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Abertura do festival Comida de Favela recebe ‘Samba que Elas Querem’ em show gratuito na Maré

A roda formada exclusivamente por mulheres musicistas encerra as atividades do projeto musical Bossa Nova e MPB in Concert, iniciado em agosto

A 3º edição do Festival Comida de Favela vai começar. A Casa das Mulheres da Maré, equipamento da Redes da Maré, recebe nesta quinta-feira (10), o show gratuito do grupo Samba que Elas Querem para a abertura oficial do festival gastronômico.

O Festival Comida de Favela é um evento gastronômico, realizado pela Redes da Maré, que fomenta a identidade, memória e cultura alimentar do conjunto de 15 favelas da Maré e o potencial econômico da gastronomia local.

De 10 de outubro a 09 de novembro 16 estabelecimentos vão apresentar seus pratos aos clientes, moradores e visitantes para concorrer ao título de melhor da Maré no Festival Comida de Favela 2024.

A tradicional roda Samba que Elas Querem

Formada exclusivamente por mulheres, o grupo começou a se reunir em pontos do centro do Rio de Janeiro, reunindo cerca de duas mil pessoas. Desde então, o grupo se apresentou em várias casas de shows da cidade e até realizou uma turnê em Portugal.

“Todos os anos, o projeto promove um show gratuito e aberto ao público, e desta vez não é diferente. Queremos que os jovens e as pessoas que moram em outras áreas da cidade, fora do eixo Central, também tenham acesso à música brasileira e de qualidade”, afirma Hildo de Assis, um dos curadores do projeto.

No repertório do grupo, além de clássicos do samba, também estão incluídos os singles autorais “Levanta, Povo!”, composta por Iara Ferreira e Yasmin Alves; “Menino Miguel”, uma composição dos integrantes do grupo e uma homenagem póstuma ao caso Miguel; e “Partido Inconsciente”, que conquistou o primeiro lugar no Festival de Música Online da Cidade das Artes.

O Samba que Elas Querem tem como objetivo de movimentar e incentivar a representação feminina dentro da música, por meio do tom de resistência que o samba e sua poesia carregam.

A bossa ganhou a MPB

Apesar de ter a bossa nova como ritmo basilar, o Bossa Nova in Concert, este ano assume a sua faceta da Música Popular Brasileira e muda definitivamente o seu nome para Bossa Nova e MPB in Concert. Como de costume, a curadoria apresenta uma diversidade de ritmos, valorizando a música brasileira nas suas mais variadas vertentes e também os novos nomes da cena.

O projeto, que em anos anteriores já recebeu baluartes como João Bosco, Moreno Veloso, Bem Gil, João Cavalcanti, entre outros, tem curadoria, direção artística e produção de Hildo de Assis e Izabel Rabello.

A diversidade que o projeto almeja também é uma estratégia para atrair novos públicos. Também por isso, há um show gratuito na programação. “Diversificar artistas faz com o que público também seja diversificado. Queremos que os jovens venham e que se sintam em casa. Que conheçam a potência da nossa música”, acrescenta Izabel Rabello.

Não dê bola para as fake news: confie na ciência e proteja você e sua família

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Marcelo Bartolomei

Edição #165 – Jornal Impresso do Maré de Notícias

Tão importante quanto tratar uma eventual doença, cuidar da sua saúde é essencial sempre. Uma rotina recheada de hábitos saudáveis contribui para uma maior qualidade de vida e prevenção de diversas enfermidades. E esses hábitos incluem uma boa alimentação, a prática de esportes e até atitudes simples como cuidados básicos de higiene – lavar bem as mãos, por exemplo, previne muitas doenças!

Por isso, nesta edição, estreamos a página +Saúde na Maré, com o objetivo de levar boa informação de saúde para a população da Maré. O conteúdo é elaborado mensalmente pela Comunicação Institucional do Hospital Israleita Albert Einstein e publicado no jornal impresso do Maré de Notícias, sendo replicado no site.

Nossa missão é clara: combater fake news, levar informações precisas e acessíveis sobre saúde e ciência para todos. Acreditamos que a informação é uma poderosa ferramenta de transformação, e estamos aqui para fazer a diferença junto com você. Assim, construímos uma comunidade mais informada, saudável e unida.

Como estamos em Outubro, começamos focando nas nossas crianças, que precisam de todos os cuidados para que sejam o futuro da Maré.

Vacinação em dia sempre

Logo com 1 mês de idade, já tem vacina para tomar, a da hepatite B, seguida da tetravalente (2 meses), a da gotinha contra a pólio (4 meses) e da febre amarela (6 meses), entre outras.

“A vacinação é a maneira mais eficaz de se prevenir para várias doenças, que podem ser graves, tanto nas crianças quanto nos adultos”, alerta o infectologista Alfredo Elias Gilio, coordenador da Clínica de Imunizações do Hospital Israelita Albert Einstein.

Estas e outras vacinas são direito da população no SUS (Sistema Único de Saúde). “Isso é garantido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, que se utilizem todas as vacinas recomendadas no Calendário do Programa Nacional de Imunizações”, garante o médico.

Do que é feita a vacina?

Diante das várias fakes news divulgadas na internet – que criam medo na população em relação a imunização – o infectologista do Einstein explica que as vacinas “geralmente utiliza pequenas partes dos vírus ou bactérias que causam as doenças. Quando uma criança ou um adulto toma uma vacina, o seu organismo vai produzir defesas que vão protegê-la daquela doença. As vacinas atuais são bastante seguras e, geralmente, os efeitos colaterais são leves.”

O médico alerta que há desafios para o futuro da vacinação. “Existe atualmente um fenômeno chamado hesitação vacinal, que é o atraso ou não-aplicação de uma vacina recomendada e que está disponível. Este fenômeno é observado no mundo todo, mas se acentuou nos últimos anos, principalmente com as discussões e a politização que houve em relação às vacinas para Covid-19”, analisa Alfredo.

Não é incomum que pais e familiares acabem perdendo o prazo oficial de vacinação das crianças. Mas se isso acontecer, não se preocupe: sempre há tempo. Vá hoje mesmo à Unidade Básica de Saúde para atualizar a carteirinha. E isso vale para pais e filhos: as vacinas são para todos e mesmo os adultos podem e devem ir aos postos de saúde checar se estão com a carteirinha em dia e tomar as doses faltantes, se precisar. “Vacina não é somente assunto de criança. Hoje, existem várias vacinas para adultos, para idosos e para gestantes”, conclui o infectologista.

Este conteúdo é elaborado mensalmente pela Comunicação Institucional do Hospital Israleita Albert Einstein com o objetivo de levar boa informação de saúde para a população da Maré

Fiocruz prorroga prazo de edital para mareenses: saiba como se inscrever

Inscrições para bolsa de iniciação científica na Fiocruz foram prorrogadas para próxima sexta (11)

A Fiocruz está com o inédito Edital de Programa de Iniciação Científica – Favelas e Periferias aberto com bolsas exclusivas para estudantes universitários que residem no Conjunto de Favelas da Maré, Manguinhos e Mata Atlântica até a próxima sexta-feira (11).

Em entrevista para a Agência Fiocruz, o presidente da instituição, Mario Moreira, revelou que o novo programa é um passo importante para a equidade social: “A Fiocruz busca ampliar o acesso ao conhecimento científico e também fortalecer a participação ativa desses territórios na formulação de políticas públicas mais justas, eficazes e inclusivas”, conta.

Serão ofertadas 30 vagas e o objetivo do edital é envolver os moradores e estudantes de graduação da Maré em atividades de pesquisas científicas desenvolvidas na instituição para democratizar o acesso à ciência, produzir resultados mais inclusivos e equitativos e, indiretamente e a longo prazo, aumentar o acesso à pós-graduação dos moradores de favela. 

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Fiocruz mais perto da Maré
Fiocruz apresenta resultados de enfrentamento à Covid-19 em favelas do Rio de Janeiro

Quem pode se inscrever?

  • Ser estudante de graduação
  • Morador das favelas da Maré, Manguinhos ou Mata Atlântica

Como se Inscrever?

Consulte o Manual de Inscrição, clicando aqui. Em seguida, clique em Candidato – Bolsa Nova/Download para baixar.

Após acessar o manual, inscreva-se no site da pesquisa ( https://fomentoapesquisa.fiocruz.br ) e clique em “Primeiro Acesso” e realize o cadastro com o SOUGOV.BR

Acesse a área de login, preencha os campos solicitados e clique em enviar. 

Diagnóstico precoce aumenta chances de cura do câncer de mama

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Durante o Outubro Rosa, o município intensifica os cuidados e orientações já realizadas durante todo o ano

Edição #165 – Jornal Impresso do Maré de Notícias

O décimo mês do ano é marcado pela campanha de conscientização para prevenção do câncer de mama. No Brasil, este é o câncer que mais leva mulheres a óbito. Em 2022 foram registradas mais de 19 mil mortes, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca). 

A faixa etária considerada de risco para a doença está entre os 50 e 69 anos, mas especialistas têm apontado o “rejuvenescimento” deste tipo de câncer. Mulheres entre 30 a 49 anos já somam 30,5% das pacientes. Por isso, a prevenção continua sendo fundamental.

Primeiros sintomas

Os primeiros sintomas podem ser percebidos ainda na fase inicial e normalmente são notados pela própria pessoa. Portanto, o diagnóstico precoce favorece os resultados no tratamento e reduz consideravelmente o risco de mortalidade.

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMC) do Rio, durante o Outubro Rosa, o município intensifica os cuidados e orientações já realizadas durante todo o ano. Ao todo, são 239 unidades de Atenção Primária à Saúde (APS) preparadas para receber mulheres cis, homens trans e pessoas não binarias designadas mulher ao nascer, na faixa etária indicada para cada exame investigativo: entre 25 e 64 anos, para o exame preventivo do colo uterino e, entre 50 e 69 anos, para a mamografia. 

A SMC alerta ainda que, somente durante o primeiro semestre de 2024, quase 89 mil pessoas foram atendidas para rastreio de rotina do câncer de mama. É importante lembrar que, apesar de raro, o câncer de mama também pode ocorrer em homens, representando cerca de 1% dos casos.

Prevenção é atenção

“Toda mulher precisa estar atenta”. É  o que alerta Fabiana Cutrim, enfermeira da Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva, na Nova Holanda, sobre a importância da prevenção ao câncer de mama. A profissional ressalta que, não há uma única causa que gere o desenvolvimento da doença, mas que o histórico familiar é um forte influenciador na hora de avaliar os pacientes. 

Além do fator genético, outros hábitos podem favorecer a multiplicação das células cancerígenas, como o envelhecimento natural, a vida reprodutiva da mulher, o consumo de bebidas alcoólicas e cigarros, o sedentarismo e o sobrepeso.

Fabiana trabalha na unidade de saúde há quatro anos e acompanhou diversos pacientes. Ela acredita que a informação é a chave para um prognóstico favorável. “Fazemos palestras para orientar essas mulheres a se auto examinarem. Pra ver se tem presença de caroços nas mamas ou axilas, ou alguma outra anomalia na região. Se houver alterações, começamos os exames e em caso de confirmação da doença encaminhamos para um mastologista e oncologista”.

Acolhimento que cura

Diagnosticada com o câncer de mama em 2019, Luciana da Conceição, de 50 anos, chegou ao estágio mais avançado da doença e precisou fazer a cirurgia de remoção da mama. Há dois anos ela está curada, mas continua fazendo exames e uso de medicações prescritas pelo médico. Ela conta que desde muito nova percebeu a presença de nódulos nos seios e periodicamente ia ao médico para fazer a mamografia. Apesar dos cuidados, o tumor evoluiu silenciosamente.

Luciana, que também é agente comunitária de saúde da Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva, revela que grande parte da sua cura está atrelada ao acolhimento recebido dos trabalhadores da saúde, da família e amigos. “Fui muito bem acompanhada pela doutora Rosana, toda a ‘equipe Jeremias’ me apoiou. Alguns chegaram a me acompanhar no processo de quimioterapia e o que eu precisasse, eles estavam lá comigo”, relembra. 

Luciana foi recebida com festa na clínica, quando recebeu a notícia de que o tratamento havia chegado ao fim. Agora, a agente comunitária se tornou um símbolo de superação para outras pacientes que passam pela unidade, e faz questão de oferecer o mesmo acolhimento que recebeu. Ela ressalta que muita força veio da espiritualidade e da fé e que, estar bem psicologicamente, contribuiu para um bom processo de melhora.

A Maré é rosa

A Coordenadoria Geral de Atenção Primária da Área de Planejamento 3.1 (CAP 3.1), responsável pelas unidades de saúde da Maré, afirmou em nota que todas as mulheres, independentemente da idade, devem conhecer o próprio corpo e identificar o que é normal ou não, visto que a maior parte das descobertas dos cânceres de mama são feitas pelas próprias pacientes. 

E conclui: “em 2023, unimos esforços para melhorar o rastreamento destes cânceres. Como parâmetro de análise da evolução positiva do rastreio, verificamos a ampliação em 17% do número de mamografias realizadas. Caso perceba alguma alteração na mama, procure sua unidade de saúde para ser avaliada”.

O Conjunto de Favelas da Maré conta com seis clínicas da família que acolhem pacientes durante todo o horário de funcionamento: de segunda-feira a sexta-feira, das 8h às 17h, nas necessidades de saúde, com consultas disponibilizadas o ano todo, reforçadas durante o mês da campanha Outubro Rosa.

A coletividade da cultura

Como a memória e a pluralidade cultural fortalece as comunidades e cria resistência contra a marginalização das favelas

Henrique Silveira

O conjunto de favelas da Maré é conhecido pela diversidade cultural, desde os espaços de produção musical como a praça do forró no Parque União, os bailes funk, o samba, o rock, as rodas de rap, grupos de teatro, até a criação de polos gastronômicos em várias partes do território, que se tornaram referência até para quem não é morador.

Os cerca de 140 mil mareenses são parte fundamental da construção do bairro Maré e a principal fonte da pluralidade e efervescência cultural que existe no território.

Cultura e favela

A cultura, como um direito humano inalienável, é o tecido que une as diferentes facetas da humanidade, abrangendo não apenas as artes e tradições, mas também práticas cotidianas, rituais e narrativas que dão significados à vida das pessoas. 

Nas comunidades periféricas a cultura é uma força vital que sustenta a identidade coletiva e fortalece laços comunitários. Reconhecer a cultura como um direito humano é afirmar a importância da diversidade e da inclusão, garantindo que todas as pessoas tenham a liberdade de expressar suas identidades culturais sem medo de discriminação ou repressão. 

No entanto, moradores de favelas historicamente enfrentam a marginalização que, ao longo dos anos, atualiza um status de desumanização herdado do colonialismo com ramificações até os dias de hoje. Manifestações culturais oriundas de espaços favelados são frequentemente categorizadas como ingênuas, exóticas ou a-culturadas  sendo, inclusive,  criminalizadas e historicamente proibidas. 

Este ciclo de marginalização e desvalorização impede a plena apreciação de seu impacto e, até mesmo, do seu reconhecimento como cultura brasileira, e se naturaliza no senso comum. O cenário de marginalização contrasta fortemente com a rica contribuição cultural de muitos dos moradores da Maré.

Um legado maranhense

O Censo Maré (2019) aponta que 25,8% dos moradores são pessoas nascidas no Nordeste do Brasil. Os nordestinos que migraram para o Sudeste trouxeram uma vasta experiência sensorial, cultural e ancestral fundamentada nas vivências e corporalidades da região, chegando aqui com variados estilos de danças, música, gastronomia e costumes. 

Um exemplo disso, está na história do Mestre Teodoro Freire, do Bumba Meu Boi do Maranhão, que na década de 1950 migrou para o Rio de Janeiro, fixando-se na favela da Baixa do Sapateiro. Na Maré, Mestre Teodoro fundou a Sociedade Carioca do Folclore Maranhense, que realizava festas na Rua Nova Jerusalém. Em uma entrevista para o jornal Tribuna de Imprensa, ele falou sobre sua trajetória e sobre a festa do Bumba Meu Boi.

“Instalei-me cá na Baixa do Sapateiro e comecei a promover encontros com meus conterrâneos. Falava-lhes sempre da necessidade de fundarmos um grupo de folclore maranhense autêntico. Mas faltava tudo. Mas, pouco a pouco fomos aumentando em número. Eram maranhenses já com nosso endereço que aqui vinham chegando de navio ou pau-de-arara se instalando na favela”.

Os espetáculos do grupo do Mestre Teodoro, Brasil Independente e Brilho da Sociedade, ficaram conhecidos no Rio de Janeiro, e chamaram a atenção do escritor e também maranhense Ferreira Gullar, que o entrevistou e convidou para apresentar o Boi na recém criada Brasília, em 1961. Logo depois, mestre Teodoro se mudou para a capital,  acomodando-se em Sobradinho, em 1962.

Até hoje, cerca de 24,3% das pessoas nascidas no Maranhão que vivem no território da Maré, são moradores da favela Baixa do Sapateiro, sendo essa a maior comunidade maranhense do conjunto.

‘No Carnaval eu vou voltar’

Outro ponto crucial para a pluralidade e força cultural do território, aconteceu a partir das remoções nas décadas de 1960 e 1970, como a favela do Esqueleto, Morro do Querosene, Praia do Pinto e Macedo Sobrinho. Grande parte desses  moradores foram trazidos de forma compulsória para a Maré. 

Essas pessoas removidas acabaram por perder, não apenas vínculos afetivos entre suas famílias e amigos, mas também fazeres culturais de características comunitárias, como o samba, o jongo, o Bumba meu boi e a Folia de Reis.

A folia de reis Estrela do Oriente da Baixada acolheu alguns dos moradores que participavam da folia de reis na Nova Holanda. Durante muitos anos, este grupo se esmerou em se apresentar na Maré, juntando-se aos poucos moradores que ainda faziam questão de participar ativamente do cortejo para manter a tradição viva, conforme mostra a matéria do jornal O Globo, de dezembro de 1977: Na favela, a Folia de Reis alegra o Natal.

“O palhaço Bonitinho, a maior atração da Folia de Reis Estrela do Oriente substituiu ontem para milhares de crianças da favela Nova Holanda,em Bonsucesso, a figura do Papai Noel.”

As remoções das favelas eram uma preocupação também para as agremiações de samba da época, que tinham como componentes os moradores dessas favelas, assim, ao serem removidas, punham  em risco os blocos e escolas.

Moradores como a porta-bandeira Nilceia, da Independentes do Leblon. Em entrevista para o Jornal do Brasil, em maio de 1969, após perder a casa no incêndio criminoso que destruiu a favela Praia do Pinto, ela declara:

”Nasci na favela e me criei na escola, agora, a favela acabou, e eu vim morar na escola com minha geladeira e minha televisão, que foram as únicas coisas que me sobraram. Mas, mesmo que eu vá para Cidade Alta, Cidade de Deus ou qualquer outro lugar, no carnaval eu vou voltar.”

Comunidade produz cultura

As práticas culturais tiveram um papel fundamental na reconstrução das vidas que foram desestruturadas pelas remoções. A favela Nova Holanda, por exemplo, com apenas dois anos de fundação, já integrava os circuitos de samba do Rio de Janeiro e participava dos desfiles dos blocos carnavalescos pela cidade. Essa participação possibilitou a construção de novos laços de pertencimento e senso comunitário entre os moradores oriundos de diferentes favelas, conforme ilustrado no trecho da matéria do jornal A Luta Democrática, em 1964:

“O bloco Unidos de Nova Holanda, simpática agremiação de Bonsucesso, terá dia quinze, um domingo festivo, com a programação que foi organizada pela sua Ala da Bateria. Pela manhã, com início marcado para às 3 horas, haverá um torneio relâmpago de futebol. Às 14.30 horas, será servida uma peixada ao som do partido alto, e à noite será realizado mais um ensaio de bloco”.

Falar da cultura de um povo significa falar de memória(s), por isso, compreender que as favelas são parte integrante das dinâmicas da cidade, e que seus habitantes desempenham um papel vital na construção do espaço urbano e na vida social cotidiana, é fundamental para a formação de uma cidade mais inclusiva e justa. 

Falar do bairro Maré significa recorrer a essa memória cultural, que construiu esse espaço e fez dele um território, uma comunidade.

Dia do Nordestino e de onde vem a terra que trazes nos pés?

No dia do nordestino conheça a paraibana Aline Alcântara

O dia do Nordestino é comemorado anualmente no dia 8 de outubro. A Maré é um território de forte presença nordestina e pode ser considerada o nordeste na Avenida Brasil, como mostra o Censo Demográfico da Maré de 2013. Depois dos nascidos no Rio de Janeiro a presença de paraibanos no território é a segunda maior registrada pela pesquisa. Uma das paraibanas que mora na Maré é a professora Aline Alcântara, de 39 anos.

A professora é natural de Cajá, distrito de Caldas Brandão, localizado as margens da BR-230, na Paraíba, local reconhecido como a terra das tapiocas e caminho de acesso a João Pessoa, capital do Estado. Aline conta que veio para o Rio de Janeiro seguindo seu marido e o seu filho que tem síndrome do pânico e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). “Eu vim por amor ao meu filho, se não fosse por ele eu já teria ido embora” desabafa.

Formada em Geografia pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), além da experiência como professora Aline também é comerciante e dona de uma tapiocaria: A Bonitona das Tapiocas, existente há mais de 25 anos em sua cidade. Porém aqui ela não encontrou oportunidade de exercer sua profissão. Hoje Aline tenta vender seus produtos na porta da sua casa na Nova Maré com o apoio da mãe Dona Maria do Amparo Almeida, de 73 anos.

Aline se diz apaixonada por cuscuz de milho típico da culinária nordestina. (Foto: Gabi Lino/ Maré de Notícias)
Aline se diz apaixonada por cuscuz de milho típico da culinária nordestina. (Foto: Gabi Lino/ Maré de Notícias)

Mesmo com dificuldades ela ainda tenta se manter esperançosa, e diz que gostaria que as pessoas conhecessem melhor o Nordeste. Aline acrescenta que no imaginário popular, a Paraíba ainda é considerada uma terra “pobre e de pessoas sem educação”. Mas ressalta orgulhosa que “quem tem o privilégio de conhecer, sabe que a realidade é diferente”.

Aline diz que identifica aqui muitas semelhanças com o interior. Desde as tradicionais feiras, as lojas de culinária nordestina, forrós nos finais de semana e até mesmo na tradição de se sentar à porta e observar a rua é possível ver um pouco do nordeste. Ela se emociona principalmente com as músicas, por lembrar da terra natal e diz “eu amo a minha cidade”.

Aline é mais uma acolhida pela Maré. Ela ressalta que apesar de ainda não se sentir pertencente ao território, acredita que vai contribuir pois “eu sou uma nordestina arretada!” diz.

Nordeste carioca

O Censo Maré, de 2013, detalha que o conjunto de favelas tem uma concentração de 35.884 nordestinos, 25,8% dos 139.073 moradores. 10,5% (14.597 pessoas) desses moradores, assim como a professora Aline, são natais do estado da Paraíba; 6,4% (8.849 pessoas) do estado do Ceará; 2,2% do estado do Maranhão (3.053 pessoas), além dos demais estados.

Podemos dizer que simbolicamente o Nordeste é de onde vem a terra que os mareenses trazem em seus pés. Essa terra feita por muita riqueza. A Maré é um pedacinho do Nordeste, como o Maré de Notícias vem dizendo e demonstrando.

O Dia do Nordestino foi instituído nesta data em homenagem ao aniversário do compositor brasileiro Catulo da Paixão Cearense, maranhense nascido no dia 8 de outubro de 1863 que morreu em 10 de maio de 1946 conhecido como Poeta do Sertão. É de Catulo a música ‘Asa Branca‘ eternizada na voz do Rei do Baião, o cantor Luiz Gonzaga.