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Mulheres reivindicam atendimento ginecológico na Maré

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Organizações não Governamentais (ONGs) tentam suprir carência por meio de projetos alternativos

Maré de Notícias #129 – outubro de 2021

Por Gracilene Firmino

Devido à pandemia de covid-19, consultas e tratamentos para outras doenças foram suspensos ou remarcados para um futuro distante – e isso vale tanto para exames de rotina e consultas preventivas ao acompanhamento de enfermidades graves, como câncer. Isso é o que tem acontecido com o atendimento ginecológico na Maré. Mulheres relatam que o que já era complicado, piorou na pandemia. Elas são maioria no conjunto de favelas da Zona Norte do Rio. Segundo o Censo Maré de 2019, as mulheres são quase 71 mil, enquanto os homens somam 68 mil. Por isso, coletivos e organizações civis tentam preencher essa lacuna na atenção à saúde feminina oferecendo alternativas para as mareenses. 

Ter acesso a um especialista, como obstetra ou ginecologista, é um direito garantido por lei no Brasil, mas nem todas têm acesso a ele. Marcela Gomes, de 20 anos, fotógrafa e distribuidora do jornal Maré de Notícias, conta que jamais conseguiu atendimento ginecológico nas clínicas da família da região. “Todas as vezes em que tentei marcar uma consulta a resposta era a mesma: ‘Seu nome está na lista.’ Muitas mulheres contam o mesmo, que não conseguem ser atendidas por um ginecologista”, diz. 

Sem atendimento, nem informação

Segundo Marcela, ver um clínico geral nas unidades de saúde da Maré já é difícil, e a situação piora quando se fala de especialidades como saúde da mulher. “O atendimento público especializado não existe aqui. Tive um problema ginecológico há alguns anos e precisei buscar ajuda na rede particular e gastar um dinheiro que minha mãe se desdobrou para arranjar. Fiquei seis meses sem menstruar, era um problema que poderia ser algo sério e não consegui o atendimento via Sistema Único de Saúde. Hoje em dia, se tivesse algum outro problema parecido, não poderia arcar com isso. E como ficaria?”, cobra. 

Sobre o acesso a métodos contraceptivos, Marcela diz ter conhecimento de que eles existem e estão disponíveis nas clínicas, mas não todos e nem sempre. “Não conheço ninguém que já tenha realizado exames clínicos ou laboratoriais nas clínicas da família daqui. Também nunca tive essa oportunidade. Acesso a métodos contraceptivos, como preservativo, pílulas anticoncepcionais e injeções são mais fáceis de conseguir. Mas também nem sempre tem e como não existe um acompanhamento, muitas pessoas que conheço acabam se medicando por conta própria. Não tem assistência para as mulheres que estão iniciando seu período reprodutivo. O sistema de saúde para a mulher aqui é sucateado”, critica. 

Marcela Gomes, de 20 anos, em frente à clínica onde não conseguiu atendimento ginecológico

Organizações civis colaboram 

Andreza Dionísio, assistente social e articuladora da Casa das Mulheres da Maré, conta que já esteve nos dois lados do atendimento e tenta entender a estrutura da saúde pública primária. “Enquanto usuária, tinha raiva quando não conseguia o atendimento. De fato, a consulta de rotina praticamente não existe nas unidades básicas de saúde. Mas, agora, trabalhando nesse meio, tento ressignificar essa assistência. O problema é estrutural e é mais complexo do que pensamos.” Andreza está à frente das ações relacionadas aos direitos sexuais e reprodutivos na Casa da Mulher e acompanha de perto essas demandas.

Júlia Leal, também assistente social e coordenadora da Casa das Mulheres, fala sobre a possibilidade de maior capacitação para que os médicos da família sejam capazes de acompanhar a saúde da mulher de forma mais aprofundada. “As mulheres não têm acesso a todos os métodos contraceptivos. Até porque nem todos os médicos são capacitados ?ar? colocar um dispositivo intrauterino (DIU), por exemplo.”

A Casa das Mulheres completa cinco anos de existência em outubro, mantendo-se fiel à sua gênese, com mulheres protagonistas em diversas lutas por direitos e melhorias. A entidade implementa um conjunto de projetos e ações, com metodologias inovadoras, para o enfrentamento da violência, inclusive obstétrica e ginecológica. A Casa promove duas ações principais com o intuito de fortalecer o acesso à saúde. “Não há médicos o suficiente nas clínicas da família. O acesso à saúde na Maré não está fácil. Além disso, a gestão municipal anterior sucateou as unidades básicas de saúde, promovendo um verdadeiro desmonte. Hoje, até onde temos conhecimento, todas as clínicas da família têm médico. Mesmo assim, ainda está ruim; existem muitos pontos a serem melhorados”, relata.

Outra questão abordada por Andreza e Júlia, que influenciou na piora do atendimento na saúde, foi a pandemia de covid-19. “As consultas ginecológicas não foram consideradas essenciais na pandemia, isso vem prejudicando a saúde como um todo e no longo prazo”, diz Júlia. Mas a Casa das Mulheres vem atuando para minimizar esses impactos. “Nosso instituto oferece uma palestra sobre saúde da mulher e quem assiste pode marcar uma consulta ginecológica com inserção de DIU. Também realizamos a capacitação de médicos das clínicas para realizarem esse procedimento. Além disso, contamos com uma parceria com a Coordenadoria Geral de Atenção Primária (CAP) 3.1, o que facilita essa interação”, conta a coordenadora da Casa das Mulheres. 

Segundo Andreza, o problema central da saúde na Maré é a falta de profissionais. “Na primeira vez que oferecemos a palestra recebemos apenas 20 inscrições. Agora, o número de pessoas interessadas subiu para 600. O atendimento à mulher, que deveria ser básico, não existe”, resume.

Além da Casa das Mulheres, outros locais buscam melhores condições de saúde para a mulher mareense. Um deles é o Espaço Casulo, que promove acolhimento, fortalecimento e incentivo às práticas de autonomia, saúde, autogestão e coletividade com e para mulheres prioritariamente pretas e faveladas. Como prioridades, o projeto apoia a autoestima, o fortalecimento, a independência e a coletivização de saberes, com uma abordagem reflexiva sobre práticas cotidianas junto à comunidade. Suas atividades incluem: atendimento psicológico, roda de gestantes e de Ervaria e Fitoterapia.

Outro espaço no qual as mulheres podem buscar apoio é o Centro de Referência de Mulheres da Maré Carminha Rosa (CRMM-CR). O projeto integra o Núcleo de Estudos em Políticas Públicas em Direitos Humanos (NEPP-DH), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Localizado na Vila do João, o CRMMCR tem como objetivos atender e oferecer acompanhamento psicossocial e jurídico, orientar nas desigualdades de gênero e fortalecer a cidadania das mulheres em situação de violência doméstica.

Prefeitura garante que há atendimento

Atualmente, sete clínicas da família atendem os territórios que compõem a Maré. A área de atuação de cada uma é determinada pela disposição das ruas. Levando em consideração uma divisão igualitária entre as clínicas e a quantidade de habitantes da Maré (cerca de 140 mil), teríamos 20 mil pessoas atendidas por unidade. Mas, em nota, a Secretaria Municipal de Saúde garante que as mulheres têm acesso ao atendimento especializado: “Elas podem acessar por dois caminhos: espontaneamente, quando for um caso mais urgente, e por meio do agendamento, após ser avaliada por um enfermeiro na própria clínica. Todas as unidades possuem médicos. São ao todo 22 profissionais de saúde atuando na Maré, entre 20 e 40 horas semanais, para atender a população”.

Segundo a Prefeitura, mesmo com a estrutura incompleta, a moradora da Maré conseguirá ser atendida e ter as informações e o acompanhamento de que precisa. “Apesar de haver vagas ainda em aberto para médicos na região, a equipe multiprofissional tem se esforçado muito para dar todo o suporte necessário aos usuários, com foco pautado na Estratégia de Saúde da Família.” Perguntada sobre o acesso a métodos contraceptivos, a secretaria disse que eles estão disponíveis “por meio das consultas e do planejamento familiar, que também pode ser feito individualmente em consultório. Nos últimos meses de julho, agosto e setembro, houve 28.947 atendimentos a mulheres em idade fértil nas unidades da Maré.”

#VacinaMaré: mobilização continua para imunização em massa

Por Edu Carvalho, em 13/10/2021 às 17h05

O território mareense teve mais um dia agitado nesta quarta-feira (13) com a mobilização para a segunda fase do #VacinaMaré, ação que pretende imunizar em massa a população nas 16 favelas da Maré. Articuladores da ONG Redes da Maré percorreram na tarde de hoje as favelas Vila do Pinheiro, Salsa e Merengue, Morro do Timbau, Baixa do Sapateiro e Nova Maré, enfatizando os informes da campanha.

A moradora da Vila do João Maria Elisa tomou a primeira dose na campanha em julho e vai tomar a segunda amanhã. “Tem tomar para acabar logo com isso, eu tomei, vou tomar a segunda dose e estou chamando tomo mundo, as amigas da minha filha, meus parentes e amigos.”

A vacinação acontece a partir de amanhã, quinta-feira (14) e vai até o próximo sábado (16), nas unidades de saúde da Maré e associações de moradores. Amanhã, além desses espaços, duas escolas também serão pontos de vacinação: Escola Municipal Osmar Paiva Camelo e a Escola Municipal IV Centenário.

A iniciativa faz parte de um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com Ministério da Saúde, Secretaria Municipal de Saúde, SAS Brasil, Redes da Maré, Conexão Saúde e PUC-Rio.

A análise da (Fiocruz) avaliará a efetividade da vacina AstraZeneca, além de monitorar possíveis variantes e a contaminação de vacinados até janeiro de 2022, acompanhando os efeitos da vacina em duas mil famílias, com cerca de oito mil pessoas. A ação antecipará o retorno dos moradores vacinados com a primeira dose às unidades de saúde para que completem o ciclo de imunização, recebendo a segunda dose. Por isso, embora na carteira de vacinação possa constar outra data, moradores que já tenham sido vacinados com a primeira dose há pelo menos dez semanas estão liberados a tomar a segunda dose.

Todos os moradores a partir de 18 anos, que receberam a primeira dose no #VacinaMaré, em julho, ou depois, até 4 de agosto, poderão receber a segunda dose da vacina.

Adolescentes acima de 12 anos também poderão ser imunizados com a 1ª dose (apenas nas unidades de saúde). Para a dose de reforço, o calendário segue a determinação da Secretaria Municipal de Saúde.

Confira os locais de vacinação:

Clínica da Família Adib Jatene • Via B Um, 589-501 – Maré
Clínica da Família Augusto Boal • Av. Guilherme Maxwell, 901 – Baixa do Sapateiro
Clínica da Família Américo Veloso • Rua Gerson Ferreira, 100 – Praia de Ramos
Clínica da Família Diniz Batista dos Santos • Av. Brg. Trompowski, SN – Maré
Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva • R. Teixeira Ribeiro – Maré
Centro Municipal de Saúde Vila do João • R. Dezessete, s/n – Maré
Centro Municipal de Saúde João Cândido • Av. Lobo Junior, 83 – Penha Circular
Associação de Moradores Morro do Timbau
Associação de Moradores da Vila do João
Associação de Moradores Marcílio Dias
Associação de Moradores Rubens Vaz
Associação de Moradores Parque União
Associação de Moradores da Vila dos Pinheiros
Associação de Moradores Roquette

É preciso ter cadastro em uma unidade de saúde da Maré para se vacinar. É necessário fazer o pré cadastro! Veja aqui se você está cadastrado na unidade de saúde.

Cada unidade de saúde atende uma região específica, procure ir na mais próxima de você. Caso tenha dúvidas procure um agente de saúde comunitário. Seus vizinhos ou familiares podem ter o contato de whatsapp do agente que atende sua rua ou região.

Para mais informações, acesse: https://www.vacinamare.org.br/

Durante os dias da campanha acontecerão atividades culturais. Confira a agenda de amanhã:

A luta urgente contra a desigualdade escolar na pandemia

Número de explicadores aumenta na Maré como alternativa para diminuir possível déficit no aprendizado por conta do distanciamento social

Maré de Notícias #129 – outubro de 2021

Por Adriana Pavlova 

Você já deve ter esbarrado com placas na frente de casas oferecendo “Explicadora” ou “Reforço Escolar”, ou mesmo recebido propaganda de professores particulares no seu celular. Uma tradição local, os explicadores escolares nunca foram tantos e tão procurados nas 16 favelas da Maré – e não é para menos. Depois de um ano e meio de pandemia de covid-19, a situação dos alunos continua incerta, deixando seus responsáveis (além dos próprios alunos), muito angustiados. 

Para quem pode apertar o orçamento, a solução tem sido recorrer ao reforço escolar pago, uma vez que as escolas públicas ainda não têm uma política efetiva para diminuir os flagrantes prejuízos na aprendizagem dos estudantes. Pesquisas como Perda de Aprendizagem na Pandemia, uma parceria entre o Insper e o Instituto Unibanco, mostraram que, de novo, os grandes prejudicados são os mais pobres e vulneráveis, contribuindo para aumentar ainda mais a histórica desigualdade na educação dos brasileiros.  

“Ter uma explicadora num momento de pandemia fez toda a diferença, salvou o meu filho porque nem tudo eu sei ensinar”, diz a fornecedora de quentinhas Martineli Santana, moradora da Nova Holanda, cujo filho, Leonardo, é aluno da pedagoga Mayara Selebri, que dá aulas numa sala também na Nova Holanda. 

Pedagoga Mayara Selebri – Foto: Matheus Affonso

Aluno do 5º ano na Escola Municipal Nova Holanda, Leonardo havia recomeçado o reforço com Mayara no ano passado, pouco antes da explosão da crise sanitária: “A comunicação com as professoras teve que ser feita por WhatsApp e meu celular não tinha espaço para baixar o aplicativo da Prefeitura para atividades. Este ano, as aulas voltaram em ritmo lento: há revezamento para que as salas não fiquem cheias e o horário agora é menor. Já aconteceu das aulas serem suspensas por causa de contaminação de covid. Se não fosse a Mayara, eu estaria frita. Leonardo continuou evoluindo muito bem na aprendizagem”, afirma Martineli.

Um estudo realizado pelo Laboratório de Pesquisa em Oportunidades Educacionais (Lapope) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) sobre o impacto da pandemia de covid-19 no bem-estar e aprendizado na pré-escola dá a dimensão dos prejuízos imensos no cotidiano dos estudantes brasileiros. A pesquisa mostrou que, para mais de 60% das famílias de alunos de escola pública, a falta de acesso ou a baixa qualidade de acesso à internet dificultou a realização de atividades remotas, enquanto o número é bem menor (17%) quando se trata de famílias com filhos na escola privada. Da mesma forma, cerca de 30% dos alunos de escolas públicas não tiveram nenhum tipo de contato com os professores durante os momentos mais críticos da pandemia; o número cai para 10% entre as crianças do ensino privado. 

Os dados recolhidos pelos pesquisadores da UFRJ se assemelham ao resultado do estudo Educação de meninas e covid-19 no conjunto de favelas da Maré, realizado pela Redes da Maré em parceria com o Fundo Malala, que mostrou que 34,7% das mais de mil entrevistadas não tinham acesso à internet em casa, e 66,5% não conseguiram manter a rotina de estudos.

O distanciamento tão longo entre professores e alunos muito provavelmente é uma das causas do sumiço de estudantes nas salas das 47 escolas públicas da Maré, mesmo depois do retorno das aulas presenciais. Uma professora de uma das escolas municipais de ensino integral conta que, dos 31 matriculados em sua turma, o número de alunos em sala varia de 10 a 18 por dia desde que o ensino presencial voltou. Os outros 13 estão oficialmente no sistema remoto, só que jamais fizeram contato. Durante a temporada de isolamento, sem aulas presenciais, ela não conseguiu interagir com a maioria das famílias, nem por WhatsApp. A boa notícia é que quem voltou às salas está feliz. 

Não por um acaso, para 70% dos professores ouvidos pelos pesquisadores da UFRJ, houve impacto negativo no desenvolvimento da expressão oral, corporal, no relacionamento interpessoal e até mesmo na nutrição das crianças durante o isolamento.

“Sabemos que, sobretudo na primeira infância, a escola tem um efeito protetor, principalmente para as crianças em situação de vulnerabilidade. Para quem não tem redes de suporte, a escola diminui a desigualdade porque os professores estimulam o aluno, há benefícios de alimentação e de interação social”, avalia Tiago Bartholo, que conduziu o estudo da UFRJ junto com a professora Mariane Koslinski, com o apoio da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal. 

Dados da 4ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), da Secretaria Municipal de Educação, confirmam a evasão dos alunos nas escolas da Maré. Dos 17.099 cartões de alimentação escolar disponibilizados pela Prefeitura para os alunos na pandemia, por conta da suspensão das aulas presenciais, 16.336 foram efetivamente retirados. Em setembro de 2021, dos 17.297 alunos matriculados, cerca de 1.600 não estavam frequentando as aulas e nem tinham qualquer contato com a escola. 

Apesar desse quadro, ainda segundo Tiago, os prejuízos na educação de crianças e jovens brasileiros não são irreversíveis. “Se forem feitos programas públicos bem desenhados, as perdas podem ser revertidas. Programas que segreguem alunos devem ser evitados, porque grupos heterogêneos geram mais ganhos para todos. Outra sugestão são aulas de reforço para grupos pequenos. E o maior impacto para reverter esse quadro é investir no professor, peça-chave de todo o processo de aprendizagem”, sugere.

Segundo Fátima Lima Barros, coordenadora da 4ª CRE, há escolas municipais na Maré já oferecendo aulas presenciais e remotas de reforço, mas cada unidade tem liberdade de encontrar o melhor formato. Ela cita ainda o Plano Rio Futuro, que prevê um programa de reforço mais estruturado e aulas nas férias escolares, sem, contudo, dar datas precisas. Outra iniciativa, de acordo com Fátima, é a busca dos alunos que estão fora da escola: “Como em muitos casos perdemos o contato por telefone, contamos com parcerias com as associações de moradores para descobrir o paradeiro dos alunos”, diz.

Na falta de um plano oficial mais robusto para reverter os impactos da covid-19 na desigualdade da educação na Maré, são instituições não-governamentais e as famílias que buscam diferentes formas de aliviar perdas. Por isso o trabalho dos professores particulares de reforço escolar nunca foi tão valorizado. “Houve uma explosão na procura na pandemia, por conta da precariedade do ensino remoto. Tem muito aluno que não aprendeu nada em 2020 e continua com dificuldades, principalmente quem estava na alfabetização, ainda mais porque há muita desigualdade no ensino e algumas escolas não voltaram a funcionar direito”, avalia Mayara Selebri.

Nos cursos preparatórios para o 6º ano e Ensino Médio da Redes da Maré, assim que a rotina dos estudantes foi alterada de forma drástica, os educadores exercitaram como nunca a escuta. Se houve um trabalho intenso da Redes para munir os estudantes com tablets para facilitar a conexão tecnológica, na parte pedagógica ferramentas vêm sendo criadas e ajustadas para facilitar a comunicação e consequente aprendizagem. E, claro, manter aceso o interesse dos alunos. “Foram feitas lives de aulões interdisciplinares, festas online, rodinhas de bate-papo com jogos, sarau virtual, manutenção da tradicional roda de conversa com os pais, como também criamos apostilas, material físico temático”, diz o coordenador dos cursos, Daniel Remilik, afirmando que outro foco trabalhado é a saúde mental de alunos e professores, com ferramentas e encontros virtuais que têm o objetivo de estimular a percepção de sentimentos como ansiedade, tristeza e desânimo. 

Finalmente, o projeto Busca Ativa, também da Redes da Maré, continua batendo de porta em porta nas 16 comunidades à procura de alunos fora da sala de aula. Instituída em janeiro de forma remota e em junho nas ruas, a iniciativa conseguiu cadastrar 935 crianças e adolescentes até meados de setembro, enquanto vem acompanhando de forma regular 568 deles. A grande maioria vem de listas fornecidas pelas escolas públicas da Maré, mas nas visitas diárias a equipe de campo formada por seis pessoas acaba descobrindo outros tantos estudantes distantes dos bancos escolares, muitas vezes por falta de informação. 

Município do Rio retoma calendário de vacinação contra covid-19; saiba mais

Por Edu Carvalho, em 13/10/2021 às 07h

Depois de uma breve interrupção por conta do feriado de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, o calendário de vacinação contra a covid-19 será retomado nesta quarta-feira (13/10). Para esta semana, o município concentra esforços para aplicar a dose de reforço nos idosos com 70 anos ou mais. Também podem ser imunizados profissionais e trabalhadores da saúde que tomaram a segunda dose no mês de fevereiro. Para receber a dose, os agentes precisam apresentar a carteira profissional válida ou os três últimos contracheques.

Pessoas com alto grau de imunossupressão com 12 anos ou mais também podem tomar sua dose de reforço e devem apresentar comprovante de vacinação, documento de identificação e laudo médico digital do Cremerj com data inferior aos últimos 60 dias.

O intervalo mínimo entre a aplicação da segunda dose ou dose única e a dose de reforço é de três meses para idosos e 28 dias para pessoas com alto grau de imunossupressão.

Para mais informações, acesse: coronavirus.rio/vacina

UERJ vai instalar novo campus na Zona Norte da capital fluminense

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Por Redação, em 13/10/2021 às 07h

A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) vai ganhar um novo campus na Zona Norte do Rio. A nova unidade, no bairro de Vaz Lobo, surge com a desapropriação do imóvel  localizado na Avenida Ministro Edgar Romero, que abrigou a antiga Faculdade Nuno Lisboa e também a UniverCidade, conforme decreto publicado na última sexta-feira (8), em Diário Oficial.  

Com a nova sede, a Uerj vai oferecer cursos de graduação ainda a serem definidos pelas unidades acadêmicas, bem como resolver antigos problemas de limitação do espaço físico existentes no lugar. A intenção é aprofundar a vocação extensionista com as comunidades de Vaz Lobo, Madureira, Oswaldo Cruz, Campinho e toda a região do entorno. 

”Com o projeto, a nossa Universidade renova o seu compromisso de expansão no território do Município e do Estado do Rio de Janeiro, se aproximando da população fluminense no oferecimento de serviços públicos. Afinal, a Uerj muda a vida das pessoas”, afirmou o reitor Ricardo Lodi

A Uerj é vinculada à Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação.

Na Maré, é tempo de se pensar a infância

Iniciativa da Redes da Maré quer ampliar o debate sobre os primeiros anos de vida da criança

Maré de Notícias #129 – outubro de 2021

Por Edu Carvalho

Para o seu pleno desenvolvimento, uma criança deve experimentar, nos primeiros seis anos de vida, amor e muito estímulo. Com o objetivo de atender a estes pequenos que nasceu o projeto Primeira Infância Na Maré, desenvolvido pela Associação Redes de Desenvolvimento da Maré. A iniciativa busca o atendimento e acompanhamento de famílias que sofram violações de direitos, sempre buscando, a partir da produção de conhecimento sobre a realidade e a articulação territorial, gerar dados que serão usados para melhorar políticas públicas, como as que contemplam saúde e educação. 

 “Nós, enquanto projeto e instituição, temos pensado que o cuidado com a primeira infância é um tema que diz respeito ao acesso a direitos que atravessa o território. Isso porque pensar o cuidado com a primeira infância é uma experiência muito mais ampla do que considerar o que deve ser feito com a criança’’, aponta Ilana Katz, uma das coordenadoras do projeto. 

Quando se trata destes primeiros anos de vida, tão importante quanto o desenvolvimento da criança é pensar também como vive o núcleo familiar onde ela está inserida. “Se a rede de proteção social cumprir a prerrogativa constitucional de ter a criança como prioridade absoluta, isso faz que ela possa exercer o direito de ir e vir no espaço público – mas, para que isso aconteça, é preciso segurança pública. É necessário que o Estado, para proteger as crianças, seja capaz de oferecer condições estruturais para que suas famílias acessem seus direitos”, aponta Ilana.

Ao todo, 50 famílias são acompanhadas pelo projeto “Primeira Infância Na Maré” – Foto: Douglas Lopes

O ciclo de encontros abertos do projeto foi iniciado em junho e tem programação especial até dezembro. Ilana enfatiza que todos os assuntos discutidos na roda foram muito bem aceitos pelos participantes, além de provocarem reflexões posteriores. “Discuti-los nos deu oportunidade de legitimar as práticas de cuidado próprias da Maré e da experiência de favela, nos permitindo construir com as pessoas a compreensão da primeira infância para além da ideia de déficit e de falta centrada em vulnerabilidades individuais’’, diz. 

Ao todo, 50 famílias são acompanhadas pelo projeto, criando vínculos mais fortes no território e aumentando a variedade de estratégias para discussões e ações. “Temos investido sobretudo nos relatos das pessoas e na conexão dos adultos com sua experiência de infância. A intenção é criar espaços de escuta para os pequenos, além de promovermos intercâmbios mediados entre adultos e crianças, procurando também dar lugar para as práticas de cuidado inventadas por cada família’’, explica.

O objetivo final é manter um diálogo permanente com a comunidade, incentivando as pessoas a participarem e, assim, enriquecendo ainda mais as conversas, hoje restritas a profissionais que trabalham com o tema. A outra coordenadora do Primeira Infância na Maré, Tábata Lugão, esclarece dúvidas sobre o projeto através do email [email protected]. Para quem quiser participar, foi criado um formulário digital para inscrições: https://bit.ly/3m3tqxh.

“Nossos encontros abertos para formação sobre os temas que afetam a primeira infância começaram em junho deste ano e temos uma programação até dezembro. Reforçamos o convite a todos, pois esse é um espaço de trocas importante que vai além de quem trabalha com infância”, afirma Tábata.

Objetivo da iniciativa é manter um diálogo permanente com a comunidade e ampliar alcance do debate sobre a primeira infância – Foto: Douglas Lopes

Iniciativas cidadãs

Na Maré, entidades e instituições buscam ocupar o espaço deixado pelo poder público quanto ao acesso a direitos e cuidados fundamentais nos primeiros anos de vida. Um bom exemplo é o Projeto Uerê, uma escola-modelo com metodologia própria destinada a crianças e jovens entre quatro e dezoito anos.

Segundo Yvonne Bezerra de Melo, fundadora da iniciativa, ‘’as políticas para crianças no país não são robustas, infelizmente. Atuamos em áreas onde os governos são falhos. Damos qualidade de vida para milhões de crianças excluídas’’, diz.

Penalizadas pela criminalização do território, as crianças até seis anos são as que mais sentem os impactos da violência. ‘’A maioria chega traumatizada por todos os tipos de violência, o que faz com que tenham problemas de aprendizado’’, conta Yvonne, conhecida por, há mais de 23 anos, lutar pela infância nas favelas e periferias do Rio.

A mudança pode vir através do ensino da música, da tecnologia ou mesmo de esportes, como acontece na ONG Luta Pela Paz, que tem em sua grade aulas de boxe, jiu-jitsu, muay thai, capoeira e judô, além de reforço escolar e capacitação para jovens em busca de uma chance no mercado de trabalho. 

‘’De modo geral, o esporte oferece momentos de integração, alegria, amizade, respeito, entre outros fatores de suma importância para o desenvolvimento da criança, além de ensinar a importância do compromisso, da pontualidade, do respeito às diferenças, da resistência, de ganhar e perder’’, diz Roberto Custódio, coordenador esportivo da entidade.

Segundo ele, o problema crucial é a falta de investimento de base, para que os pequenos possam se desenvolver plenamente. ‘’Crianças e jovens encontram-se perdidos, sem estímulo, sem referências, sem saber que profissão ou esporte desejam seguir. Mas isso não é indicativo de ócio ou desinteresse, e sim de não ter um estímulo, conhecimento amplo das áreas, além de meios para alcançar o que se quer’’, lamenta.

Nesse sentido, foi criada a Rede Nacional Primeira Infância (RNPI). Ao reunir organizações da sociedade civil, governo e setor privado, o objetivo da rede é promover e garantir os direitos inerentes à Primeira Infância. “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”. O prazo para a implementação dos objetivos do Plano Nacional pela Primeira Infância se estende até 2022.

Quando se trata dos primeiros anos de vida, é essencial pensar não somente na criança como também na família com quem ela vive – Foto: Douglas Lopes