Home Blog Page 132

Lula sanciona lei que cria o dia do Candomblé

Por Lucas Feitoza

Nesta sexta-feira (6)  o presidente Lula (PT) sancionou a lei 14.519 que define o dia 21 de março como Dia Nacional das Tradições das Raízes das Matrizes Africanas e do Candomblé. O texto foi  publicado no Diário Oficial da União (DOU) e também assinaram o documento a Ministra da Igualdade Racial Anielle Franco e a Ministra da Cultura Margareth Menezes. 

De autoria do Deputado Vicentinho (PT/SP) na proposta original a data  para comemoração seria o dia 30 de setembro, o Senador Paulo Paim (PT/RS) sugeriu a nova data que também é o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, data definida pela ONU (Organização das Nações Unidas). 

No dia 30 de setembro para adeptos da Umbanda, religião brasileira de matriz africana, é comemorado o dia do Orixá Xangô, associado à justiça. Na data, os católicos saúdam São Jerônimo.

Para o pai de santo Eder de Oxóssi, as datas comemorativas relacionadas às religiões afrodescendentes ajudam como uma proteção contra a intolerância e servem também para lembrar as pessoas que não conhecem a religião que a espiritualidade existe;  “é mais um respaldo, porque quando falamos de leis as pessoas respeitam mais um pouco” afirma.

Por que a PM não trocou tiro nem confundiu fuzil com pedaço de madeira em Brasília?

0

Por Jonas di Andrade

A palavra violência tem sua origem no latim, violentia, que significa força física, vigor. Transforma-se força física em violência quando excede os limites sociais ou altera acordos e regras que desrespeitam as relações em sociedade. Historicamente, o Brasil é um país que sofreu diversos processos sociais que desencadearam problemas considerados sistêmicos. Dentre esses, destaca-se a violência da colonização, realizada por europeus, o racismo da escravidão e a barbárie da ditadura empresarial civil-militar.

Costumo mencionar, em meus posicionamentos críticos a respeito do contexto no qual eu vivo, que a violência é tão presente na sociedade que infelizmente as pessoas naturalizam esse excesso de força dos que se acham “superiores”. Desde discussões conjugais, brigas de vizinhos por conta de barulho, até a caneta do governo que assina para policiais entrarem em territórios de favela e exterminarem a juventude, essas situações são normalizadas; e não deveriam ser. Inclusive, quando se faz um recorte de quem são um dos maiores alvos da violência, percebemos que em sua maioria são cidadãos não brancos, favelados, que vivem em território de vulnerabilidade social. Isso não sou eu quem afirmo, são os últimos dados divulgados por quem estuda a situação.

Pelo terceiro ano consecutivo, a Rede de Observatório da Segurança divulgou a cor da letalidade policial. O novo boletim “Pele alvo: a cor da violência policial”, com dados obtidos via Lei de Acesso à informação, apontou que a cada quatro horas uma pessoa negra é morta em incursões policiais em seis dos setes estados monitorados: Rio de Janeiro, Ceará, Piauí, Maranhão, Pernambuco, Bahia e São Paulo. o Rio de Janeiro é o estado que mais mata pessoas negras em ações policiais, com 939 registros entre os 1092 mortos que tiveram a cor/raça informada.

O último caso relacionado a essa violência, ocorrido já neste início do ano, que teve grande repercussão na mídia, foi o do catador de recicláveis, negro, que sofria transtornos mentais, Diérson Gomes da Silva, de 50 anos, da Cidade de Deus, que a PM assassinou após ter confundido um pedaço de madeira (parte de uma cabeceira de cama) que carregava com um fuzil. Casos como esse já ocorreram outras vezes e provavelmente não será o último. Pois, quando a polícia, a mando do governador do estado, entra em favelas, todas as pessoas que moram lá, inclusive crianças, são alvos. 

Essa postura violenta, que ocorre durante operações policiais, que há anos é denunciada por moradores, lideranças comunitárias e movimentos sociais, é rotina nesses espaços. Isso, consequentemente, gera medo, crise de ansiedade e imobilidade em quem não tem outra alternativa a não ser conviver. Contudo, sabe onde essa postura agressiva por parte do braço armado do estado não acontece? Em territórios privilegiados, com ricos, brancos, de classe média alta, ainda que cometam atos criminosos.

O que aconteceu em Brasília no domingo, dia 08 de janeiro de 2023, é um dos exemplos de como a polícia trata brancos, com poder aquisitivo e influência na mídia. Diferentemente do que acontece nas favelas, quando uma mãe reúne grupos de moradores para protestar pela morte de seu filho negro morto pelo estado, na invasão do Congresso Nacional, Planalto e STF, facilitada por policiais e pelo governo do Distrito Federal, foi possível observar bolsonaristas, marginais, depredando patrimônios, agredindo policiais, quebrando vidros e móveis, e não se noticiou casos de bala perdida, tampouco mortes ocasionadas por um tiro de fuzil. Por qual motivo? Não há outra justificativa que não a de que não era um território criminalizado, eram brancos, apoiados por empresários da mesma cor, e muitos policiais tinham familiares lá. Por isso, as ações foram moderadas.

O racismo, como diz o atual ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, é a manifestação normal de uma sociedade, e não um fenômeno patológico ou que expressa algum tipo de anormalidade. Dessa forma, ela se sucede em relações como essa nas quais vimos como são tratados esses indivíduos, devido à condição econômica e cor da pele, comparado a outros, que não têm os mesmos privilégios.  

A violência neste país sempre foi direcionada para negros, indígenas, favelados e pessoas empobrecidas, que não têm amparo algum. Enquanto isso, políticos ricos, pessoas brancas com influência, que cometem atentados contra a democracia, podem fazer diversas barbaridades, e não são vistas como criminosas, muito menos alvo ou passíveis de morte. O pior legado que herdamos foi da discriminação. O branco é visto como herói, o preto é visto como ladrão (frase minha).

Fonte: http://observatorioseguranca.com.br/pele-alvo-pessoas-negras-policia/

Uma das vozes femininas da favela

0

Morre a presidente da Associação de Moradores da Bento Ribeiro Dantas

Por Hélio Euclides

Morreu na manhã do último sábado (07/01) Cremilda Vicente de Carvalho, presidente da Associação do Conjunto Bento Ribeiro Dantas. Ela chegou à favela em 8 de setembro de 1993, após remoção da favela da Varginha, em Manguinhos. Amigos da família informaram que Cremilda, de 58 anos, faleceu vítima de um infarto. 

Cremilda foi uma das pessoas que organizaram a fundação da associação, sendo presidente por duas vezes. Era a atual liderança da instituição. Foi uma importante líder comunitária nas construções de políticas públicas no Fórum das Associações de Moradores, do projeto Maré que Queremos. Mostrou força ao ser uma voz feminina como presidente, um cargo de representação comunitária local onde se encontram poucas mulheres. 

A atual presidente deu diversas entrevistas para o Maré de Notícias, sendo escolhida para representar a sua favela na edição 100, onde contou a sua trajetória de luta e sobre a construção do Conjunto Bento Ribeiro Dantas. Além de torcedora do Botafogo, Clemilda tinha um carinho especial pela sua favela. “Aqui, é a Zona Sul da Maré, né? Melhor lugar pra se morar”, declaração de amor em entrevista de 2019.

Cremilda deixa esposo, filha e dois netos. Seu sepultamento ocorrerá hoje (08/01), no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, às 14h.

Vai Na Fé: Artista mareense é parte do elenco da nova novela da Globo

Por Lucas Feitoza

“Vai na fé” é a nova novela das sete da TV Globo, que estreia no próximo dia 16 de janeiro. A trama escrita por Rosane Svartman terá participação de Anderson Oli, 28 anos e ator há oito. Ele viverá o personagem Vitinho, em sua versão jovem, aparecendo em flashbacks, nas lembranças da sua versão adulta, vivida pelo ator e comediante Luis Lobianco. 

A novela relembra os bailes funk que revelaram nomes de peso como Tati Quebra Barraco, Valesca Popozuda e tendências que marcaram épocas como o passinho. Vitinho (Anderson Oli / Luis Lobianco)  formava um trio com Sol (Jê Soares / Sheron Menezes) e Bruna (Dhara Lopes/ Carla Cristina Cardoso), e juntos frequentavam a Furacão 2000, famosa e tradicional equipe de bailes dos subúrbios cariocas. Anderson contou para o Maré de Notícias que o seu personagem é parecido com ele; ambos gostam de dançar, e porque são envolvidos com a arte. O ator mostra entusiasmo em ver mais uma novela com protagonismo negro e com diversidade mostrando a cara do Brasil.

 “Para mim está sendo uma grande alegria ver o meu corpo naquele lugar, um corpo negro, nordestino e gordo, esses corpos sempre existiram e precisam também estar em evidência” afirma. O ator é natural de João Pessoa, capital paraibana, mora no Morro do Timbau, no Conjunto de Favelas da Maré e faz parte do grupo de teatro Cia Cria do Beco. No ano passado interpretou o jovem Wallace na peça Nem Todo Filho Vinga e foi em uma das apresentações que recebeu o convite para fazer o teste para a novela. 

Anderson elogia a produção, que montou um baile para as gravações e diz estar feliz em fazer parte de um trabalho que revive uma época feliz para muitas pessoas que agora terão como relembrar pela televisão “Eu acho que quando eu assistir e ver a gente lá dançando nos bailes funks, na Furacão 2000, vai ser muito emocionante, foi um momento muito lindo para minha vida” afirma.

Do teatro para a telinha

Anderson é estudante de letras e literatura na Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ, sempre muito interessado na arte e na forma como ela se conecta com a literatura. Iniciou sua carreira artística  em projetos sociais de teatro no Museu da Maré e seu primeiro contato com a arte foi através da técnica Teatro do Oprimido do teatrólogo brasilleiro Augusto Boal. Essa técnica envolve exercícios e jogos teatrais, que fazem tanto os artistas quanto o público se conectarem com as questões sociais e questões como machismo, racismo e sexismo. 

O artista diz estar realizando um sonho, que é viver da arte; e conta que esse é outro ponto em comum com a novela, a família de Sol é uma família negra e sonhadora. Para Anderson, o nome “Vai na Fé” tem tudo a ver com a sua história e com seu trabalho, ele explica que para atuar é preciso acreditar no que está fazendo para que possa dar certo, e é isso que ele faz; “ Em tudo que eu faço também na minha vida  tenho que acreditar, se eu acredito eu posso estar lá, quando eu não acredito é mais difícil porque eu não crio possibilidades e eu preciso criar e acreditar para se tornar real”, diz ele.

Com a participação na novela Anderson considera que pode aprender muito e deixa uma mensagem para os artistas da Maré; “vai na fé mesmo, é uma oportunidade que a gente precisa e temos que dar o nosso máximo, a gente aprende fazendo, foi uma experiência incrível” concluiu. 

Para ver Anderson Oli, basta assistir a nova novela da Globo que estreia dia 16, substituindo Cara e Coragem. O artista também está no Instagram como @oandersonoli

Foto: Matheus Affonso

Marcílio Dias é alvo de violações em operações policiais

Desde julho PMERJ ocupa a região de forma contínua 

Desde ontem, quarta-feira (05), moradores de Marcílio Dias (favela popularmente conhecida como Kelson’s) têm relatado a realização de ações ostensivas da polícia militar no território. Um jovem foi morto na favela também nesta quarta. Moradores realizaram uma manifestação na Avenida Brasil, no fim do dia de ontem, em resposta à morte do jovem. “Todo dia a polícia entra nas nossas casas. Ontem mesmo entraram aqui na minha casa, pegaram meu filho, o menino é estudante. Bagunçaram a casa toda”, desabafa moradora que prefere não se identificar. 

Nos últimos anos, Marcílio Dias é a favela da Maré com o maior número de operações policiais. Em 2022, no mês de julho, a região chegou a ficar ocupada quinze dias por policiais militares do 16º Batalhão de Polícia Militar (BPM) e do Comando de Operações Especiais (COE). Após os agentes se retirarem do território, as operações voltaram a acontecer recorrentemente e atualmente o 16º BPM fixou uma base com uma cabine e um carro blindado, na Av. Lobo Junior.

ADPF das Favelas desrespeitada:

A operação ocorreu dias após o Supremo Tribunal Federal intimar o Governo do Estado do Rio de Janeiro, a se manifestar quanto à definição de indicadores, prazos e metas para a implementação objetiva do Plano Estadual de Redução da Letalidade Policial, pedido na ADPF 635 (ADPF das Favelas).  Dentre uma série de providências o STF determinou que o Estado do Rio de Janeiro apresente, no prazo máximo de 5 dias corridos, a serem contados mesmo durante o recesso, cronograma para a instalação e funcionamento de câmeras de áudio e vídeo em fardas e viaturas dos batalhões especiais das polícias – BOPE e CORE –, bem como nas unidades policiais localizadas em áreas que sofrem com os maiores índices de letalidade policial – notadamente o 15º BPM, o 7º BPM, o 41º BPM, o 14º BPM, o 20º BPM, o 12º BPM, o 39º BPM, o 16º BPM, o 3º BPM e o 9º BPM. 

Na apresentação inicial do Plano, o Governo do Estado relatou que nos últimos 2 anos instalou equipamentos de monitoramento de audiovisual nas viaturas e uniformes dos policiais nos batalhões 2º BPM (Botafogo), 3º BPM (Méier), 4º BPM (São Cristóvão), 6º BPM (Tijuca), 16º BPM (Olaria), 17º BPM (Ilha do Governador), 19º BPM (Copacabana), 23º BPM (Leblon) e 1ª Companhia Independente da Polícia Militar (Laranjeiras), todos situados em áreas que apresentam baixo índice de letalidade policial.

Em resposta ao Supremo Tribunal Federal, o governo do Estado do Rio de Janeiro, no dia 29/12/2022, apresentou sua manifestação quanto ao estabelecimento de metas, indicadores e cronograma de aplicação do Plano Estadual de Redução da Letalidade policial. A manifestação estadual é imprecisa e não apresenta metas concretas e indicadores. Segundo o Governo do RJ os indicadores serão definidos pelas Secretarias de Polícia, “visando assim garantir a possibilidade de revisão dessas metas à medida em que se afigurem necessárias, de acordo com a dinâmica das operações”.

Segundo a assessoria de comunicação da Polícia Militar, sobre o episódio desta quarta que resultou na morte do jovem:  “uma equipe do 16° BPM (Olaria) realizava patrulhamento no interior da comunidade Kelson e ao passarem na localidade conhecida como “viela da Kelson”, foram alvos de disparos de arma de fogo, e houve revide. Após o confronto, um suspeito foi localizado ferido e em posse de uma pistola 9mm e uma mochila com drogas. Ele foi socorrido pela equipe ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, mas não resistiu.” No entanto, segundo relatos de moradores, o jovem não esboçou resistência durante a abordagem, mas ainda assim, foi alvo dos disparos.