de diversos órgãos legislativos. O Ministério Público Federal, que embora reconheça como legítimo os debates sobre o projeto, alertou à empresa que a manipulação em resultados de buscas para enviesar o debate público pode configurar abuso de poder econômico. O ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que a Polícia Federal colha os depoimentos dos presidentes no Brasil das empresas Google, Meta, Spotify, além de determinar que as companhias excluam os conteúdos impulsionados que tenham críticas ao projeto de lei.

Além disso, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), do Ministério da Justiça, determinou que a Google cumprisse, imediatamente, uma série de medidas cautelares para corrigir os indícios de que a empresa estaria censurando o debate público do projeto que cria a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet. Vinculada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, a Senacon também determinou a Google que sinalize ao usuário como publicidade este e outros conteúdos contrários à aprovação do PL 2630.

Por já ter dado ampla divulgação às críticas à proposta de regulação das plataformas digitais, a Google também teve que começar a veicular, em até duas horas do dia de ontem (terça-feira 03/05) após ser notificada da decisão, as posições favoráveis ao projeto de lei. Se descumprisse as determinações da Senacon, a empresa será multada em R$ 1 milhão por hora. O link remetia o internauta a um artigo assinado pelo diretor de Relações Governamentais e Polícias Públicas da Google, Marcelo Lacerda, foi retirado do ar pouco após a Senacon anunciar as medidas que a empresa deve cumprir.


Guia de boas práticas jornalísticas sobre aborto é lançado hoje (03/5)

No Dia Internacional da Liberdade de Imprensa, o Portal Catarinas e o Nem Presa nem Morta lançam a publicação “Boas Práticas de cobertura feminista sobre aborto no Brasil”. O Maré de Notícias foi uma das organizações que participou da oficina que gerou o guia

Por Redação

Diante do contexto de perseguição e criminalização de pessoas que abortam, de ativistas e de jornalistas ligadas às pautas feministas e de Direitos Humanos, a publicação sugere enquadramentos afirmativos e aponta boas práticas para um trabalho jornalístico mais ético e seguro, como orientações para contato com fontes, sem correr riscos. 

“O guia é resultado de um encontro realizado em 2022, que reuniu jornalistas e comunicadoras de veículos tradicionais e de mídias independentes, com participação de advogadas defensoras dos direitos humanos, para trocar experiências e conhecimentos sobre a cobertura do tema”, explica Laura Molinari, que integra a Nem Presa Nem Morta.  O Maré de Notícias esteve presente nesse encontro e como encaminhamento foi produzida uma matéria em parceria com a Revista AzMina.

Por que a imprensa trata do aborto somente nas páginas policiais? Essa é uma das questões abordadas para refletir sobre a forma como a cobertura jornalística, muitas vezes, retroalimenta o estigma do aborto, colocando em prática o imaginário negativo sobre esta prática, tão comum na sociedade. Em contrapartida a este enfoque recorrente, o guia destaca coberturas baseadas em evidências científicas e na afirmação de direitos, elencando exemplos de reportagens relevantes e emblemáticas sobre casos de violações dos direitos de meninas e mulheres. 

“Partimos da compreensão de que o enquadramento dado às notícias sobre aborto, focado nos direitos fundamentais e humanos das pessoas que gestam e não na criminalização, como ocorre com frequência, não só contribui para qualificar o debate e garantir a efetivação dos direitos como, também, é parte da responsabilidade profissional de atuar para a construção da justiça social e de gênero”, afirma Morgani Guzzo, jornalista no Portal Catarinas.

De acordo com o material, falar de aborto com responsabilidade exige, entre outras recomendações, fugir do debate dualista “a favor ou contra”. “A contrariedade geralmente é forjada a partir de noções moralizantes que ignoram a ciência e a dignidade de cada pessoa, por isso, deve ser combatida com informação qualificada, e não fomentada”, diz trecho do guia.

A publicação contempla ainda boas práticas para não atribuir crimes a ninguém, de maneira a preservar jornalistas e fontes envolvidas de possíveis processos por injúria, difamação e calúnia, além de trazer um guia de bolso com noções de segurança digital para preservar o sigilo da fonte, que é dever e direito da/o jornalista.

O Código de Ética das/os Jornalistas Brasileiras/os expressa, em seu capítulo 1º, artigo 2º, que o acesso à informação de relevante interesse público é um direito fundamental. Por isso, jornalistas não podem admitir serem impedidos/as por qualquer tipo de interesse ou barreira.

“Nada mais oportuno do que tratar da cobertura do aborto no dia que evidencia a liberdade de imprensa. Por ser capturado pelo estigma, o assunto é constantemente interditado e alvo de desinformação. Convidamos jornalistas e comunicadoras à cobertura responsável e afirmativa, pautada na ciência, na saúde pública, e nos direitos humanos e fundamentais das meninas, mulheres e pessoas que gestam”, afirma Paula Guimarães, diretora executiva do Portal Catarinas.

A publicação gratuita, em versão digital, está disponível aqui.

Professora escreve livro inspirado em aluno autista

Livro “Eu sou assim: Vejo o mundo de uma forma diferente” foi escrito para crianças e ensina inclusão aos adultos

Lucas Feitoza

Qual professor marcou sua vida? A professora Ligia Nascimento, 48 anos, é o tipo que com certeza marcou muitos estudantes. Ao observar seu aluno, o pequeno Abner, autista nível dois não-verbal, aprendeu a grande lição: “é assim que ele enxerga o mundo”. 

Foi então que Lígia escreveu seu livro “Eu sou assim: vejo o mundo de uma forma diferente” dando voz a Abner que se comunica através de gestos, comportamentos e sentimentos. Ligia acompanhou Abner por cinco anos. Na época ele tinha 4 anos, hoje tem 12. Devido a rotina eles não têm mais contato com frequência, agora ele é assistido pela Clínica do Autista em Itaboraí, onde mora. Ela conta que com ele aprendeu que o amor não precisa de palavras. 

Antes de publicar o livro Ligia deixou o projeto engavetado por cinco anos, enquanto isso pediu que sua filha Iris Nascimento, que na época tinha 13 anos, fizesse desenhos para compor a produção. 

Iris foi a responsável pelas ilustrações que mostram a maneira de Abner interagir com os ambientes, as pessoas e a forma de se expressar, além das coisas que gosta de fazer, como organizar os objetos em fileiras. “Para a gente pode parecer estranho porque estamos acostumados a achar que apenas o nosso jeito é certo, mas isso não existe” conta a jovem que hoje está com 20 anos e segue os passos da mãe como professora, Iris estuda pedagogia na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). 

Foto: Lucas Feitoza | Por causa do livro, a escritora participou de conversas nacionais e internacionais de forma virtual, com pessoas da Bolívia, Panamá, Portugal, França, Estados Unidos e Espanha

Multiplicando conhecimentos

Lígia que também é psicopedagoga, especialidade na educação que ajuda os alunos com a técnicas de psicologia voltadas para o aprendizado, resolveu se aprofundar para aprender mais sobre o autismo. Estudou sobre o Atendimento Educacional Especializado (AEE) para levar inclusão nas instituições onde leciona. Atualmente ela trabalha em duas escolas da região metropolitana do estado: Escola Municipal Afonso Salles, em Itaboraí, e Escola Municipal Carlota Machado, em Duque de Caxias. 

Depois de Abner a professora já trabalhou com outros alunos autistas. “Eu sempre tive um olhar para a inclusão”, conta. A partir da experiência com as crianças percebeu que elas são autodidatas, desenvolvem sozinhas habilidades como aprender outro idioma e pintura. Ligia está fazendo mais uma especialização; dessa vez em Orientação Educacional para poder auxiliar principalmente os pais de pessoas autistas. Inclusive conta que o objetivo de seu livro foi esse:

“[ Espero] que lendo a história de Abner as pessoas possam acolher não só as crianças mas as mães também. Que tenham menos mãos apontando e mais disposição para ajudar”,

afirma a educadora.

E já teve resultados positivos. Ela conta que recebe relatos de mães que identificaram o autismo nos filhos graças ao livro. Ligia aconselha os pais quando observa alguns comportamentos característicos do espectro autista nos alunos, como andar nas pontas dos pés, ou quando aparentam ser hiperativos. “Eu não sou especialista, mas ao invés de dizer que a criança é bagunceira eu procuro ajudar, envio recado para os pais irem até a escola e explico para procurarem um especialista”, conta. No caso das crianças, o profissional pode ser um neuropediatra, psiquiatra infantil ou uma equipe multiprofissional formada por especialistas da saúde mental.

Conquistando leitores mundo afora

Por causa do livro, a escritora participou de conversas nacionais e internacionais de forma virtual, com pessoas da Bolívia, Panamá, Portugal, França, Estados Unidos e Espanha. 

A professora se tornou defensora do direito das pessoas autistas e fala sobre a necessidade de escolas inclusivas com mediadores para ajudar as crianças, mas também destaca que todos os profissionais da educação podem colaborar “precisa se interessar, eu faço porque eu gosto, não aceito uma criança entrar no ano letivo e sair sem ter um pouco mais de autonomia,” conta.

O livro “Eu sou assim: vejo o mundo de uma forma diferenteestá à venda por R$30. Para entrar em contato com a professora e escritora Ligia Nascimento acesse @ligia.nascimento33, no Instagram.

Back2Black comemora os 60 anos do Dia da África

Programação traz artistas dos estilos afrobeats e amapiano – além da música tradicional do continente africano

A África surge mais uma vez, por meio de suas filhas, filhos e filhes, como o norte e o sul do Back2Black. Nesta 11a edição, o festival retorna com música, palestras, arte contemporânea, fotografia, teatro, moda, dança, literatura, rodas de conversa e gastronomia, desta vez, no Armazém da Utopia e no Parque Madureira.

A programação começa na Zona Portuária no dia 25 de maio (quinta-feira), data em que se comemoram os 60 anos do Dia da África, com a série de conferências Pret’Utopias, que tem curadoria dos escritores angolanos José Eduardo Agualusa e Kalaf Epalanga.

Se quando o festival começou, em 2009, a música africana era apenas um nicho do eurocêntrico rótulo “world music”, agora, ela pertence ao mainstream lotando estádios e circulando pelos grandes festivais e festas das grandes metrópoles. Desta vez, o Back2Black traz ao Brasil as novas sonoridades festivas que estão influenciando a música pop: os afrobeats (ou afropop), uma gama de ritmos eletrônicos diversos criados na década de 2000 e 2010 que têm, em sua essência, batidas de matrizes africanas; e amapiano, ritmo eletrônico que, hoje, é considerado o “novo deep house” após balançar massivamente as pistas, e os quadris, na África e na Europa.

Além disso, o B2B volta a trazer alguns expoentes de estilos musicais africanos já consagrados, como o jùjú, e o politizado afrobeat original, criado pelo gênio nigeriano Fela Kuti na década de 1960 – uma influência, inclusive, para os afrobeats.

SHOWS

No dia 26 de maio (sexta), o Palco Orun é do rapper Emicida, que une seu flow com a musicalidade entre o R&B e os ritmos populares cabo-verdianos — como a morna, o funaná e o batuku — que o músico, compositor e ativista Dino d’Santiago (Portugal) herdou de seus pais.

O palco também terá o multi-instrumentista, cantor e compositor Chico Brown convidando o também multi-instrumentista e compositor Mádé Kuti (Nigéria), neto de Fela Kuti – o que já deixa bem nítida a sua grande herança de família –, e que debutou em 2021 com o álbum “For(e)ward”.

Também estarão presentes as batidas do renomado DJ, compositor e produtor de hip-hop James BKS (França), o filho do celebrado saxaofonista camaronês Manu Dibango (morto pela Covid em 2020) que une o seu talento com os beats à batida tradicional de povos originários camaronenses como o Douala, o Bulu e o Bikutsi – tendo com resultado o álbum “Wolves of Africa (Part 1/2)”, do ano passado.

No Palco Aiye, as picapes da bombada DJ e produtora DBN Gogo (África do Sul), demonstrará o que fez o ritmo eletrônico amapiano se tornar, hoje, a nova queridinha dos clubs; e, em versão Sound System, o movimento cultural carioca Okupiluka, que divulga arte e música africanas em suas festas nas zonas Norte e Central carioca.

No dia 27 de maio (sábado), os destaques do palco Orun são o músico e cantor Salif Keïta (Mali). Também conhecido como a “voz de ouro da África”, o ex-integrante do lendário grupo africano Les Ambassadeurs e ativista por mais respeito e dignidade às pessoas com albinismo realiza apresentações memoráveis por onde passa ao entoar o seu som solar que une a musicalidade tradicional do povo mandinga com R&B, funk e jazz fusion.

O palco também tem, pela primeira vez no Brasil, a cantora e compositora Tiwa Savage (Nigéria) com a sua musicalidade inspirada nos grandes nomes da Black Music dos anos 1990, como Mary J. Blige e Chaka Khan; e mais o furacão do pop brasileiro, Iza, com um show exclusivamente feito para a noite especial; e a suavidade romântica da jovem revelação baiana que saiu das redes sociais para o mundo, Agnes Nunes.

No Palco Aiye, a cantora e compositora baiana Sued Nunes demonstra a sua ancestralidade e vivência através de suas canções carregadas de axé; o cantor, compositor e instrumentista brasiliense Hodari demonstra seu R&B romântico-erótico com pitadas de funk; e as carrapetas da carioca DJ Tamy garantem os grooves na pista.

Já no dia 28 (domingo), o festival aporta em um importantíssimo bairro negro do Rio, Madureira, e promove um grande intercâmbio musical entre África x Brasil.

Durante o festival, também será lançado o Instituto Back2Black, para promover residências entre artistas africanos e afrobrasileiros, desenvolver trabalhos com refugiados e ampliar as vozes das comunidades quilombolas. As tendas e barracas da Feira Preta também apresentarão a história e a riqueza por trás de criações gastronômicas africanas e afrobrasileiras, já que a fome nunca, jamais foi negra.


PROGRAMAÇÃO

25 de maio (quinta-feira) – Armazém da Utopia
Conferências Pret’utopias
Show de Mateus Aleluia

26 de maio (sexta-feira) – Armazém da Utopia
Palco Orun:
Emicida com Dino Santiago
Chico Brown convida Mádé Kuti
James BKS
DJ DBN Gogo

Palco Aiye:

DJ DBN Gogo
Okupiluka Sound System

27 de maio (sábado) – Armazém da Utopia
Palco Orun:
Salif Keïta
Tiwa Savage
Iza
Agnes Nunes

Palco Aiye:
Hodari
DJ Tamy
Sued Nunes

28 de maio (domingo) – Parque Madureira (Concha Acústica)
Encontro África – Brasil

Durante todo o Festival:
Exposição fotográfica
Contação de histórias com participação de líderes quilombolas e atores
Peça teatral “A chegança do Almirante Negro”, sobre o líder da Revolta da Chibata, João Cândido, feita pela Cia de Mystérios e Novidades
Talks sobre empreendedorismo negro
Rodas de conversa com líderes de comunidades quilombolas
Rodas de conversa com refugiados de países africanos

INGRESSOS
Os ingressos estão sendo vendidos pelo site do Eventin. E o festival acontece no Armazém da Utopia, no Boulevard Olímpico que fica Av. Rodrigues Alves 1.794, no Armazém 6, na Gamboa, nos dias 25, 26 e 27 de maio. No domingo, 28 de maio a festa é na Concha Acústica do Parque Madureira, na Rua Soares Caldeira 115, Concha Acústica, Madureira.