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Flávio Dino e Redes da Maré recebem apoio de organizações e sociedade civil

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Após falsas notícias, ministro participa de audiência na Comissão de Constituição e Justiça

Por Jéssica Pires

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, compareceu a uma audiência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, nesta terça-feira (28), para apresentar e debater com os parlamentares os principais acontecimentos relacionados ao ministério, entre eles a visita que fez à Maré, no dia 13 de março.

Na ocasião, o ministro, acompanhado de sua comitiva, ouviu questões e desafios no campo da segurança pública de integrantes de coletivos e organizações (Coletivo Papo Reto, LabJaca, Instituto de Defesa da Pessoa Negra (IDPN), Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial (IDMJR), Movimentos, Mulheres do Salgueiro e GENI/UFF). A articulação para a realização da visita foi da Organização Open Society Foundations, rede internacional que apoia grupos e organizações da sociedade civil em todo o mundo, com o objetivo de promover justiça, educação, saúde pública e mídia independente. No mesmo dia aconteceu o lançamento do Boletim Direito à Segurança Pública da Redes da Maré. A publicação pôde ser entregue em mãos ao ministro, e na mesma semana, ao presidente Lula, durante a cerimônia de restauração do PRONASCI (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania).

Na sequência da visita, parlamentares, alguns veículos de comunicação e perfis nas redes sociais criaram uma narrativa sugerindo o envolvimento e apoio do ministro e das organizações presentes no encontro, sobretudo a Redes da Maré, com grupos civis armados da região. A estratégia desse grupo de pessoas reforça a ideia de criminalização e marginalização dos territórios de favelas como um todo e deslegitima ações que buscam uma participação social a partir da perspectiva da defesa de direitos para todos, no campo da segurança pública. 

“Política de segurança não pode se basear na doutrina do inimigo interno. Há pessoas que acham que segurança pública é dar tiro, de qualquer jeito. Isso não é segurança pública, isso pode ser até homicídio”, reforçou o Ministro da Justiça e Segurança Pública durante e audiência.

Repúdio à desinformação e apoio à luta pela garantia de direitos em favelas:

Na contramão dessas falsas informações, durante a audiência que aconteceu na última terça, parlamentares também se posicionaram, em defesa ao ministro e às ações de organizações que atuam pela melhoria da qualidade de vida dos moradores da Maré. Um deles foi o deputado Tarcisio Mota, que além de citar os diversos exemplos de atividades e ações culturais, de educação e de outras frentes que acontecem na Maré, chamou a atenção para o boletim elaborado e lançado pela Redes da Maré:

A Fiocruz publicou uma nota em solidariedade à Redes da Maré e repúdio às fake news divulgadas nessas últimas semanas. Também em resposta a este tipo de narrativa, professores, estudantes e pesquisadores que atuam na Maré e em outras favelas divulgaram nesta terça-feira (28), uma nota de apoio a Flávio Dino e contra a criminalização da pobreza.

Leia abaixo a íntegra da nota 

“Nós, professores/as, técnicos/as, estudantes e pesquisadores/as de universidades e centros de pesquisas do Rio de Janeiro, que desenvolvemos atividades acadêmicas junto ao Conjunto de Favelas da Maré, repudiamos veementemente as manifestações de preconceito que se seguiram à visita do ministro da Justiça Flávio Dino à organização não-governamental Redes da Maré, sugerindo que a mera presença no território implicaria ligações com o crime e, desse modo, insinuando que cidadãos que atuam naquele espaço, moradores ou não, seriam cúmplices da criminalidade.

Temos o compromisso com o avanço científico, tecnológico, artístico e cultural da sociedade, por meio de atividades de ensino, pesquisa e extensão, colaborando para a formação de uma sociedade justa, democrática e igualitária. Nossos projetos, ações e parcerias no território da Maré prescindem de autorização de grupos armados para se efetivarem. As insinuações em contrário, vindas de segmentos da política parlamentar e de certos meios de comunicação, revelam um viés racista que criminaliza inocentes e desrespeita o conjunto da população local. Esse ataque torpe e grosseiro não atinge apenas o ministro e pesquisadores, agride mais de 140 mil moradores da região”.

Confira as assinaturas aqui.

Diretora Renata Tavares ganha Prêmio Shell com peça “Nem Todo Filho Vinga”

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O prêmio de Melhor Direção contemplou a primeira mulher negra indicada na categoria

Por Andrezza Paulo

A encenadora Renata Tavares conquistou um dos maiores prêmios cênicos do país, o Prêmio Shell de Teatro como Melhor Direção pela peça “Nem Todo Filho Vinga”. Renata foi a primeira mulher negra indicada na 33a edição da honraria e destacou a importância de batalhar para levar a história da periferia para os festivais: “Essa peça surgiu da vontade de jovens da Maré e de outras favelas que buscavam representatividade no teatro. E o “Nem Todo Filho Vinga” vem pra se vingar em alguns aspectos, mas, principalmente, para afirmar que todo filho vingará mesmo enfrentando todas as dificuldades. Estaremos sempre na luta para vingar”, conta. 

Jeff Melo (27), protagonista da peça e morador da Maré, conta que o reconhecimento pela direção de Renata representa muito para eles e, principalmente para que a favela continue sonhando: “a gente pode e consegue alcançar Shell e muitos outros sonhos e hoje o que eu mais anseio é que as portas se abram ainda mais para os nossos artistas favelados. Sonhem grande!”, disse.

Nem Todo Filho Vinga: 

A peça conta a história de Maicon, jovem negro da Maré que consegue ser aprovado para cursar Direito na UFRJ e passa a confrontar os ideais de justiça do Estado Brasileiro diante dos inúmeros eventos de injustiça que ele e seu grupo de amigos vivem diariamente. Ao longo do seu ano letivo, o jovem sentirá, na pele, como essas políticas de precarização abalam todas as esferas da vida. Chegando ao ponto de colocá-lo contra seu melhor amigo.

STF condena Rio a pagar indenização de R$ 200 mil por morte em operação policial

A decisão dá jurisprudência a outros casos de vítimas de operações policiais nas favelas do Rio

Por Daniele Moura

A família de Luiz Felipe Rangel Bento, morto em 2014 durante operação da Polícia Militar no Morro da Quitanda, em Costa Barros, receberá R$ 200 mil do Estado com base numa decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). A criança foi baleada na cabeça enquanto dormia em casa em junho de 2014.

A decisão da Segunda Turma do STF, anunciada nesta terça-feira (28), determina que o poder público é obrigado a pagar indenização por danos morais e materiais por mortes oriundas de operação policial mesmo nos casos em que a perícia for inconclusiva sobre a origem do projétil.

Com a decisão, os familiares de Luiz Felipe devem receber cerca de R$ 200 mil em indenização, em valor ainda a ser corrigido. Eles também poderão receber ajuda médica e psicológica, com as despesas custeadas pelo governo do Rio.

A família questionou decisão do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ), que negou a indenização sob o argumento de que não ficou configurada a responsabilidade do poder público, porque não ficou comprovado que o tiro que atingiu a criança foi disparado por um policial.

Em fevereiro, quando o julgamento do caso foi iniciado, o ministro Gilmar Mendes defendeu que cabe ao Estado comprovar que uma ação foi legal, quando ocorre uma morte durante operação policial. Na avaliação do ministro Gilmar Mendes, caso não consiga demonstrar, cabe ao Estado indenizar a família da vítima por danos morais.

Mendes afirmou ainda que as operações policiais no Rio são “desproporcionalmente letais” e que “essa criança estava dormindo com sua mãe, quando recebeu esse balaço”. “O Estado fere e mata diariamente seus cidadãos especialmente em comunidades carentes”, afirmou o ministro.

De acordo com os autos, o projétil não foi encontrado e, portanto, não houve perícia. O ministro Gilmar Mendes destacou, ainda, que os policiais não usavam câmeras corporais.

O ministro André Mendonça manifestou inconformismo com a situação. “Como assim o projétil não foi encontrado? O menino estava em casa, dormindo”, afirmou. Segundo ele, o estado foi omisso ao não empregar todos os meios para elucidar a morte da criança. Em nome do Estado brasileiro, ele pediu desculpas à família de Luiz Felipe. “Um pedido de desculpas a essa família, em nome do Estado brasileiro, e que o reconhecimento da Justiça possa minimizar a dor e trazer a esperança e a boa memória.”

O ministro Nunes Marques foi o único a ir contra a decisão. Procurada, a Procuradoria Geral do Estado (PGE) informou que aguarda a publicação do acórdão para se manifestar nos autos do processo.

Aulas de teatro gratuitas estão com inscrições abertas na Maré

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Iniciativa faz parte do programa de extensão da UNIRIO em parceria com a Redes da Maré

Samara Oliveira

Uma parceria que já dura há 12 anos, ganha mais um capítulo no Conjunto de Favelas da Maré. O programa “Teatro em Comunidades” da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), em parceria com a Redes da Maré, faz parte do programa de extensão do Departamento de Ensino do Teatro da universidade, e está com inscrições abertas.

Podem se inscrever crianças e adolescentes de 8 a 17 anos no Centro de Artes da Maré (CAM) localizado na Rua Bittencourt Sampaio, nº 181, e a partir dos 14 anos, sem limite de idade, para compor a turma intergeracional devem se inscrever no Centro Municipal de Saúde Américo Veloso, localizado na Rua Gérson Ferreira, nº 100, em Ramos. As aulas começam neste sábado (1), mas as inscrições seguirão abertas para preencher todas as vagas e também para abrir lista de espera para as próximas turmas. 

A iniciativa de extensão foi criada em 2011 coordenada pela professora Marina Henriques Coutinho desde então. 

“Vejo essa parceria entre UNIRIO e Redes como uma política de via de mão dupla, na qual os saberes produzidos na universidade dialogam com os saberes produzidos na Maré. A parceria contribui com a formação dos(a) licenciandos(as) em Teatro (Unirio) e também com a formação pessoal e artística das crianças e jovens mareenses que, muitas vezes, entram em contato com a linguagem do teatro pela primeira vez. Há também uma ação de formação de público quando apresentamos a Maré de espetáculos no CAM. As peças que montamos abordam, quase sempre, com humor e crítica, temas relativos às vivências dos participantes no território. Percebo este programa como uma ação política que busca democratizar não apenas o acesso à arte mas, principalmente, a produção de arte pelos próprios moradores da Maré”, afirma Coutinho.

Quem acaba comprovando as palavras da coordenadora de que o projeto contribui para a formação pessoal e artística dos jovens mareenses é a Elymara Cardoso, de 30 anos, que viu sua vida mudar através da iniciativa. Após assistir uma peça no Teatro João Caetano sobre uma história que se passava em Uganda, na África, mas não ver nenhum ator negro no palco Elymara saiu do espetáculo certa de que queria fazer teatro, mesmo cursando letras na época. 

Foi assim que ela encontrou o programa, se tornou aluna e em seguida prestou vestibular para ingressar na UNIRIO para cursar licenciatura em teatro em 2017. No mesmo ano, foi convidada para ajudar nas aulas do projeto e em paralelo a sua formação na universidade ficou seis anos lecionando no programa de extensão. Atualmente atriz e professora de teatro, Elymara fala como o projeto oferece oportunidades para os marreenses.

“Há algum tempo atrás não era possível termos acesso à universidade. Hoje, por exemplo, o teatro em comunidades é um diálogo da universidade com a sociedade. É uma ponte. Então abre-se um leque de oportunidades, sabe? Tanto que muitos alunos do projeto ingressaram na universidade depois e isso é um ganho enorme”, afirma Elymara que complementa “Eu posso dizer que o teatro em comunidades fez isso comigo, hoje estou formada pela Unirio e isso tudo só foi possível por conta desse teatro, por conta do Programa Teatro em Comunidades”.
Para saber mais sobre o projeto clique aqui, e acompanhe @teatroemcomunidades no Instagram.

Unidades de saúde usam WhatsApp para facilitar a comunicação

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Iniciativa visa facilitar a comunicação nas áreas de Ramos, Maré, Alemão, Vigário Geral, Penha, Penha Circular e Ilha do Governador

Por Samara Oliveira

A Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro e a Coordenadoria Geral de Atenção Primária da Área de Planejamento 3.1 (CAP 3.1) estão promovendo, através do WhatsApp, mais proximidade com os pacientes das unidades de saúde. 

A CAP 3.1 que corresponde pelas áreas de Ramos, Conjunto de Favelas da Maré, Complexo do Alemão, Vigário Geral, Penha, Penha Circular e Ilha do Governador agora conta com um número de WhatsApp por equipes. 

“Essa é uma ferramenta para facilitar a comunicação com nossos cadastrados. O número será utilizado para avisar ao paciente sobre a marcação de uma consulta, sobre o SISREG (Sistema de Regulação), e como eles também terão os números salvos, podem mandar mensagens para tirar dúvidas. Assim a gente facilita a comunicação e o acesso para nossa população”, explica o coordenador, Thiago Wendel.

Na Maré, sete unidades de saúde participam da iniciativa que, somadas, resultam em 40 equipes com os números do WhatsApp a seguir. O paciente deve consultar na lista a clínica do seu território e em seguida o nome da equipe que pertence. Para moradores dos outros territórios atendidos pela CAP 3.1 basta clicar neste link e colocar o endereço da clínica que recebe atendimento. 

Centro Municipal de Saúde Américo Veloso 

Equipe Praia de Ramos – (21) 97714 6475

Equipe Rita Ribas – (21) 977216255

Equipe Roquete Pinto – (21) 9 7095 4076

Equipe Alegria – (21) 9 7028 1473

Centro Municipal de Saúde Vila do João 

Equipe Josué de Castro – (21) 99664 6700

Equipe Nova Era – (21) 97209 8365

Equipe Pata Choca – (21) 99955 6087

Equipe Solidária – (21) 96716 2334

Equipe Tio Mário (21) 99758 9432

Equipe Conjunto Esperança (21) 99641 7103

Centro Municipal de Saúde João Cândido 

Equipe Marcílio Dias – (21) 97975 9401

Equipe Kelsons – (21) 97975 9201

Clínica da Família Augusto Boal 

Equipe Bento Ribeiro Dantas – (21) 97734 5963

Equipe Casinhas (21) 97710 7476

Equipe Oliveira – (21) 97718 2233

Equipe Orosina (21) 97708 8786

Equipe Proclamação (21) 97714 0830

Equipe Timbau (21) 99224 9330

Clínica da Família Adib Jatene

Equipe São José Operário – (21) 97099 2292

Equipe Seletiva – (21) 97090 0683

Equipe Vila do Pinheiro – (21) 97717 0084

Equipe Vila Residencial (21) 9 7737 4134

Equipe Gustavo Capanema (21) 9 9390 1317

Equipe Merengue (21) 97709 9151

Equipe Praça do Salsa Capanema (21) 97737 8988

Equipe Prof Paulo Freire (21) 97730 9712

Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva

Equipe Campo da Paty (21) 99931 1471

Equipe Nova (21) 99831 1704

Equipe Praia (21) 99805 2017

Equipe Principal (21) 99559 6295

Equipe Robson Caetano (21) 99917 4121

Equipe Safira (21) 97186-1976

Equipe Teixeira Ribeiro (21) 99962 9058

Equipe Bela (21) 97258 1853

CF Diniz Batista dos Santos

Equipe Araujo (21) 97082 1800

Equipe Ari Leão (21) 97724 6488

Equipe Brigadeiro Trompowsky (21) 97896 8652

Equipe Conquista (21) 97728 0466

Equipe Portinari (21) 97714 8423

Equipe São Pedro (21) 97717 2479

Após imunização, Vacina Maré faz pesquisa para acompanhar doenças e dados

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Resultados já são publicados em revistas científicas; pesquisa se encontra na terceira fase, que acompanha mais de seis mil pessoas com coleta de dados

Por Hélio Euclides

Há cerca de três anos o Brasil teve o primeiro caso diagnosticado de Covid-19. No dia 26 de fevereiro de 2020, o Ministério da Saúde confirmou que um homem de 61 anos, em São Paulo, estaria infectado com o coronavírus. O que parecia algo superficial, virou uma epidemia e depois uma pandemia. A imunização se transformou numa esperança e uma corrida contra o tempo. A imagem do influenciador e morador da Maré, Raphael Vicente, em agosto de 2021 recebendo o imunizante trouxe uma alegria aos moradores com a Vacina Maré. A campanha além de duas edições de vacinação em massa, ainda conta com uma pesquisa global sobre a eficácia da vacina e variantes da doença, além de um estudo sobre sequelas pós-covid.

A pesquisa Vacina Maré é uma iniciativa da Fiocruz, em parceria com a Redes da Maré e a Prefeitura do Rio. O projeto que reúne cerca de 6.500 moradores da Maré monitorados e acompanhados por profissionais de saúde tomou proporção nacional. Um exemplo disso foi o discurso da Ministra da Saúde, Nísia Trindade, durante a cerimônia de posse do cargo, no último dia 02 de janeiro, em Brasília. “Sempre tive forte relação com os movimentos sociais. Quero cumprimentar a pessoa de Eliana Souza, coordenadora da rede Maré, com quem pude realizar intenso trabalho e que considero um exemplo para o país, de como as nossas periferias, nossas favelas, quando unidas e num trabalho articulado com a academia, podem superar obstáculos. A vacinação na Maré foi um sucesso e motivo de grande alegria”, discursou. 

Uma das lideranças da campanha é Luna Escorel Arouca, coordenadora do Eixo Direito à Saúde da Redes da Maré. Ela afirma que a Campanha Vacina Maré foi um elemento com significado positivo. “Muito bom ver as notícias do território que dessa vez não falavam da violência e da perda de direitos. Falou-se da saúde. Foi um impacto concreto que cessou as mortes em virtudes do covid. E o número de casos foi reduzido em 15 semanas da primeira fase. Na época estava com grande mortalidade”, conta. 

A Vacina Maré se destacou por ser um trabalho em conjunto, onde as unidades de saúde tiveram um olhar maior para os equipamentos, a ciência, a sociedade civil e o poder público. A campanha é um conhecimento compartilhado, tendo um reconhecimento dos profissionais de saúde. “A campanha foi no geral um engajamento que envolveu todos, deixando as pessoas felizes. Plantou-se algo de bom na história. Teve um contexto mais amplo, com narrativa contra a crise sanitária. A Maré é grande e tem um olhar global. Serviu de base para um artigo científico, para estudo”, afirma. 

A Maré tem 140 mil moradores num conjunto de favelas onde cada lugar tem a sua diversidade. Para a realização da Vacina Maré foi necessário que não viesse algo de cima, mas com a construção comunitária. “A Redes da Maré mostrou capacidade de estrutura e gestar um projeto com logística de um ato social, junto com outras instituições e coletivo. Foi o poder de mobilização para a organização local. A campanha mostra que a democracia se faz com um olhar para frente”, detalha. 

A campanha fortaleceu um conjunto de ações permanentes. “O nascimento do Eixo de Direito à Saúde da Redes da Maré não se deu por acaso. Ele já existia por meio da promoção de saúde realizada pelo Espaço Normal, Maré de Direitos, Casa das Mulheres, Heróis da Dengue e outros projetos. Foi um movimento natural e orgânico, do direito à saúde e assim se deu a composição do eixo”, conclui. 

Uma construção coletiva 

A pesquisa começou com a coleta de dados e passou por uma reconvocação. Há profissionais que vão às casas e acompanham outras doenças e dados. “Eu vejo o trabalho de uma grande importância, porque partiu de um acontecimento histórico na Maré, quando estamos em campo fazendo visitas, nós conseguimos realizar nosso trabalho e para além, levamos informações, conversamos e estreitamos laços com os moradores”, explica Raimunda de Sousa, articuladora territorial, moradora da Vila dos Pinheiros.

Com esse trabalho é possível a permanência na pesquisa. Há continuidade com a coleta de dados que vai produzindo resultados que precisam ser cruzados. Um diferencial é ter a presença dos moradores na captação de dados. “Cada um de nós fica responsável pelo território que mora, então conseguimos articular bem porque conhecemos a nossa a área, os moradores, e também trabalhamos em conjunto com a unidade de saúde”, conclui. A parte da pesquisa que acontece na Maré deve durar, pelo menos, até o final de 2023, e avalia, entre outras coisas, a efetividade da vacina, a eficácia da dose de reforço e novas variantes no território.

Um estudo em desenvolvimento

Fernando Bozza, pesquisador da Fiocruz, sente que o trabalho da pesquisa contribuiu para o fortalecimento da instituição e no trabalho da ministra junto a outras favelas. “É uma satisfação ter a ministra acompanhando desde a origem esse trabalho. Ela tem um olhar pelo acesso à saúde que permite uma acessibilidade e prioridade. Fiquei feliz por ela citar uma ação local que se torna inspiração para uma política pública”, diz. 

Todas as estratégias que recebem muitos elogios e visibilidade nos incentiva a continuarmos. Bozza percebe isso no discurso da ministra. “O programa de pesquisa está ampliado para além do covid, envolvendo outras vacinas e preocupado com baixa imunização das crianças. Ainda abrange ações de meio ambiente e os serviços de saúde. A organização do Vacina Maré impacta nas unidades de saúde, por meio do Conexão Saúde”, explica. A pesquisa se encontra na terceira fase, que acompanha mais de seis mil pessoas com coleta de dados.

A pesquisa já apresenta vários resultados, todos publicados em revistas científicas. “Há um estudo de coorte, que é uma avaliação de efetividade da vacina. Um dos estudos é sobre a queda da mortalidade com o Conexão Saúde. Há também um trabalho sobre o covid longo, ou seja, 20% dos entrevistados que confirmam até seis meses de sintomas e o tratamento da cabeça, ou seja, o estudo mental”, comenta. Para Bozza, o Vacina Maré é inovação para a ciência e para os projetos sociais. “Pode-se trabalhar em conjunto, pois é potente para mudar e gerar conhecimento. Tem muitos frutos para a Fiocruz. O Vacina Maré traz uma pesquisa de estudo de caso, com um diferencial: a maneira e a importância que é desenvolvida”, finaliza. 

*Esta reportagem foi produzida por meio do projeto Sala de Redação, desenvolvido pela Énois, um laboratório de comunicação que trabalha para impulsionar diversidade, representatividade e inclusão no jornalismo brasileiro. As informações foram apuradas de forma colaborativa pelo Maré de Notícias (RJ).