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CEJA Maré promove Chá Literário

As lendas e contos da Maré são estudadas e refletidas a partir das histórias do território com jovens e adultos

Por Hélio Euclides Editado por Jéssica Pires

Novembro foi encerrado com chave de ouro para o Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEJA-Maré): a unidade municipal realizou o 3º Chá Literário recheado de memórias e conhecimento. O evento ocorreu nos três turnos das aulas. No evento, os alunos mostraram o resultado dos estudos do projeto pedagógico da unidade escolar e as reflexões que se basearam no livro Lendas e Contos da Maré, que publicou histórias contadas pelos primeiros moradores do território. 

Os alunos se apresentavam para os colegas. Mostraram o que estudaram durante o ano sobre a história da Maré. O aprofundamento nas raízes do território estimulou a leitura de jovens e adultos. Foram sete lendas e contos mostrados em formato de apresentações: A Figueira Mal-assombrada, O Ensopado de Cobra, A Festa de Casamento nas Palafitas, O Porco com Cara de Gente, O Lobisomem, O Bloco Mataram Meu Gato e A Mulher Loura. “É um resgate valioso das histórias reais. Gostei de todos os trabalhos apresentados. Estar aqui é um desafio de voltar a estudar, algo incentivado pelos meus filhos”, enfatiza Vera Nascimento, moradora do Conjunto Pinheiros.

As apresentações decorreram na forma de teatro, fantoches e leituras. Os alunos se vestiram a caráter e construíram os seus cenários para cada conto e lenda exposto. O dia ainda contou com a leitura de poesia de Sara Alves sobre a Maré, enquete cultural, construção de uma árvore com folhas sobre os sentimentos de cada um pelo projeto e a apresentação de um grande mapa da Maré. “Percebi um empenho dos alunos e dos professores no resgate da memória. É muito bom ver jovens se apropriando do conhecimento sobre a Maré. Isso é uma riqueza única, uma memória imaterial”, comenta a psicóloga Cecília Silveira, integrante do Coletivo PSI Maré 

Um dos contos e lendas apresentados foi sobre A Figueira Mal-Assombrada. Os alunos fizeram uma releitura do conto, então surgiu A Bananeira Mal-Assombrada. A versão original aconteceu no Morro do Timbau, já a adaptação veio do Salsa e Merengue, antes da construção das casas, num local que tinha um laguinho. “Foi uma experiência rica, pois os alunos se identificaram com a história da Maré. Aconteceu uma troca entre eles e os professores. Esse trabalho vem consolidar o aprendizado, de uma forma lúdica e prazerosa”, afirma Cátia Martins, professora de alfabetização.

Durante o ano os alunos também estudaram os textos de Antônio Gonçalves da Silva, mais conhecido como Patativa do Assaré, uma das principais figuras da arte popular nordestina do século XX. O poeta popular, compositor, cantor e repentista brasileiro foi tema das aulas durante este ano. Os alunos perceberam uma representatividade dele com a grande quantidade de nordestinos que compõem a Maré. “Uma experiência única. O que me marcou mais foram as maquetes e os resgate das nossas histórias. Isso traz experiências para a geração mais nova. Algo também interessante foi estudar o Patativa do Assaré, um representante cultural do nosso povo”, conta Raimundo Alves, morador da Vila do João.

Alaíde Biscácio apresentou com sua turma o conto A Festa de Casamento nas Palafitas. O relato destaca uma festança com direito a dança, que é interrompida quando as tábuas das palafitas se quebram e os convidados vão parar no mangue. A aluna se divertiu cantando a música da época: Je Suis La Femme, mais conhecida como a melo do Piri Piri, uma composição de Mister Sam, lançado em 1982, que fez sucesso na voz da cantora Gretchen. “O evento trouxe a memória de histórias que me contavam quando eu tinha oito anos, quando nos encontrávamos à beira da fogueira. Alguns personagens eu cheguei a conhecer. Essas histórias trazem recordações da maresia do local. Naquele tempo tinha os causos de animais, a minha irmã matou a galinha da vizinha, algo que ocorreu com o felino do Mataram Meu Gato”, lembra.

No evento, professores enfatizaram a importância da construção da Maré e seus personagens. Um dos pontos do território é o apelido dado à praça conhecida como Dezoito, número que no jogo do bicho é destinado ao porco. No local existia uma criação de porquinhos. Os educadores explicaram que oficialmente a praça tem outro nome: Luís Gonzaga. Os mareenses, que na grande maioria são oriundos de nordestinos ou descendentes, receberam essa homenagem da Prefeitura do Rio ao batizar o local como o nome do Rei do Baião, por meio da Lei Nº. 2.372, de 04 de outubro de 1995.

Observações de um repórter comunitário“Dizem que recordar é viver. É muito bom ver um livro lançado em junho de 2003, que retrata as histórias dos mais antigos do território, sendo estudado nas escolas. O livro foi o trabalho de encerramento de duas oficinas. Na época ninguém pensava no documento que estávamos sendo construído. A união das oficinas de produção gráfica e literária deu o resultado que hoje é lido e estudado pelos moradores mais novos. Além dos alunos das oficinas, estavam sete convidados, entre ilustradores, revisores e fotógrafos. Eu participei fazendo imagens de personagens que contavam os contos. Não se pode esquecer que na coordenação geral do projeto do livro tinha um jornalista, André Esteves. Ele foi um dos incentivadores do projeto sobre comunicação impressa comunitária no território. O Livro Lendas e Contos da Maré marca a vivência de um povo que tem grande potencial cultural. Os setes contos e lendas mostram que a Maré tem uma história, que não pode ser esquecida nunca. Que venham novos contos e lendas”, Hélio Euclides, repórter do Maré de Notícias.

“Favela está sendo vista com os olhos que merece”, diz Rapha Vicente em vídeo

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Após ter o vídeo viralizado pela cantora Shakira na segunda-feira (5), o influenciador  Raphael Vicente, de 23 anos,  conversou com o Maré de Notícias sobre a emoção de ser notado pela dona da música “Waka Waka” hit da Copa do Mundo da África do Sul de 2010.

“Estou muito feliz porque a favela está sendo vista com os olhos que merece ser vista, estão tendo a real imagem dela. Sou muito grato por tudo que aconteceu, de estarem vendo a real verdade daqui de dentro e o vídeo estar alcançando pessoas que eu jamais pensei em alcançar como Shakira, ícone de Copa do Mundo, que toda Copa revivemos a música dela. E “waka waka” é muito importante porque é um marco para a Copa do Mundo e uma música feita para o povo preto”, disse.


O vídeo produzido pelo morador já tem mais de  923 mil visualizações no Tik Tok desde que foi publicado. Depois que foi repostado pela cantora, em 14h, já trouxe mais 2 milhões visualizações para o vídeo e no Twitter e o videoclipe já bate mais de 2,3 milhões de  visualizações. A cantora aproveitou para convidar Raphael para dançar com ela em seu próximo show no Brasil. “E eu também estou muito feliz de te ver tão emocionado! Você vai ter que dançar comigo na minha próxima apresentação no Brasil!!!!!”

Escola da Maré trabalha educação antirracista e muro com personalidades vira ponto turístico

Por Samara Oliveira

Quando o assunto é representatividade, a Escola Municipal Tenente General Napion, em Ramos, sabe fazer isso bem e a prova é o muro que cerca a unidade de educação. Rostos de pessoas como Marielle Franco, Conceição Evaristo, Elza Soares, Dandara dos Palmares, Frida Khalo, Carolina Maria de Jesus, Zumbi dos Palmares, Emicida, Luiz Gama, Nelson Mandela, Luiz Gonzaga, estão grafitadas na parte externa e interna ao redor do colégio. 

Cada uma dessas personalidades de diferentes gerações tiveram lutas que mudaram o rumo comportamental da sociedade e jogaram luz a temas importantes como os direitos civis das pessoas negras, nordestinas e a liberdade da mulher. Aline Botelho, 42, diretora da unidade garante: “O tema é trabalhado diariamente, os alunos estão por dentro. Não foi só uma pintura jogada no muro” e ressalta “Várias pessoas que estão passando por ali, param para tirar fotos. Além da comunidade escolar, chama atenção das pessoas de fora também”.

A iniciativa para tornar a escola além de colorida mas também um lugar de reflexão e debate sobre a importância dessas figuras veio a partir de um desenho de um aluno. Segundo a diretora, o estudante se referiu a escola no desenho como uma prisão cinza. Desde então, Aline e a equipe escolar começaram com o movimento de colorir a unidade de dentro para fora, incluindo a ação no projeto político pedagógico (PPP) com o objetivo de trazer mais vida para o espaço e tornar o ambiente agradável.

“Dentro da escola temos a figura de uma asa com a frase que intitula nosso PPP: ‘encorajar voos para que o amanhã não seja só um ontem’. Estamos nessa construção diária na questão étnico racial entendendo que uma educação antirracista não é só uma educação que combate o racismo mas que mostra todas essas personalidades e possibilidades que a educação tem”, afirma Aline. O trecho do documento norteador para as atividades escolares é parte da música AmarElo de Emicida com participação de Majur e Pabllo Vittar.

Quem assina os desenhos das personalidades estampadas no muro da unidade é o grafiteiro Thiago Luiz, de 34 anos. Trabalhando com grafite há 18 anos, o artista afirma que “foi muito gratificante fazer esse trabalho e saber que está sendo referência. São referências de luta e muito da liberdade que temos hoje devemos a eles”.

Feira cultural, inspirações e releituras

Mostrando que realmente é além de arte no muro, a escola promoveu a 1ª Feira Cultural “Tudo Que Nóis Tem É Nóis”, o nome da iniciativa também é trecho de outra música do Emicida, dessa vez “Principia”, com participação do Pastor Henrique Vieira. 

A feira que foi aberta aos responsáveis dos alunos contou com oficina de grafite, capoeira, apresentação de jongo- dança de origem africana oriundo de Angola-, campeonato de Shisima- jogo de tabuleiro do Quênia, país do leste africano- e diversas exposições de livros voltados para uma educação antirracistas. Além disso, os alunos tinham estandes com releituras das obras de Conceição Evaristo, Carolina Maria de Jesus e outras personalidades. 

Inspirados no livro “Quarto de despejo – Diário de uma favelada”, da autora Carolina Maria de Jesus, os alunos do 6º ano produziram sua própria obra “Do Canindé à Maré: diário de escrevivências de estudantes do 6º ano de uma escola pública”.

Shakira compartilha remix de ‘Waka Waka’ de Raphael Vicente

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Por Amanda Celio

A cantora colombiana compartilhou em suas redes sociais videoclipe feito na Maré com a música Waka Waka

Mais uma vez a Maré cruzou as fronteiras e dessa vez foi parar em Barcelona. Na última segunda-feira (5), a cantora colombiana Shakira repostou em suas redes sociais o videoclipe Waka Waka – que fez sucesso na Copa da Africa do Sul em 2010 – na versão brasileira coreografada pelo influencer digital da Maré, Raphael Vicente. O vídeo foi lançado no final de novembro e foi gravado pelas ruas da Maré.

Para isso reuniu ao todo trinta amigos, o coletivo responsável pela gravação Amarévê, e seu grupo de dança Dance Maré e enfeitou a Rua Brasília, no Parque União, com bandeirolas e pinturas. Rapha Vicente, que é morador da Nova Holanda, ficou conhecido na internet por produzir vídeos criativos com a família. Hoje ele acumula mais de três milhões de seguidores só no Tik Tok e mais de 759 mil no Instagram.

O vídeo produzido pelo morador já tem mais de 795 mil visualizações no Tik Tok desde que foi publicado. Depois que foi repostado pela cantora, em 14h, já trouxe mais 800 mil visualizações para o vídeo e no Twitter e o videoclipe já bate mais de 1 milhão e duzentos mil visualizações.

Nas redes sociais a cantora disse: “Isso é muito bom. Adorei! Muito Legal!!!” Emocionado, Rapha Vicente retribuiu o carinho e disse que a “Maré ama muito Shakira”. Nesta terça–feira (6), Shakira respondeu o influencer e convidou para dançar com ela no próximo show em terras brasileiras: “E eu também estou muito feliz de te ver tão emocionado! Você vai ter que dançar comigo na minha próxima apresentação no Brasil!!!!!”

Confira o diálogo

Flup Maré começa com axé, música e emoção

Por Lucas Feitoza

A primeira Festa Literária das Periferias (FLUP) realizada na Maré, começou nesta segunda-feira (5), após a vitória do Brasil sobre a Coréia do Sul com o placar de 4 x 1. A partida também foi transmitida no telão do Centro de Arte da Maré (CAM), a Copa Flup. Todos jogos do Brasil na Copa do Mundo terão transmissão ao vivo no local.

O evento deu sequência à programação com uma saudação aos Orixás, que consiste em cantigas em culto a todos os Orixás. Exu, Ogum, Oxum e Yansã foram representados por bailarinos  ao som do atabaque, conduzidos por lideranças de religiões afro, finalizando com um toque relembrando os ancestrais africanos que foram escravizados.

Na sequência houve o lançamento do livro “Pai Santana: Orixá do Futebol” escrito pelo co-fundador da FLUP Ecio Salles que morreu em 2019 vítima de um câncer no pulmão. O livro foi autografado no evento por Roberto Santana, filho mais velho de Eduardo Santana, mais conhecido como Pai Santana. O ex-massagista do Vasco da Gama faleceu em 2011, aos 77 anos, vítima de insuficiência respiratória.

Pela primeira vez na Maré, Santana contou que está feliz em lançar o livro que conta a biografia de seu pai que “era respeitado como um jogador pela torcida”.

Julio Ludemir, criador da FLUP, contou sua história com Ecio em sua terceira edição do evento sem ele. “Eu nunca falo do Ecio porque eu sempre choro”. Julio lembrou também os bons momentos com o amigo que conheceu na Maré, e a paixão por futebol e reunir os amigos que ele tinha. Após o lançamento do livro a noite foi marcada por apresentações da Mostra Maré de Música.

Mostra Maré de Música

Kamy Mona, 27 anos, artista que faz parte da Mostra Maré de Música, é uma das apresentações que fecha a primeira noite do evento. Ela disse estar feliz em se apresentar e considera um progresso na sua carreira “É a primeira vez que estou fazendo meu show aqui e juntar a mostra Maré de Música com a Flup é juntar mais gente para conhecer meu trabalho”, disse. A FLUP contínua com eventos a semana toda.

Nesta terça-feira (6), tem a abertura da exposição “Escultatórias afetivas por um Museu da Sororidade” com as artistas do Coletivo de Mulheres da Universidade das Quebradas, projeto de extensão cultural da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com início às 18h.

Confira a programação completa da Flup aqui.

Chacina na Maré adia Semana de Arte Favelada

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Por Lucas Feitoza

A Semana de Arte Favelada (SAF) depois de passar pelo Theatro Municipal com exposições artísticas, teria encerramento no Centro de Arte da Maré (CAM), neste fim de semana com o Festival Multilinguagem. Porém devido a chacina na Nova Holanda e Parque União nesta sexta-feira (25), o evento foi adiado para o próximo dia 17 de dezembro.

A SAF é uma releitura da Semana de Arte Moderna realizada em 1922 que reuniu palestras, apresentações de dança, música e recitação de poesias no Theatro Municipal de São Paulo, inspirado na estética européia. O objetivo da SAF é valorizar a cultura dos territórios periféricos, mas diferente da realizada um século atrás, foi interrompida. 

O idealizador da Semana de Arte Favelada, Wellington de Oliveira, contou que na sexta-feira (25)  já havia cancelado a organização do evento e junto com a equipe de produção questionou: “como a gente faz um festival de alegria e amor depois de tanta violência? A gente acabou de fazer o evento no Theatro Municipal (Centro, RJ)  e quando vem pro território não temos direitos, é como se tivessem dois Rios de Janeiro, e essa é a realidade da favela”. desabafa o idealizador 

As apresentações do festival multilinguagem seriam no sábado (26) e domingo (27) com 10 apresentações artísticas de dança, música e teatro. A única programação que permaneceu foi o lançamento do livro digital (ebook) gratuito no sábado. Semana de Arte Favelada: Arte Literária  reúne 25 textos de autores favelados, organizado por Marcos Diniz, com prefácio da deputada estadual  Renata Souza, ilustrado por Matheus Afonso e editado por  Meg Mendes e Leonardo Melo. O Sarau Multilinguagem vai ser um espaço de debate sobre os textos.

Vitor Felix, 27 anos, professor e artista independente, conta que o Sarau Multilinguagem será um momento com diferentes pessoas debatendo sobre os temas abordados no livro digital, e que a operação da semana passada vai repercutir na atividade. O texto “Tempos urgentes” do escritor, foi um dos selecionados, “a gente quer permanecer e não adianta qualquer tipo de violência,  a gente quer usar a nossa voz, é um direito que não se pode negar”. concluiu.

A operação policial conjunta da PMERJ e PCERJ deixou 8 pessoas mortas, feridos e mais uma vez muitas violações direitos para os moradores da Maré, com direitos fundamentais negados.