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Maré ganha mais duas academias cariocas

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Equipamentos de ginásticas beneficiam Nova Holanda e Parque União

Por Hélio Euclides

Na última semana, a prefeitura do Rio de Janeiro inaugurou duas novas academias cariocas na Maré, nas clínicas da família Jeremias Moraes da Silva e Diniz Batista dos Santos, na Nova Holanda e Parque União, respectivamente. As cerimônias contaram com a presença de Eduardo Paes, prefeito da cidade do Rio. As duas unidades dos equipamentos de atividades físicas terão a capacidade de atendimento de cerca de 250 usuários.

As Atividades da Academia Carioca são acompanhadas por profissionais de Educação Física. As unidades de saúde receberam equipamentos como: remado sentado, rotação diagonal, simulador de cavalgada, surf, esqui, simulador de caminhada, pressão das pernas, multi-exercitador, alongador e rotação vertical. “Antes tinha que fazer ginástica no Clube de São Cristóvão ou no Fundão. Esses equipamentos são bem-vindos para a nossa saúde”, comenta Ana Leila, de 57 anos, moradora do Parque União. 

As duas unidades do Programa Academia Carioca vão ampliar a oferta de atendimento do programa que atua, desde 2009, em unidades de Atenção Primária, como clínicas da família e centros municipais de saúde, com práticas de promoção ao bem-estar físico, mental e social. “É equipamento de saúde, que vai auxiliar na perda de peso, para a questão respiratória, fundamental para a articulação e o equilíbrio dos idosos”, expõe Daniel Soranz, secretário municipal de saúde. 

As duas academias estão em fase de inscrições. “A clínica tem dois avanços. Hoje foi a inauguração da academia e em novembro o consultório de odontologia. Para a academia já temos 96 inscritos, depois faremos a relação final para formação de equipes e divisão de horários”, diz Tamires Silva, gerente da Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva. O programa conta com atividades como ginástica, capoeira, dança, grupos de caminhada e recreação. “A academia é um ganho em prol da saúde”, resume Tereza Mourão, gerente da Clínica da Família Diniz Batista dos Santos.

Academia x acessibilidade

Desde a inauguração em 2018, da Clínica da Família Diniz Batista dos Santos, que fica próximo ao BRT Maré, há reclamação sobre o acesso que é feito por uma passarela com degraus. Para idosos, pessoas com deficiências, grávidas e mães com carrinho de bebê a mobilidade para se consultar na unidade de saúde encontra a barreira de 35 degraus. “Amei a academia que vai melhorar a qualidade de vida. Mas falta acessibilidade, eu mesmo já tive de ajudar mãe com criança pequena e pessoa com uso de muleta. Até chegar de carro aqui é difícil”, conta Márcia Cristina, de 53 anos, moradora do Parque União. Outro problema encontrado foi no estacionamento da unidade, o esgoto entupido. “Fica feio uma unidade de saúde com esgoto dessa forma e não ter acessibilidade. Imagina como é chegar à clínica um cadeirante? São muitos degraus”, expõe Roberto Estácio, presidente da Associação de Moradores do Parque União.

O Maré de Notícias questionou Felipe Brasileiro, novo gestor da Gerência Executiva Local, sobre os dois problemas. “Sou morador da Maré e estou no cargo para ser a ponte da população com a Prefeitura. Vamos resolver o problema do esgoto. Sobre a demanda da passarela, realmente não sabia, vamos estudar para tomar as medidas necessárias”, afirma.

Mutirão para pré-matrícula de crianças, adolescentes, jovens e adultos fora da escola na Maré termina nesta segunda

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Mais de 200 atendimentos foram realizados

Por Adriana Pavlova

Associação de Moradores do Conjunto Esperança, Maré, quarta-feira, dia 18 de janeiro de 2023. Não eram nem 10 horas da manhã e uma fila de mulheres já se formava no pátio em busca de ajuda para matricular seus filhos nas escolas da Rede Municipal de Ensino do Rio de Janeiro. Ali e em outros oito pontos das favelas da região, dezenas de voluntários davam início à campanha Vamos pra escola, organizada pela Redes da Maré em parceria com associações de moradores, com o objetivo de facilitar a pré-matrícula de crianças, adolescentes, jovens e adultos que estão fora da escola, uma vez que o processo é feito online pelo site www.matricula.rio  ou no aplicativo Rioeduca em Casa.  Nos dois primeiros dias de mutirão na Maré, foram feitos 189 atendimentos. A campanha, que envolve uma equipe de cerca de cem pessoas, será encerrada nesta segunda, seguindo o calendário oficial da Secretaria Municipal de Educação.

No Conjunto Esperança, a cuidadora de idosos desempregada Sueli Ramos de Oliveira aguardava com ansiedade a chance de finalmente conseguir uma vaga para seu filho João Vinícius, de 7 anos, depois de mais de um ano de tentativas em diferentes escolas da Maré e até idas à 4a. Coordenadoria Regional de Educação (CRE), em Olaria. Mas, nem sendo uma das primeiras a tentar, Sueli mais uma vez só encontrou vagas em escolas fora da Maré. Não havia vaga para o João e nem para o filho mais novo, Enzo, de 4 anos. Foi embora desconsolada, sob o olhar tristonho dos dois filhos: 

“No ano passado, só tinha vaga numa escola distante, na Avenida Leopoldo Bulhões, em Manguinhos, que é longe e precisa de condução para chegar. João ficou o ano inteiro sem estudar. Ele é muito curioso, quer aprender, e a pergunta que ele mais me faz é ‘Quando eu vou para a escola?’. Eu não sei mais o que fazer.”

No dia seguinte, Sueli acabou optando por inscrever seus filhos em escolas na região central da cidade, sabendo que o deslocamento diário será penoso para a família:

“Matriculei um numa escola no Estácio e o outro numa na Avenida Presidente Vargas. Não tenho ideia como vamos fazer, mas não dava para o João ficar mais um ano sem entrar na escola.”

Sueli Ramos Oliveira com os filhos Enzo e João. Foto: Patrick Marinho

Nos dois primeiros dias de pré-matrícula, houve dificuldades para se conseguir vagas em escolas da Maré para alguns segmentos de ensino.  Repetidamente, o sistema da Prefeitura indicava somente opções em bairros mais distantes. Em alguns casos, de tanto insistir, algumas poucas vagas surgiam. Segundo a 4a. CRE, o sistema é atualizado ao longo do dia, com vagas surgindo aos poucos. Na expectativa de conseguir vagas em escolas próximas às residências, evitando o deslocamento de crianças que nem sempre podem ir para a escola sozinhas, muitas mães, pais e responsáveis estão voltando mais de uma vez nos pontos de atendimento da Redes e nas associações. Nos dois primeiros dias de campanha, foram 90 casos de pré-inscrição não realizada por falta de vaga em escola próxima à residência e 62 pré-inscrições concluídas. Todos os casos estão sendo registrados, para serem entregues à Gerência de Supervisão e Matrículas da 4ª CRE. 

“A Redes da Maré está em constante diálogo com a Gerência de Supervisão e Matrículas da 4ª Coordenadoria Regional de Educação e, logo depois desse período de pré-inscrição, faremos uma reunião já articulada para avaliar se, conjuntamente, todos os casos de de crianças na Maré que não conseguiram vagas em escolas da região”, confirma Andréia Martins, diretora da Redes da Maré. 

Mas em meio à espera e frustrações, há também quem saiu satisfeito dos pontos de pré-matrícula, como foi o caso de Ângela Maria Lino, de 48 anos, que finalmente vai entrar na escola, depois de muitas décadas. Ex-aluna do projeto de alfabetização de mulheres da Redes da Maré “Escreva seu futuro”, agora Ângela vai estudar no Centro de Educação de Jovens e Adultos.

 “Já sei ler mas tenho muita dificuldade para escrever. Quero continuar aprendendo”, diz, sem esconder a alegria. “Agora eu já posso ler a Bíblia.”

 Ângela Maria Lino | Foto: Patrick Marinho

Nesta segunda, 23, todos os nove pontos estarão abertos das 10h às 17h (incluindo as associações de moradores de Conjunto Bento Ribeiro Dantas, Conjunto Esperança, Marcílio Dias, Roquete Pinto e Rubens Vaz) e ainda haverá o reforço na Lona Cultural Herbert Vianna, com esquema de plantão das 10h às 14h. O atendimento na Lona aconteceu no segundo dia de campanha, depois que a equipe de mobilização percebeu que para os moradores daquela região os pontos de pré-matrícula eram distantes.

“Montamos a estrutura na Lona e continuamos mobilizando a população no entorno para ajudar na pré-matrícula mas também para tirar todas as dúvidas relativas às matrículas, tudo com muito cuidado e afeto. Nos transformamos num balcão de informações para quem não tem acesso à internet mas sonha em voltar para a escola”, explica Kamila Camillo, psicóloga do Eixo de Educação da Redes da Maré.

Equipe do eixo Educação da Redes da Maré e voluntários da organização durante um dos dias da campanha. | Foto: Patrick Marinho

Sem dinheiro, Hospital Clementino Fraga Filho paralisa atividades

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Corte de verbas atinge unidade na Ilha do Fundão, levando à diminuição de leitos e de pessoal 

Por Hélio Euclides e Rebekah Tinôco*

Mesmo cedo, quem chega ao Hospital Clementino Fraga Filho (HUCFF, conhecido como Hospital do Fundão) se depara com uma enorme fila que dura quase toda a manhã, elevadores parados, emergência fechada e a sala de observação onde doentes se amontoam para passar a noite em cadeiras de plástico e de rodas. Um cartaz na recepção explica o motivo do cenário de carência e superlotação: redução de profissionais.

Os cortes que atingiram as universidades e institutos federais nos últimos anos foram recorrentes, mas conseguiram, em dezembro, levar o caos às contas das entidades de ensino: com o novo bloqueio de R$ 244 milhões pelo governo federal, elas ficam impossibilitadas de pagar a luz, funcionários terceirizados, contratos de serviço e até mesmo bolsistas.

 “As pessoas responsáveis pelos prontuários e por anotar ordem de chegada não estão trabalhando. Virou uma bagunça, os pacientes e os médicos é que precisam se organizar”, relatou um paciente.

Uma funcionária terceirizada, que preferiu não se identificar, disse que não sabia se ainda era uma funcionária ou se estava trabalhando sob aviso prévio: “Recebemos o último pagamento em novembro. No hospital ninguém sabe o nosso futuro. Está um caos, não estamos indo trabalhar, pois não temos dinheiro para passagem e alimentação.”

O que diz o hospital

Contatada, a assessoria de imprensa do Hospital Clementino Fraga Filho disse que “o hospital é o maior da cidade do Rio de Janeiro em volume, com  800 atendimentos ambulatoriais e, em média, 20 cirurgias, diariamente. Além disso, há mais de 300 pesquisas em andamento.” 

A direção-geral do HUCFF negou que existam registros de pacientes sendo atendidos em local inapropriado. “No auge da pandemia o hospital chegou a ter 310 leitos ativos, devido a verba suplementar do Ministério da Saúde destinada ao combate ao coronavírus.” A unidade informou que não teve como estender os contratos dos profissionais temporários e, por isso, a unidade reduziu o número de leitos para 186 leitos já em setembro.

*Aluna comunicadora do Programa de Extensão da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em parceria com o Maré de Notícias.

Maré: 29 anos como Bairro

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Por: Hélio Euclides

Era lá pela década de 1940 que o Morro, batizado de Timbau, acolhia uma das primeiras moradoras da Maré: Orosina. Ela representa muitos moradores que deram início ao conjunto de favelas. Com o tempo vieram mais diversas pessoas, de vários cantos da cidade e do país e novas favelas foram surgindo. Nem tinha terra para tanta gente, então a solução era fincar a madeira no mangue e construir palafitas. A vida era dura, uma luta para todos terem energia elétrica e a água, que era obtida nos bicões, por meio do rola ou da balança. Foram necessárias muitas mobilizações, muitas lideranças e uma Chapa Rosa, para lutar pelo direito à moradia, educação, cultura, saúde e saneamento básico. 

Em 1994 foi criado o bairro Maré. Contudo, uma lei pode não trazer tantos avanços como se espera. São mais de 140 mil moradores, quase uma cidade. Mesmo assim, os investimentos surgem lentamente. E geralmente não tem continuidade. Certa vez um jovem chamado Herbert Vianna que estudava na UFRJ, enquanto olhava para a Maré escreveu uma canção, que narrava bem o dilema: A esperança não vem do mar e nem das antenas de TV, a arte de viver na fé, só não se sabe fé em quê. Havia fé sim, na união e capacidade de mobilização. E assim muitas transformações aconteceram, mas ainda há muitos problemas a serem resolvidos. Já são 29 anos de um bairro que é potência. Tem uma população que almeja políticas públicas, que sofre pela desigualdade social e deseja uma segurança pública para todos os cidadãos que contribuem com o crescimento da cidade, do estado e do Brasil.

E que segue a lutar por uma Maré que Queremos!

Confira alguns momentos do conjunto de favelas pelos olhares dos fotógrafos mareenses:

Aniversário da Baía de Guanabara: programa de despoluição já dura 28 anos sem previsão de conclusão

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Os desafios do Movimento Baía Viva que defende a Baía de Guanabara e o Rio Paraíba do Sul há mais de 40 anos

Por Andrezza Paulo

A Baía de Guanabara faz aniversário neste dia 18 de janeiro, mas não há muitos motivos para comemoração. Os desafios daqueles que defendem a preservação da Baía ainda são os mesmos de 40 anos atrás. Vale lembrar que a data, 18 de janeiro, coincide com um vazamento de óleo da REDUC (Refinaria de Duque de Caxias) e foi uma tragédia ambiental. 

Foram mais de 50 km de mancha de óleo na Baía e 1,3 milhões de litros de óleo despejados. Normalmente, a Baía de Guanabara só é lembrada quando tem desastre, mas ela é responsável por proporcionar infinitos benefícios para o Rio de Janeiro, principalmente para a mobilidade urbana, com barcas vindo de Paquetá e Niterói que podem ser um grande atrativo socioeconômico. Porém, para que ela funcione em perfeita harmonia com a cidade, o local precisa deixar de ser sacrificado.

No início da década de 1980 criou-se o Movimento Baía Viva, que desde então desempenha um importante papel na defesa da Baía de Guanabara e na biodiversidade. A ONG foi responsável por avanços no ecossistema da cidade do Rio de Janeiro, como a coleta de mais de 50 mil assinaturas para preservar o Rio Paraíba do Sul, a Baía de Guanabara e de Sepetiba. 

Foi a única emenda popular no caderno de Meio Ambiente da Constituição do Estado do Rio de Janeiro no caderno de Meio Ambiente. Outra conquista importante foi a aprovação da chamada “Lei dos Aterros na Baía de Guanabara” que foi proposta à época pelo Baía Viva a partir dos estudos sobre os impactos do assoreamento na baía que foram desenvolvidos por décadas pelo professor da UFRJ e Geógrafo Elmo Amador.

Defesa dos ecossistemas

O Movimento Baía Viva segue desenvolvendo projetos em defesa dos ecossistemas da região e uma dessas ações resultou na Universidade do Mar da Baía de Guanabara (UniMar)em parceria com a Universidade de Oceanografia da UERJ, MORENA (Associação de Moradores de Paquetá) e já conta com apoio de mais de 50 departamentos, laboratório e grupos de pesquisa. Em março de 2022, o reitor da UERJ, Professor Ricardo Lodi assinou o ato que institui o UniMar como Programa de Extensão. 

Sérgio Ricardo de Lima, ecologista, ambientalista e cofundador do Movimento Baía Viva destaca a importância da preservação nas Baías de Guanabara e Sepetiba e diz que preservar o ecossistema e a biodiversidade representam, também, a sustentabilidade da população pesqueira. “Estamos nos três primeiros anos da década do oceano da ONU e não avançamos. O empobrecimento dos pescadores e a insegurança alimentar aumentou absurdamente a ponto da comunidade pesqueira vender suas próprias embarcações, além da alta contaminação e problemas de saúde pelo excesso de poluentes nas águas”, ressalta o ambientalista.

Sérgio Ricardo conta que o empobrecimento dos pescadores e a insegurança alimentar aumentaram nos últimos anos devido a poluição da Baía de Guanabara (Foto: Andrezza Paulo)

Em entrevista ao Maré de Notícias, Sérgio Ricardo aponta os desafios ao longo dos anos, as conquistas e as estratégias de mobilização e articulação para modificar o cenário atual. Confira a entrevista na íntegra. 

MN: Em março de 1995 foi iniciado o Plano de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG), com a promessa dos grandes troncos coletores de esgoto ligarem Manguinhos ao Caju e o canal do cunha até a estação da Penha que atenderiam mais de 2 milhões de pessoas. Como está esse plano?

Sérgio Ricardo: O PDBG foi financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e executado pela CEDAE que alocou mais de 80% de seus recursos em saneamento básico. E nós questionamos isso. Não era um plano de despoluição, era um plano sanitarista. Até hoje esse plano não foi concluído e a própria Maré é vítima disso. Passaram-se 28 anos e não foi feito.

Quando veio a olimpíada, ao invés do governo do Estado concluir as obras do PDBG, ele lança outro plano que é o PSAM (Programa de Saneamento Ambiental) também financiado pelo BID, dessa vez executado pelo INEA (Instituto Estadual do Ambiente). Por uma série de fatores como a corrupção, o excesso de incentivos fiscais e a falta de pagamento de imposto, o Rio de Janeiro decretou falência. Em seguida veio crise econômica, pandemia e etc.

Em 2019, realizamos audiências públicas e muitas barqueatas na Barra da Tijuca com diversos artistas, em Paquetá e com movimentos de moradores de São Gonçalo e da Baixada. Isso gerou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) e ali a CEDAE se comprometeu com um cronograma para cumprir todas as obras do PDBG e do PSAM com prazos e recursos determinados. Em 2020, durante a pandemia não houve obra de saneamento básico e neste mesmo ano, a maioria do congresso nacional privatizou o saneamento no Brasil e meses depois a CEDAE foi privatizada. A prioridade era concluir os dois programas, isso não aconteceu e foi aberto um novo plano de obras. 

MN: O que é a Mercantilização da Água e seus efeitos para a população?

SR: O termo técnico é Marco Legal do Saneamento, mas nós estamos falando aqui da mercantilização das águas e de decisões que não tiveram participação popular, é o mercado das águas que pode levar o Brasil ao deserto sanitário. As concessionárias são formadas por fundos de investimento, ou seja, pelo mercado financeiro que não vai ter preocupação em garantir água para população que é um direito humano. Essa mercantilização da água e saneamento no Brasil ampliará o racismo ambiental e a desigualdade hídrica. Foi criada uma comissão de acompanhamento que não nos sentimos representados por ser uma forma muito limitada de participação popular e não tenho a menor dúvida de que teremos muitas lutas pela garantia do direito à água.

Em apenas duas décadas, o Rio de Janeiro sofreu quatro graves crises hídricas e não é trivial uma metrópole viver isso em 20 anos e ser dependente de um único rio, o Rio Paraíba do Sul. A Baía de Guanabara não se resolve na própria Baía, se resolve com a despoluição dos rios, com saneamento básico das cidades do entorno e isso depende de políticas públicas. 

Temos visto que essas questões estão na agenda do novo governo e vamos continuar lutando para que as medidas sejam tomadas. O que está destruindo a Baía de Guanabara, de Sepetiba, o Rio Paraíba do Sul e a Mata Atlântica não são as pessoas e sim o modelo de desenvolvimento. É importante deixar isso claro. Ou mudamos esse modelo, ou vamos submergir aos eventos climáticos. A crise é profunda, mas esse é o planeta que nós temos, não tem outro. Então temos que lutar para mudar esse quadro.

MN: Quais estratégias de mobilizações adotadas pelo Baía Viva?

SR: Quando vimos a paralisação das obras de saneamento, nós pensamos em mobilizar a população. Os coletivos surgem fora de sindicatos, associações de moradores e começam a produzir fóruns. As barqueatas,  os encontros populares inclusive na Maré são exemplos de que a população está se articulando. Nos perguntamos o seguinte: Onde há mobilização comunitária viva? E onde víamos um foco, nós passávamos o histórico, o que tínhamos de estudos e diagnóstico para pressionarmos juntos. As concessionárias estão inventando novas obras onde está sendo colocado hidrômetros para a população pagar e eles aumentarem sua arrecadação ao invés de concluírem o que foi proposto há 28 anos atrás.

MN: Por que utilizar o Ciberativismo?

SR: Temos buscado estudar esse movimento do ciberativismo em prol dos interesses da população e em defesa das baías. Vamos utilizar a potência das redes sociais para defender as causas de interesse comum. Bolsonaro foi eleito com fake News, com difusão do ódio, intolerância e do racismo nas redes, mas será que essa ferramenta não pode ser utilizada para pressionar o poder público? Pode e estamos com muita disposição para continuar pressionando.

MN: O que esperar da Conferência Participativa por um plano de Recuperação da Baía de Guanabara? 

SR: Em torno de 70% da população do Rio de Janeiro depende do Rio Paraíba do Sul e o nosso objetivo é produzir um diagnóstico com estudos ao longo dos anos e tentar estabelecer compromissos e metas, ou seja, o que será feito por cada área do saneamento, da política pesqueira e do planejamento urbano para modificar a estrutura atual. 

MN: O que deseja para os próximos aniversários da Baía de Guanabara? 

SR: Eu sou de ancestralidade indígena, sou potiguara. Aqui no Rio de Janeiro teve um ecocídio da Mata Atlântica que foi quase toda desmatada. Ao mesmo tempo teve um genocídio dos povos originários. Fui criado tomando banho no Rio Xingu no Pará e quando cheguei aqui no Rio de Janeiro em 1986, eu fui surpreendido com um número grande de praias impróprias para banho. Eu sempre digo que não vou desistir da Baía de Guanabara até eu conseguir tomar banho lá, meu desejo para os próximos aniversários é avançar em políticas públicas, saneamento básico, coleta seletiva, controle industrial e restauração dos manguezais para atingir essa meta. Esse é o meu desejo para os próximos aniversários da Baía de Guanabara.

Mais:

Confira o artigo escrito pela Redes da Maré sobre o Dia Estadual da Baía de Guanabara.

Colônia de férias perto de casa

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Vila Olímpica oferece atividades em período de recesso a moradores da Maré

Por Hélio Euclides e Cristiane Barbalho*

“Instalações, em lugares apropriados, destinada a receber crianças e adolescentes, bem como seus monitores e responsáveis, durante os períodos de férias e caracterizadas pela multiplicidade de brincadeiras, jogos, atividades esportivas e culturais que são organizadas para atender a essa faixa etária.” Essa é definição de colônia de férias segundo o dicionário Michaelis. Já para a criançada é mais do que isso, é um local de distração, lazer, convívio social e diversão. Como todos os anos, a Vila Olímpica Municipal Seu Amaro, na Nova Maré, abre as portas para moradores nesse período de recesso escolar.

A Colônia de Férias da Vila Olímpica Municipal Seu Amaro terá início na próxima terça-feira (17/01), das 8h às 17h. Serão oferecidas diversas atividades recreativas para crianças, adolescentes, jovens e pessoas com deficiência. Os adultos não ficarão de fora, com espaços de aulões. “O objetivo é que as crianças possam aproveitar esse período de férias curtindo as diversas atividades recreativas, que farão parte da colônia de férias. Será um momento de muita alegria e diversão”, comenta Cátia Simão, gestora da União Esportiva Vila Olímpica da Maré (UEVOM).

Para participar da colônia é preciso comparecer ao setor de Inscrições da própria Vila Olímpica, munido de documento oficial com foto, número de telefone ativo e comprovante de residência. Os profissionais da instituição lembram que as inscrições serão feitas até o dia 27 de janeiro, mas que é preciso correr pois as vagas são limitadas.

* jornalista da União Esportiva Vila Olímpica da Maré (UEVOM)