Moradores acima de 18 anos podem se vacinar; adolescentes a partir de 12 também estão aptos a receber imunizante
Por Edu Carvalho, em 15/10/2021 às 09h45.
No primeiro dia da mobilização #VacinaMaré – 2ª Dose, moradores com idade de 25 a 33 anos foram vacinados. Hoje, sexta-feira (15/10), o calendário é destinado às faixas etárias acima de 18 anos. Já no sábado (16/10), há esquema de repescagem para todas as idades.
Desta vez, clínicas da família e associações de moradores são os pontos de vacinação, abertos sempre das 8h às 17h nos três dias, prioritariamente na população entre 18 e 33 anos. Os moradores acima de 18 anos que ainda não se vacinaram com a primeira ou segunda dose estão aptos a se vacinar nos dias da campanha, assim como adolescentes a partir de 12 anos que ainda não tomaram a primeira dose.
O #VacinaMaré é uma articulação integrada que reúne a Secretaria Municipal de Saúde, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Redes da Maré, que também tem como apoiadores o Ministério da Saúde, SAS Brasil, Conexão Saúde e PUC-Rio.
Veja mais informações abaixo:
15/10 – pessoas com 18 anos ou mais
16/10 – repescagem para todas as idades acima de 18 anos
14, 15 e 16/10 – vacinação para adolescentes acima de 12 anos (apenas nas unidades de saúde)
Onde? Nas Clínicas da Família e associações de moradores!
Clínica da Família Adib Jatene • Via B Um, 589-501 – Maré Clínica da Família Augusto Boal • Av. Guilherme Maxwell, 901 – Baixa do Sapateiro Clínica da Família Américo Veloso • Rua Gerson Ferreira, 100 – Praia de Ramos Clínica da Família Diniz Batista dos Santos • Av. Brg. Trompowski, SN – Maré Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva • R. Teixeira Ribeiro – Maré Centro Municipal de Saúde Vila do João • R. Dezessete, s/n – Maré Centro Municipal de Saúde João Cândido • Av. Lobo Junior, 83 – Penha Circular Associação de Moradores Morro do Timbau Associação de Moradores da Vila do João Associação de Moradores Marcílio Dias Associação de Moradores Rubens Vaz Associação de Moradores Parque União Associação de Moradores da Vila dos Pinheiros Associação de Moradores Roquette
O que precisa para vacinar?
É preciso ter cadastro em uma unidade de saúde da Maré para se vacinar. Caso a pessoa não tenha, será possível fazer um pré-cadastro na unidade de saúde ou nas associações de moradores, de 22 a 25 de julho!
Cada unidade de saúde atende uma região específica, procure ir na mais próxima de você. Caso tenha dúvidas procure um agente de saúde comunitário. Seus vizinhos ou familiares podem ter o contato de whatsapp do agente que atende sua rua ou região.
Continuidade da violência e pandemia afetam crianças e adolescentes
Por Gracilene Firmino, em 14/10/2021 às 07h.
Em agosto de 2019, a Redes da Maré reuniu e entregou à Justiça mais de 1.500 cartas e desenhos de crianças do conjunto de favelas, pedindo paz e respeito. O material estava acompanhado de uma petição pedindo para que fosse restabelecida uma Ação Civil Pública que regula e restringe as operações policiais na Maré. O pedido, aceito pela Justiça em 2017, ajudou a diminuir todos os índices de violência ao longo de um ano, mas acabou suspensa em junho de 2019. Diante do apelo dos moradores, a ação foi revalidada, restabelecendo parâmetros mínimos para as ações, como a exigência da presença de uma ambulância e o veto a operações durante o horário de entrada e saída de alunos das escolas. Dois anos depois da ação Cartas da Maré, as crianças mudaram mas as violações de direitos não.
De lá para cá, outro grande acontecimento alterou completamente o cotidiano não apenas do favelado mas de pessoas do mundo inteiro: a pandemia de covid-19. Em junho de 2020, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, determinou a proibição de operações policiais em favelas do Rio de Janeiro durante a pandemia causada pelo coronavírus. Segundo Fachin, as ações só podem acontecer em hipóteses consideradas excepcionais e devem ser justificadas por escrito pela autoridade competente. Determinação que não vem efetivamente sendo cumprida. Segundo o Boletim Direito à Segurança Pública na Maré, que traz dados sobre as dinâmicas de violência no território no primeiro semestre de 2021, ocorreram sete operações policiais nesse período. Essas ações provocaram oito mortes e sete dias sem atendimento médico nas unidades de saúde.
Uma das cartas entregue à Justiça pela Redes da Maré.
Violência segue afetando jovens moradores da Maré
Algumas das crianças que escreveram cartas na ação, hoje, são adolescentes. Essa faixa etária é amplamente afetada pela violência. Segundo levantamento feito pelo Instituto Fogo Cruzado, três adolescentes foram baleados por mês em 2021, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Os números, colhidos no período entre 1° de janeiro e 21 de setembro, mostram que 30 jovens foram vítimas de arma de fogo no Grande Rio este ano. Desses, 10 morreram. Alessandra Larissa de Campos, de 17 anos, Joycy Dayana de Campos, de15 anos, e Agatha Mirian de Campos, de 12 participaram do “Cartas da Maré” e assim como na infância, ainda se sentem inseguras agora na adolescência.
“Elas estão bem. Mas em relação à segurança, não mudou muito desde que elas escreveram as cartas. Agora elas já estão adolescentes e, por causa da pandemia, ficam mais em casa. Ficam apavoradas quando tem tiroteio, nada mudou. Elas acreditam que tem que mudar muita coisa ainda, sobre a questão da violência. Estão sem aulas, isoladas e vivendo em uma situação que pode trazer risco a vida delas”, conta Wanir Campos, responsável pelas adolescentes.
Crianças em 2018 em frente ao Tribunal de Justiça do Rio.
Saúde mental abalada
“Um dia eu estava no pátio da escola fazendo educação física. De repente, o helicóptero passou dando tiro para baixo. Aí, todo mundo correu para o canto da arquibancada. Quando passou o tiro, a gente correu para dentro da escola até minha mãe me buscar. Quando deu mais tiro, eu estava em casa”. “O ruim das operações nas favelas é que não dá para brincar muito. E também morrem moradores nas comunidades. Também têm muita violência”. “Eu não gosto do helicóptero porque ele atira para baixo e as pessoas morrem”. Essas são apenas algumas das frases escritas pelas crianças em 2019 na ação “Cartas da Maré”. Na época a situação no conjunto de favelas era alarmante.
Em boletim semestral publicado naquele ano, a Redes da Maré mostrou que 27 pessoas morreram apenas no primeiro semestre de 2019, 10% a mais que ao longo de todo o ano de 2018, quando 24 pessoas foram mortas. Além disso, 15 pessoas faleceram durante as 21 operações policiais ocorridas no primeiro semestre. As outras 12 morreram durante os 10 confrontos entre facções da região. O mesmo boletim também informou que, ao longo do primeiro semestre daquele ano, as escolas e os postos de saúde tiveram 10 dias de atividades suspensas por causa de tiroteios. O número foi o mesmo em 2018. Já em 2017, antes da Ação Civil Pública, as crianças ficaram sem aula durante 35 dias e os postos de saúde somaram 45 dias fechados.Em 2017, 41 operações policiais foram realizadas.
Yasmin Holmer, de nove anos, fala do que mais sente falta por estar em meio a pandemia de covid-19 e pela violência. “Doida pra estudar e brincar principalmente. Mas mesmo sem pandemia nem sempre dá para brincar na rua, me sinto muito mal”. Quando perguntada sobre o que desejaria para o lugar onde mora, a menina é sincera. “Pois é… Às vezes, sinto vontade de ir embora daqui. Mas, ao mesmo tempo, não quero por conta da escola e dos amigos”. A pesquisa “Construindo Pontes” mostra que pessoas em situações de violência são mais vulneráveis ao sofrimento mental. Segundo o estudo, o medo de que alguém próximo seja atingido por arma de fogo chega a 71%. Estresse pós-traumático, ansiedade, depressão e tentativas de suicídio são alguns dos transtornos frequentes.
A pesquisa pioneira foi liderada pela organização inglesa People’s Palace Projects e pela Redes da Maré. Realizada entre 2018 e 2020 com 1.411 moradores acima de 18 anos, teve como desdobramento a 1ª Semana de Saúde Mental da Maré, a Rema Maré, que aconteceu entre os dias 23 a 28 de agosto deste ano. As crianças são peças-chave quando se fala de cuidados de forma geral e com a saúde mental, não pode ser diferente. É preciso estar atento e proteger os mais vulneráveis, esse é um dever de todos e uma obrigação do Estado.
Princípio da Proteção Integral
As crianças e adolescentes do Brasil estão protegidas por lei. Essa proteção é absoluta descrita como “Princípio da Proteção Integral”. Estes princípios têm a finalidade de assegurar os direitos fundamentais da criança e do adolescente com normas protetivas diferenciadoras das aplicadas aos adultos, com base na Constituição e declarado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), dando-lhes proteção integral e prioridade absoluta. O princípio da proteção integral assegura direitos e privilégios que diminuam sua fragilidade pressuposta. Ele se encontra descrito no artigo 6º da Constituição Federal de 88, e no 3º do ECA.
“Art. 6º. São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.”
“Art. 3º. A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata a lei, assegurando-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.”
Responsáveis e crianças moradoras da Maré em frente ao Tribunal de Justiça do Rio, na sessão para recibimento das cartas.
No artigo 227 da Carta Magna do Brasil encontramos o princípio da Prioridade Absoluta. “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem com absoluta prioridade, direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e a convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”. A destinação privilegiada dos recursos públicos para as garantia da proteção da criança e do adolescente estão elencadas nos artigos 59,87,88 e 261, parágrafo único, do ECA.
Apesar da violência, moradoras têm esperança de dias melhores
Rayssa Fagundes Sampaio e Rayane Fagundes Sampaio, ambas com 14 anos, são irmãs gêmeas e, apesar de reconhecerem o quanto são expostas à violência, falam sobre felicidade. “Sobre mudanças na Maré desde que escrevemos as cartas, não vemos muitas. A violência não mudou em nada, ao meu ver até piorou. Mas eu estou bem graças a Deus. Principalmente de saúde. Já tomei a primeira dose da vacina e estou muito feliz por isso. Apesar da minha vida não ter melhorado muita coisa, sou grata a Deus pela minha saúde e da minha família”, conta Rayane.
As gêmeas fazem parte do projeto “Nenhum a menos”, na Lona Cultural da Maré Herbert Vianna, onde participam de diversas atividades. “Lá, nós fazemos danças,aula de música e de circo,capoeira e robótica. Mas por conta da pandemia está tudo parado. Sentimos muita falta. Pois as aulas nos ajudavam muito e nos mantinham ocupadas. Nos sentimos muito bem lá. Agora, ficamos mais em casa. Não vejo a hora da pandemia acabar para tudo voltar ao normal. As aulas voltaram mas ainda não estão 100%, não são todas as semanas nem todos os dias que tem aula. É muito ruim ficar só em casa. Me sinto chateada e muito presa. Gostaria de poder estar saindo, encontrando mas com os meus amigos e outras coisas assim. Me faria muito bem”, diz Rayssa.
E deixa um recado aos governantes mais uma vez. “Queria dizer para os nossos governantes de modo geral que prestem mais atenção nas nossas comunidades. Na classe pobre, nas escolas da Maré. Lembrando que as aulas voltaram e nós crianças e adolescentes não temos nem alimentação na escola e, quando temos, é de péssima qualidade. Nós merecemos mais.”
Representantes do programa de vacinação em massa participam de coletiva de imprensa e acompanham primeiro dia das ações
Por Edu Carvalho, com informações de Agência Fiocruz e Redes da Maré, em 14/10/2021 ás 16h35.
No primeiro dia para a segunda fase da vacinação em massa na Maré, o #VacinaMaré, que começou nesta quinta-feira, dia 14, e vai até o próximo sábado (16), representantes da iniciativa articuladora estiveram no território para uma coletiva de imprensa. Eles acompanharam toda a movimentação da ação que busca imunizar a maior quantidade de moradores a partir de 18 anos nas 16 favelas que compõem a Maré. A primeira dose também será dada aos adolescentes acima de 12 anos (apenas nas unidades de saúde).
A abertura do evento contou com a participação do secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz; a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima; o assessor de Relações Institucionais da Fiocruz, Valcler Rangel; o pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz, Fernando Bozza; e a coordenadora da Redes da Maré, Luna Arouca. Também participaram do evento o secretário municipal de Educação Renan Ferreirinha e a deputada estadual Renata Souza (PSOL).
“O projeto #VacinaMaré foi um sucesso já na primeira fase, superando as expectativas. Agora vamos acelerar o processo com a aplicação da segunda dose, possibilitando já avaliar alguns resultados da vacinação em massa na proteção da comunidade local, incluindo as crianças”, ressaltou Soranz.
Desta vez, clínicas da família e associações de moradores são os pontos de vacinação, abertos sempre das 8h às 17h nos três dias, prioritariamente na população entre 18 e 33 anos. Para os moradores acima de 18 anos que ainda não se vacinaram com a primeira ou segunda dose estão aptos a se vacinar nos dias da campanha, assim como adolescentes a partir de 12 anos que ainda não tomaram a primeira dose.
Mobilizadores da ação #VacinaMaré. Foto: Matheus Affonso
Para a segunda fase da campanha, os postos de vacinação contarão com apresentações culturais e intervenções de artistas locais. Nas primeiras horas do dia, quem abriu os trabalhos com muita música na Clínica da Família Adib Jatene foi o grupo coletivo Panderolando Maré, ao som de atabaques e alfaias, além da Orquestra do Amanhã. A programação também acontece nessa sexta (15) e no sábado (16), com divulgação nas redes sociais da ONG Redes da Maré.
Integrantes do coletivo Panderolando, durante apresentação na abertura do evento. Foto: Matheus Affonso
“Vamos celebrar, tomando o cuidado de não formar aglomerações, com pequenas intervenções artísticas. Mas temos resultados a comemorar, depois de tantos desafios causados pela pandemia e agravados pelos problemas históricos do território: a taxa de letalidade na Maré é menor do que a do município e conseguimos, com um projeto pioneiro, dar um tratamento adequado e com base científica para os moradores da favela”, avalia Eliana Silva, diretora da Redes da Maré.
Luna Arouca, coordenadora da ONG Redes da Maré e do Projeto #Vacina Maré, representou a diretora Eliana na abertura do evento. “Depois de um ano e meio de perdas, é uma alegria estarmos reunidos aqui para esse projeto”, afirmou, “É um momento de celebração e cuidado, ainda temos que seguir com as precauções, mas também podemos aproveitar esse momento juntos”.
Músicos da Orquestra do Amanhã também estiveram presentes no pontapé inicial da campanha. Foto: Matheus Affonso
Aline Aquino, 38 anos, é Técnica de Enfermagem desde 2008. Para ela, participar da mobilização na Maré traz um orgulho ainda maior, e mexe com a autoestima do morador. “Nós que estamos nessa área (Saúde) podemos ver que é muito sofrido para alguns moradores notar as diferenças no status de vida para uns e para outros. Fazer parte de algo que muda isso é muito importante”. Aline esteve alocada na Associação de Moradores do Parque União.
“Essa campanha é importante para conscientizar as pessoas de como todos devem se vacinar, protegendo uns aos outros” arremata didaticamente Helena Edir, 71 anos, uma das diretoras da Redes da Maré. Essa é a primeira vez como voluntária da ação, que aproveitou a terceira dose para, enfim, se unir ao grupo de articuladores que tem levado esperança no território através da vacina.
Registro feito durante pesquisa que ocorre sobre a vacinação na Maré. Foto: Matheus Affonso
Sessão que julgou fuzilamento de Evaldo Rosa e Luciano Macedo começou na quarta (13) e terminou nas primeiras horas de hoje (14)
Por Edu Carvalho e Hélio Euclides, em 14/10/2021 às 10h29
Com mais de 15 horas, foi decidida a primeira parte do processo em que a Justiça Militar julgou oito militares do Exército por matarem o músico Evaldo Rosa e o catador de latinhas Luciano Macedo, em 2019.
O placar do plenário foi de 3 votos a 2, culpando por duplo homicídio e tentativa de homicídio (o sogro de Evaldo, Sérgio, ficou ferido e sobreviveu). Segundo a defesa, os militares vão recorrer da decisão com os réus respondendo pelo crime em liberdade e até que se esgote os recursos.
A análise final que condenou os militares do 1º Batalhão de Infantaria Motorizada Escola, foi realizada por um conselho composto por cinco componentes: Mariana Aquino, juíza federal substituta; e os juízes militares: Tenente Coronel Sandra Fernandes de Oliveira Monteiro, Major Rêmulo Dias de Carvalho, Major José Adail da Silva Ferreira e o Capitão Perotti Honori.
Segundo o laudo feito na época, aconteceram cerca de 257 disparos, destes, 62 tiros atingiram o carro – à época, o crime ficou conhecido como “caso dos 80 tiros”. No auditório do Tribunal estavam Luciana Rosa, viúva de Evaldo e Dayana Fernandes, viúva de Luciano, que acompanharam todo o julgamento até a divulgação da sentença.
O Ministério Público Militar pediu a condenação de oito militares e a absolvição dos outros quatro envolvidos na operação, com alegação de falta de provas. Essa solicitação foi acatada. O Tenente Ítalo da Silva Nunes, que chefiou a ação, recebeu a pena de 31 anos e seis meses e os envolvidos: Fábio Henrique Souza Braz da Silva, sargento e Leonardo Oliveira de Souza, cabo foram condenados a 28 anos. Pena igual a dos soldados: Gabriel Christian Honorato, Matheus Sant’Anna, Marlon Conceição da Silva, João Lucas da Costa Gonçalo e Gabriel da Silva de Barros Lins. Já o Cabo Paulo Henrique Araújo Leite e os soldados Wilian Patrick Pinto Nascimento, Vitor Borges de Oliveira e Leonardo Delfino Costa, foram absolvidos.
Luciana se emocionou em vários momentos no julgamento e precisou de serviços médicos. Ela deixou claro que o resultado não traz a vida do esposo, mas sim a realização de justiça. “Com certeza eles estavam totalmente despreparados. Destruíram a minha família, me tiraram meu melhor amigo, o meu esposo, que era a base de tudo. O importante é não desistir jamais, por, mas que todas circunstâncias digam o contrário. Não podemos nos calar”, conclui a viúva.
Organizações não Governamentais (ONGs) tentam suprir carência por meio de projetos alternativos
Maré de Notícias #129 – outubro de 2021
Por Gracilene Firmino
Devido à pandemia de covid-19, consultas e tratamentos para outras doenças foram suspensos ou remarcados para um futuro distante – e isso vale tanto para exames de rotina e consultas preventivas ao acompanhamento de enfermidades graves, como câncer. Isso é o que tem acontecido com o atendimento ginecológico na Maré. Mulheres relatam que o que já era complicado, piorou na pandemia. Elas são maioria no conjunto de favelas da Zona Norte do Rio. Segundo o Censo Maré de 2019, as mulheres são quase 71 mil, enquanto os homens somam 68 mil. Por isso, coletivos e organizações civis tentam preencher essa lacuna na atenção à saúde feminina oferecendo alternativas para as mareenses.
Ter acesso a um especialista, como obstetra ou ginecologista, é um direito garantido por lei no Brasil, mas nem todas têm acesso a ele. Marcela Gomes, de 20 anos, fotógrafa e distribuidora do jornal Maré de Notícias, conta que jamais conseguiu atendimento ginecológico nas clínicas da família da região. “Todas as vezes em que tentei marcar uma consulta a resposta era a mesma: ‘Seu nome está na lista.’ Muitas mulheres contam o mesmo, que não conseguem ser atendidas por um ginecologista”, diz.
Sem atendimento, nem informação
Segundo Marcela, ver um clínico geral nas unidades de saúde da Maré já é difícil, e a situação piora quando se fala de especialidades como saúde da mulher. “O atendimento público especializado não existe aqui. Tive um problema ginecológico há alguns anos e precisei buscar ajuda na rede particular e gastar um dinheiro que minha mãe se desdobrou para arranjar. Fiquei seis meses sem menstruar, era um problema que poderia ser algo sério e não consegui o atendimento via Sistema Único de Saúde. Hoje em dia, se tivesse algum outro problema parecido, não poderia arcar com isso. E como ficaria?”, cobra.
Sobre o acesso a métodos contraceptivos, Marcela diz ter conhecimento de que eles existem e estão disponíveis nas clínicas, mas não todos e nem sempre. “Não conheço ninguém que já tenha realizado exames clínicos ou laboratoriais nas clínicas da família daqui. Também nunca tive essa oportunidade. Acesso a métodos contraceptivos, como preservativo, pílulas anticoncepcionais e injeções são mais fáceis de conseguir. Mas também nem sempre tem e como não existe um acompanhamento, muitas pessoas que conheço acabam se medicando por conta própria. Não tem assistência para as mulheres que estão iniciando seu período reprodutivo. O sistema de saúde para a mulher aqui é sucateado”, critica.
Marcela Gomes, de 20 anos, em frente à clínica onde não conseguiu atendimento ginecológico
Organizações civis colaboram
Andreza Dionísio, assistente social e articuladora da Casa das Mulheres da Maré, conta que já esteve nos dois lados do atendimento e tenta entender a estrutura da saúde pública primária. “Enquanto usuária, tinha raiva quando não conseguia o atendimento. De fato, a consulta de rotina praticamente não existe nas unidades básicas de saúde. Mas, agora, trabalhando nesse meio, tento ressignificar essa assistência. O problema é estrutural e é mais complexo do que pensamos.” Andreza está à frente das ações relacionadas aos direitos sexuais e reprodutivos na Casa da Mulher e acompanha de perto essas demandas.
Já Júlia Leal, também assistente social e coordenadora da Casa das Mulheres, fala sobre a possibilidade de maior capacitação para que os médicos da família sejam capazes de acompanhar a saúde da mulher de forma mais aprofundada. “As mulheres não têm acesso a todos os métodos contraceptivos. Até porque nem todos os médicos são capacitados ?ar? colocar um dispositivo intrauterino (DIU), por exemplo.”
A Casa das Mulheres completa cinco anos de existência em outubro, mantendo-se fiel à sua gênese, com mulheres protagonistas em diversas lutas por direitos e melhorias. A entidade implementa um conjunto de projetos e ações, com metodologias inovadoras, para o enfrentamento da violência, inclusive obstétrica e ginecológica. A Casa promove duas ações principais com o intuito de fortalecer o acesso à saúde. “Não há médicos o suficiente nas clínicas da família. O acesso à saúde na Maré não está fácil. Além disso, a gestão municipal anterior sucateou as unidades básicas de saúde, promovendo um verdadeiro desmonte. Hoje, até onde temos conhecimento, todas as clínicas da família têm médico. Mesmo assim, ainda está ruim; existem muitos pontos a serem melhorados”, relata.
Outra questão abordada por Andreza e Júlia, que influenciou na piora do atendimento na saúde, foi a pandemia de covid-19. “As consultas ginecológicas não foram consideradas essenciais na pandemia, isso vem prejudicando a saúde como um todo e no longo prazo”, diz Júlia. Mas a Casa das Mulheres vem atuando para minimizar esses impactos. “Nosso instituto oferece uma palestra sobre saúde da mulher e quem assiste pode marcar uma consulta ginecológica com inserção de DIU. Também realizamos a capacitação de médicos das clínicas para realizarem esse procedimento. Além disso, contamos com uma parceria com a Coordenadoria Geral de Atenção Primária (CAP) 3.1, o que facilita essa interação”, conta a coordenadora da Casa das Mulheres.
Segundo Andreza, o problema central da saúde na Maré é a falta de profissionais. “Na primeira vez que oferecemos a palestra recebemos apenas 20 inscrições. Agora, o número de pessoas interessadas subiu para 600. O atendimento à mulher, que deveria ser básico, não existe”, resume.
Além da Casa das Mulheres, outros locais buscam melhores condições de saúde para a mulher mareense. Um deles é o Espaço Casulo, que promove acolhimento, fortalecimento e incentivo às práticas de autonomia, saúde, autogestão e coletividade com e para mulheres prioritariamente pretas e faveladas. Como prioridades, o projeto apoia a autoestima, o fortalecimento, a independência e a coletivização de saberes, com uma abordagem reflexiva sobre práticas cotidianas junto à comunidade. Suas atividades incluem: atendimento psicológico, roda de gestantes e de Ervaria e Fitoterapia.
Outro espaço no qual as mulheres podem buscar apoio é o Centro de Referência de Mulheres da Maré Carminha Rosa (CRMM-CR). O projeto integra o Núcleo de Estudos em Políticas Públicas em Direitos Humanos (NEPP-DH), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Localizado na Vila do João, o CRMMCR tem como objetivos atender e oferecer acompanhamento psicossocial e jurídico, orientar nas desigualdades de gênero e fortalecer a cidadania das mulheres em situação de violência doméstica.
Prefeitura garante que há atendimento
Atualmente, sete clínicas da família atendem os territórios que compõem a Maré. A área de atuação de cada uma é determinada pela disposição das ruas. Levando em consideração uma divisão igualitária entre as clínicas e a quantidade de habitantes da Maré (cerca de 140 mil), teríamos 20 mil pessoas atendidas por unidade. Mas, em nota, a Secretaria Municipal de Saúde garante que as mulheres têm acesso ao atendimento especializado: “Elas podem acessar por dois caminhos: espontaneamente, quando for um caso mais urgente, e por meio do agendamento, após ser avaliada por um enfermeiro na própria clínica. Todas as unidades possuem médicos. São ao todo 22 profissionais de saúde atuando na Maré, entre 20 e 40 horas semanais, para atender a população”.
Segundo a Prefeitura, mesmo com a estrutura incompleta, a moradora da Maré conseguirá ser atendida e ter as informações e o acompanhamento de que precisa. “Apesar de haver vagas ainda em aberto para médicos na região, a equipe multiprofissional tem se esforçado muito para dar todo o suporte necessário aos usuários, com foco pautado na Estratégia de Saúde da Família.” Perguntada sobre o acesso a métodos contraceptivos, a secretaria disse que eles estão disponíveis “por meio das consultas e do planejamento familiar, que também pode ser feito individualmente em consultório. Nos últimos meses de julho, agosto e setembro, houve 28.947 atendimentos a mulheres em idade fértil nas unidades da Maré.”
O território mareense teve mais um dia agitado nesta quarta-feira (13) com a mobilização para a segunda fase do #VacinaMaré, ação que pretende imunizar em massa a população nas 16 favelas da Maré. Articuladores da ONG Redes da Maré percorreram na tarde de hoje as favelas Vila do Pinheiro, Salsa e Merengue, Morro do Timbau, Baixa do Sapateiro e Nova Maré, enfatizando os informes da campanha.
A moradora da Vila do João Maria Elisa tomou a primeira dose na campanha em julho e vai tomar a segunda amanhã. “Tem tomar para acabar logo com isso, eu tomei, vou tomar a segunda dose e estou chamando tomo mundo, as amigas da minha filha, meus parentes e amigos.”
A vacinação acontece a partir de amanhã, quinta-feira (14) e vai até o próximo sábado (16), nas unidades de saúde da Maré e associações de moradores. Amanhã, além desses espaços, duas escolas também serão pontos de vacinação: Escola Municipal Osmar Paiva Camelo e a Escola Municipal IV Centenário.
A iniciativa faz parte de um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com Ministério da Saúde, Secretaria Municipal de Saúde, SAS Brasil, Redes da Maré, Conexão Saúde e PUC-Rio.
A análise da (Fiocruz) avaliará a efetividade da vacina AstraZeneca, além de monitorar possíveis variantes e a contaminação de vacinados até janeiro de 2022, acompanhando os efeitos da vacina em duas mil famílias, com cerca de oito mil pessoas. A ação antecipará o retorno dos moradores vacinados com a primeira dose às unidades de saúde para que completem o ciclo de imunização, recebendo a segunda dose. Por isso, embora na carteira de vacinação possa constar outra data, moradores que já tenham sido vacinados com a primeira dose há pelo menos dez semanas estão liberados a tomar a segunda dose.
Todos os moradores a partir de 18 anos, que receberam a primeira dose no #VacinaMaré, em julho, ou depois, até 4 de agosto, poderão receber a segunda dose da vacina.
Adolescentes acima de 12 anos também poderão ser imunizados com a 1ª dose (apenas nas unidades de saúde). Para a dose de reforço, o calendário segue a determinação da Secretaria Municipal de Saúde.
Confira os locais de vacinação:
Clínica da Família Adib Jatene • Via B Um, 589-501 – Maré Clínica da Família Augusto Boal • Av. Guilherme Maxwell, 901 – Baixa do Sapateiro Clínica da Família Américo Veloso • Rua Gerson Ferreira, 100 – Praia de Ramos Clínica da Família Diniz Batista dos Santos • Av. Brg. Trompowski, SN – Maré Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva • R. Teixeira Ribeiro – Maré Centro Municipal de Saúde Vila do João • R. Dezessete, s/n – Maré Centro Municipal de Saúde João Cândido • Av. Lobo Junior, 83 – Penha Circular Associação de Moradores Morro do Timbau Associação de Moradores da Vila do João Associação de Moradores Marcílio Dias Associação de Moradores Rubens Vaz Associação de Moradores Parque União Associação de Moradores da Vila dos Pinheiros Associação de Moradores Roquette
É preciso ter cadastro em uma unidade de saúde da Maré para se vacinar. É necessário fazer o pré cadastro! Veja aqui se você está cadastrado na unidade de saúde.
Cada unidade de saúde atende uma região específica, procure ir na mais próxima de você. Caso tenha dúvidas procure um agente de saúde comunitário. Seus vizinhos ou familiares podem ter o contato de whatsapp do agente que atende sua rua ou região.