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Elas por elas: Conheça a Rede de Apoio às Mulheres da Maré

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Grupos discutem ações para atendimento às mulheres que sofrem violência doméstica

Thaís Cavalcante

Respeitando o distanciamento social, a Rede de Apoio às Mulheres da Maré reuniu virtualmente cerca de 50 mulheres nesta terça-feira (01) para propor o Fluxo de Atendimento às Mulheres em Situação de Violência. As participantes representavam organizações com o único objetivo: garantir que a mulher de favela possa viver sem violência. Fazem parte da rede a ONG Luta pela Paz, Centro de Referência de Mulheres da Maré (CRMM), Centro de Referência para Mulheres Suely Souza de Almeida (CRM), Casa das Mulheres (Redes da Maré), Observatório de Favelas, Caps II – Carlos Augusto da Silva (Magal) e a CAP 3.1.

Mesmo que os casos de violência doméstica tenham crescido durante a pandemia, o tema é antigo e recorrente. As denúncias ao Disque 180 aumentaram em 14% nos quatro primeiros meses do ano, comparado ao mesmo período de 2019. Os dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH) apontam que foram feitas 37,5 mil denúncias apenas no primeiro quadrimestre de 2020. 

O encontro levantou os desafios do enfrentamento à violência de gênero, mas também demandas e soluções pensadas por quem compõem a rede. As campanhas e ações isoladas podem garantir uma maior força se articuladas em conjunto. É como percebe Viviane Santos, assistente social da ONG Luta Pela Paz. “A gente chegou à conclusão de que era importante as instituições construírem esse fluxo. Principalmente na tentativa de fortalecer os três serviços de referência que existem na Maré e Fundão, como o Centro de Referência de Mulheres da Maré, Casa das Mulheres e o Centro de Referência para Mulheres Suely Souza de Almeida, da UFRJ”, comenta Viviane.

Denunciar não é a única forma de romper a violência de gênero, mas uma das formas. Buscar apoio, informações e ter a liberdade de opinião também devem ser opção para quem busca assistência. Afinal, a violência de gênero é uma violação de direitos humanos. Segundo Adriana Silva, do CRM, as próprias instituições que lidam com a vivência das moradoras precisam estar preparadas para serem acolhedoras e esclarecer dúvidas, como a existência do atendimento igualitário às mulheres trans, por exemplo.

Atendimento à mulher na Maré

O Conjunto de Favelas da Maré é rico em atendimento especializado às mulheres em situação de violência, se comparado a outras favelas do Rio de Janeiro. Isso pretende se estruturar ainda mais com o Fluxo de Atendimento às Mulheres em Situação de Violência. O mapeamento de coletivos, projetos e lideranças devem facilitam esses atendimentos, além de encaminhar casos e também recebê-los. No centro da discussão está o Atendimento Especializado do Território e, paralelamente, as Redes de Apoio (Saúde) e o Sistema de Assistência Jurídica e Segurança Pública. Uma instituição apoia a outra, caso uma não esteja disponível ou seja suficiente para a necessidade da mulher que busca assistência.

O atendimento especializado no território teve início nos anos 2000, com a criação do Centro de Referência de Mulheres da Maré (CRMM). O centro surgiu por meio de um convênio entre a Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH) e a ONG Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação (CEPIA) e desde 2004 é um projeto de extensão da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Desde o seu surgimento que o espaço apoia e amplia iniciativas cidadãs. A reunião foi como um processo de construção para melhorar ainda mais o que acontecia presencialmente e com limites territoriais. Outras instituições surgiram no território, como a Casa das Mulheres da Maré, que além de atendimento sociojurídico e psicológico gratuito, realiza cursos de capacitação para as mulheres da Maré.

Gabriela Celestino, enfermeira do CAPSad Miriam Makeba, começou a atuar na Casa das Mulheres recentemente. “A gente tem atendido mulheres que apresentam um sofrimento que, inicialmente aumentou na pandemia, mas não só. Acho muito interessante entender como funciona e ajudar nessa construção e nos encaminhamentos”.

Com essa articulação de atendimentos, a luta continua. A Rede de Apoio às Mulheres da Maré realiza encontros semanais on-line entre as instituições participantes e pretende oferecer uma capacitação sobre violência de gênero. Uma forma de somar forças e encontrar soluções para as mulheres do território.

Busque apoio com as instituições da Rede de Apoio às Mulheres da Maré:

Casa das Mulheres da Maré

Telefone: (21) 3105-5569

Centro de Referência de Mulheres da Maré – Carminha Rosa 

Telefone: (21) 3104-9896

http://www.facebook.com/crmmmare/

Centro de Referência para Mulheres Suely Souza de Almeida

Telefone: (21) 3938-0600

http://www.facebook.com/crmssa/

Luta Pela Paz

Telefone: (21) 3104-4115 

http://www.facebook.com/LutapelaPaz/

Observatório de Favelas

Telefone: (21) 3888-3220

http://www.facebook.com/Observatoriodefavelas/

Ronda Coronavírus: Finais de semana de praia cheia e aumento do número de casos

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Aprovação do Fundeb na última semana de agosto garante direito à educação na Maré

Mesmo com a permissão do banho de mar e proibição de se permanecer nas areias, o que se viu no Rio de Janeiro no final de semana foram praias cheias e população ocupando grandes faixas de areia. Diferente do projeto de cercadinho que foi proposto no início de agosto, que visava evitar aglomeração, a imagem que se viu parecia de um final de semana de uma cidade sem pandemia. Mas esta não é a realidade: nesta segunda-feira foram confirmados mais de 223,6 mil casos e 16 mil mortes no estado, segundo Secretaria de Estado de Saúde. 

Desde o início da pandemia, o país registrou 3.862.116 ocorrências e 120.896 mortes por Covid-19. A média móvel de mortes do país é de 875 vítimas por dia, a menor desde 21 de maio. Enquanto os números de novos casos e mortes e as médias móveis nacionais tendem a diminuir, a do estado do Rio segue em tendência de alta. No dia 30 de agosto, a média registrada foi de 1.764 infectados e 105 vítimas da Covid-19. Um aumento de 55% em relação a 14 dias.

Covid-19 nas favelas

As favelas do Rio somam, até o momento, 10.157 casos confirmados e 1.477 mortes pelo novo coronavírus, segundo Painel Unificador Covid-19 nas Favelas do Rio. A Maré tem 559 casos confirmados e 92 mortes, de acordo com o painel da Prefeitura. Além dos números oficiais, o conjunto de 16 favelas ainda tem 1.086 casos sem confirmação e 34 mortes sob suspeita de Covid-19, segundo o boletim De Olho no Corona!, da Redes da Maré. Mesmo com o aumento dos números, final de semana foi de aglomeração e de eventos pela Maré.

Avanços na garantia de direito à educação na Maré

A aprovação do novo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) é uma vitória para a educação pública no Brasil! Divulgamos um texto sobre como a nova lei beneficia a educação na Maré. Acesse aqui para ler o texto completo.

Atendimento On-line Redes da Maré

A organização da sociedade civil Redes da Maré lançou uma plataforma on-line para fazer o atendimento das demandas da população da Maré de maneira mais ágil. Neste canal, os atendentes respondem sobre dúvidas da campanha, direcionam para o   Maré de Direitos, atendimento sociojurídico e informam sobre o funcionamento da organização nesse período em que os equipamentos estão fechados. O atendimento é feito exclusivamente pelo WhatsApp no número (21) 99924-6462. O atendimento  presencial acontece às terças e quintas-feiras, entre 14h e 17h, no prédio do CIEP Gustavo Capanema, , na Vila dos Pinheiros.

Luta na contramão da invisibilidade

Agosto é o mês em que se marca o Dia Nacional de Luta da População em Situação de Rua, tema importante para o trabalho desenvolvido pelo Espaço Normal, projeto referência no assunto da  Redes da Maré. Confira o artigo sobre o contexto e a atuação do  projeto, incluindo as ações que foram criadas para seguir o atendimento mesmo com a pandemia. Leia aqui e fique por dentro!

O direito à praia

Moradores de favelas e periferias sabem as dificuldades de se chegar à praia. O Maré de Notícias está produzindo um vídeo sobre o direito à praia, diante das recentes alternativas apresentadas pela prefeitura do Rio como medidas de isolamento social. A equipe está recolhendo relatos para compor a reportagem. Conte a sua história! Acesse e veja como colaborar!

Nenê do Zap

Será que só os adultos pegam Covid-19? O Nenê do Zap estava com essa dúvida e resolveu conversar com a médica Ana Escobar para saber como os responsáveis podem cuidar dos nenês para que eles não fiquem doentes. Confira na dica de hoje.

Ronda Coronavírus: Governador do Rio é afastado

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Mês de agosto termina com números de novos casos e média móvel da cidade em alta

Em meio à pandemia e ao aumento dos novos casos diários e média móvel do estado e cidade do Rio, a população amanheceu com a notícia do afastamento do governador Wilson Witzel. Por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), Witzel foi afastado por ser suspeito de participar de sistema de corrupção, incluindo irregularidades na construção dos hospitais de campanha para o enfrentamento da pandemia do novo coronavírus.

A média móvel de casos desta semana na cidade do Rio de Janeiro é a maior desde 28 de junho, quando a cidade apresentou a média móvel de 804 novos casos, segundo Painel Rio Covid-19. No intervalo de dois meses, o número caiu para mais da metade de junho e na segunda metade de agosto voltou a subir, colocando a cidade em estado de alerta. No dia de hoje, 28 de agosto, a cidade do Rio registrou 696 novos casos da doença. Assim, a cidade do Rio tem 90.130 casos confirmados, além de 9.598 mortes pelo novo coronavírus.

Covid-19 na Maré

A Maré tem nesta sexta-feira (28) 570 casos confirmados e 92 mortes, de acordo com o painel da Prefeitura. Já de acordo com o boletim De Olho no Corona!, a Maré tem 1.086 pessoas com suspeita e 34 mortes sem confirmação. Os números apontam que os casos confirmados no território também voltaram a subir. Enquanto julho registrou 83 novos casos, no mês de agosto 131 pessoas foram contaminadas pelo novo coronavírus.

Programa antitabagismo e combate ao fumo

Mesmo durante a pandemia, profissionais de saúde e pacientes precisaram se adaptar para dar início ou continuidade em tratamentos de controle do tabagismo. Para isso, a tecnologia teve papel importante: 43 municípios tem se preparado para utilizar a plataforma. Desses, 18 já relataram fazer uso da telemedicina para fazer acompanhamento do tratamento, segundo dados do Programa de Controle do Tabagismo no Rio de Janeiro, da Secretaria de Estado de Saúde.

Agosto dourado

O mês de agosto colore-se de dourado para ratificar a importância do aleitamento materno e da doação de leite. Na primeira semana do mês comemorou-se a Semana Mundial de Amamentação, que vai do dia 1 a 7 de agosto. Mesmo em meio à pandemia, as doações do Bancos de Leite Humano (BHL) se mantiveram na média, que beneficiou 518 bebês. É importante lembrar que não precisa ser agosto para reforçar a necessidade de doação de leite. Confira mais no texto de Hélio Euclides, disponível no Maré de Notícias Online.

Nenê do Zap

A dica do Nenê do Zap também fala sobre a importância do aleitamento materno e do quanto ele é importante para criar conexão entre a mãe e os nenês, além de fortalecer o organismo dos pequenos.

Dicas culturais

A Mostra Gatilhos estreia nesta sexta-feira, 28, e traz em sua programação uma série de artistas contando narrativas virtuais na pandemia. A abertura da mostra acontece às 19h e as outras atrações podem ser acompanhadas pelo Instagram.

O Sesc São Paulo, por meio do projeto #EmCasaComOSesc, tem postado quase que diariamente lives de música e apresentações teatrais, sempre às 19h no seu canal no YouTube. youtube.com/sescsp.

No sábado, dia 29 de agosto, a partir das 20h acontece o 13º Festival de Música e Cultura de Rua de Bangu – Edição Pandemônio. A primeira virtual tem a mesma essência, afeto e pluralidade cultural de suas ocupações nas ruas. Exibição simultânea no YouTube e Facebook

De mulher para mulher

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Profissionais relatam como é trabalhar no incentivo ao aleitamento materno

Hélio Euclides

Não é só  em agosto – mês conhecido por simbolizar a luta pelo incentivo à amamentação – que se deve falar deste assunto e das doações do leite materno. A amamentação deve ser incentivada todos os dias do ano. Isso foi mostrado na edição 45, de setembro de 2013, quando o Maré de Notícias mostrou um curso sobre a valorização do leite materno ministrado pela técnica de enfermagem Zilda Santos. Os centros municipais de saúde Vila do João e do antigo Hélio Smidt receberam ao final o status de Amigos da Amamentação. Já na edição 83, dezembro de 2017, o Maré de Notícias acompanhou o trabalho do antigo CMS Samora Machel de coleta de leite materno para doação. O que se percebe é que todos os profissionais envolvidos na valorização do aleitamento materno e na coleta de leite têm um estímulo a mais para fazer o ofício: o amor pelo  trabalho. 

E nada melhor do que três mulheres experientes em aleitamento materno para que possamos saber mais sobre o assunto. Convidamos Zilda Santos, assessora técnica de Aleitamento Materno da Coordenação da Área Programática da 3.1 (Maré); Maria da Conceição Salomão, coordenadora da Área Técnica de Aleitamento Materno da Secretaria Estadual de Saúde; e Danielle Aparecida da Silva, coordenadora do Banco de Leite Humano do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira da Fiocruz para uma conversa, confira.

  1. Como foi o início do trabalho de cada uma de vocês no mundo do aleitamento materno?

Zilda: Em 2004 fui trabalhar na atenção primária, três anos depois especificamente em aleitamento e recolher o leite para doação. Já em 2015, o trabalho virou um projeto que durou até 2018. Esse projeto foi premiado três vezes. Conseguimos entrar com o trabalho em 20 unidades e priorizei a Maré pela mortalidade infantil ser muito alta. 

Maria: Isso começou há quase 46 anos, não como pediatra. Quanto tive filho não tive assistência do profissional e sim da minha mãe. Só com o apoio dela que consegui sucesso no ato de alimentar. Percebi que eu precisava ajudar como mulher, pois sou sensível, então me tornei pediatra.

Danielle: Eu era estudante da engenharia de alimento e procurava um local de estágio. Então uma professora me recomendou o Instituto Fernandes Figueira. Fui selecionada, conheci todos os processos de trabalho do banco de leite humano e fui bolsista de iniciação científica. 

  1. E como foi a trajetória deste trabalho?

Zilda: Entramos em todas as unidades da Maré e eram coletados 53 frascos por semana. O projeto acabou em 2018, mas as pessoas que foram sensibilizadas continuaram fazendo sem recursos. Hoje tem os potes, mas poucas unidades estão trabalhando a doação, pois falta a pessoa que faça a captação. O coordenador da área apoia com um veículo para fazer o transporte do leite, mas quando não tem esse carro levamos no meu carro, na moto da minha amiga, de BRT, mas levamos. Nesse momento na Maré quase não tem doação, está recomeçando. 

Maria: Faço parte da equipe de formação ao aleitamento que elevou o Brasil à excelência, com investimento no pré-natal. 

Danielle: Depois do mestrado, fiz uma prova e voltei como servidora. E depois me tornei a gerente desse banco de leite. 

  1. Como é feita a conscientização da importância do aleitamento e da doação?

Zilda: Na verdade, para a mulher ser doadora é preciso ser captada desde o pré-natal. Antes eram feitos oito encontros, na qual se falava do pré-natal dela, da gestação e a doação. Quando ela ganhava o bebê já estava sensibilizada. Agora, uma mulher ou outra encontra um profissional sensibilizado que explica que ela pode ser uma doadora.

Maria: É no pré-natal que começa o trabalho de formação da amamentação. Nessa fase que se tira as dúvidas, elabora roda de conversas com troca de experiências. 

Danielle: A amamentação é um ato natural, mas muitas das vezes as mulheres apresentam dúvidas e fragilidades. Ela precisa de apoio. Os bancos de leite são esses centros de apoio ao aleitamento materno, no qual ela pode buscar de forma gratuita um profissional de saúde que vai apoiá-la e tornar a amamentação possível, sem dor e sem incômodo. Vai dar saúde para o bebê e para essa mulher. Que as mulheres em caso de necessidade ou as que produzem mais leite que o seu bebê consome, procurem um banco de leite. 

O Centro Municipal de Saúde João Cândido, em Marcílio Dias, recebe doações de leite materno – Foto: Douglas Lopes 

  1. Que tipo de ajuda uma   mulher grávida  no pós parto precisa?

Zilda: O que percebo nessas mulheres é que a informação faz toda a diferença na vida delas. Porque a indústria do leite faz um marketing muito pesado. Quando elas recebem informações no pré-natal ou em grupo de gestante fortalece o amamentar. A rede de apoio é muito importante, estar sozinha é muito difícil. Quando a mulher tem um bebê, ela precisa fazer uma reorganização da identidade dela. Antes era só uma mulher, agora é uma mãe com uma criança no colo, que às vezes nem sabe como vai dar conta e os primeiros dias são difíceis porque ela não dorme direito. Então necessita de uma rede apoio, como do/a parceiro/a, da família, de alguém que segure a criança e de pessoas que acabem com os mitos, como a mamadeira e do leite fraco. 

Maria: Não se pode julgar a mulher porque ela não conseguiu alimentar o seu filho com o leite materno. Cada uma tem um corpo biológico, depende do ambiente psicossocial. Sabemos que o seio é o produtor de leite, mas não é só isso que vai indicar o sucesso na amamentação. É preciso ter cuidados com a mãe. Se ela precisar, vamos encaminhar para um banco de leite. 

Danielle: Há dois processos: um que é assistência ao aleitamento materno, apoio profissional às mulheres que estão amamentando, e outro é caso tenham dúvida ou intercorrência, como alguma fissura no seio, ingurgitamento mamário e mastite. Ela pode procurar ajuda no banco de leite humano, que vai encontrar uma equipe multidisciplinar para tornar essa amamentação prazerosa para ela e para o bebê. Isso vai ajudá-la a manter a amamentação exclusiva até os seis meses e de forma continuada até dois anos e meio ou mais.

  1. Quais os desafios do trabalho atualmente?

Zilda: Vou continuar, isso é uma missão para mim, com verba ou sem. Agora tem uma rede de pessoas que apoiam dentro das unidades. Às vezes é preciso apenas 1ml para fazer um revestimento no intestino, como um medicamento na UTI. Cada gota tem 200 imunizantes, algo fundamental para os prematuros, algo que não é encontrado nas fórmulas lácteas. Cada frasco de leite de 300 ml alimenta 10 prematuros, então qualquer doação é importante. Se nos dessem condições, conseguiríamos leite para todos os prematuros. Essa é uma política de pobre para pobre, não gera dinheiro para os políticos, por isso não há interesse.

Maria: Hoje o país está próximo dos 50% de bebês que recebem exclusivamente o leite materno nos seis primeiros meses. Para elevar esse número é preciso cuidar da saúde dessa mulher e do seu filho. A sociedade precisa entender que o aleitamento materno é a maior forma de sustentabilidade do mundo. Que só o corpo de uma mulher é capaz de produzir alimentação e saúde para o planeta.Danielle: Sinto gratidão a todas essas mulheres doadoras, por me darem a oportunidade de salvar pequenas vidas e por exercer a minha profissão num setor que pode ajudar muitas mulheres e muitos bebês. Emoção sempre, quando vejo um bebê que nasceu com menos de 1,5 quilogramas ganhando peso saudável, tendo alta hospitalar. Felicidade por está trabalhando nessa rede de proteção à vida. Orgulho da gente poder ter valores e resultados tão positivos, também de ser uma ferramenta do Sistema Único de Saúde para diminuição da mortalidade infantil.

Um agosto bem dourado

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O amor ao leite materno que é vida para os bebês

Hélio Euclides

Em algum momento você já ouviu falar em outubro rosa e novembro azul, campanhas voltadas para a prevenção de doenças da mulher e do homem. Mas você sabia que o mês de agosto tem a cor temática dourado? O objetivo da campanha é estimular para se manter a amamentação com leite materno exclusiva dos bebês e sem o uso de fórmula ou complementos industrializados no início da vida. Outro objetivo é o incentivo à doação do leite materno, ajudando outras mães que não conseguem produzir o alimento.

O tema deste ano é Apoie o aleitamento materno – por um planeta mais saudável. A ideia é evidenciar como a adoção de hábitos alimentares saudáveis, reduzindo o consumo de alimentos industrializados, ajuda a diminuir os danos das grandes indústrias ao meio ambiente. Ou seja, amamentação e preservação do planeta podem andar juntas. 

A amamentação materna na primeira infância é essencial à saúde dos bebês, e é recomendado que o aleitamento materno seja exclusivo até os seis meses de idade. Além de hidratar, nutrir e sustentar, o leite materno reduz em até 20% a mortalidade dos recém-nascidos. A composição do leite materno é perfeita para o desenvolvimento sadio das crianças, além de ajudar na prevenção de doenças e infecções. Estudos afirmam, inclusive, que a ingestão do leite humano nos primeiros meses de vida tem efeitos benéficos que acompanham da infância à vida adulta.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, o leite materno é o alimento ideal para a criança, pois é totalmente adaptado às necessidades do bebê nos primeiros anos de vida. Produzido naturalmente pelo corpo da mulher contém anticorpos e outras substâncias que protegem a criança de infecções comuns enquanto estiver sendo amamentada. A recomendação atual é que a criança seja amamentada já na primeira hora de vida e por dois anos ou mais. Em tempo de pandemia, as evidências científicas demonstram que o coronavírus não passa pelo leite materno.

Uma doação de vida

Toda mulher que amamenta é uma possível doadora de leite materno. Para doar, basta ser saudável, sem sintomas de infecções e não tomar medicamento que interfira na amamentação. O leite extraído deve ser armazenado em potes de vidro com tampa plástica e pode ficar no freezer ou no congelador por até 10 dias. Não há uma quantidade mínima para ser doada e a mulher pode realizar o procedimento quantas vezes quiser em sua fase de amamentação. É importante saber que a cada litro, até 10 bebês internados são beneficiados. O leite é coletado na casa das mulheres doadoras numa parceria com o Corpo de Bombeiros, portanto não há custo algum em doar apenas benefício. A doação além de ajudar aos bebês que precisam, também ajuda a que doa, pois estimula a produção de  leite materno.

O banco de leite humano é um setor de hospitais-maternidade responsável pela promoção, proteção e apoio do aleitamento materno. Ele também realiza a coleta da produção excedente de mulheres que estão amamentando. De janeiro a julho, as 408 doadoras do Hospital Estadual da Mulher e as 221 do Hospital Estadual Adão Pereira Nunes doaram 458,6 litros de leite, que foram distribuídos para 518 bebês. A marca foi alcançada por causa da estrutura de visita domiciliar ofertada pelas duas unidades, que busca o leite a ser doado na residência das lactantes cadastradas.

O Banco de Leite Humano do Instituto Fernandes Figueira, da Fiocruz, é centro de referência para toda a rede de hospitais-maternidade. Em 2019 o banco atendeu 7.365 mulheres em fase de amamentação e 2.359 mulheres doaram mais de 2,7 mil litros de leite, que atenderam 538 recém-nascidos prematuros internados na unidade de tratamento intensiva neonatal do Instituto Fernandes Figueira. O leite passa por um processo de pasteurização e um controle de qualidade bem rigoroso até chegar no bebê internado. 

No Brasil são 222 unidades disponíveis de banco de leite humano disponíveis para atender essas mulheres e distribuir leite de qualidade para esses pequenos prematuros. Destas, 18 estão no estado do Rio de Janeiro. Quem desejar ser doadora pode procurar um banco de leite humano. Alguns oferecem o serviço de visita domiciliar, que buscam a doação na casa da lactante. 

Os bancos, além de ceder os recipientes para a doação, instruem sobre o manejo correto e sobre cuidados que as doadoras devem ter ao coletar o leite, além de explicar os procedimentos pré e pós-coleta. Quem não é lactante e quiser integrar dessa corrente do bem, pode participar entregando frascos de vidro com tampa plástica para armazenamento do leite materno. No site da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano tem mais informações sobre o serviço. Também é possível entrar em contato com o número 136.  

Por uma Maré de leite

O dia 25 de agosto foi de festa na Clínica da Família Adib Jatene, na Vila dos Pinheiros. Mulheres grávidas e gestantes foram convidadas para participar do evento que faz parte das comemorações do Agosto Dourado. As mulheres receberam informações sobre a saúde da mãe e do bebê. “Nossa unidade está num território com muitas gestantes. Esse encontro é para ajudar essas mulheres nas suas dúvidas e incentivar que elas se tornem doadoras”, diz Michele Galdino, gerente da clínica.

No evento, as palestras abordaram os temas amamentação é amor, prejuízo da chupeta e mamadeira, banco de leite humano, o mito do leite fraco, alternar os seios para a mamada, além da explicação das três etapas da mamada de cada peito: primeiro o bebê suga para matar a sede, a segunda rico em proteínas e por fim recebe a gordura. Também foi mostrado que cada criança tem o seu metabolismo, então não pode haver comparações. Os profissionais revelaram o poder do leite materno, que sai quentinho e prontinho. Por fim, incentivaram a ida ao dentista e pediatra, a força do teste do pezinho, a eficácia da vacina na vida da gestante e do bebê e o apoio do pai nessa hora tão delicada. 

“Muito importante esse evento para mostrar que a gravidez não é um bicho de sete cabeças. Eu tive um bom pré-natal e parto na Maternidade Fernando Magalhães, com informações. Isso me ajudou como mãe”, conta Jéssica Soares, de 19 anos, que teve seu primeiro filho. Vânia Moreira, de 40 anos, já está grávida do quarto filho e disse que com o primogênito foi difícil. “Descobri que o meu leite não durava os seis meses necessários. Precisei de muita informação para compreender. Sempre falo para as mães mais novas que é primordial o carinho, a paciência e o amor para o bebê”, conclui. 

Evento para falar do aleitamento e gravidez reuniu mães, pais e profissionais da saúde na Clínica da Família Adib Jatene – Foto: Douglas Lopes

O aleitamento materno em números

O Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil realizou uma pesquisa que avaliou 14.505 crianças entre fevereiro de 2019 e março de 2020, que revelou:

  • 45,7% das crianças menores de 6 meses estavam em aleitamento materno exclusivo no país. 
  • 60% das crianças com idade inferior a 4 meses estavam com aleitamento materno exclusivo no país. 
  • 53,1% das crianças com idade de 12 a 15 meses estavam em aleitamento materno continuado.
  • 60,9% das crianças menores de 24 meses foram amamentadas. 

Os resultados mostram a importância de estratégias para apoiar a amamentação, além de reforçar os benefícios já conhecidos da amamentação para as crianças e mulheres.

Consumo alimentar 

No Estado do Rio, das crianças entre 6 e 23 meses:

  • – 30% consomem bebidas adoçadas;
  • – 20% consomem macarrão instantâneo ou salgadinhos de pacote; 
  • – 27% consomem biscoito recheado, doces ou guloseimas;
  • – 13% Consomem hambúrguer e/ou embutidos;

Fonte: SISVAN, 2019 (http://sisaps.saude.gov.br/sisvan/relatoriopublico/index)

Os meses temáticos da saúde:

  • Janeiro – Branco: É um alerta sobre a saúde mental. 
  • Fevereiro – Roxo / Laranja: A campanha roxa é referente à conscientização da lúpus, do Mal de Alzheimer e da fibromialgia. Também tem uma campanha alaranjada para conscientizar sobre a leucemia.
  • Março – Azul Escuro: Voltado ao debate sobre a prevenção ao câncer colorretal.
  • Abril – Azul: voltado ao debate sobre o autismo.
  • Maio – Amarelo / Vermelho: É destinado à prevenção de acidentes de trânsito. Já o vermelho tem como objetivo principal informar sobre a hepatite.
  • Junho – Vermelho / Laranja: O laço vermelho é indicativo para a importância de doar sangue. O mês ainda se colore de Laranja para se conscientizar sobre a anemia.
  • Julho – Amarelo: Traz à tona a conscientização sobre o câncer ósseo e também às hepatites virais.
  • Agosto – Dourado: Mês destinado às informações sobre o aleitamento materno.
  • Setembro – Vermelho / Verde / Amarelo: O vermelho é para ressaltar a importância de cuidarmos da saúde do coração. O período também destaca ações sobre a doação de órgãos e a prevenção do câncer no intestino, usando a cor verde. Já a campanha que usa a cor amarela é a campanha para prevenção de suicídio.
  • Outubro – Rosa: Dedicado à conscientização sobre o câncer de mama.
  • Novembro – Azul: Para conscientizar a pessoas sobre a importante de prevenir e combater o câncer de próstata. Além disso, a cor também serve para campanhas voltadas aos cuidados da diabetes. Dezembro – Laranja / Vermelho: A campanha laranja serve para conscientizar sobre a importância de combater o câncer de pele, enquanto a vermelha ressalta a necessidade de prevenir a AIDS.