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Ronda Coronavírus: Maré apresenta número expressivo em novos casos

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País ultrapassa o número de 3 milhões de casos confirmados no início da semana

Em todo o mundo, já são mais de 21 milhões de casos registrados nesta sexta-feira (14), de acordo com a Universidade Johns Hopkins. Os números confirmam que o continente americano é hoje o epicentro da pandemia, com seis dos dez países mais afetados do mundo (Estados Unidos, Brasil, México, Peru, Colômbia e Chile). Desses casos, o Brasil registrou mais de 106 mil mortes e mais de 3,2 milhões de casos confirmados do novo coronavírus no dia 14 de agosto.

Mortes em queda

Após a primeira quinzena de maio, o Estado do Rio passou a registrar uma redução no número de novas mortes diárias por coronavírus. Enquanto em maio a média era de 258 mortes por dia, em julho esse número passou a ser de 45 vítimas por dia, como indica a plataforma estadual Painel Coronavírus. Nesta sexta-feira (14), o Rio de Janeiro registrou 189.891 casos e 14.507 mortes de Covid-19.

Covid-19 na Maré

Nesta sexta-feira (14), a Maré registrou 519 casos confirmados e 91 mortes por Covid-19, de acordo com painel da Prefeitura. Já o Painel Unificador Covid-19 nas Favelas do Rio de Janeiro aponta para 1.582 casos e 124 mortes no bairro, entre casos confirmados por órgãos oficiais e registros feitos por relatores comunitários. As favelas do Rio tem 9.108 casos e 1.405 mortes.

Do dia 04 até o dia 10 de agosto, a Maré registrou 75 novos casos confirmados. Na semana anterior, o conjunto de favelas teve apenas seis casos, de acordo com análise do boletim De Olho no Corona!, já disponível para leitura no site da Redes da Maré. Este é o maior número de novos casos registrados desde a semana de 26 de maio a 01 de junho, quando o bairro teve 69 novos casos. Desde 30 de junho, entretanto, o número de novos casos por semana na Maré estava em queda. De acordo com o boletim, o aumento significativo de casos confirmados pode estar relacionado ao início de uma parceria entre Dados do Bem, Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Redes da Maré que vem, que desde o dia 23 de julho vem realizando testagem nos moradores cadastrados no aplicativo. Veja como fazer a testagem aqui.

Incêndio no Piscinão

Na última quinta-feira, moradores da Maré e região amanheceram com a notícia de um incêndio na Praia de Ramos. Por volta das 6h, dois quiosques que ficam às margens do Piscinão pegaram fogo. Após controlar as chamas, o Corpo de Bombeiros isolou a área, que atraiu alguns passantes. Não houve feridos, mas os estabelecimentos sofreram perda total. De acordo com a associação de moradores, o Piscinão está sem água desde o início da pandemia.

Loteamento na praia

Após anunciar que iria demarcar faixa de areia e utilizar aplicativo para reservar o espaço, o prefeito Marcelo Crivella irá reavaliar a proposta. O projeto piloto anunciado em coletiva na quarta-feira previa cerca de 1.300 “cercadinhos” de 6m² na Praia de Copacabana, com o limite para cinco pessoas. Também foi mencionado que a população também seria consultada sobre a proposta.

Dicas culturais

A gravadora Biscoito Fino liberou os seus conteúdos audiovisuais em seu canal do YouTube. Lá é possível assistir shows, como a apresentação de Maria Bethânia com Zeca Pagodinho, Hamilton De Holanda, Chico Buarque, Alcione e outros artistas que fazem parte do selo.

Já que ainda não é possível se aglomerar em grandes festas, a roda de samba Awurê no Quintal vai realizar uma live no próximo domingo (16), às 15h, no seu canal do YouTube para matar a saudade de quem gosta de samba. 

Nenê do Zap

Chega um momento que os nenês começam a desenvolver os sentidos e a audição é um deles. Os sons são muito importantes, mas às vezes podem irritar quem toma conta dos pequenos. Mas é possível estimular esse sentido com sons de diversos volumes. Saiba mais na dica do Nenê do Zap de hoje.

Brechós favelados movimentam economia local com roupas carregadas de afeto

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Jovens moradoras da Maré que empreendem em brechós on-line falam da importância de se valorizar empreendedores favelados e da vivência com seus empreendimentos na pandemia

Flávia Veloso

Ressignificado pelo gosto popular, hoje os brechós e bazares são sinônimos de estilo e autenticidade. Com peças de todos os tipos, épocas e tamanhos, as possibilidades de se montar visuais únicos refletem na roupa traços de personalidade e criatividade. Afinal, vestir-se bem não é só usar o que se vê nas vitrines dos shoppings, mas o que te faz sentir bem consigo mesmo e com seu bolso. 

Comprar roupas em lojas de marca e departamento não é acessível para o bolso de muitos moradores de favela e periferias: uma peça que custa R$100 pode estar fora do orçamento, mas o costume de consumir somente peças novas fala mais alto e muitas vezes é o bolso quem sofre. A renda mensal por pessoa das favelas cariocas não chega a R$1.000, segundo levantamento feito pelo Censo 2010 do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas. 

Certamente você já cruzou com algum bazar ou brechó na Maré, em lojas, barracas e até igrejas. Esses locais, assim como outros empreendimentos, são importantes economicamente para o sustento de famílias e projetos sociais. Por mais que se pareçam, os espaços têm as suas diferenças. Os bazares geralmente recebem doações de itens diversos e vendem a preços muito baratos. Essa renda costuma ser destinada a projetos e causas sociais. É característico também que as peças e acessórios fiquem misturados. Já nos brechós, as roupas são compradas e revendidas. As peças costumam ser lavadas e organizadas – algumas passam por customizações – e custam bem mais barato que nas lojas convencionais. 

Enfrentando a pandemia

Com a chegada do novo coronavírus e a necessidade do fechamento dos serviços não essenciais, os comerciantes de favelas viram seu empreendimentos ameaçados pela perda do poder de compra dos moradores. A pandemia causou impacto direto na economia: a renda da população de favelas reduzida em 70% desde que a Covid-19 chegou ao Brasil, como aponta uma pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva e o Data Favela.

E o poder de compra do favelado movimenta muito dinheiro. Por ano, quase R$120 bilhões saem dos bolsos de quem mora na favela. É um potencial de consumo que, se aplicado ao comércio local, poderia estimular o desenvolvimento econômico e social desses territórios.

Para Stefany Silva, moradora do Rubens Vaz e fundadora do brechó Jeans Ancestral, a valorização do fluxo de dinheiro dentro território está mais evidente neste momento, e isso fortalece a cadeia de compras sustentável dos brechós e bazares, contribuindo para manter a renda dos microempreendedores. 

“A forma que as pessoas podem ajudar no meu trabalho é comprando, que é a forma mais transparente, porque a venda gera capital de giro e lucro. Com o capital, posso comprar dos brechós de outras mulheres, e o lucro me permite investir em cursos e equipamentos, para melhorar meu negócio. Também dá para compartilhar [meu trabalho] com outras pessoas que gostem de brechó e me dar o feedback do meu serviço, isso me dá oportunidade de fazer melhorias e repensar prioridades e necessidades”, destaca Stefany.

Stefany Silva, dona do Brechó Jeans Ancestral  – Acervo pessoal

A pequena empresária vinha preparando o Jeans Ancestral desde 2019 para inaugurar em abril de 2020, e se viu preocupada com o lançamento do seu negócio: “Eu investi em equipamentos, como arara e biombo, para eventos físicos, mas veio a pandemia. De início, fiquei preocupada com quem trabalha de forma autônoma, principalmente porque vivenciei isso na minha casa – meu padrasto é autônomo e minha mãe está desempregada -, mas uma das coisas que me fez pensar em não adiar o lançamento do brechó foi o cuidado com o outro. Percebi o quanto entregar algo para alguém é tão importante na minha trajetória. Uma embalagem, para uma pessoa que não está num bom momento, com aquele cheirinho de alecrim que lembra o quintal da minha avó, com escritas minhas, que me lembram minhas ancestrais, me fez ver que valia a pena”, contou Stefany.

As incertezas trazidas pela pandemia interromperam por algum tempo as vendas de outro empreendimento on-line, o Brechó Fresh, da moradora do Rubens Vaz Creusa Maria. Desde 2019 no mercado, com peças customizadas pelas mãos da própria dona, a necessidade de voltar aos negócios se fez mais forte que o medo de se contaminar quando Creusa viu as contas da casa começaram a “apertar”.

Novos desafios, novas estratégias

As meninas tiveram que contar com a criatividade para manter os negócios. Isso porque o envolvimento afetivo com os clientes é um ponto muito importante para as duas marcas, o que impediu as entregas feitas diretamente aos compradores. 

Creusa diz que o maior desafio para ela são as entregas, pelo medo de expor sua saúde: “Acredito que o maior desafio seja esse, as entregas. Pois, mesmo com todos os cuidados, nós ainda estamos na rua e em local público entregando. Querendo ou não, causa preocupação. Quando decidimos voltar, a ideia inicial era realizar as entregas por bike, com uma empresa terceirizada. O cliente pagaria o frete e eles entregariam na casa da pessoa, mas essa empresa não entra na favela e precisaríamos de um local fixo para o ciclista pegar os pacotes, e ainda não conseguimos fazer isso, mas é um plano futuro”, contou.

“As pessoas podem ajudar no nosso trabalho não apenas comprando, mas também compartilhando quando tem peças novas, divulgando para os amigos… O “boca a boca” é a melhor divulgação que existe. Valorizar nossa arte, porque as blusas que pintamos leva tempo e também estudo de anos por trás, mas nós sempre pensamos em tornar acessível a todas e todos, porque grande maioria do nosso público é morador de favela e periferia como nós”, observa Creusa.

Creusa Maria, criadora do Brechó Fresh – Acervo pessoal

Aproveitando a oportunidade de demandas para lugares fora da Maré e até do estado do Rio, Creusa lançou o site do Brechó Fresh, onde os clientes de todos os gêneros podem conferir as peças, tirar dúvidas pelo link de WhatsApp do brechó, calcular o frete, pedir customizações e comprar com facilidade.

Inaugurando um brechó em plena Covid-19, Stefany Silva também buscou estratégias para agradar seus compradores e compradoras. A mareense sempre oferece descontos ou agrados, e ela explica que isso vai para além lucro: “Quando a pessoa leva mais de duas peças, geralmente dou um desconto ou dou uma peça que compro de um brechó da Maré, isso ajuda o empreendedor local e é uma forma de presentear o cliente do Jeans Ancestral.”

Para incentivar essa forma de comprar, é necessário também acabar com o preconceito que se tem sobre energia das peças. Stefany Silva e Julie Oliveira são as mareenses idealizadoras do Brechó In Favela, on-line, e tentam reverter esse preconceito conectando cliente e peça por meio de histórias: “Contamos a história daquela roupa, os processos pelos quais ela passa. Isso gera empatia. Pode ser só uma blusinha, mas a história por trás gera um interesse”, explicou Julie Oliveira, que mora na Nova Holanda.

“Acredito que, nesse momento, é extremamente necessário apoiar todas e todos os trabalhadores independentes, principalmente do nosso território. As pessoas não têm noção de como é importante um compartilhamento, uma indicação e principalmente a escolha de priorizar e consumir desses espaços [das favelas]”, comenta Julie.

Julie Oliveira, uma das idealizadoras do Brechó In Favela – Acervo pessoal

As atividades do In Favela estão suspensas durante este momento, mas a pausa nada tem a ver com o novo coronavírus. Suas criadoras estão empenhadas em estudos, pesquisas e autoconhecimento, para que o brechó volte à ativa com roupas cheias de personalidade e identidade. 

Divulgue e apoie!

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Quiosques pegam fogo no Piscinão de Ramos

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Causa do incêndio ainda é desconhecida

Flávia Veloso

Na manhã desta quinta, por volta das 6h, dois quiosques que ficam à beira do Piscinão de Ramos pegaram fogo. Equipes do Corpo de Bombeiros foram acionadas e por volta das 7h chegaram ao local, controlando o fogo e isolando a área. Não houve feridos, mas os estabelecimentos sofreram perda total. Ainda não se sabe a causa do incêndio. 

O Piscinão está sem água desde o início da pandemia do novo coronavírus. Segundo o presidente da Associação de Moradores da Praia de Ramos, Fábio Ferreira, a água foi retirada para manutenção, mas não há previsão de retorno.

Do lixo ao luxo, mesmo com a pandemia

Catadores relatam dificuldades nos últimos meses, mas não desistem da reciclagem de materiais

Maré de Notícias #115 – agosto de 2020

Hélio Euclides

Esse ano não teve visita do Coelhinho da Páscoa, almoço do Dia das Mães, Festa Junina e o presente do Dia dos Pais talvez seja a tradicional canção do Fábio Junior, enviada pelo WhatsApp. A pandemia mexeu com a economia e essas comemorações, assim como outras, não aconteceram e o dinheiro não circulou. Os mais prejudicados são os que conseguem ganhar a vida no mercado informal, na maioria das vezes os que atuam na rua. Um exemplo destes profissionais é o catador de materiais sólidos ou, como desejam ser chamados, “garimpeiros da reciclagem”. Com a pandemia, eles ficaram em isolamento e perderam renda. A reabertura, entretanto, parecia um retorno às atividades e ao lucro, mas estes profissionais encontram a desvalorização nos preços e pouco dinheiro no bolso.

Durante o isolamento social, o Grupo de Trabalho de Resíduos Sólidos da Rede Favela Sustentável organizou uma live interativa que desejava saber quais os impactos da pandemia na vida dos catadores. Além de discutirem os principais empecilhos, os catadores enfatizaram as diversas maneiras pelas quais são essenciais para a sociedade, sendo a economia um dos fatores. Os catadores exigem valorização, já que exercem um papel crucial para a reciclagem, sendo agentes ambientais. Eles também lembram que a categoria é indispensável na cadeia produtiva e, hoje, o maior desafio é enfrentar a ideia de prefeituras de que o lixo deve ser enterrado ou incinerado. Por fim, destacaram durante o encontro virtual que lixo também é dinheiro e, quando reciclado, gera emprego e renda, mas se vão para o aterro sanitário é despesa e poluição.

Ilaci de Oliveira, da Cooperativa Transvida na Vila Cruzeiro e integrante do Grupo de Trabalho de Resíduos Sólidos da Rede Favela Sustentável, participou da live. Ela conta que, com o isolamento social, as pessoas ficaram em casa e se formaram mais materiais sólidos, mas em compensação o preço para a venda despencou. “Isso prejudica, pois temos de trabalhar mais para conseguir o valor necessário para comprar alimentos e materiais de higiene para casa”, diz.

A catadora afirma que, nesse momento, mais do que em outros, o ideal é a formação de cooperativas de catadores. Ela afirma que montar uma cooperativa não seria tão difícil. O primeiro passo seria ver se tem um grupo que já realiza um trabalho na favela. “Em 2006, convidei duas pessoas que já coletavam resíduos para formalizar, depois vieram mais pessoas, hoje somos 28 mulheres. Nos mobilizamos e conscientizamos a comunidade para a importância de separar os materiais. Nada é impossível, tem de ter uma boa articulação para explicar o trabalho e dividir tudo em partes iguais”, comenta. Ilaci indica que para a formalização da cooperativa é preciso sete pessoas para compor a diretoria e ter os recursos para a documentação.

Outro que participou da reunião virtual foi Gilberto Batista, de 56 anos, fundador do Projeto Limpa Só Lazer, no Salgueiro, e integrante do Grupo de Trabalho de Resíduos Sólidos da Rede Favela Sustentável. Ele conta que a pandemia trouxe o medo de se contaminar durante o trabalho, pois além de ficarem expostos nas ruas, os profissionais não têm equipamentos de proteção individual. “Os ferros-velhos ganham, pois compram barato, armazenam e vendem para grandes indústrias. Precisamos que a sociedade valorize o catador, pois nós queremos uma favela limpa. Com o nosso trabalho, diminuem as enchentes”, avalia. Para Gilberto, o governo precisa acabar com as burocracias e trazer incentivos para o catador. “Somado a isso, é necessário acabar com a desunião, na qual cada um caminha sozinho. É indispensável se criar um fórum para que todos tenham entendimentos sobre a profissão, pois o conhecimento liberta”, conclui.

Ajude os catadores

A Rede Favela Sustentável criou uma campanha unificada do Grupo de Trabalho de Resíduos Sólidos, para apoiar diversos movimentos de ajuda a catadores da cidade do Rio durante a pandemia. Basta seguir #ApoieUmCatador nas redes sociais para obter mais informações.

http://www.paypal-brasil.com.br/doe/apoieumcatador#all

A Cooperativa Transvida fez uma vaquinha on-line em busca de apoio para a compra de produtos de limpeza e alimentos básicos para proteger as famílias dos catadores.

http://www.vakinha.com.br/vaquinha/apoio-no-combate-ao-coronavirus-na-periferia-ilaci-de-oliveira-luiz

Os catadores da Maré

Vagner Moreira, de 38 anos, trabalha como catador há nove anos com sua carrocinha. Morador da Nova Holanda, ele completa a sua renda com bicos, como descarregar caminhão. Na pandemia, teve de interromper o garimpo, pois as lojas de Bonsucesso, onde atua, ficaram fechadas. Até os ferros-velhos da Maré não funcionavam. Para piorar, o preço de compra era menor quando reabriram.

Ele é um dos inúmeros catadores que trabalham até 12 horas por dia, sem almoço, em ambiente insalubre, carregando o peso dos produtos que recolhe por longos trajetos, debaixo da radiação solar ou de chuva. “Meter a mão no lixo é difícil. As pessoas têm nojo da gente. É uma vida dura, saio de madrugada ou trabalho a noite toda. Por outro lado, é um serviço honesto, onde arrumo dinheiro sem prejudicar o próximo”, diz. Vagner conta que nunca falaram com ele sobre cooperativa. “Acho que seria uma boa para nós, com uma possível parceria para limpar os valões. A legalização seria a oportunidade para receber um benefício, como ter aposentadoria”, explica.

Por temerem contágio de Covid-19, garimpeiros ficaram sem renda na pandemia – Foto: Douglas Lopes

Há sete anos, Valdemir Gomes é garimpeiro na Maré. O morador do Rubens Vaz tem 41 anos e reclama que, nessa pandemia, chegou a vender garrafas de refrigerantes por apenas 50 centavos por quilo e plástico duro por 40 centavos. Isso o desmotiva a continuar. “É uma vida dura de ver no lixo uma forma de sustento. Trabalhamos sem banheiro e tentando superar o maior obstáculo que é o preconceito. Nesse período de pandemia, a força dos catadores veio das instituições e igrejas que os fortaleceram com alimentos. Agora precisamos de luvas, botas, máscaras e materiais para higienização”, conta. Valdemir calcula que a Maré tenha uns 500 catadores.

Ele começa no batente na madrugada, às 4h, para pegar as ruas ainda vazias e acredita que ser cooperativado evitaria de que o lucro caísse nas mãos dos ferros-velhos. “Eles nos exploram. Nós, que vivemos do material que vendemos, precisamos de orientações e consciência. Esperamos que, após a pandemia, os preços dos materiais aumentem”, diz. Valdemir está tirando todos os documentos e recomenda a todos os garimpeiros que façam o mesmo, pois assim será mais fácil trabalhar legalizado.

VOCÊ SABIA?

De acordo o Censo do IBGE de 2010, existem no Brasil cerca de 398 mil pessoas ocupadas como catadores. A cooperativa EccoVida estima que, passados 10 anos, e com o panorama econômico durante a pandemia, este número possa ser ultrapassado apenas no estado do Rio de Janeiro. A atividade profissional dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis é reconhecida pelo Ministérios do Trabalho e Emprego desde 2002, segundo a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO).

A Lei Nacional de Resíduo Sólido nasceu com o objetivo de promover a gestão dos resíduos sólidos, bem como a inclusão social e valorização profissional dos catadores de materiais recicláveis. A Lei instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que recomenda ao poder público a implantação de infraestrutura física e aquisição de equipamentos para cooperativas, a disponibilização de postos de entrega de resíduos reutilizáveis e recicláveis e a atuação em parceria com cooperativas ou outras formas de associação de catadores.

Sem condição não tem Graduação!

Mareenses enfrentam dificuldades para estudar para vestibular

Maré de Notícias #115 – agosto de 2020

Flávia Veloso

Durante uma palestra on-line, um professor de Direito Constitucional contou da experiência que teve em sala de aula com os alunos e uma amiga professora uruguaia. Falando sobre acesso à Educação no Uruguai, a convidada causou surpresa aos alunos, ao dizer que fazer faculdade no seu país é gratuito e de acesso livre. Isso quer dizer que qualquer cidadão uruguaio que quiser se graduar, depois de terminado o Ensino Médio, pode se inscrever em uma das universidades públicas disponíveis no país e estudar.

A Constituição vigente na República Oriental do Uruguai assegura que toda a formação acadêmica, da infância à vida adulta, seja completamente acessível a todos e todas. Em teoria, a Constituição brasileira deveria funcionar da mesma maneira, já que todo cidadão tem direito à Educação e essa condição deve ser assegurada pelo Estado. Contudo, o que se vê no Brasil é um abismo que separa o ideal e da realidade.

Com um sistema que filtra o merecimento do estudante pela nota, o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) é a maior porta de entrada para universidades públicas e privadas do País. Os milhões de inscritos, por ano, concorrem para milhares de vagas em cursos superiores, mas só garantem um lugar aqueles que mais se aproximam do ideal: quem tem boas condições para estudar.

Durante a pandemia da COVID-19, com as aulas presenciais suspensas do Ensino Infantil ao Superior, a maneira mais eficaz de transmitir conteúdo passou a ser on-line. Contudo, a falta de internet domiciliar como principal meio de estudar afastou ainda mais o sonho da universidade de quem mora na favela. Historicamente negligenciada por quem governa o País, a Educação de quem mora na favela não é prioridade de investimento, menos ainda em meio à pandemia.

Enfrentando barreiras em família          

A falta das aulas presenciais tem sido um desafio para Andreyna Rodrigues, 19 anos, moradora do Morro do Timbau, que tinha tudo planejado para concorrer a uma vaga na universidade: “Me planejei para estudar esse ano e passar no vestibular, mas veio a pandemia, então as aulas presenciais do pré-vestibular comunitário, que faço no Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM), pararam. As aulas foram retomadas virtualmente, mas é muito difícil se concentrar, porque ando muito ansiosa desde que o isolamento social começou. Minha internet é instável, mas ainda dá para assistir a algumas aulas, só que muita gente não tem nem internet”, conta a jovem sobre sua experiência de lidar com o desafio do vestibular durante o isolamento social.

Vivian Lee teve de adaptar o espaço de sua casa para conseguir estudar para o ENEM, que vai acontecer em 2021 – Foto: Douglas Lopes

Mãe de Andreyna, Vivian Lee, de 34 anos, também está inscrita no Exame. Ela tenta conciliar o estudo com seu papel de mãe, de não deixar o desânimo vencer a filha, que pretende cursar Direito ou Relações Internacionais. Vivian enfatiza o problema que tem para acessar os conteúdos virtuais: “A internet no Timbau é muito ruim. A gente já até tentou falar com a Oi sobre isso, mas parece que o sinal daqui é mais fraco que em outros lugares. Outra dificuldade é que não possuímos computador, temos de ver tudo por celular, mas dá para usar os materiais em PDF enviados por mensagem, que a gente pode imprimir e estudar.”

Maré sem sinal

A conexão ruim tem sido um dos maiores problemas das favelas, em especial a Maré, e atrasou os planos de um curso pré-vestibular comunitário inteiro. Foi o que aconteceu com a UniFavela. Nascido em 2019, na Vila do João, o curso aprovou todos os seus alunos em universidades no último ENEM e no vestibular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Esse ano, o curso foi beneficiado pelo projeto 4G Para Estudar, que doou chips de celular pré-pagos a vestibulandos de periferias em todo o País. Ainda assim, o problema de sinal de celular na Maré não se resolve.

“Ficamos muito felizes de formar essa parceria, mas infelizmente o 4G na favela não funciona, independentemente da operadora. Cogitamos pagar planos de banda-larga para os alunos, mas as duas redes disponíveis – da própria favela e da Oi – são muito limitadas. Agora temos de encontrar outros meios”, explicou Laerte Breno, fundador da UniFavela, educador, pesquisador e estudante de Letras.

Um mapa desenvolvido pelo site e aplicativo nPerf mostra a qualidade de cobertura 3G, 4G e 5G em todo o País, e é possível visualizar a área da Maré. Identifica-se que as cinco operadoras mais usadas no Rio – Claro, Vivo, Tim, Oi e Nextel – quase não pegam ao longo das 16 favelas, destacando Claro e Vivo, que aparecem com uma cobertura mais moderada.

                Pré-vestibulares da Maré buscam soluções

O pré-vestibular comunitário Rede de Saberes, que funciona na Nova Holanda e na Vila dos Pinheiros, vinha oferecendo conteúdo por lives com estudantes e arquivos por redes sociais, desde o início do isolamento social. Entretanto, quase a metade dos matriculados não possui internet em casa. “Nós mantivemos as atividades, mas preocupados com os alunos que não têm internet, buscamos parcerias, até encontrar uma iniciativa nova, tocada por dois meninos, que é o ENEM do Bem. Eles fizeram uma ‘vaquinha’, elaboraram uma apostila sobre os conteúdos do Exame e doaram apostilas para todos os alunos que não estavam conseguindo acessar o conteúdo on-line. Os professores do pré-vestibular avaliaram e aprovaram o material, que já está sendo distribuído”, conta Luana da Silveira, coordenadora executiva do curso e formada em Serviço Social.

A preparação para o vestibular pode ser altamente estressante para algumas pessoas e as preocupações a mais, trazidas pelo desamparo frente ao novo coronavírus, se somam e potencializam os problemas psicológicos. “Pegar um caderno hoje, abrir e sentar numa mesa para estudar pode ser um processo muito doloroso, e isso também estava acontecendo com os professores. Então, fizemos um levantamento e conseguimos chamar uma equipe de psicólogos, que atendem os alunos e professores, e tem sido ótimo”, disse Laerte Breno.

Iniciativas têm desenvolvido apostilas para que alunos possam estudar – Foto: Douglas Lopes

Combate à desigualdade social

Moradora das Casinhas (Baixa do Sapateiro), Isabelle Reis, de 17 anos, mora com a mãe e o irmão pequeno, e são poucos os momentos de privacidade que ela tem ao longo do dia, para se concentrar em estudar para o ENEM e terminar o último ano do Ensino Médio, que cursa no Colégio Estadual Amaro Cavalcanti. Para a jovem, as condições para estudar sempre foram desfavoráveis, devido à falta de estrutura que não permite que Isabelle – e outros milhões de favelados e periféricos – se concentrem em aprender. “Se eu estivesse estudando sozinha, sem a ajuda de pré-vestibular, estaria completamente perdida. Também não consigo acompanhar direito a EAD do Colégio, e acabo com medo de repetir o ano, o que me desanima ainda mais para o ENEM, pois não tem sentido fazer o vestibular se eu não concluir o 3º ano”, desabafou a mareense.

A desigualdade social é a ferramenta que tenta incapacitar milhões de pessoas que buscam ingressar em uma faculdade. Ao manter o ENEM em uma data tão próxima (provas impressas nos dias 17 e 24 de janeiro; provas digitais em 31 de janeiro e 7 de fevereiro) no contexto de pandemia, o Estado demonstra não se importar com os projetos de vida dos cidadãos periféricos, contribuindo ainda mais para a desigualdade.

Citando o educador e filósofo pernambucano Paulo Freire, patrono da Educação brasileira, Laerte Breno comenta: “A educação serviu sempre para invisibilizar o negro, tanto excluindo pensadores negros quanto negando esse direito a alunos negros, pobres e favelados. O problema hoje não está na Educação, mas na desigualdade e na exclusão social. Só debater sobre educação não é suficiente. Paulo Freire dizia que a Educação sozinha não transforma a sociedade. Temos de discutir segurança pública, saneamento básico, saúde, também a educação… Tem de ser tudo isso”, conclui Laerte.

Ronda Coronavírus: Prefeitura estuda usar aplicativo para reservar faixas de areia

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Fiocruz inaugura unidade de processamento de exames de coronavírus

Após a liberação do banho de mar no Rio e finais de semana com grandes aglomerações em praias e areias, o prefeito Marcelo Crivella anunciou nesta segunda-feira (10) que vai criar demarcações nas faixas de areia das praias da cidade. A medida ainda não tem data para acontecer, mas o prefeito afirma que a reserva da faixa de areia será feita por meio de aplicativo de celular. 

A cidade do Rio é a que tem hoje o maior número de casos e mortes do Estado, com o total de 74.674 pessoas infectadas e 8.622 vítimas fatais pelo novo coronavírus. A Maré tem nesta segunda-feira 506 casos confirmados e 90 mortes, de acordo com o Painel Rio Covid-19, da Prefeitura.

Inauguração de unidade de apoio da Fiocruz

Dias após o país chegar à marca de 100 mil pessoas que morreram vítimas do novo coronavírus, o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, reforçou a importância de medidas de isolamento social tomadas por estados e municípios. A fala foi feita hoje (10) na Fiocruz, durante cerimônia de inauguração da Unidade de Apoio ao Diagnóstico da Covid-19. A unidade terá capacidade de processar de até 15 mil exames de coronavírus por dia. A cerimônia está disponível para visualização no canal do YouTube da Fiocruz.

Campanha Maré Diz NÃO ao Coronavírus

A partir do próximo domingo, dia 16 de agosto, a campanha Maré diz NÃO ao Coronavírus começa a última etapa de distribuição de cestas básicas para moradores das 16 favelas da Maré. A ação vai acontecer por dez dias seguidos, das 8h30 às 17h, até 26 de agosto, e precisamos do máximo de tecedores e tecedoras participando nessa reta final. Por dia serão cerca de 14 pessoas acompanhando os motoristas nas entregas. 

Esta ação tem dado à Redes da Maré uma vivência e entrada no território sem precedentes e é uma oportunidade para se engajar ainda mais com o território, conhecer lugares que não era acessado, conversar com os moradores e apresentar o trabalho da Redes da Maré. 

Ações de saúde contra a Covid-19 na Maré

A Redes da Maré tem desenvolvido algumas ações para enfrentamento da Covid-19 no território. O serviço de telemedicina gratuito oferecido pelo SAS realiza consultas todos os dias, das 8h às 20h via Whatsapp. Para fazer o atendimento, basta mandar uma mensagem para o número (21) 99271-0554 e aguardar o agendamento. 

Outra ação é a testagem, em parceria com o Dados do Bem. Para acessar a testagem, a pessoa precisa estar os sintomas da Covid-19, baixar o aplicativo do Dados do Bem no seu celular e responder algumas perguntas no aplicativo. O atendimento acontecerá apenas com horário marcado e será feito no Galpão do RITMA, na Rua Teixeira Ribeiro, 521, Parque Maré. Veja o vídeo para entender sobre o aplicativo da Dados do Bem.

Arrecadação de fraldas

Nesse momento de pandemia, ir ao mercado e à farmácia custa muito. Imagina para quem usa fraldas geriátricas? Por isso, a Redes da Maré continua a campanha de arrecadação. Quem desejar ajudar é só levar as fraldas no CAM.

Maré em tempos de coronavírus

Você já pode ouvir o 11º episódio do podcast Maré em Tempos de Coronavírus, que sai a cada 15 dias. Nesta edição, Eliana Sousa avalia como a pandemia tem afetado a saúde mental das mulheres. Você pode enviar perguntas ou receber os episódios pela lista de transmissão. Basta enviar uma mensagem para (21) 97271-9410. Para ouvir todos os episódios, basta acessar o site da Redes da Maré.

Rede de proteção de crianças e jovens

A Redes da Maré uniu-se à UNICEF e organizações parceiras, como Luta pela Paz e Observatório de Favelas, para desenvolver o projeto CRIAndo Rede, voltado para a proteção de crianças, adolescentes e jovens. Além da distribuição de cestas básicas e kits de higiene para as famílias, o projeto disponibiliza atendimento remoto com advogadas, psicólogas e assistentes sociais. A proposta é atender cerca de 300 crianças, adolescentes e jovens mareenses ao longo de três meses. 

Direito das mulheres

A Redes da Maré foi selecionada pelo Malala Fund como uma das iniciativas do Malala Fund’s Education Champion Network em 2020, junto com outros 21 projetos e organizações de seis países que lutam pelo direito de meninas e mulheres à educação. A ação prevê acompanhamento escolar e acolhimento de demandas psicossociais específicas deste público, além de um levantamento sobre a situação das meninas e mulheres estudantes moradoras da Maré durante a pandemia, que continua acontecendo. O objetivo do questionário é saber como anda o ensino de meninas e mulheres da Maré durante a pandemia e ajudar a melhorar a educação do território. Basta acessar o link do formulário para responder:

Rede de filantropia

A Redes da Maré passou a integrar mais um espaço importante para fortalecer ainda mais sua missão: tecer as redes necessárias para efetivar os direitos da população do conjunto de 16 favelas da Maré! Desde junho, fazemos parte como membro consultivo da Rede de Filantropia para a Justiça Social, um espaço que reúne fundações comunitárias e organizações doadoras que apoiam diversas iniciativas nas áreas de justiça social, direitos humanos e cidadania. Saiba mais no site. 

Criação artística

A Redes da Maré foi convidada pelo Instituto Moreira Salles para participar de um programa de fomento à criação artística em tempos de isolamento social. Alunos e alunas da Escola Livre de Dança da Maré se inscreveram no projeto “Corpo em Isolamento” e registraram as suas expressões! O resultado dessa manifestação artística pode ser conferida no vídeo no site do Instituto Moreira Salles – Programa Convida.

Arte no sofá

A campanha Faroffa no Sofá possibilitará durante seis dias o acesso a quatro salas de transmissão de aproximadamente 130 espetáculos, além de nove palestras. O acesso é gratuito, mas quem desejar pode ajudar com qualquer valor via Sympla e PicPay, pois a campanha visa arrecadar doações para instituições e ações que estão acontecendo em várias cidades do país, dando assistência às pessoas em situação de vulnerabilidade. Uma dessas ações será a Maré Diz NÃO ao Coronavírus. Participe! Tudo acontecerá no site da campanha.

Parcerias contra um mosquitoA Cruz Vermelha, em parceria com a Vila Olímpica da Maré (VOM), realizará uma distribuição de kits contendo 1 spray aerosol SBP, 1 repelente corporal e folder educativo. Quem comparecer entre os dias 11 e 14 de agosto, das 10h às 16h, na Vila Olímpica da Maré poderá ainda participar de atividades educativas que visam o combate à dengue, zika vírus, chikungunya e febre amarela e também receberá orientações sobre o combate à Covid-19. A VOM lembra que só será permitida a entrega para pessoas maiores de idade, com documento RG ou CPF e o uso da máscara é obrigatório.