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Maré não aparece em Sistema de Alerta e Alarme para chuvas da Defesa Civil

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As famosas chuvas de verão causam alagamentos nas ruas da Maré e nas casas dos moradores

Por Andrezza Paulo

O verão chegou na última quarta-feira (21) com fortes chuvas e tempo fechado no Rio de Janeiro. A chegada da estação acende alerta para antigos problemas como alagamentos e inundações. 

Segundo a meteorologia, o primeiro final de semana da estação não será de muito sol. A previsão indica chuva fraca e temperatura baixa com retomada de chuva já no início da próxima semana. 

A Prefeitura do Rio de Janeiro lançou um plano de contingência com obras e drenagem de rios pela cidade. O investimento de R$ 1,2 bi será dividido em 49,15% para Zona Oeste, 35,04% para Zona Norte, 14,95% na Zona Sul e 0,85% no Centro do Rio de Janeiro.

A Maré

Embora a Maré seja composta por 16 favelas, nenhuma delas está no Sistema de Alerta e Alarme para chuvas da Defesa Civil. Esse sistema mostra os pontos críticos de cada lugar e aciona sirenes que alertam para as fortes chuvas, direcionando o morador a se abrigar. 

Em questões geográficas, a Maré tem a maior parte do seu território plano, com poucos riscos de deslizamentos. Porém a baixíssima atuação do Estado e da Prefeitura na infraestrutura e saneamento básico da região e as chuvas de verão preocupam os moradores. 

Dona Elizete tem 67 anos, é moradora da Nova Holanda e trabalha como passadeira na Zona Sul da cidade. Ela conta que os alagamentos na altura da rua Bittencourt Sampaio já duram anos e dificultam a saída da comunidade: “Eu já não sou tão nova e toda vez que chove, nem precisa ser muito forte, ali fica tudo alagado e não tem como passar. Aí eu tenho que ir pela Teixeira porque a Malha também alaga”. A senhora de 67 anos conta que em dias de chuva já chega no trabalho cansada pelas caminhadas que precisa fazer para se deslocar. 

Para Natália Amanda, de 33 anos, a chuva de verão é preocupante pois causa infiltração e goteira na residência. Mãe de quatro filhos, a moradora da Rua das Rosas conta que a umidade da casa afeta a saúde das crianças: “os menores caem logo doentes, começam a tossir e fica muito difícil”, disse. Nesta rua, o ponto de alagamento dura dias e os próprios moradores precisam drenar a água. Natália revela que leva de dois a três dias para escoar a água: “Tem muita criança e idoso aqui. Quando dá, a gente puxa a água mas tem dia que não dá. Tá cheio de lixo no bueiro e ninguém vem fazer essa limpeza”, conta.

Casa da moradora Natália tem infiltração após chuva (Foto: Andrezza Paulo)

Os planos de contingência do Estado e da Prefeitura não consideram a Maré. Os moradores revivem todo verão os mesmos impactos e contam com a própria mobilização para evitarem danos maiores.

Publicado decreto que institui o Programa Nacional Qualifica Mulher

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Com Agência Brasil

Ele busca a projeção econômica de mulheres em vulnerabilidade social

Com a finalidade de fomentar ações de qualificação profissional, de trabalho e de empreendedorismo, para promover geração de emprego e renda para mulheres em situação de vulnerabilidade social, o Diário Oficial da União publica, nesta terça-feira (27), o Decreto nº 11.309, de 26 de dezembro de 2022, que institui o Programa Nacional Qualifica Mulher.

O programa, por meio de formação de parcerias com os poderes federal, estadual, municipal e distrital, e com entidades e instituições, públicas e privadas, busca a projeção econômica de mulheres em vulnerabilidade social, atendendo, prioritariamente, as que tenham renda mensal de até um salário mínimo e meio, ensino fundamental incompleto e sejam vítimas de violência doméstica.

O Qualifica Mulher também fomentará, entre outras ações, a educação profissional, a fim de aumentar a empregabilidade dessas mulheres e sua capacidade para o exercício de qualquer trabalho; promover medidas que contribuam para o desenvolvimento e para a sustentabilidade financeira; a inserção e a reinserção de mulheres mães no mercado de trabalho, a conciliação entre trabalho e família e a equidade e corresponsabilidade no lar.

Além disso, o programa visa estimular iniciativas que ampliem a oferta de microcrédito para o empreendedorismo da mulher, por meio da articulação com órgãos, entidades e instituições, públicos e privados, desenvolvidas pela Estratégia Nacional de Empreendedorismo Feminino – Brasil para Elas.

Parcerias

O decreto diz ainda, em um dos seus artigos, que as “parcerias para execução do Programa Nacional Qualifica Mulher poderão ser firmadas por meio de convênios, de acordos de cooperação, de termos de execução descentralizada ou de outros instrumentos congêneres, com órgãos e com entidades da administração pública federal, estadual, distrital e municipal e com entidades e instituições privadas”.

Internet de qualidade também é direito

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Desafio da tecnologia é chegar com a mesma qualidade no interior do país e nas favelas

Hélio Euclides, João Gabriel Haddad (*) e Rebekah Tinôco (*)

Em outubro deste ano, a rede de internet móvel 5G foi ativada (com dois meses de atraso) em todas as capitais do país, incluindo o Distrito Federal. Se a expectativa é de que a cobertura atinja todos os municípios brasileiros até o fim de 2029, o problema maior é o novo sistema ter igual desempenho no país todo — incluindo cidades do interior do Brasil e favelas. Apenas com o desenvolvimento igualitário será possível uma verdadeira democratização da internet. De acordo com o Instituto Locomotiva, 43% dos moradores de favelas não possuem internet de qualidade. O Jornal Voz das Comunidades, do Complexo do Alemão, publicou em outubro de 2021 uma reportagem  sobre o projeto Rio Estado Digital, que prometia mudar essa realidade, com disponibilidade de internet gratuita. 

O projeto do governo estadual começou em 2009, mas foi descontinuado quando começaram a surgir falhas. Na Maré, o sinal era captado na Avenida Brasil, mas nem sempre funcionava corretamente. Em 2017, o programa foi encerrado, sem que a democratização do acesso à internet se concretizasse.

Atualmente, a tecnologia 5G está muito distante das favelas. Na Maré, moradores ainda precisam superar a falta cotidiana de sinal da internet em celulares e a lentidão na conexão dos telefones fixos. A internet ruim foi um dos motivos que fez Mateus Vieira se mudar da Maré. 

“Morava no Morro do Timbau, local onde os internautas mais sofrem. Acredito que a internet 4G é relevante e aceitável; o problema é que na favela nem o 3G pega. Sou estudante e na pandemia não consegui estudar, pois a internet era caótica”, conta o aluno de história da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

Alguns moradores esperam com ansiedade a nova tecnologia de transmissão de dados. É o caso de Jadson Couto, dono de uma empresa de manutenção de impressoras na Baixa do Sapateiro. 

“Teoricamente vai ajudar muito, principalmente com novos serviços, na agilidade dos que já existem e na comunicação”, espera ele. Contudo, quando se fala de favela, Jadson tem dúvidas quanto à disponibilidade do 5G. “A tecnologia é muito boa, porém a cobertura na comunidade ainda deixa a desejar. Dependendo da região nem sinal pega. Hoje em dia se limita somente a bairros com poder aquisitivo alto”, acredita. [INSERIR OLHO]

A chegada da nova tecnologia também preocupa quando se fala de aumento da desigualdade social. No programa Canal Livre que foi ao ar no último dia 20 de novembro, o prefeito de Araraquara (São Paulo), Edinho Silva, lembrou que os avanços precisam chegar a todos os municípios do país e em todas as áreas: “Hoje, é preciso que pelo menos o 4G chegue às escolas públicas e mais ainda, que elas tenham equipamentos adequados para os seus alunos.” 

A primeira favela 5G do Brasil

A operadora TIM e a ONG Gerando Falcões (que atua em favelas de todo o Brasil usando análise de dados para combater a pobreza) anunciaram que uma comunidade em São José do Rio Preto (São Paulo) — mais especificamente, a Favela Marte — será a sede do projeto-piloto “Favela 3D”, se tornando a primeira no país plenamente conectada ao 5G. Duzentas famílias serão beneficiadas pela iniciativa, que tem como meta a instalação da quinta geração de transmissão de dados no local até agosto de 2023.

Segundo a TIM, com o projeto a empresa espera colaborar para a construção de um mundo mais igualitário: “O setor cultural e a produção de conteúdo, que possuem um potencial enorme nas comunidades, serão alguns dos segmentos mais beneficiados pelo 5G, capazes de irradiar para cada vez mais longe o poder de negócios das favelas.” 

A operadora, de acordo com sua assessoria, quer contribuir para potencializar outros tipos de serviços, como educação, saúde e o comércio local.

Popularizar a tecnologia

O 5G é a nova geração de distribuição de dados do sistema de telefonia móvel celular. Ele é até cem vezes mais rápido que o 4G, com velocidades que podem chegar a mais de 1000 Megabits por segundo, com um pequeno intervalo de transferência de dados entre dispositivos. 

“A rede 5G é caracterizada por uma estrutura híbrida que maximiza diversos serviços”, explica João Dias, pesquisador e engenheiro de telecomunicações. 

Popularizar a tecnologia é considerado um consenso para o sucesso do 5G nos próximos anos. Porém, João Dias lembra que a implementação da rede em comunidades passa por mais desafios, como a instalação de equipamentos. 

Como o alcance das antenas 5G pode ser limitado, áreas densamente ocupadas (como as de favelas) exigem um planejamento mais cuidadoso para garantir a cobertura total daquela região. O acesso de veículos de grande porte para instalação do equipamento também deve ser avaliado, já que eles podem enfrentar dificuldades em circular em vias estreitas das comunidades.

Futuro à vista

Além da velocidade, o 5G contribui para o aperfeiçoamento do suporte a serviços de internet e automação industrial e de serviços como a indústria 4.0, ou seja, totalmente automatizada a partir de sistemas que combinam máquinas com processos digitais, carros autônomos e casas e cidades inteligentes.

O usuário precisa de um dispositivo compatível para usufruir da rede 5G, além de estar na área de cobertura. Embora ainda não esteja disponível em muitas localidades (até mesmo dentro das capitais), a TIM já registrou um aumento da demanda por celulares com a nova tecnologia 5G.

 Segundo a empresa, “observamos que 40% das nossas vendas de smartphones são de modelos 5G, e 75% dos nossos aparelhos à venda são compatíveis com a nova tecnologia”.

A implementação do 5G, entretanto, não está consolidada e o preço dos serviços e aparelhos pode ser maior do que os similares com outra tecnologia. Por isso, na opinião do João Dias, a aquisição de novos aparelhos apenas para ter acesso à nova tecnologia, no cenário atual, deve ser feita com cautela. 

Maior parte dos mareenses acessa a web pelo celular, mas, mesmo no computador, lentidão da conexão costuma ser um desafio – Foto: Douglas Lopes

Atrasos e desafios

O desembarque do 5G no Brasil passou por problemas técnicos e políticos, o que explica os atrasos na disponibilização do serviço no país. O alcance limitado do sinal por conta da utilização de frequências altas exigiu o planejamento da instalação de equipamentos mais potentes e mais antenas espalhadas pelas cidades. 

“Foi necessário trabalhar com frequências que nunca haviam sido usadas para comunicações móveis, e isso impõe desafios no desenvolvimento de novas tecnologias para atender esses objetivos”, explica João Dias.

O pesquisador também atribui disputas comerciais entre os EUA e a China à demora da chegada do 5G ao país: “Isso acabou, de certa forma, provocando um atraso na tomada de decisão da Agência Nacional de Telecomunicações”, pondera.

Até o fim de 2030, além de disponibilizar o 5G em todos os municípios brasileiros, as empresas de telecomunicação precisam garantir o sinal em 1.700 localidades consideradas não-urbanas — o que vai depender do desenvolvimento de planos de negócio pelas empresas que contemplem essas regiões. 

Será preciso também que os governos locais e federal ofereçam incentivos fiscais ou acordos a essas empresas, como os firmados no leilão do 5G em 2021. Na ocasião, o governo federal viabilizou a compra das frequências pelas operadoras, mas impôs metas como a disponibilização de sinal 4G e 5G em escolas.

*Alunos comunicadores do Programa de Extensão da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em parceria com o Maré de Notícias.

Maré em Brasília: Anielle Franco será Ministra da Igualdade Racial em governo Lula

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A mareense foi anunciada junto com outros 16 novos ministros incluindo a socióloga Nísia Trindade que assumirá o Ministério da Saúde

A jornalista, escritora, educadora, ativista dos direitos das mulheres e dos negros e cria da Maré, Anielle Franco, foi anunciada nesta quinta-feira (22) pelo presidente eleito Lula para o Ministério da Igualdade Racial. Anielle é irmã de Marielle Franco, ex-vereadora do Rio de Janeiro assassinada em 14 de março de 2018. Recentemente lançou durante a Flup na Maré seu primeiro livro, “Cartas para Marielle”, uma reunião de textos de parentes sobre a experiência de luto por Marielle Franco, sua irmã e referência, e colaborou na autobiografia de Angela Davis.

Atualmente a jornalista é diretora executiva do Instituto Marielle Franco, organização sem fins lucrativos (ONG) criado pela família da ex-vereadora, para potencializar mulheres negras. Anielle também é formada em inglês, sendo as duas graduações pela Universidade Central da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, mestre em Jornalismo pela Universidade A & M Flórida e em Relações Internacionais pela Cefet/RJ.  Também faz doutorado em Linguística Aplicada na UFRJ.


Em uma publicação no LinkedIn, a agora ministra disse que deixará o cargo no Instituto Marielle Franco temporariamente, mas garante que o local será gerenciado pela equipe de gestão e pela família: “O Instituto Marielle Franco seguirá firme defendendo a memória, lutando por justiça, multiplicando o legado e regando as sementes da minha irmã”, concluiu.

Nísia Trindade é a primeira mulher a assumir o Ministério da Saúde

“O projeto #VacinaMaré foi um sucesso já na primeira fase, superando as expectativas”, afirmou o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz (foto: Aline Câmera)

Já no Ministério da Saúde a socióloga Nísia Trindade, atual presidente da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), ocupará a pasta no lugar de Marcelo Queiroga. 

Nísia Trindade é a primeira mulher a assumir o Ministério da Saúde, assim como em 2016 foi a pioneira na presidência da FioCruz e teve papel importante no acordo internacional que trouxe para o Brasil a produção de vacinas Oxford/Astrazeneca. Na Maré, sua atuação durante a campanha da vacinação em massa foi fundamental. 

A presidenta da Instituição esteve presente no território nas cerimônias de abertura das fases da campanha e também em maio deste ano quando recebeu a maior honraria concedida pelo governo do Estado, a medalha Tiradentes, por meio da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ), iniciativa da deputada mareense Renata Sousa. Na cerimônia, a fundadora e diretora da Redes da Maré, Eliana Sousa, também recebeu o reconhecimento. 

Conheça os outros ministros anunciados por Lula

Geraldo Alckmin – vice-presidente também será ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio;

Fernando Haddad – Ministério da Fazenda;

Flávio Dino – Ministério da Justiça;

Rui Costa – Casa Civil;

José Múcio Monteiro – Ministério da Defesa;

Mauro Vieira – Ministério das Relações Exteriores;

Wellington Dias – Ministério do Desenvolvimento Social;

Nísia Trindade – Ministério da Saúde;

Márcio Macêdo – Secretaria Geral da Presidência;

Camilo Santana – Ministério da Educação;

Alexandre Padilha – Secretaria das Relações Institucionais;

Luiz Marinho – Ministério do Trabalho; 

Luciana Santos – Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações;

Jorge Messias – AGU (Advocacia Geral da União);

Silvio Almeida – Ministério dos Direitos Humanos;

Anielle Franco – Ministério da Igualdade Racial;

Márcio França – Ministério dos Portos e Aeroportos;

Margareth Menezes – Ministério da Cultura;

Cida Gonçalves – Ministério das Mulheres;

Esther Dweck – Ministério de Gestão e Inovação;

Vinicius Carvalho – CGU (Controladoria Geral da União).

Altos preços dos alimentos provocam mudanças na ceia de Natal

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A razão da alta dos preços dos importados, itens obrigatórios até pouco tempo nas festas natalinas, é a cotação do dólar

A mesa farta, com o tradicional peru de Natal, e produtos importados como castanhas portuguesas, nozes e amêndoas, por exemplo; aos poucos vai sendo alterada em função de novos hábitos da população. No entanto, em 2022, algumas mudanças no cardápio natalino são determinadas também pelos preços dos produtos, principalmente aqueles importados. 

A razão da alta dos preços dos importados, itens obrigatórios até pouco tempo nas festas natalinas, é a cotação do dólar, que no início de dezembro chegou a R$ 5,60. Por outro lado, de março de 2017 a março de 2022, o real perdeu 31,32% de seu valor e compra. E com o mesmo valor agora se consegue comprar apenas dois terços do que se comprava naquele ano. 

Um quilo de nozes, com casca, está custando R$ 45; 500 gramas de amêndoas, com casca R$ 30; Figo, R$ 18, 250 gramas. Mas não são apenas os importados que pesam no bolso do consumidor. Os produtos nacionais também estão inflacionados. A ceia de Natal deve ficar, pelo menos, 16,2% mais cara do que no natal de 2021, segundo estudo realizado pelo pesquisador Fernando Agra da Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais.

Produtos nacionais também estão caros

Para entender o impacto da alta dos preços dos alimentos na ceia de Natal das famílias da Maré, acompanhamos o cuidadoso planejamento da lista de compras de Arides Menezes. 

Ele tem 71 anos, está aposentado há sete anos, recebe uma pensão de dois salários-mínimos por mês; e está fazendo muitas contas para preparar uma ceia de Natal para os dois filhos, as respectivas noras e dois netos, “para a ceia eu em geral escolho o que está mais em conta. Os preços estão muito altos”. A primeira decisão já foi tomada, o peru vai ser substituído pelo chester, “bem mais em conta” afirmou o aposentado. 

Um quilo de peru, nas principais redes de supermercado do Rio de Janeiro custa em torno de R$ 28. Arides precisaria de um peru com pelos menos três quilos e meio, ou seja, R$ 100. As sobras da ceia vão compor o almoço do dia 25. A diferença de preço entre peru e chester não é tão grande, cerca de um ou dois reais por quilo, mas o chester rende bem mais, tem mais carne. 

O quilo do chester nos supermercados mais populares custa em média, R$ 27. Por um chester de três quilos e meio, Arides vai pagar R$ 94. O aposentado, na realidade, sonhava com um suculento bacalhau para a ceia do dia 24 de dezembro, “Não dá nem para pensar, vamos de chester mesmo.” diz Arides conformado. Um quilo bacalhau do porto não sai por menos de R$ 150.

Preços dos alimentos disparam

Nos últimos 12 meses o grupo alimentação e bebidas acumulou inflação de 11, 21%, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-IPCA, calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE. O aumento nos preço dos alimentos ficou acima da inflação geral, que nos últimos 12 meses, que foi de 5,97%.

E essa inflação dos preços dos alimentos está atingindo até mesmo um dos pratos de maior popularidade da ceia natalina, a rabanada que, segundo Arides, “não pode faltar de jeito nenhum na nossa ceia”. 

Com a inflação dos alimentos e a perda de poder de compra do Real, mesmo os pratos mais simples como a rabanada ficaram bem mais caros. O pão, o leite e ovo subiram mais que a inflação desde dezembro de 2021. O pão teve uma alta de 18,1%. Leite e derivados, 26,6% desde dezembro de 2021. E o ovo de galinha, 19,7%. 

Arides vai restringir os importados, com algumas poucas exceções e uma delas é a castanha portuguesa, outro item muito tradicional e que também não pode faltar na ceia. Um quilo de castanhas na cidade do Rio de Janeiro está custando em torno de R$ 110.

O morador da Maré só vai gastar um pouco mais com os presentes, já que quer presentear todos que vão participar da ceia, filhos, noras e netos, “de preferência com roupas e sapatos”. Apesar ter sido obrigado a economizar na ceia, Arides diz que está feliz em poder reunir a família “o que e não pode faltar é harmonia”, disse.  

Símbolos de Natal iluminam a Maré

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Além da tradicional Árvore da Vila do João, favelas da Maré criam suas próprias representações dos símbolos natalinos

Andrezza Paulo e Lucas Feitoza

“Então é natal, e o que você fez? O ano termina e começa outra vez”. O Natal chegou e trouxe com ele os símbolos que iluminam as casas e as ruas da Maré. As árvores, as luzes, os presentes e a alegria desta época fazem parte da função dos símbolos natalinos: criar memórias afetivas, como é o caso dessa música lançada em 1995, interpretada pela cantora Simone. Aqui na Maré, além da tradicional decoração natalina nas residências ao longo das 16 favelas, a criatividade e as novas representações desses símbolos marcam o território e lembram quando é hora de pensar na ceia, decorar a casa e planejar as confraternizações. 

Registros históricos indicam que a árvore de natal, próxima ao que conhecemos hoje, nasceu ao final do Século XVI em Alsácia, antigo território alemão e que hoje pertence à França.  No início, as árvores eram decoradas com doces, nozes e maçãs. Somente em 1730 que as árvores brilhantes surgiram com decoração em velas. Na Maré, as árvores de Natal são recriadas todos os anos, sejam em sua forma tradicional, ou através de novas representações.

Árvore de livros Instituto Vida Real

Unindo literatura, sonhos e o espírito de renovação do natal, o Instituto Vida Real, localizado na Nova Holanda, fez uma criativa árvore de livros. A organização sem fins lucrativos (ONG) é focada em apoiar moradores da Maré nos eixos da educação, cultura e tecnologia. Arthur Pedro, coordenador pedagógico da ONG foi o idealizador da árvore e contou que a ideia surgiu para valorizar a biblioteca comunitária Luciana Savaget que fica na instituição. “Ano passado fiz uma árvore usando grafite como elemento principal para valorizar um pouco das oficinas que a gente tem, seguindo um pouco dessa ideia, esse ano pensei em exaltar a biblioteca comunitária”, disse. 

Trezentos livros foram usados para a composição e Arthur conta que o objetivo foi trazer o protagonismo de quem frequenta a biblioteca com foco nas crianças. Para isso foi utilizado um monitor com fotos de todos os alunos  e funcionários do instituto; “a ideia foi trabalhar outras estéticas e linguagens, tendo como ponto central elementos que fazem parte da nossa rotina”, conclui.

Árvore de natal de Heineken no Parque União

Há 10 anos, a árvore composta por garrafas de cerveja Heineken brilha na Praça do Parque União, conhecida na região pela gastronomia, música nordestina e pelo espaço de confraternização. Arilo Alves, comerciante da Chopperia Las Vegas e responsável pela decoração, conta que a ideia surgiu apenas um mês antes do Natal de 2012: “Eu fiz por ser bem diferente, são 1.800 garrafas e para juntar, precisamos dos comerciantes vizinhos, e todos ajudaram. As pessoas vêm de fora da comunidade para prestigiar a nossa árvore”.

Árvore de natal da Vila do João

A árvore de natal da Vila do João já é tradição da época e quem passa pela Avenida Brasil, na altura da passarela 6, pode vê-la iluminando a entrada da favela. A decoração é um patrocínio da NHJ Contêiner com apoio da Associação de Moradores da Vila do João representada por Valtermir Messias, presidente, conhecido como Índio, que informa que  a árvore é colocada há aproximadamente 12 anos, e que a deste ano tem 18 metros de altura. 

No final do mês de novembro (25), um incêndio causado por um curto circuito, danificou o cartão postal da região, mas foi restaurado em dois dias. O acidente ocorreu no mesmo dia da operação policial que deixou 8 pessoas mortas, feridos no Parque União e Nova Holanda e violou direitos  dos moradores da Maré.

“Imagina a quantidade de moradores que tem no nosso território e a maioria é cidadão de bem, então a cerca de 12 anos a gente tem esse compromisso com o espírito natalino e com a Maré de colocar a árvore de natal” conta Índio.

As decorações de Natal carregam a alegria, a união e a esperança que são características não só desta época do ano, como das 16 favelas da Maré que mesmo sendo atacadas de forma violenta não perdem a fé e mostram que o diferencial está na união dos moradores.