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Maré tem novo gerente executivo local

Felipe Brasileiro garante que, em sua gestão, vai se empenhar na resolução dos problemas

Maré de Notícias #147 – abril de 2023


Por Hélio Euclides

No início do mandato, o prefeito Eduardo Paes extinguiu as Regiões Administrativas (RAs) da cidade do Rio de Janeiro e as substituiu pelas Gerências Executivas Locais (GELs). Neste ano, a GEL Maré tem um novo gerente: Felipe Macedo Brasileiro, o terceiro no cargo em pouco mais de dois anos de governo municipal. 

Atualmente, são 61 GELs, que auxiliam a Prefeitura na administração das regiões da cidade, sendo responsáveis pela gestão dos serviços, fiscalização e comunicação com moradores.

Mas qual serviço é urgente na Maré, segundo seus moradores? Para Ivanete Medeiros, moradora do Parque União, a prioridade seria a dragagem dos valões. Segundo ela, “quando chove as ruas alagam; em alguns locais a água chega até a cintura”. 

Michele Valle, moradora do Rubens Vaz, concorda e acredita que “é necessário um olhar especial para as águas pluviais, com a limpeza dos bueiros retangulares. Também precisamos que ocorra uma campanha educativa para que a população não jogue lixo nas ruas.”

O Maré de Notícias entrevistou Felipe Brasileiro sobre estas e outras demandas da região e os planos para a sua gestão.

Maré de Notícias: Como a transição de RA para GEL afetou a Maré?

Felipe Brasileiro: A principal mudança é que agora a área de abrangência do nosso trabalho é do Conjunto Esperança até o Parque União. As favelas de Roquete Pinto, Praia de Ramos e Marcílio Dias são geridas pela GEL Penha. 

MN: Quais seriam as principais demandas da Maré?

FB: Percebemos que a Maré necessita de reformas das praças e um cuidado maior com as áreas de lazer. Outro ponto importante é trazer a Fundação Rio Águas para cá, para um trabalho que aumente o escoamento das águas da chuva. A parte de saneamento pode melhorar e isso vai ser minha prioridade. Estamos também pedindo à Secretaria da Juventude que traga o projeto Casa da Juventude para a Maré e disponibilize cursos profissionalizantes. 

MN: O projeto Bairro Maravilha vai chegar ao território? 

FB: No momento não posso responder; o que eu sei é que a Maré vai ser beneficiada com o projeto Asfalto Liso, para resolver o problema das ruas esburacadas.

MN: Os moradores reclamam que recentemente as ruas receberam asfalto sem recapeamento e alagaram por falta de escoamento da água da chuva.

FB: Vamos acompanhar as etapas para que seja realizado o trabalho com orientação, da melhor forma possível. Não será uma obra feita de forma rápida, em véspera de eleição.

MN: Como terceiro gerente deste mandato, haverá continuidade de projetos anteriores?

FB: O que posso garantir é que vou cumprir os dois anos de atuação. Hoje estou acordando cedo e dormindo tarde para correr atrás das secretarias. Quero brigar pela Maré. Sem desmerecer as administrações anteriores, quero fazer a diferença.

MN: Em janeiro, falamos sobre a questão da acessibilidade na Clínica da Família Diniz Batista dos Santos, no Parque União. Quando isso será resolvido?

FB: Ainda não tenho a resposta da secretaria responsável, mas vou reforçar o pedido do cuidado com o entorno da clínica. 

MN: Como melhorar a execução dos serviços e o diálogo com a população? FB: Vamos fazer a nossa parte, mas o morador também precisa fazer a dele, preservando e cuidando dos espaços públicos. Aqui tem um gestor que ama a Maré, mas ele só vai dar certo se todos trabalharmos juntos.

Operação policial na Maré causa pânico e descumpre legislação

A operação, que é a terceira que acontece na Maré em 15 dias, foi iniciada na madrugada desta segunda

Por Redação

A operação do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) da Polícia Militar foi iniciada nos primeiros minutos dessa segunda dia 17/04, por volta das 00h05. Como parte do cotidiano de um fim de domingo nas favelas da Maré, aconteciam diversos eventos e muitos moradores circulavam nas ruas quando veículos blindados e homens da polícia militar acessaram as favelas Nova Holanda e Parque União, iniciando o confronto. Vídeos que estão circulando nas redes sociais desde a madrugada evidenciam o pânico gerado nas pessoas com o início da ação. 

A operação, que teria sido motivada pela morte de um policial militar baleado em um assalto na Penha no último sábado, violou algumas das determinações da ADPF das Favelas.

Do que trata a ADPF?

ADPF é um tipo de ação judicial, prevista no artigo 102, § 1º, da Constituição Federal de 1988, que tem por objetivo impedir que o poder público pratique condutas inconstitucionais contra a sociedade. A ADPF das Favelas foi impetrada em novembro de 2019 pedindo que fossem reconhecidas e sanadas as graves violações ocasionadas pela política de segurança pública do estado do Rio de Janeiro à população negra e pobre das periferias e favelas. A decisão também pediu uma série de medidas que deveriam ser adotadas pelo Governo do Estado do Rio, com intuito de reduzir os impactos causados pela violência nesses locais, como a presença de ambulâncias durante as ações; câmeras nas viaturas policiais, proibição das operações no período de entrada e saída escolar. Nenhuma medida está sendo cumprida pelas autoridades fluminenses.

A ação foi construída coletivamente com a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, Educafro, Justiça Global, Redes da Maré, Conectas Direitos Humanos, MNU, Iser, IDMJR, Coletivo Papo Reto, Coletivo Fala Akari, Rede de Comunidades e Movimento contra a Violência, Mães de Manguinhos, todas entidades e movimentos sociais reconhecidas como amicus curiae (amigo da corte) no processo.

Uma das proponentes da ADPF, a Redes da Maré publicou uma nota que cita o desrespeito dessas medidas, como a restrição da realização de operações policiais durante o período da noite. 

Manhã de terror

Durante a ação policial de hoje, moradores foram violentados psicologicamente pelos agentes policiais, com uso de gás de efeito moral e com terror psicológico feito diretamente a pessoas que tentavam se abrigar em uma clínica da família durante o confronto. Duas pessoas foram mortas e duas pessoas foram feridas na ação. Notícias falsas sobre a morte de uma criança de 8 anos circularam nas redes sociais. Não há registro de entrada ou óbito de nenhuma criança nos hospitais da região ou IML.

A Educação e a Saúde também foram afetadas pela operação policial de hoje:  23 unidades escolares não funcionaram, afetando 8.274 alunos, de acordo com a Secretaria Municipal de Educação; e a Clínica da Família Jeremias Morais da Silva também teve o atendimento suspenso durante o dia.

Essa é a terceira operação policial que acontece na Maré só no mês de abril. Na última sexta-feira (14/04) uma operação da Polícia Civil iniciada às 15h, hora de saída das crianças das escolas mareenses, também afetou a execução das atividades na região, como o lançamento da Pesquisa Sobre os Impactos da Violência Armada na Vida das Mulheres da Maré, que acontecia na Casa das Mulheres da Maré, no Parque União. A deputada Renata Sousa publicou vídeos em suas redes sociais sobre o momento em que os tiros assustaram as mais de 70 mulheres presentes na atividade.

Boletim de Segurança Pública

Após três anos de diminuição das operações policiais no conjunto de favelas da Maré, em função, especialmente, das ações judiciais provocadas pela sociedade civil, como a “ADPF das Favelas” e a Ação Civil Pública (ACP) da Maré, a sétima edição do Boletim Direito à Segurança Pública da Maré, identificou em 2022 um aumento de 145% no número de intervenções policiais e, por consequência, de homicídios em relação a 2021. Em 2022 foram 27 mortes decorrentes das operações policiais. 

A pesquisa que monitora desde 2016 os impactos da violência armada nas 16 favelas da Maré, também revelou o descumprimento da ADPF nas favelas nas operações no ano passado: em nenhuma delas houve a presença de ambulância ou equipes de saúde; 62% das operações aconteceram próximo a escolas e creches e 67% delas próximo a unidades de saúde. O estudo completo você encontra nesse link.

Procurada a Polícia Militar do Rio de Janeiro não informou a motivação da operação de hoje.

Por uma educação pública com mais qualidade na Maré

Projeto de articulação da Redes da Maré com as escolas é ampliado em 2023

Maré de Notícias #147 – abril de 2023

Por Adriana Pavlova

O dia 8 de março de 2023 foi de intensa atividade na Escola Municipal Professor Josué de Castro, na Vila do João. Numa sala lotada, meninas de 12 e 13 anos conversam sobre pobreza menstrual, enquanto brincavam de Crônicas Maréas, um jogo de cartas ambientado na Maré, sobre questões ligadas à sexualidade e à reprodução. Em outra sala, adolescentes participavam de um bate-papo sobre direitos sexuais e reprodutivos de diferentes gêneros. 

 Essas e outras conversas, mediadas pela equipe da organização Casa das Mulheres, fizeram parte da programação do Dia Internacional da Mulher, organizada pela direção da escola municipal Josué de Castro e fruto da parceria entre escolas da região e a Redes da Maré. 

O trabalho de articulação que já acontecia em duas escolas, em 2023, foi ampliado para atividades regulares em oito unidades escolares municipais e estaduais do conjunto. Agora, além do Colégio Estadual Professor João Borges de Morais e no CIEP 326 Professor César Pernetta, passam a fazer parte do projeto o Espaço de Desenvolvimento Infantil Moacyr de Góes, as escolas municipais Nova Holanda, Josué de Castro, Millôr Fernandes e Olimpíadas Rio 2016, além do CIEP Samora Machel.

Aprendizado e missão

O objetivo é contribuir na formação de estudantes e professores, em busca de uma educação pública de mais qualidade na Maré. “São ações que ampliam as possibilidades pessoais, educacionais e profissionais dos alunos e dos trabalhadores da educação”, explica Patrícia Vianna, coordenadora do projeto, que trabalha com três articuladores. 

Segundo ela, “os alunos querem entender questões de gênero e raça, algo que já é a missão de equipamentos como a Casa das Mulheres e a Casa Preta. Outro assunto recorrente é a segurança pública, para o qual temos o auxílio da equipe do Eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré”. 

 Desde o início do ano letivo, os articuladores estão visitando as escolas para apresentar os projetos e equipamentos da Redes da Maré para docentes, coordenação e direção. Em seguida, as escolas poderão contribuir com demandas específicas para a articulação continuada. 

De acordo com a coordenadora, a ambição é grande: serão oferecidos cursos teóricos e práticos, palestras, debates, jogos e atividades lúdicas ou artísticas, além de contribuição na construção do projeto político-pedagógico de cada escola e do incentivo aos grêmios escolares. 

 “Identificamos os grêmios que ainda não fizeram eleições para poder ajudá-los na organização, contribuindo para se estabelecerem como grupo e respeitando as ideias e autonomia dos alunos”, explica a articuladora Adelaide Rezende.

Em 2023, oito unidades escolares da Maré passam a fazer parte do trabalho de articulação com estudantes e professores – Foto: Patrick Marinho

Pouca informação

 No ano passado, a articulação aconteceu em dez escolas da Maré, mas, na maioria delas, de forma pontual. Houve, entre outras, a participação da Casa Preta na Semana da Consciência Negra no Colégio Estadual Bahia; a visita do Caminhão Museu da Independência do Brasil, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), nos CIEPs Elis Regina e Samora Machel, atraindo cerca de mil pessoas; e a formação do SLAM de Poesia para estudantes na Festa Literária das Periferias (Flup) na Maré. 

Outro destaque foi uma série de 13 oficinas sobre sexualidade e saúde reprodutiva, ministradas pelas facilitadoras da Casa das Mulheres, no CIEP César Pernetta.

 “De um lado tem as alunas e os alunos com escassez de informação e, do outro, diretores em busca de ajuda para o aprofundamento de temas, porque muitas vezes os professores não se sentem seguros em abordá-los em sala”, diz a facilitadora Andreza Dionísio.

Com o jogo Crônicas Maréas e um saco onde são depositadas confissões e dúvidas anônimas, ela trata de assuntos como direitos sexuais reprodutivos, sexualidade, marcadores sociais, racismo, machismo e lgbtfobia.

Reduzir a evasão

A discussão sobre gênero e raça faz parte do projeto Toda menina na escola, parceria do Fundo Malala no Brasil com a Redes da Maré, cujo objetivo é fortalecer políticas públicas que ajudem a reduzir o número de garotas entre 11 e 17 anos fora da escola, promovendo o acesso à educação e o combate à evasão.

 “Ao incentivar o debate sobre questões de gênero e de raça tão presentes no dia a dia de uma menina favelada, contribuímos para a ampliação do horizonte das estudantes e sua permanência na escola”, defende Andréia Martins, diretora da Redes da Maré.

As direções das escolas veem a parceria como a chance de mergulhar em temas que, no cotidiano escolar, nem sempre são abordados. “Um dos problemas da escola pública é a falta de recursos humanos. Precisamos de gente para trabalhar o empoderamento das meninas. Com a Redes da Maré, seremos capazes de fazer isso”, avalia Christiane Lagarto, diretora da Escola Municipal Josué de Castro. 

Ação virtual

 Em 2020, por conta da covid-19 e dos consequentes prejuízos para a educação, especialmente da favela, a Redes da Maré organizou encontros virtuais com gestores de escolas da região, para debaterem os desafios da pandemia. 

Em 2022, as reuniões remotas passaram a acontecer presencialmente uma vez por mês, com um grupo regular de representantes do CIEP César Pernetta, das escolas municipais Osmar Paiva e Marielle Franco, do Projeto de Educação de Jovens e Adultos do CIEP Ministro Gustavo Capanema e do Colégio Estadual João Borges de Moraes.

 A parceria da Redes da Maré com o Colégio João Borges, aliás, data de antes da inauguração da escola em 2018, num prédio na Nova Holanda, onde estava prevista uma escola técnica. A instituição participou ativamente da campanha da sociedade civil junto à Secretaria Estadual de Educação para a abertura da escola de Ensino Médio em turno integral, com ênfase em empreendedorismo:  “Aqui tudo é no coletivo, via assembleia, e a representante da Redes da Maré, a Patrícia Vianna, tem uma cadeira nesse grupo, porque a Redes é uma parceira fundamental para a história da escola. O curso de robótica, que nasceu desta parceria, fez da nossa escola bicampeã no torneio nacional”, explica o coordenador pedagógico Bruno Silva Barros.

Atividade da Casa das Mulheres na Escola Municipal Professor Josué de Castro – Foto: Patrick Marinho

Vacinação em queda na Maré

Dados levantados Prefeitura do Rio alertam queda de vacinação de doses de reforço contra o coronavírus na Maré

Beatriz Amat (*)

A população da Maré teve queda na adesão da segunda dose de reforço da vacina Covid-19. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura do Rio de Janeiro, houve uma redução de 60% na adesão da segunda dose de reforço da vacina contra a Covid-19 em comparação à primeira de reforço nas 16 favelas que compõem a Maré.

Atualmente, a segunda dose de reforço está disponível para toda população acima de 18 anos gratuitamente nos postos de saúde. Na Maré, foram distribuídas, desde 2021, 236.013 doses da vacina contra a Covid-19, segundo a Secretaria Municipal de Saúde do Rio.

*Dados coletados pela Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura do Rio de Janeiro

O Instituto Vacina Maré avaliou a efetividade da vacina Fiocruz/Astrazeneca contra a Covid-19 no Conjunto das 16 favelas da Maré, e mostrou que a proteção contra o coronavírus sintomático sobe 31,6% três semanas após tomar a primeira dose, e essa proteção sobe para 65%, após a segunda dose.

O coordenador do Eixo de Saúde da Redes da Maré, Everton Pereira, explica que a diminuição do número de doses de reforço se deu devido ao enfraquecimento de campanhas de mobilização: “Não é só ofertar a vacina para conseguir engajar a população”. 

Everton também afirma que a propagação de notícias falsas contribuiu para a queda da vacinação infantil. “Foi muito pesado o processo de criação de fake news em relação às crianças, à medida que essa faixa etária foi entrando no calendário de vacinação. As fake news impactaram muito nisso e diminuiu consideravelmente a taxa de cobertura, além das doses de reforço dessa população mais nova.”

Pesquisa Vacina Maré

Em 2020, a campanha de vacinação das primeiras doses na Maré foi um êxito nacional com quase 37 mil pessoas vacinadas entre os dias 29 de julho e 1° de agosto. A meta inicial da ação que era imunizar 30 mil mareenses. Com o sucesso a Maré chegou a ter a menor taxa de transmissão e índice de internação por Covid na capital fluminense.

O projeto Vacina Maré foi conduzido pela Fiocruz em parceria com o Departamento de Engenharia Industrial da PUC-Rio, o Instituto de Saúde Global de Barcelona e a Prefeitura do Rio, por meio da Secretaria Municipal de Saúde. Contou com o apoio da Redes da Maré e do Projeto Conexão Saúde – De Olho na Covid e o financiamento da Fundação Bill e Melinda Gates. 

Everton Pereira explica que o sucesso, além de ser atribuído à parceria da Fiocruz, é consequência das ações locais de mobilização da Redes da Maré, que têm a confiança dos moradores, e conscientizaram sobre o imunizante por veículos de comunicação comunitários e por influenciadores digitais.

A partir da vacinação em massa, a Fiocruz desenvolveu estudos sobre a efetividade da vacina Fiocruz/Astrazeneca a curto prazo, mas também a Pesquisa Vacina Maré na qual acompanha duas mil famílias e oito mil pessoas, incluindo crianças, num monitoramento de longo prazo para avaliar a transmissão e as dinâmicas da circulação do vírus. A vigilância genômica, que sequencia as amostras do vírus encontradas na Maré para detectar variantes, também segue em andamento.

Michele Coração, de 43 anos e moradora da Maré, é uma das acompanhadas pelo estudo. Ela conheceu a iniciativa por meio do Hospital Pedro Ernesto, onde trabalhava. A pesquisa coleta o sangue de Michele e dos demais participantes rotineiramente para estudar o impacto da pandemia no território da Maré. “A importância de participar é dar forças a quem tem medo de tomar a vacina”, afirma Michele.

No entanto, Michele faz parte das estatísticas da Maré que só tomou a primeira e a segunda dose do imunizante porque achou que já havia acabado a campanha de imunização: “Não ouço ninguém mais falar da vacina da Covid-19”.

Retomar vacinação das doses de reforço

Everton Pereira explica que é importante completar o esquema de imunização para enfrentar o coronavírus. “Vacinação é uma ação de saúde coletiva, não é uma ação individual.”

O coronavírus não acabou e a vacinação continua. Para completar o ciclo do imunizante, como a Michele, basta ir a qualquer unidade de saúde da Maré.

  • Crianças de 6 meses a 4 anos podem tomar três doses da vacina (Pfizer baby) e de 3 a 4 anos podem tomar duas doses da Coronavac. 
  • Jovens e adolescentes, de 5 a 17 anos, podem tomar as duas doses da vacina e uma de reforço.
  •  A partir de 18 anos, já é possível tomar as duas doses do imunizante e as duas de reforço.

A vacina bivalente, em baixa adesão na Maré e no país todo, protege contra a cepa do vírus original, registrada na China, e contra a variante Ômicron, registrada na África do Sul.

A imunização começou em fevereiro e está disponível para:

  • pessoas com 60 anos ou mais;
  • gestantes e puérperas; trabalhadores da saúde;
  • pessoas a partir de 12 anos de idade com comorbidades;
  • pessoas que vivem ou trabalham em instituições de longa permanência; indígenas e quilombolas;
  • pessoas com deficiência permanente (a partir de 12 anos);
  • adolescentes cumprindo medidas socioeducativas (12 a 17 anos);
  • população privada de liberdade (a partir de 18 anos) e funcionários do sistema prisional.

Relembre:

31/12/2019 – Surge o Coronavírus

26/02/2020 – Primeiro caso confirmado no Brasil

2020: A Maré apresenta letalidade duas vezes maior que a cidade do Rio de Janeiro. *Dados divulgados em 18/08/2022

17/02/2021 A enfermeira Mônica Calazans, de 54 anos, é a primeira pessoa a ser vacinada contra a Covid-19 no Brasil.

29/07/2021 – Começa a vacinação na Maré com o Raphael Vicente sendo o primeiro morador da Maré a se vacinar. A Campanha Vacina Maré, iniciativa da Fiocruz com a Redes da Maré e Prefeitura do Rio de Janeiro, tinha como meta vacinar 31% da população adulta, e no terceiro dia 99,14% do público-alvo estava vacinado.

04/08/2021 – Calendário é estendido e foram imunizadas quase 37 mil pessoas.

2021 – Há diminuição de 48% de taxas de óbitos por semana, em comparação a outras favelas que não tiveram essa intervenção, e queda de 89% da mortalidade desde seu início. *Dados divulgados em 18/08/2022

24/08/2022 111.653 pessoas são vacinadas com a primeira dose, superando a totalidade da população adulta da Maré, seguindo o último Censo Maré de 2013 (Fiocruz). 91.347 pessoas foram imunizadas com a segunda dose, ou dose única, equivalente a 93,4% da população da cidade do Rio.

27/02/2023 Começa a vacinação do imunizante bivalente e doses de reforços contra o coronavírus seguem sendo distribuídas pelas Unidades de Atenção Primária.

(*) Beatriz Amat é estudante universitária vinculada ao projeto de extensão Laboratório Conexão UFRJ, uma parceria entre o Maré de Notícias e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Observatório de Favelas oferece curso de História da Arte Periférica

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Interessados podem se inscrever gratuitamente até dia 23 de abril. Formação presencial acontece na Maré entre abril e julho

Redação

O Observatório de Favelas através do Galpão Bela Maré, em conjunto com o Sesc Ramos, abre inscrições para a segunda edição do curso de História da Arte Periférica. As pessoas interessadas podem se inscrever gratuitamente, através do formulário online até 23 de abril. As atividades são voltadas para pessoas a partir dos 18 anos.

As aulas vão acontecer presencialmente, às sextas-feiras de 28 de abril a 14 de julho das 15 às 17 horas no Galpão Bela Maré, localizado na Rua Bittencourt Sampaio, 169, Maré, Rio de Janeiro – RJ. 

O objetivo do curso é apresentar aos alunos um conceito de arte a partir das narrativas e produções periféricas na atualidade e suas intersecções com questões de gênero, raça e territorialidade. Outro ponto do curso é a busca de um diálogo com manifestações artísticas contemporâneas, sua produção e difusão com as vivências afrodiaspóricas e indígenas.

Para a educadora responsável pelo eixo de mediação e acessibilidade do Galpão Bela Maré, Ana V Lopes, o curso propõe uma imersão crítica de forma específica na produção artística contemporânea, abordando as pesquisas e trabalhos feitos a partir de vivências periféricas.

“O que o Curso de História da Arte Periférica propõe é apresentar aos alunos diferentes artistas com ênfase às produções faveladas e LGBTQIAP+. A partir disso, a turma compartilha as suas perspectivas e visões de mundo sobre a arte contemporânea. A expectativa é que ocorra a cada encontro uma rodada de conversa e uma prática reflexiva sobre o que é arte favelada e como esse movimento se expande na atualidade”, explica Ana V.

As aulas serão ministradas pela professora Mery Horta, doutoranda e mestre em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Nascida e criada no Rio de Janeiro, Mery é uma mulher preta e periférica. Atuando em vários projetos de dança no Rio, ela desenvolve desde 2009 diversos trabalhos autorais em dança, tendo participado de festivais internacionais no Brasil, França e Dinamarca. Atualmente trabalha na pesquisa “Corpo-Coisa-Mundo”. Caminhos para uma poética do movimento”.

Sobre o Galpão Bela Maré

O Galpão Bela Maré, projeto do Observatório de Favelas realizado em parceria com a Automatica, é um espaço voltado à difusão, produção, mobilização, formação e fruição das artes e das expressões culturais através de suas mais variadas manifestações, visando, sobretudo, a articular a produção artística periférica com o circuito da arte contemporânea no Rio de Janeiro. Inaugurado em 2011, consolidou-se como um espaço de referência na cidade para o debate do papel político da arte, especialmente no contexto das periferias.

Um parque chamado Maré

Das palafitas e do aterramento nasceu a favela à beira da Avenida Brasil

Maré de Notícias #147 – abril de 2023

Por Hélio Euclides

O Parque Maré causa alguma confusão entre os moradores sobre onde exatamente começa e termina. A favela fica entre a Baixa do Sapateiro e a Nova Holanda, às margens da Avenida Brasil; os primeiros barracos e palafitas construídos datam de 1953. O aterramento foi feito pelos próprios moradores e a proximidade com a via expressa ajudou na rapidez da ocupação e na densidade populacional do território. 

No dia 26 de julho de 1960, foi criada a associação de moradores que, dentre outros objetivos, tinha como missão principal lutar pela permanência dos moradores no local. Na época, o Rio de Janeiro era a capital do Brasil e a política para as favelas, a remoção e erradicação das construções. Com a Maré não seria diferente. Em 1979, foi criado pelo governo o Projeto Rio, que visava melhorar a infraestrutura do território. 

Em 2017, a jornalista Claire Jones escreveu para o site RioOnWatch que, “embora não fosse uma remoção em grande escala que levaria os moradores da Maré para projetos habitacionais na periferia do Rio, o objetivo do projeto era demolir as casas que os moradores haviam construído durante décadas, e construir conjuntos habitacionais no seu lugar. Na ausência de título de propriedade do terreno onde moravam, no entanto, as casas representavam toda uma vida de investimento e em nada se pareciam com os barracos esquálidos que os governos reportavam que fossem. Os conjuntos habitacionais do governo, mesmo no local, representavam um passo atrás para muitos moradores da Maré.” 

Em 11 de junho de 1979, o então ministro do Interior em exercício, Mário Andreazza, assinou uma “Minuta Carta”, uma espécie de rascunho de um documento oficial, que reconhecia a Comissão de Defesa das Favelas da Área da Maré (Codefam) como representante dos moradores junto às autoridades que tratavam do Projeto Rio

Na época, o presidente da Codefam era Manuelino Silva; ele também estava à frente da associação de moradores do Parque Maré. À sua luta veio se juntar a força de outras lideranças, como a de José Gomes Barbosa, o Zé Careca, que conseguiu trazer o governador, Carlos Lacerda, à favela. 

Zé Careca contribui também para o aterramento do Parque Maré, convencendo os próprios amigos — caminhoneiros que transportavam a terra da derrubada dos morros na cidade — a trazer a carga para a favela. Posteriormente, ele foi diretor e presidente da associação por 12 anos.

Hoje, a favela conta com um dos maiores comércios na Maré, em especial na Rua Teixeira Ribeiro, logradouro que é uma homenagem a João Teixeira Ribeiro Júnior, morador que iniciou a urbanização e loteamento de Bonsucesso, em 1892.

Memórias eternas

Nivaldo Braga de Lima, de 63 anos, conhecido como Zé Gordo, lembra com carinho do Parque Maré. “Os avanços vinham por meio de lideranças e pessoas marcantes como Ivan Neguinho, Ivanildo Alves (que tinha o apelido de Seu Baia), Dona Moura, Severino Gordo, Biu, dona Edite, seu Campista Barbeiro e Manoel Tampinha. O nosso ponto de energia elétrica era de responsabilidade do Zé Luiz. O morador da palafita tinha como sonho aterrar seu espaço, depois passar vermelhão no chão e encerar para brilhar”, conta ele, hoje morador da Vila dos Pinheiros.

Ângela Viana, de 58 anos, nasceu, cresceu e vive na mesma casa. Ela é a atual presidente da Associação de Moradores do Parque Maré e sente certa nostalgia ao falar da favela. 

Ela conta que, “muitas vezes, fecho os olhos e vou ao passado, sinto aquele vento da tarde. Adorava aquele tempo do barraco, quando os vizinhos ajudavam uns aos outros. A mãe saía para trabalhar e os moradores olhavam a casa e os filhos dela. A favela foi uma construção coletiva, pois os moradores aterraram e criaram as ruas. Eles arregaçavam as mangas. Tenho orgulho e satisfação de morar e ser liderança comunitária”.

Cada favela que forma esse bairro chamado Maré tem sua própria história e diversidade cultural. Em 2023, esta coluna pretende mostrar um pouco de cada uma delas. No nosso próximo encontro descobriremos como nasceu a favela Rubens Vaz. Até lá!