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Museu de Arte do Rio e Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro lançam podcast que discute o Brasil sob múltiplos pontos de vista

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Por Redação, em 17/08/2021 às 11h30

A parceria entre o Museu de Arte do Rio (MAR) e o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) na concepção da exposição “Imagens que não se conformam”, em cartaz até outubro deste ano, continua rendendo frutos. A dupla vai lançar na próxima quarta-feira (18), às 18h, no site do MAR e no Spotify, o podcast “Para pensar o Brasil: histórias que não se conformam”.

Formada por dez episódios, a série conta com a participação de intelectuais e pensadores confrades do IHGB. A ideia é refletir sobre os diferentes aspectos da sociedade brasileira, em diálogo com a programação da mostra exibida no MAR – cuja proposta é aventar conexões contemporâneas sobre a história do país a partir da coleção do instituto. O lançamento dos capítulos acontecerá semanalmente, todas às quartas-feiras, até 27 de outubro, sempre com um convidado diferente.

Diretor-presidente do Instituto Odeon, Carlos Gradim destaca o viés artístico-educacional do projeto. “É uma alegria para nós do Instituto Odeon entregar mais um resultado da nossa parceria com o Instituto Cultural Vale que resultou neste projeto de fortalecimento do patrimônio cultural brasileiro por meio do diálogo entre o MAR e o IHGB. Este podcast nos traz preciosas reflexões para pensar o Brasil com o atravessamento da arte-educação, como propõe a Escola do Olhar em cada episódio”, reforça.

Para Victorino Chermont, presidente do IHGB, o produto ressalta a sinergia do instituto com o museu. “Este podcast é um feliz desdobramento da parceria firmada pelo IHGB com o MAR e abre um novo tempo no modo de estarmos presentes na vida cultural do país”, afirma. Na estreia, o pesquisador Paulo Knauss fala sobre como a biografia do Brasil pode ser contada por meio da arte nacional, que serve de interrogação da realidade. Ele também aborda outras questões, como o modo em que os registros artísticos passaram de representações do sagrado para a construção das imagens fundadoras da nação; a maneira como a obra de arte nos impacta individualmente, ajudando a compreender a dinâmica da sociedade e a criar um repertório de desafios, apurando nosso olhar e nossos questionamentos; além de investigar os desafios do futuro para uma arte que visa reparação histórica, uma vez que nem sempre ela foi capaz de representar a diversidade
de nosso corpo social.

Segundo Knauss, nunca foi tão atual pensar o Brasil a partir da história. “Fazer isso em companhia de especialistas ajuda a compreender que a sociedade é uma construção histórica que sempre se atualiza. A série de entrevistas também representa um modo de aprofundar os temas propostos pela exposição ‘Imagens que não se conformam’. Esperamos que o diálogo entre o podcast e a exposição aproxime os públicos das duas realizações”, deseja.

Entre um bloco e outro, os ouvintes vão escutar pílulas de conhecimento desenvolvidas pelos educadores da Escola do Olhar, braço educacional do MAR. Ao longo da série, os convidados vão tratar da temática central, ainda, sob as perspectivas da literatura, patrimônio cultural, arqueologia, imprensa, mulheres, saúde, cidadania, entre outras. O podcast “Para Pensar o Brasil: histórias que não se conformam” é uma produção da Rádio Graviola, com locução de Valéria Becker e roteiro de Alice Gomes. A gravação foi realizada de maneira on-line, com a captação e operação de som do Espaço Ipiranga. A identidade visual é assinada pela designer Simone Jablkowicz. Depois do lançamento do podcast, antecedido pela exposição “Imagens que não se conformam”, MAR e IHGB vão fechar a trinca de colaboração com uma web série, ainda sem data de divulgação.

O Museu de Arte do Rio

Iniciativa da Prefeitura do Rio em parceria com a Fundação Roberto Marinho, o Museu de Arte do Rio passou a ser gerido pela Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI) desde janeiro deste ano, apoiando as programações expositivas e educativas do MAR a partir de um conjunto amplo de atividades para os próximos anos. “A OEI é um organismo internacional de cooperação que tem na cultura, na educação e na ciência os seus mandatos institucionais, desde sua fundação em 1949.

O Museu de Arte do Rio, para a OEI, representa um instrumento de fortalecimento do acesso à cultura, intimamente relacionado com o território, além de contribuir para a formação nas artes, tendo no Rio de Janeiro, por meio da sua história e suas expressões, a matéria-prima para o nosso trabalho”, comenta Raphael Callou, Diretor e Chefe da Representação da OEI no Brasil.

O Instituto Odeon foi responsável pela operacionalização, apoio e execução de atividades e serviços culturais para a completa gestão do Museu de Arte do Rio desde sua concepção, no ano de 2012. Em 2021, firmou parceria com a OEI para seguir nesta correalização, unindo esforços para o melhor funcionamento do museu e dando assim continuidade às ações já desenvolvidas no MAR.

O Museu de Arte do Rio tem o Instituto Cultural Vale como mantenedor, a Equinor
como patrocinadora master e a Bradesco Seguros como patrocinadora, todos por meio
da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

A Escola do Olhar conta com o apoio do Itaú Cultural, da Machado Meyer Advogados e do Icatu Seguros via Lei Federal de Incentivo à Cultura. Por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura – Lei do ISS, é também patrocinada pelo Grupo GPS, RIOgaleão, ICTSI Rio Brasil, ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) e HIG Capital. O Instituto Olga Kos patrocina os recursos de acessibilidade do MAR. O MAR conta ainda com o apoio do Governo do Estado do Rio de Janeiro e realização da Secretaria Especial de Cultura, Ministério do Turismo e do Governo Federal
do Brasil, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

Maré na luta contra insegurança alimentar

Redes busca construir programa de combate à fome que atenda famílias sem renda ou benefícios sociais do governo

Maré de Notícias #127 – agosto de 2021

Por Edu Carvalho

“Senhora! É a Redes da Maré! Viemos trazer sua cesta de alimentos!”, ecoa nas ruas da Nova Holanda. É assim que integrantes da equipe que entrega cestas básicas e kits de limpeza por meio da campanha Maré diz NÃO ao Coronavírus realiza um trabalho permanente de visita aos domicílios cadastrados na base de dados da Associação Redes da Maré, pensada para acontecer em várias frentes durante a pandemia da covid-19.

O objetivo é conhecer as famílias que mais precisam de ajuda neste momento. Todos os dias, os colaboradores da Redes percorrem o território da Maré para entender os desafios enfrentados no território. De março até junho de 2021, foram realizadas cinco mil visitas domiciliares, chegando a 2.752 famílias beneficiadas. 

Em um segundo ciclo da ação, uma triagem foi estruturada a partir da primeira etapa da campanha em 2020, seguindo critérios de maior necessidade. O desejo é impactar diretamente famílias sem renda, que pagam aluguel e que não foram incluídas nos programas do governo federal, como Bolsa Família e Auxílio Emergencial; e também aquelas com crianças, idosos e pessoas com deficiência. A meta é assistir seis mil famílias.

“Estamos atendendo as famílias que encontramos, ao longo da primeira fase, e que estão em extrema vulnerabilidade. É realizada uma visita domiciliar com uma equipe técnica para que seja identificada a real complexidade de cada caso”, conta Joelma Souza, coordenadora do Eixo de Desenvolvimento Territorial da Redes da Maré. 

Ela explica que essa pesquisa é fundamental, porque leva em consideração fatores que acabam passando despercebidos. “A partir da visita domiciliar é possível identificar se a família está numa situação de insegurança alimentar moderada ou grave.” (Insegurança alimentar é quando o acesso e a disponibilidade de alimentos são escassos. Se uma família não tem acesso regular e permanente à alimentação, em quantidade e qualidade adequadas, ela está nesta situação.)

Sono que disfarça a fome 

Joelma diz que, em muitos casos, consegue-se até um ingrediente, como fubá, arroz ou só feijão. “Já encontramos famílias nas quais a mãe estava fazendo mingau de maisena com água porque não tinha leite.” Ela também se lembra de uma equipe que encontrou, em uma das visitas, as crianças da família dormindo para não sentirem fome, porque não havia comida em casa.

Atualmente, o programa não está aceitando novas inscrições. “Diante da nossa realidade de morador de favela, todos precisamos receber uma cesta. Mas descobrimos que grande parte das famílias atendidas está em situação muito pior.”A pandemia explicitou um problema que vem se agravando nos últimos tempos. A fome (o grau mais agudo da insegurança alimentar) atinge 9% da população, segundo a pesquisa Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional — ao todo, mais de 116 milhões de brasileiros não tem comida suficiente na mesa, o equivalente a mais da metade da população do país. Segundo os dados, a estimativa é que o Brasil tenha retrocedido 15 anos no combate à fome somente nos últimos cinco anos.

Para receber as cestas básicas, as famílias da Maré passam por entrevistas sociais – Foto: Douglas Lopes

Aulas presenciais estão autorizadas em toda a rede estadual a partir desta segunda-feira, 16

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Por Redação, em 16/08/2021 às 9h45

A partir desta segunda-feira, dia 16, as aulas presenciais estarão autorizadas a retornar em todo o território fluminense. Todos os protocolos sanitários necessários serão devidamente cumpridos. As orientações de higiene e o bandeiramento de risco estadual de Covid-19 serão observados, a fim de que as atividades escolares presenciais ocorram de forma segura para estudantes e servidores.

De acordo com a resolução conjunta número 1569, a Secretaria de Estado de Educação e a Secretaria de Estado de Saúde instituíram protocolos e orientações complementares para a garantia do atendimento escolar nas unidades de ensino da rede estadual e nas escolas da rede privada vinculadas ao Sistema Estadual de Ensino do Rio de Janeiro. O propósito do documento é autorizar o funcionamento, acompanhamento e avaliação das unidades.

A nova legislação ainda leva em consideração o regramento municipal. Caso determinado município se manifeste contra a flexibilização do isolamento social de forma oficial, o ensino ficará exclusivamente remoto nessa região. No entanto, há mudanças no bandeiramento. Agora, as escolas poderão oferecer aulas presenciais na bandeira vermelha.

Deve ser observado o seguinte percentual máximo diário de funcionamento, de acordo com a capacidade física de atendimento da unidade:

1. De até 40% (quarenta por cento) da capacidade de atendimento da unidade escolar, no caso de bandeira vermelha;

2. De até 70% (setenta por cento) da capacidade de atendimento da unidade escolar, no caso de bandeira laranja;

3. De até 100 % (cem por cento) da capacidade de atendimento da unidade escolar, no caso de bandeira amarela e verde;

É importante frisar que todas as unidades escolares da rede estadual de ensino, independente da normativa em vigor, estarão abertas para atender à comunidade para retirada de material pedagógico, entrega de documentos, matrícula de alunos, retirada de kit alimentação, entre outras questões relativas à rotina administrativa.

Vacinação

Já são 95% dos profissionais da Educação que tomaram a primeira dose e 45% que estão com o ciclo vacinal completo.

Os servidores ficarão temporariamente afastados das atividades presenciais caso testem positivo ou tenham sintomas de Covid-19, como febre, calafrios, dor de garganta, dor de cabeça, tosse, coriza, distúrbios olfativos ou distúrbios gustativos.

Marcas do racismo

Discriminação racial será tema de uma série de artigos e reportagens nas próximas edições do Maré de Notícias

Por Amanda Pinheiro em 16/08/2021 às 10h30

Segundo o 14º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2019 cerca de cinco mil crianças e adolescentes tiveram morte violenta no Brasil; 75% das vítimas eram negras. Esse é apenas um dos dados sobre os quais o Maré de Notícias vai se debruçar nas próximas edições, trazendo uma série de artigos e reportagens sobre discriminação racial e seus impactos na sociedade, na economia e na educação. 

Racismo estrutural

Segundo o filósofo Silvio Almeida, o racismo estrutural é um processo histórico em que as desigualdades raciais são naturalizadas nas relações sociais, políticas, jurídicas e econômicas. Ou seja, é um conjunto de práticas, falas e ações que estão entranhadas no dia a dia de uma sociedade. 

Compreender esse mecanismo é essencial para perceber como o racismo afeta a vida dos moradores de favelas e periferias — sobretudo porque a maioria é composta por pessoas que se autodeclaram negras ou pardas. 
Esse tipo de preconceito internalizado se manifesta quando, por exemplo, uma pessoa negra é perseguida em um shopping ou loja; é acusada de roubo ou furto sem provas; sofre uma abordagem truculenta da polícia somente por ser negra, principalmente quando se está em uma favela. 
Além de filósofo, Almeida é advogado tributarista, professor universitário e autor do livro Racismo estrutural (Editora Pólen). Em entrevista ao canal de notícias CNN, o advogado, que é um dos principais intelectuais negros da atualidade, disse que “o racismo tem mecanismos para funcionar e um deles é fazer com que nós assumamos a culpa por aquilo que o mundo fez com a gente”. 
Para Silvio, o racismo impulsiona a articulação de operações e a violência policial contra moradores desses locais. 
“As relações sociais no Brasil e no mundo são atravessadas pela naturalização do racismo. Essa naturalização, porém, só é possível se você tiver instituições que reproduzam, do ponto de vista ideológico e político, essas relações permeadas pelo racismo. O Judiciário e o Ministério Público são coniventes com a violência policial e com o desrespeito à Constituição. É mandado de busca e apreensão coletivo, é policial entrando nas favelas e metendo o pé na porta sem mandado. Precisamos falar sobre a polícia e como a violência policial só atinge os parâmetros porque existe uma relação entre a ação da polícia, o Ministério Público, que fecha os olhos ou dá amparo para que os agentes ajam de maneira violenta, e o Judiciário, que depois confirma [essas ações]”, afirmou, em agosto de 2020, em entrevista ao site de notícias El País Brasil.

‘Fui vacinado e agora?’: epidemiologista tira dúvidas e desmente boatos

Imunização na Maré avançou, mas máscaras e distanciamento social ainda devem permanecer na rotina dos mareenses (e do resto do país) por algum tempo

Por Amanda Pinheiro em 16/08/2021 às 07h 

Editado por Tamyres Matos

Desde o início da vacinação, muitas dúvidas surgiram e até informações falsas ou distorcidas começaram a circular. Além disso, as pessoas têm mudado os comportamentos e relaxado na manutenção dos cuidados com a justificativa de que já estão vacinadas. No entanto, é necessário continuar em alerta, principalmente com as fake news em torno do tema.

Gulnar Azevedo, epidemiologista, pesquisadora e professora do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) alertou para a importância do uso de máscara após a imunização, mesmo que seja a segunda dose.

“Tem que continuar mantendo os cuidados. As pessoas vacinadas podem transmitir a doença e se infectar. Nós temos que nos cuidar, manter o distanciamento social até o momento que o Brasil declarar que a pandemia está controlada”, afirmou Gulnar.

A especialista explicou as cautelas necessárias para a utilização adequada dos EPIs (Equipamento de Proteção Individual): “As máscaras de pano precisam de camada dupla e precisam ser lavadas. Muita gente tem o costume de deixá-las abaixo do nariz, com a reclamação de que não têm como respirar direito. Mas é importante utilizar o equipamento sobre o nariz e a boca para se proteger, principalmente em ambientes fechados onde o risco de contaminação é maior. O mais importante: não dá para abrir mão dela [máscara] agora, porque ainda vamos precisar usar por muito tempo”. 

Importância da vacinação

Uma outra dúvida que ainda circula é sobre a eficácia da vacina, seja ela qual for.  Segundo pesquisas realizadas em cada imunizante contra a covid-19, a vacina diminui as chances de casos graves, como internação e a morte, mas não impede a contaminação.

“Se a pessoa esperar a doença, terá um risco de pegar covid e de forma grave, porque nunca se sabe a forma como a doença vai atingir. Ninguém tem bola de cristal. Então, é importante se vacinar, porque o imunizante diminui a forma grave, o risco de internação, UTI e a morte, até porque a letalidade não é baixa. A vacinação é a medida mais efetiva de conter a pandemia”, disse Gulnar.

A especialista relembrou que as formas mais graves da doença podem deixar sequelas: “As pessoas que pegam covid podem sobreviver e ter alta. Mas ainda é preciso lidar com as consequências como, cansaço e problemas neurológicos, que ainda estão sendo estudados”. 

Resultados #VacinaMaré

A 40ª edição do Boletim Conexão Saúde: de olho no Corona, divulgada na última sexta-feira (13/08), trouxe informações animadoras sobre o combate à covid-19 no conjunto de favelas da Maré. Segundo a publicação, 96% da população adulta da Maré (com 18 anos ou mais) está vacinada com pelo menos uma dose.

Com quase 36 mil vacinados ao longo de 6 dias, a campanha #VacinaMaré representa a força da mobilização no território para combater a pandemia | Foto: Matheus Affonso

Além da imunização em massa, a campanha #VacinaMaré auxiliou no mapeamento de moradores sem acesso às Unidades de Atenção Básica da Maré. O boletim é uma publicação do projeto Conexão Saúde, uma iniciativa da Redes da Maré, Fiocruz, Dados do Bem, SAS Brasil, Conselho Comunitário de Manguinhos e União Rio.

No entanto, mesmo quando a imunização estiver completa (com as duas doses), as precauções devem ser mantidas.

Vai ser preciso continuar usando máscara por um bom tempo após a vacinação. Isso porque a vacina se mostrou muito eficaz na redução das formas graves da doença – das internações e das mortes -, mas uma pessoa vacinada ainda pode se infectar pelo vírus sem apresentar sintomas e ser capaz de transmiti-lo.

Andrey Moreira Cardoso, pesquisador da Fiocruz, em um vídeo publicado no site da Fundação e no YouTube

Reação da vacina e testagem em massa

“Vacina boa é vacina no braço”. Essa frase tem sido repetida pelos cientistas e divulgadores científicos como mantra por conta dos relatos de reações mais intensas após a imunização. Além disso, passaram a ser divulgadas notícias falsas dando conta de que o tipo sanguíneo ou estilo de vida poderiam ter alguma relação com a reação. No entanto, segundo Gulnar Azevedo, nenhum estudo científico comprovou nenhuma dessas informações. A especialista reforçou que é comum o corpo reagir a uma substância nova.

“Não tem nenhum estudo que mostra que o tipo sanguíneo evita a reação da vacina. É muito comum o corpo reagir e cada pessoa vai ter uma forma. Tem gente que fica apenas com dores no braço, outras ficam mais cansadas, têm febre. Mas ninguém deve deixar de se vacinar por conta da reação. O importante é se imunizar e se proteger”, declarou ela, que explicou a diferença entre os testes e o porquê alguns testes dão “falso negativo”:

“O falso negativo acontece porque às vezes, os anticorpos não foram detectados. Outra coisa que pode comprometer o resultado é a qualidade do exame. Muitos laboratórios têm feito e, a princípio, as unidades do SUS são as mais seguras para a realização dos testes. Nesse momento, é preciso ampliar a oferta de testes para termos certeza de quem está infectado ou não e, assim, tentar controlar a pandemia”, concluiu.

“A mobilização do território só foi possível graças ao trabalho que fazemos há 20 anos na Maré”

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Uma entrevista com a paraibana Eliana Sousa Silva, que cresceu na Nova Holanda, uma das 16 favelas da Maré, onde morou por 30 anos e desde muito cedo começou a atuar como ativista e acadêmica. 

Por Luciana Bento – Jornalista e coordenadora de comunicação do Conexão Saúde na Maré

A operação, complexa, envolveu diferentes atores, mobilizou mais de 500 profissionais de saúde e engajou 1.620 voluntários. Ao final, contando dois dias de repescagem, 36 mil pessoas foram vacinadas com pelo uma dose do imunizante AstraZeneca. Hoje, 96% dos moradores da Maré acima de 18 anos estão vacinados com a primeira dose – número muito acima da média nacional. Números e resultados que foram comemorados e divulgados, mas uma dimensão mais sutil da campanha Vacina Maré chamou a atenção da mídia e de diferentes atores: a capacidade de mobilização de moradores e de articulação de parceiros dentro e fora do território para que a ação ocorresse em tão pouco tempo.

Uma dimensão que aconteceu em apenas duas semanas, fora dos holofotes, no chão de cada uma das ruas das 16 favelas que formam a Maré e que revelou para o País a potência de uma organização da sociedade civil que atua há mais de 20 anos no território: a Redes da Maré.  À frente da organização está a paraibana Eliana Sousa Silva, que cresceu na Nova Holanda, uma das 16 favelas da Maré, onde morou por 30 anos e desde muito cedo começou a atuar como ativista e acadêmica.  Eliana cedeu essa entrevista exclusiva para o boletim Conexão Saúde – De Olho no Corona

A adesão, os resultados, a forma como a ação aconteceu, o engajamento de influenciadores, artistas, associações de moradores, instituições locais, unidades de saúde e escolas… Esta capacidade de mobilização, esta potência no território, chamou muito a atenção durante a campanha Vacina Maré. Pode nos contar como tudo aconteceu?

Foram muitos desafios e a vacinação em massa era o principal deles, mas não o único. Foi necessário primeiro informar os moradores de que a ação iria acontecer, convencer os moradores a aderir, propagar a ideia de que a vacinação não é um ato individual, tem a ver com o cuidado e proteção coletiva, organizar a logística, engajar parceiros, angariar voluntários, mapear quem ainda não estava cadastrado na clínica da família para que ninguém ficasse excluído do processo.

Organizar tudo isso em tão pouco tempo não foi um processo mágico e sim algo construído ao longo do tempo, incluindo as parcerias necessárias e fundamentais para que as coisas aconteçam. Parcerias, articulações, produção de dados e tecnologias de mobilização que temos cultivado e experimentado ao longo dos anos. 

Estamos falando de uma expertise histórica, mas a pandemia potencializa os desafios e traz questões novas, que sequer existiam

Exato. Muita coisa tem sido construída à medida em que os acontecimentos vão se desenrolando e novos problemas surgem. Em relação à pandemia, vimos a necessidade urgente de atender pessoas que perderam renda e estavam passando fome e desenvolvemos a campanha Maré Diz não ao Coronavírus.  A partir das necessidades que detectamos no território, buscamos parcerias para a criação do projeto Conexão Saúde – De Olho na Covid – que foi fundamental para que a ação Vacina Maré fosse realizada. E agora partimos para outra fase, com o estudo liderado pela Fiocruz sobre os efeitos da vacina sobre os moradores da Maré e todos os desdobramentos que virão a partir dos resultados obtidos. 

A comunicação teve um papel estratégico nestas ações? Como é esclarecer, informar e mobilizar moradores em tempos de fake news, com tantas informações falsas circulando não só na Maré, mas em todos os ambientes?

Para mim, a informação, a comunicação e a mobilização caminham juntas. Não tem como separar. E assim como as outras tecnologias sociais que citamos, como produção de dados na favela e articulação de parceiros, a comunicação tem sido prioridade em nosso trabalho. No caso da Vacina Maré, procuramos trabalhar em 360 graus. Usamos desde megafones, na comunicação de rua até estratégias nas redes sociais, passando por veículos comunitários, informações via WhatsApp, podcasts, assessoria de imprensa e colaboração de artistas e influenciadores digitais. 

Quando envolvemos neste processo alguém como o Raphael Vicente, que é um influenciador digital da Maré, vemos a potência do capital humano presente no território, um jovem que atinge um público inacreditável, de uma forma muito eficiente. Temos que olhar para estas possibilidades e trabalhar da melhor forma com elas. Foi esta frente que possibilitou levar uma mensagem clara até as pessoas e isso é essencial. As pessoas não se engajam em algo que esteja claro que fará bem pra elas. Para além da Vacina Maré, a comunicação tem tido um papel essencial na pandemia. Se a gente for pensar na disseminação de fake news hoje, na forma como as pessoas consomem as informações falsas, é muito grave. E como em muitos momentos trabalhamos a informação científica, complexa, que é distante das pessoas, saber informar é fundamental em todo o processo. 

Você fala bastante da necessidade de construir projetos estruturantes na Maré, de organizar ações que vão além dos eventos em si. Como a Vacina Maré se insere neste objetivo de longo prazo? 

Quando falamos da perspectiva de um projeto estruturante, precisamos compreender a complexidade dos problemas e desafios que temos ali – principalmente porque não temos, nas favelas, direitos efetivados como em outras partes da cidade. Então, mais do que uma ação isolada, a campanha Vacina Maré engloba a identificação de uma demanda, produção de conhecimento, logística, organização e construção de metodologias sociais que envolvem inovação, mobilização, comunicação, informação segura. Tudo isso se desdobra na construção de políticas públicas, de efetivação de direitos. 

E como construímos um processo orgânico, legítimo e dinâmico, que envolva a população?

Para nós, esta ideia de continuidade que é a mais importante. Ela tem a ver com o direito à saúde de qualidade, entender as demandas que os moradores têm, saber as reais condições de vida e bem-estar destas pessoas, que ações preventivas podem ser implementadas… 

Com a vacinação caminhando, como você enxerga o porvir – não só na Maré, mas a nível global?

A pandemia está dando uma medida mais clara de como a sociedade precisa se envolver para que as coisas mudem de rumo. A vacinação é de interesse público, acima de qualquer questão. Vivemos um momento complicado onde as questões coletivas são colocadas em xeque a todo momento, sobretudo no Brasil. Temos que reconhecer esta potência coletiva, de tanta coisa que foi feita pela sociedade civil durante a pandemia, mas também de olhar para os desafios e fragilidades que temos como País, especialmente dentro do campo da saúde. Acredito que nossa situação no Brasil não é pior por causa do SUS, da sua construção e papel ao longo das últimas décadas, do engajamento e compromisso de seus profissionais.Acho que vamos ter que olhar as perdas que tivemos, que não foram poucas. Perdas humanas, mas também em outras áreas, de sucateamento de equipamentos públicos, perdas de direitos, de esperança ao vermos tanta gente passando fome, de questionamento da ciência…  Com a vacina vamos ter a possibilidade de respirar e avaliar como a gente está saindo disso tudo, sabendo que ela não é uma solução mágica. Daqui pra frente, não tem como fugir: é o cuidado com a vida coletiva, com o meio ambiente, com os desequilíbrios e desigualdades. A solução está com a gente.