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Minutos que valem vidas

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Pandemia faz doação de sangue diminuir e demanda aumentar

Maré de Notícias #125 – junho de 2021

Por Hélio Euclides

Com a pandemia do covid-19, o adoecimento de parte da população e receio de contrair o vírus fez com que as pessoas circulassem menos e os bancos de sangue registrassem uma grande queda nas doações. No Instituto Estadual de Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcanti (Hemorio), no Centro, as doações diárias chegaram a 250, no início do ano passado. Hoje, não ultrapassam 13.

Apesar da queda, o instituto continua a distribuir sangue coletado para mais de 200 hospitais. Foram criadas campanhas de incentivo para doação de sangue não apenas pelo Hemorio  como por empresas privadas – os aplicativos de corridas Uber e 99 decidiram subsidiar corridas no valor de até R$ 30 para quem fosse doar sangue. Luiz Amorim, diretor geral do Hemorio, diz que há ainda ações permanentes, como o posto itinerante para receber doações, com 16 profissionais cada. “Fazíamos muitas dessas ações em universidades, que agora estão fechadas”. Ele explica que, para atender a grupos que desejam doar sangue, é importante conseguir mais de 50 pessoas e contar com um local adequado. Outra opção é reunir 12 voluntários e acionar o Hemorio, que dá o transporte.

Tatuagens e orientação sexual não são mais impeditivos,  a recomendação é que espere seis meses após as tatuagens e, um ano, no caso de piercings (excetuando-se os orais e genitais). E o Supremo Tribunal Federal (STF) permitiu a doação de sangue, independentemente da orientação sexual. O impeditivo se refere ao número de parceiros; isso vale para todos os voluntários.

A doação como rotina na vida

Com a pandemia, o movimento de voluntários caiu pelo medo de ir aos hospitais, onde ficam os bancos de sangue. “Uma pena que isso esteja acontecendo. Mesmo em meio ao caos, as pessoas continuam precisando de transfusão e de cirurgias”, diz Leny de Aquino, moradora do Parque União e doadora no Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) há 5 anos.

Em 2016, iniciou-se uma campanha entre moradores da Maré para doação de sangue no Hospital de Bonsucesso. A iniciativa partiu do Programa Academia Carioca, do Centro Municipal de Saúde da Vila do João e da Clínica da Família Adib Jatene, na Vila dos Pinheiros. A primeira ação reuniu 16 pessoas; já na segunda, o número aumentou para 30. Em 2017, foram mais de cem pessoas.. Em 2018, esse número cresceu para 130 voluntários. De 2019 para cá, porém, o número de doações vem caindo: de 70 para 30 doadores, em 2020. Já neste ano, foram apenas 14 voluntários.  

“Doar é o ato mais nobre que o ser humano pode ter. Acho que são necessárias mais campanhas. Elas precisam invadir locais que reúnem muitas pessoas. Na Europa, o jogador de futebol Cristiano Ronaldo virou garoto-propaganda da doação de sangue; falta isso por aqui”, destaca Leonardo Borges, idealizador do projeto e educador físico nas Atividades Integradas às Equipes de Saúde (NASF).

Valdenia Barroso, de 44 anos, moradora da Vila do João, participa da campanha da Maré desde o início. “O grupo nos ajuda a perder o medo. Através dele consegui levar a minha família. Para quem doa são alguns minutos mas, para quem recebe, é uma vida inteira. Não é um bicho de sete cabeça”, diz ela.

Requisitos para uma boa doação

Para ser um voluntário, basta ir ao banco de sangue, apresentar um documento oficial com foto e responder a um questionário. O candidato passa por uma entrevista e é examinado por um profissional de saúde – o sigilo das informações é garantido. Caso haja aprovação, é feita a coleta de sangue, que dura no máximo dez minutos. Todo o material utilizado é estéril e descartável. Ao final, o doador recebe um lanche.

Para a coleta ter sucesso é preciso que o doador tenha entre 16 e 69 anos, no mínimo 50 quilos e esteja bem de saúde. Jovens com 16 e 17 anos podem doar com autorização dos pais ou responsáveis legais (o modelo está disponível em: http://www.hemorio.rj.gov.br/Html/PDF/Menor_idade.pdf) e mais um documento de identidade original do tutor que assinou a permissão. Não é necessário jejum, mas deve-se evitar alimentos gordurosos nas três horas que antecedem a doação.

Onde fazer a doação de sangue

  • Hemorio: Rua Frei Caneca, 8, Centro. Horário de funcionamento: todos os dias (inclusive feriados e fins de semana), das 7h às 18h. Informações: 0800-282-0708.
  • Santa Casa da Misericórdia: Rua Santa Luzia, 206, Centro. Horário de funcionamento: de segunda a sexta, das 7h30 às 16h. Informações: 2220-7332 / 99468-8972.
  • Instituto Nacional do Câncer (INCA): Praça Cruz Vermelha, 23, 2º andar, Centro. Horário de funcionamento: de segunda a sexta, das 7h30 às 14h30. Aos sábados, das 8h às 12h. Informações: 3207-1021 e 3207-1580.
  • Hospital Universitário Clementino Fraga Filho: Avenida Brigadeiro Trompowsky, s/nº, 3º andar, Cidade Universitária. Horário de funcionamento: de segunda a sexta, entre 8h e 13h30. Informações: 3938-2305 ou pelo e-mail: [email protected].Hospital Federal de Bonsucesso: Avenida Londres, 616, no térreo do Prédio Quatro. Horário de funcionamento: de segunda a sexta, das 7h30 às 12h. Informações: 3977-9576.

Semana começa com a vacinação contra a Covid-19 para quem tem 53 anos

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Por Redação, em 14/06/2021 às 11h22

Com a antecipação do calendário de vacinação contra a Covid-19 para o público em geral, a semana começa com a aplicação da primeira dose, nesta segunda-feira (14/06), nas pessoas de 53 anos. O atendimento ocorre  em dois turnos: mulheres pela manhã (das 8h às 13h) e homens à tarde (das 13h às 17h).

O calendário vai avançar de forma escalonada na idade até sábado (19/06), quando será vacinado quem tem 50 anos ou mais. Vale lembrar que os postos de vacinação também estão aplicando a segunda dose.

– A gente aqui não para de pensar em como acelerar a vacinação. Então, vem aí mais uma boa notícia. Semana que vem, vamos vacinar todo mundo até 50 anos de idade! Inclusive eu na quinta-feira. Preparem seus braços que a agulha vai entrar! – publicou o prefeito em suas redes sociais, semana passada, parabenizando o Ministério da Saúde, a Fiocruz e o Instituto Butantan.


Raio-x da saúde na Maré

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Como unidades de saúde estão trabalhando em meio ao segundo ano da pandemia 

Por Hélio Euclides, em 14/06/2021 às 06h

Editado por Edu Carvalho

Em 1994, o recém criado bairro Maré, só contava com uma unidade de saúde na Praia de Ramos. Para melhorar o atendimento na região, foram utilizados os espaços odontológicos dos seis CIEPs do território, para abertura de postinhos. Na Vila do João a gestão era da UFRJ. Em Marcílio Dias a responsabilidade era dos Médicos Sem Fronteiras. Com o passar do tempo, as pequenas unidades deram lugar a três Centros Municipais de Saúde (CMS) e quatro Clínicas da Família (CF). Apesar dos avanços, unidades ainda sofrem com problemas estruturais.

O CMS Vila do João é a única unidade que utiliza o mesmo espaço do passado, com adaptações. Isso ainda traz consequências, como problemas com o telhado. O posto já foi matéria no Maré de Notícias, quando vazamentos destruíram parte da sala de atendimento odontológico. Até o momento, o consultório continua interditado. Para piorar, parte da unidade se encontra com falta d’água, o que impossibilita o uso dos banheiros, isso em uma pandemia. Em plena vacinação, é possível encontrar uma geladeira parada por defeito, que possui gerador que após falta de energia funciona por até duas horas. Um profissional que preferiu não se identificar disse que apesar dos problemas, esse ano ainda foi melhor do que 2020. Já que foi adquirido uma geladeira e ocorre mensalmente a manutenção dos aparelhos de ar-condicionado, algo que não vinha acontecendo. 

Em 2018, foi inaugurada a CF Clínica da Família Diniz Batista dos Santos, que tem seu prédio fora do território, na avenida Brigadeiro Trompowski, próximo ao BRT Maré. O grande problema é o acesso, que dificulta o atendimento de idosos e cadeirantes. Na passarela que liga o Parque União a unidade, o paciente precisa descer 35 degraus para se consultar. Menos de um mês depois surgia a CF Jeremias Moraes da Silva, na Nova Holanda. Após acordo com o governo estadual que cedeu parte de um prédio, foi possível o funcionamento da unidade. Por ser uma adaptação, a edificação não tem luz elétrica e até hoje funciona por meio de gerador. Por duas vezes o atendimento teve de ser interrompido por falta de óleo diesel. 

Um problema que atinge as unidades da Maré é a falta de médicos para atender todas as equipes da família. Por sorte, os poucos profissionais que atuam na Maré se identificaram com o lugar e com seus pacientes. Gerentes das CF e CMS dizem que é preciso uma adaptação de novos médicos, o que muitas vezes não acontece tão rápido e há uma desistência grande de profissionais que vem para o território. 

Vacina contra o coronavírus sim, mas sem direito à protesto

Ao percorrer as unidades de saúde da Maré, percebe-se um problema que vem ocorrendo no país: a desistência da segunda dose da vacina, com profissionais não sabendo precisar o não retorno para a imunização. Entre hipóteses, alguns listam a influência de notícias falsas e desinformação (como acreditar que já estão totalmente protegidos apenas com a primeira dose ou medo de uma possível reação, algo comum na primeira dose da vacina AstraZeneca), como fatores determinantes na dinâmica. Para reverter essa situação, agentes de saúde estão indo às casas de moradores para lembrar do compromisso e completar a imunização contra a covid-19.

Em diversos lugares do país, o início da campanha chegou a ter problemas como seringas vazias ou aplicação incorreta. Para resolver essas questões, o Ministério da Saúde recomendou a filmagem ou fotografia da imunização. Muitas delas mostram acabam exaltando o Sistema Único de Saúde (SUS), mas nem sempre o movimento é visto de ‘’bom tom’’. 

É o caso de uma moradora da Maré que preferiu não se identificar. A cidadã disse ter sido reprimida ao tentar se vacinar com uma camisa com a sigla sistema único. Também no território mareense, Douglas Lopes, morador do Morro do Timbau, tentou segurar nas mãos um papel onde trazia críticas ao governo federal e o dizer ‘’Bolsonaro genocida’’, mas foi impedido por agentes. “Quando fui tomar a vacina, um dos profissionais tinha uma bandeira do Brasil do lado direito do jaleco e não permitiu que eu segurasse um papel escrito. Não sei se tem resquício da gestão passada, pois já vi pessoas indo trabalhar com a camisa da religião do ex-prefeito [Marcelo Crivella]’’, conta. O morador relata que no momento houve discussão. Todos os dois episódios ocorreram na Clínica da Família Augusto Boal, que fica em frente ao Morro do Timbau.

É preciso avançar na saúde

Sobre o assunto imunização, a Secretaria Municipal de Saúde do Rio, a SMS, informou que mais de 35 mil doses contra o coronavírus foram aplicadas  no território da Maré, nas unidades Vila do João, Augusto Boal, Américo Veloso e João Cândido; Diniz Batista dos Santos, Jeremias Moraes da Silva e Adib Jatene, sendo pouco mais de 26 mil as de primeiras doses (D1) e 8 mil para segunda (D2). A SMS destaca que o total da população idosa dessas favelas é de 18.294 pessoas. 

Em comunicado, a secretaria adiantou que há processo seletivo aberto para contratação de novos profissionais para as unidades. Garantiu ainda, que as manifestações individuais não são reprimidas e que vai apurar os relatos.Sobre as estruturas, a SMS acrescentou que encontrou, em janeiro de 2021, num cenário desafiador, com unidades sem abastecimento adequado de insumos e materiais necessários e problemas causados por meses de falta de manutenção estrutural. Disse que atualmente todas as unidades são abastecidas regularmente e as necessidades estruturais estão sendo atendidas de forma gradual, obedecendo os critérios de prioridade. Por fim, enfatizou que a coordenação de saúde da Área Programática (CAP 3.1) acompanha e fiscaliza o planejamento, execução e entrega das necessidades de cada unidade.

Precisamos falar sobre bissexualidade nas favelas e periferias do Brasil

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Por Amanda Pinheiro, em 12/06/2021 às 06h

Editado por Edu Carvalho

Entre as diversas temáticas discutidas dentro da pauta LGBTQIA+, um assunto ainda é pouco debatido: a bissexualidade, pessoas que se relacionam de forma afetiva, sexual e emocional com homens e mulheres (cis ou trans). Um tema que, apesar de muitas opiniões e cercado de mitos, ainda não é totalmente abordado nas favelas e periferias. Nosso texto não pretende ser um ponto final na abordagem, levando em consideração a multiplicidade do tema. Mas é uma forma de começarmos.

Representada pela letra B do LGBTQIA+, a bissexualidade não é uma confusão, indecisão, nem uma fase experimental da vida. Para Marcos Diniz, morador da Maré, escritor e ator, essas pautas, sobretudo nas favelas, sofrem com um atraso e certo descrédito.

Marcos Diniz. Arquivo pessoal

‘’Para mim, não há diferença entre ser bissexual na favela ou fora dela, pois minha sexualidade não é validada dentro ou fora da Maré. Minhas relações sempre foram atravessadas pelo preconceito, questionadas e não respeitadas independentemente de onde quer que eu estivesse. Estamos sempre tendo que provar nossa “existência” e que nossa vivência é válida em todos os sentidos. A pauta da bissexualidade é importante na mesma proporção em que ela é esquecida de muitas discussões. Ela não é devidamente visibilizada dentro da sociedade heteronormativa, tampouco no meio LGBTQ+’’, declara Marcos.

Em 2020, Marcos lançou o livro “Decididos: uma celebração bissexual”, pela editora Margens. Segundo ele, a ideia de organizar a antologia de contos com diversos autores surgiu da necessidade de se ver representado e ter personagens bissexuais também pela mesma perspectiva. 

‘’Muitas vezes, a grande parte da representatividade que temos é com o olhar que se tem da favela: estereotipado e equivocado. Então, nessa minha necessidade de me ver protagonista de histórias e mais que isso, ver bissexuais sendo protagonistas de histórias diversas, foi que pensei na antologia Decididos. E outra coisa pensada na época foi que mais do que reunir escritores bissexuais escrevendo sobre nós, eu queria outres autores escrevendo sobre nós. Por isso o livro tem autores homossexuais, heterossexuais, pansexuais. Afinal de contas, se nós bissexuais podemos escrever história sobre eles porque eles não podem escrever sobre nós’’ disse. 

Aos 19 anos, Magda Gomes, moradora da Rocinha, que hoje tem 25 anos, se sentiu interessada por uma colega de turma da faculdade. Segundo ela, não houve resistência da parte dela, nem da família, quando precisou contar que estava se relacionando com outra mulher. 

Magda Gomes. Reprodução: Instagram

‘’Era um domingo, cheguei em casa para almoçar e disse: “mãe, essa aqui é..” e antes de terminar a frase ela completou perguntando: “sua namorada?” No reflexo respondi que sim, fomos todos almoçar e desde de então não se falou mais nisso. Ela, minha tia e minha avó, não fizeram nenhum comentário desrespeitoso. Mas a outra parte da minha família, em grande parte, sempre falava: “a Magda está está confusa, daqui a pouco isso passa”, relembrou. 

Ela acredita que nas favelas, o assunto ainda é um tabu, sobretudo quando se trata de homens bissexuais. No entanto, apesar dessas dificuldades, celebrou o amor e espera por mais respeito em relação à pauta.

‘’Queria que tivesse um entendimento coletivo e respeitoso sobre as mais diversas formas de amar e ser amado. E que nós, LGBTQIA+, somos múltiplos, diversos. É como diz Lulu Santos: “Consideramos Justa toda forma de amor” — concluiu. 

Na Maré, uma intervenção artística do produtor cultural e conselheiro tutelar Carlos Marra visa colocar ainda mais visibilidade sobre a temática, englobando todas as nuances da sigla e as diversas formas de amor e demonstração contida nelas. Confira o papo, produzido e editado por Matheus Affonso.


Ronda: para Fiocruz, altas taxas de ocupação de leitos de UTI indicam ‘terceira onda’

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Por Edu Carvalho, em 11/06/2021 às 17h

Queridos leitores, temos novidade!
A pandemia impactou de forma diferente as favelas e periferias no Brasil, e como jornal comunitário e periférico que somos, tivemos grande responsabilidade na divulgação de notícias que pudessem mitigar as enormes consequências sentidas em territórios periféricos. 

Diariamente, durante seis meses, publicamos a Ronda Coronavírus, um espaço dedicado aos dados da covid-19 na Maré, na cidade e os seus impactos. Em novembro de 2020, ela se tornou semanal e virou a Ronda Maré de Notícias, ampliada com assuntos culturais, econômicos, políticos e sociais. 

Toda sexta-feira a nossa Ronda mostra o que de fato virou notícia na Maré e o que importa no Brasil. Mas a partir de agora, você pode ouvir nosso conteúdo. 

Em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro, a UFRJ, lançamos o podcast Ronda Maré de Notícias. Já no ar!

– Os editores

O cenário não é o melhor. No momento atual, a pandemia do coronavírus no Brasil se configura como de alto risco. 

Em 20 estados e no Distrito Federal, bem como 17 capitais encontram-se com taxas de ocupação iguais ou superiores a 80%. Quem aponta é a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no mais recente Boletim Observatório Covid-19. A combinação de um número alto de casos, ligeira queda de óbitos e a maior parte dos estados com altas taxas de ocupação de leitos UTI Covid-19 para adultos no SUS demanda muita atenção e prudência, sendo prematuro considerar que há uma “queda sustentável de casos e óbitos” ou que estamos entrando em uma “terceira onda”.

Quanto às medidas de enfrentamento a serem adotadas, enquanto a maior parte da população não está vacinada, os pesquisadores afirmam que, com exceção do bloqueio/lockdown (que é uma medida mais forte e que deve ser adotada para os estados e municípios com taxas de ocupação de leitos UTI Covid-19 de 85% ou mais), devem incorporadas algumas ações fundamentais.

Situação da pandemia no Rio

A Prefeitura do Rio prorrogou, até o dia 28 de junho, as medidas de restrição contra a Covid na cidade. O decreto foi publicado no Diário Oficial desta sexta-feira (11) e reiterado na 23ª divulgação do Boletim Epidemiológico da capital. 

Segundo a determinação, permanecem suspensos o funcionamento de boates, danceterias e salões de dança; realização de festas que necessitem de autorização transitória, em áreas públicas e particulares.

Desde março de 2020, o município do Rio totalizou 340.672 casos de Covid-19, com 27.173 óbitos. Somente em 2021 foram 134.512 casos e 8.543 mortes. A taxa de letalidade deste ano está em 6,4%, e a de mortalidade, em 128,2 a cada 100 mil habitantes. A incidência da doença é de 2.019,3/100 mil. O boletim indicou ainda a permanência de todas as 33 regiões administrativas do município na classificação de alto risco para a transmissão da Covid-19, considerando as internações e óbitos, pela quinta semana seguida.

Covid-19 na Maré

A 35ª edição do Boletim Conexão Saúde – De Olho no Corona, com dados coletados na primeira semana do mês de junho constata: a cada 100 pessoas testadas na Maré nas últimas duas semanas, 15 delas estavam infectadas pelo coronavírus.

A análise é feita a partir de um panorama geral dos casos, óbitos e vacinação na Maré e Manguinhos, levando em consideração os dados oficiais do governo municipal e também os produzidos pelo projeto Conexão Saúde – De olho na Covid por meio dos Centros de Testagem, dos atendimentos em telemedicina e do Programa de Isolamento Domiciliar Seguro.
O boletim é uma publicação do projeto Conexão Saúde, uma iniciativa da Redes da Maré, Fiocruz, Dados do Bem, SAS Brasil, Conselho Comunitário de Manguinhos e União Rio

De acordo com o Painel Unificador COVID-19 Nas Favelas, o Conjunto de Favelas da Maré ainda figura como 1º lugar nos registros de óbitos e casos. Ao todo, são 4940 casos e 277 mortes no território. Na lista, a ordem com principais pontos de infecção e óbitos estão Rocinha, Alemão, Fazenda Coqueiro e Complexo do Lins. Até o fechamento desta edição da Ronda, o país contabilizava 482.135 óbitos e 17.215.159 casos, segundo o consórcio de veículos de imprensa (Globo, Jornal O Globo, Extra, Folha, Estado de São Paulo, G1 e UOL).

Sem pular fogueira – de novo 

Não tem jeito: basta junho despontar no calendário e aquela vontade louca de se aprumar com um par e sair pulando fogueira ‘’iáiá, iôiô’’ começa. Não é por menos. Mês onde os festejos são dedicados à Santo Antônio

Pela Maré, bandeirinhas estariam tremulando no Parque União e na Baixa do Sapateiro. No Alemão, canjica e milho poderiam ser devorados na Igreja Nossa Senhora de Guadalupe, que fica na nova Brasília. Na Rocinha, a sede do anarriê seria a Igreja Nossa Senhora da Boa Viagem. 

E pelo Rio saltariam as opções de diversão e bom : a da Rua Lauro Muller, em Botafogo; o Arraiá do Parque Guinle, em Laranjeiras; ir até a Baixada para ver a Quadrilha Chico Amaro, em São João de Meriti, sem deixar de passar pela tradicional Festa Junina da Feira de São Cristóvão. 

Por enquanto, é hora de guardar o vestido de chita, a camisa xadrez e o chapéu de palha pra quando puder. Vai passar.

#UseMáscaraMorador 

Com o aumento do número de casos desde o início da pandemia, o Maré de Notícias faz um apelo: usem máscara. Ontem, o presidente da república Jair Bolsonaro afirmou ter discutido com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, o fim da obrigatoriedade do uso da proteção individual para quem já foi vacinado contra a Covid-19 e também para quem já a contraiu.

Façamos o contrário. Mesmo vacinados, não deixem de usar máscara e o fazer isolamento social, únicas saídas para o combate ao coronavírus.

Clique aqui para ver o manifesto que conta com a participação de líderes comunitários, moradores de diversas favelas do Rio, o jornalista Manoel Soares e as atrizes Taís Araujo, Debora Bloch. 

Maré de cultura

Estreou nesta semana a quarta temporada do podcast Olhando pra Dentro. 

A nova leva conta com 10 episódios que busca ressignificar o luto através de conversas honestas sobre o tema. Vale maratonar e conferir todos os papos, comandados por Fernanda Sigilião, que recebe desta vez a jornalista Camila Appel, a cantora Clarice Falcão, Mariana Clark, Gabriela Casellato e mais convidados. Ouça no Spotify e demais plataformas de aúdio. 

Se você mora no Rio, um aviso: um dos equipamentos de cultura mais relevantes para a arte carioca, o Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto, será reaberto no sábado, 12 de junho. Das 9h às 15h, artesãos e brecholeiras de toda a cidade estarão a postos para a estreia da Feirinha do Sérgio Porto, além da Gastromotiva (gastronomia social) e o Acarajé da Catia, entre outros.  Haverá apresentação do poeta Chacal com o icônico CEP 20.000 (10h); o ator Bruce Gomlevsky – eternizado como Renato Russo no teatro – cantando músicas de amor (11h) e o ator, produtor e DJ Rodrigo Penna (Bailinho; 12h). 

A entrada será gratuita, mas restrita a até 40% da capacidade (40 pessoas ao mesmo tempo). Haverá álcool em gel, controle de entrada e saída de visitantes, medição de temperatura na porta e demais medidas protocolares, como distanciamento e a obrigação do uso de máscaras.

Vai até dia 16 de agosto, no CCBB do Rio, a exposição Nise Da Silveira – A Revolução Pelo Afeto, com 90 obras de clientes do Museu de Imagens do Inconsciente, ao lado de peças de Lygia Clark e Zé Carlos Garcia, fotografias de Alice Brill, Rogério Reis e Rafael Bqueer, vídeos de Leon Hirzsman e Tiago Sant’Ana e aquarelas e fotos de Carlos Vergara. A exposição é gratuita, mas é necessário agendar no site Eventin e cumprir protocolos sanitários. #DicaDoMeio

Anelis Assumpção, Lenna Bahule e Emicida estão entre os convidados da Festa dos Batuques Paulistas, que realiza shows e rodas de conversa até domingo. #DicaDoMeio

A escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie é a entrevistada do próximo Roda Viva, da TV Cultura, que vai ao ar nessa segunda. Estudiosas do feminismo como Djamila Ribeiro e Carla Akotirene compõem a bancada. #DicaDoMeio

Perdeu o conteúdo da semana? Confira nossos destaques! 

Segunda-feira (07/6)

Moradores da Praia de Ramos comemoram Dia do Meio Ambiente com conscientização, por Hélio Euclides 

Covid-19: Secretaria de Saúde distribui mais de 247,7 mil doses de vacinas, por Redação

Veículos digitais lançam nova associação; Ajor nasce com 30 associadas e foco em desafios do jornalismo, por Edu Carvalho

Terça-feira (08/6)

Capital e estado do Rio preparam-se para possível terceira onda da covid-19, por Edu Carvalho e Hélio Euclides 

Circuito de vans na Maré tenta melhorar mobilidade para moradores, por Hélio Euclides 

Regiões da Maré sofrem com galerias de águas pluviais e descarte de esgoto inadequado, por Hélio Euclides 

Gato Mídia abre inscrições para Laboratório Afrofuturista de narrativas cinematográficas, por Redação

Lei para que uniforme policial no RJ tenha câmera é sancionada; prazo para instalação é vetado, por G1

Quarta (09/6)

Jovem grávida morre durante operação policial no Lins de Vasconcelos, por Edu Carvalho

Falcons University capacita líderes sociais para ampliar o impacto das ONGs no Brasil, por Redação

Conselho de Ética aprova perda de mandato da deputada Flordelis, por Agência Brasil 

Rio pode ter programa de reforço escolar para alunos da Rede Municipal, por Redação

Quinta (10/6)

A cada 100 pessoas testadas na Maré nas últimas duas semanas, 15 tiveram resultado positivo para covid-19, por Edu Carvalho

Projeto quer incentivar produção de soluções para Baía de Guanabara, por Edu Carvalho

Covid-19: Rio suspende vacinação de grávidas por falta de doses, por Agência Brasil 

Covid-19: Prefeitura vacinará quem tem 50 anos ou mais até o fim da semana que vem, por Redação 

Sexta-feira (11/6)

Conto: ‘Alice sem país das maravilhas’, por Tarcisio Salazar

Nova Iguaçu apresenta política pública para direitos humanos inédita na região, por Redação

Educação de jovens e adultos está com matrículas abertas para quem tem a partir de 15 anos, por Redação

Conto: ‘Alice sem país das maravilhas’

Por Tarcisio Lima Salazar, em 11/06/2021 às 10h26

Editado por Dani Moura e Edu Carvalho

Ontem assisti ao filme “Anjos do Sol”. Lembrei de Alice, mas ela não cresceu no país das maravilhas. Cresceu sem pai, com o sonho destruído aos 11 anos de idade, quando começou a ser estuprada pelo padrasto. Ela fazia aquilo sem sentimento, sem amor. Ele, depois da ejaculação, vivia como se fosse natural. A mãe trabalhava fora como prostituta. Alice não desconfiava. Nem das vezes que os dois apareciam loucos de cocaína. 

A mãe começou a cheirar quando ela tinha 9 anos, soube depois. Vendeu a casa, a moto e a Van que alugava para lotada ao longo do tempo por efeito da droga.  

Não teve a sorte de ter sido um feto abortado. Mas teve que abortar quando engravidou do padrasto. A mãe ficou do lado dele, como muitas mães dependentes financeira ou psicologicamente. Para ela, a filha era uma vagabunda que se deitava com o  macho dela.

– Ainda boto você pra fora de casa. 

Essa frase ecoava no seu pensamento.

Com 14 anos ela já passou a sonhar em encontrar um amor. Um homem que virasse seu marido e lhe tirasse da vida que levava ao lado da mãe, que já era viciada. No começo a sensação da droga era maravilhosa. Mas o fim é o mesmo. Toda carreira de pó acaba com a carreira na vida.

A mãe prostituía a filha para sustentar o vício e pagar o aluguel de casa. O padrasto sabia, também lucrava com aquilo. Só quem não conhecia o lucro era Alice, escrava do vício alheio. Ela tinha um corpo de menina, não consigo digerir como sentiam prazer com aquilo.

Parou de estudar no primeiro ano do Ensino Médio. O que fez com muito esforço, pois nunca tivera incentivo para o estudo. Uma mãe semianalfabeta não a estimulou. Livros em casa só os que ganhava na escola, que viviam empoeirados embaixo da cama.

Pensava em ter uma família, uma casa, levar uma vida tranquila. Encontrou conforto quando aceitou Jesus, aos 18 anos, como seu Salvador. A bíblia prometia um mundo de redenção para vida infeliz que ela tinha levado. Conheceu Rodrigo na igreja, que lhe tirou do teto da mãe e a levou para morar junto dele, que trabalhava como policial e tinha 24 anos.

A convivência é tranquila, só brigam por causa de sexo. Ela, às vezes, não quer, pois sente os traumas da infância, ele, até que tenta compreendê-la, mas nunca pode imaginar o horror que ela sofrera.

Com isso, ele encontrava prazer na pista, entre um plantão e outro. Rodrigo foi seu primeiro amor. Antes ela não conhecia a sensação de ser tocada com carinho, não teve afeto. A mãe nunca disse “eu te amo”. Era jogada de lado depois de se sentir  suja com esperma do padastro. Com Rodrigo  foi a primeira vez que ela chegou ao orgasmo.

Soube que está grávida, vai ser mãe de uma menina, cujo nome será Vitória. O motivo é que até ali, Alice só tinha levado uma vida sem glória, vencida pelo efeito do esquecimento. Ela também voltou a estudar.

Tarcísio Lima Salazar tem 26 anos, é pai de 2 filhos e trabalha como encarregado em um supermercado. Participou da Flupp, da antologia “Je suis encore favela” pela editora francesa Anacanoa Editions. Gosta de ler Sérgio Vaz, Ferréz e outros autores que também fazem da periferia sua inspiração para escrever.