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Educação na Maré em tempos de coronavírus: criatividade e dedicação para superar desafios

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No mês em que se comemora o Dia do Estudante, o Maré de Notícias inicia a publicação de uma série de três matérias sobre o desafio de manter projetos de educação na Maré diante das dificuldades impostas pela pandemia – sobretudo em territórios de favelas e periferias. Desigualdades sociais, de raça e de gênero têm sido escancaradas no Brasil e no mundo e manter ações de atendimento e acolhimento a estas populações com criatividade, empatia, afeto e uma grande dose de dedicação têm sido crucial neste período

Luciana Bento

A pandemia do novo coronavírus escancarou desigualdades sociais e a falta de acesso a direitos básicos, que impactam diretamente na adesão dos estudantes ao ensino à distância – algo tão difundido e normalizado nestes tempos. Muitos alunos simplesmente não conseguem estudar em casa – seja por falta de espaços de físicos adequados, seja por novas responsabilidades que tiveram que assumir durante a pandemia, seja pelo acesso desigual às tecnologias e à internet de qualidade.

Em que pesem os movimentos e declarações de autoridades sobre o possível retorno das aulas – estudos científicos, como o publicado pela FioCruz no dia 23 de julho, apontam que ainda não é hora de voltar às atividades presenciais. E independente da data desta retomada, uma coisa é certa: estudantes de favelas e periferias têm vivenciado este momento de forma bem diferente daqueles que moram em áreas mais nobres e estruturadas da cidade.

Na Maré, o desafio de manter crianças e jovens motivados, assistindo aulas remotas, fazendo tarefas e acompanhando atividades propostas pelas escolas é enorme. Começando pelo básico: apenas 36,7% dos domicílios da Maré possuem acesso à internet e 42,4% têm computador, segundo dados do Censo Maré 2013. E mesmo entre os que possuem internet, a queixa generalizada é que a qualidade é muito ruim.         

Com mais de uma dezena de projetos na área de educação – que vão de cursos preparatórios para o Pré- Vestibular, Ensino Médio e 6º Ano até cursos profissionalizantes como o Conectando e o Jovem Aprendiz, passando por educação de jovens e adultos, reinserção de crianças nas escolas e cursos de idiomas – a Redes da Maré atende cerca de mil crianças, adolescentes, jovens e adultos e tem mantido suas atividades durante a pandemia, adaptando suas ações a partir das demandas e especificidades de cada público.

Os projetos abrigam vários perfis de alunos, desde mulheres adultas sendo alfabetizadas até jovens às vésperas do Enem passando por crianças em idade escolar fora da escola e adolescentes que estão aprendendo uma profissão. “Entre eles, há uma questão central em comum: a manutenção de vínculos com as alunas e alunos fornecendo suporte para além dos conteúdos dados em sala de aula”, explica Andrea Martins, diretora da Redes da Maré.

Heróis Contra a Dengue no Zoom

Criatividade, empenho e dedicação não faltam para os tecedores (nome dado aos colaboradores da Organização Redes da Maré) que estão à frente das ações. Realização de atividades culturais, lúdicas e com abordagem de temas atuais, como lives, saraus, aulas com convidados externos – como no caso da antropóloga Lilia Schwarcz para o Curso Pré Vestibular (CPV) – passeios virtuais e iniciativas dos próprios jovens, como no caso do canal do YouTube criado pelos alunos do projeto Heróis contra a Dengue são alguns exemplos de atividades que têm acontecido frequentemente no período.

Atividade CPV

“Temos lidado com o desafio de passar o conteúdo para os alunos em uma realidade de acesso precário à internet. Esta foi uma dificuldade que mapeamos no início da pandemia e que se confirmou”, explica Luana Silveira, coordenadora do Curso Pré-Vestibular da Redes da Maré, que conta com 241 alunos, sendo que 30% deles não têm acesso à internet. “O ensino à distância não é uma prática da instituição e, com a adoção deste método durante a pandemia, vimos que muitas desigualdades foram acentuadas”, avalia.

Mesmo assim, direção e educadores encararam o desafio e têm desenvolvido atividades com os alunos, inclusive com o objetivo de manter vínculos com os jovens neste momento difícil. “Passar conteúdos é importante, mas estamos levando para eles também a discussão de temas atuais, sobre questões onde é fundamental um olhar crítico dos jovens. E nesta proposta, entram as aulas transdisciplinares, onde educadores de várias áreas conduzem atividades em comum, o que têm dado muito certo”, conta Luana.

Não à toa, o CPV fez parte do movimento Adia Enem, por entender que os estudantes moradores de favelas – para além das desigualdades históricas que formam uma barreira quase intransponível de acesso aos mais pobres à universidade – estão em situação ainda mais desequilibrada na preparação para o próximo Exame Nacional de Ensino Médio. “Estamos buscando ser criativos para manter os jovens focados, tenho feito vídeos curtos, tipo pílulas, com temas provocativos para os alunos, preparado ‘aulões’ com outros professores, pesquisando assuntos atuais e relevantes para propor para eles…”, relata o educador dos preparatórios para o 6º e 9º ano e pré-vestibular da Redes da Maré e conselheiro tutelar Daniel Remilik. “E mesmo as aulas sendo virtuais, nossa sala é um espaço seguro pros alunos, um lugar onde eles falam de seus desafios e realidades e são apoiados por colegas e professores”.

Em cada projeto, necessidades específicas

Caderno de uma das alunas do projeto Escreva Seu Futuro

E para quem, já na maturidade, nunca havia frequentado as salas de aula e teve o sonho adiado pela pandemia? É o caso das mulheres do projeto Escreva Seu Futuro, de alfabetização de adultas. “Elas nunca tiveram uma relação continuada com o aprendizado e se dispuseram, já na idade adulta, a conciliar o curso com responsabilidades familiares, domésticas e profissionais. Ao dar este novo passo na vida, tiveram que lidar com as aulas suspensas logo no início do curso, que começou uma semana antes do isolamento social”, conta Alessandra Pinheiro, coordenadora do projeto Escreva seu Futuro.

A partir do momento em que detectou que o isolamento social seria prolongado, a equipe de coordenadores e educadores se reuniu para traçar estratégias pedagógicas para este público, que têm características especiais: nem todas têm acesso à internet, autonomia para utilizar o celular, contas em redes sociais ou de email. Algumas sequer têm um aparelho próprio de celular.

A solução foi concentrar o contato em um grupo de WhatsApp, ferramenta que as alunas conseguem usar com mais independência por ser mais popular e ter recursos de áudio e vídeo. “Temos trabalhado com conteúdos de informação sobre a doença, campanhas de prevenção e propostas de atividades, mas sobretudo focamos na manutenção dos vínculos com estas mulheres”, explica Alessandra.

As educadoras do curso têm ficado disponíveis em caso de dúvidas das alunas e orientação nas tarefas, além de ficar com um olhar atento às demandas apresentadas no grupo. O retorno, relata, é mais do que compensador: “as mulheres nutrem diariamente a equipe, sinalizando que não vão desistir do curso e nem abrir mão, mais uma vez, de seus direitos e sonhos”, completa a coordenadora.

Outro público com características específicas são os adolescentes que participam do projeto Jovem Aprendiz, de ensino profissionalizante, numa parceria da Redes da Maré com o Senai. A resposta ao desafio de continuar com o processo de aprendizagem à distância veio por meio de atividades de formação continuada, acompanhamento pedagógico das aulas teóricas do Senai e das atividades escolares, além de atendimento social dos jovens e seus familiares. “Uma ação que incorporamos ao nosso planejamento foram as reuniões quinzenais com os familiares dos aprendizes. É um espaço de troca para que eles compartilhem suas angústias e estratégias neste momento de crise”, relata Núbia Alves, coordenadora do projeto Jovem Aprendiz. “Nestas reuniões damos retorno aos familiares sobre as atividades planejadas e solicitamos que eles estimulem os aprendizes a participarem”, conta.

Além dos conteúdos do curso de qualificação profissional realizado pelo Senai, os jovens têm realizado atividades de formação continuada com ferramentas como filmes, textos, música e debates com temas muitas vezes propostos pelos próprios alunos. A aposta é, mais uma vez, na manutenção de vínculos e na motivação dos jovens, já que o risco de evasão pós pandemia tem sido uma preocupação de especialistas, universidades e instituições ligadas à educação. “Enquanto aguardamos a avaliação das autoridades sanitárias e de saúde sobre o momento seguro para a volta às aulas presenciais, a Redes da Maré segue com seus projetos de maneira remota, sempre acreditando que a educação de qualidade é uma das principais chaves para que desigualdades, em todos os níveis, sejam superadas”, finaliza Andréia Martins.

Crianças do projeto Nenhum a Menos realizando tarefa em casa

Pelo simples direito de ser pai

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Em pleno 2020, o preconceito ainda é um obstáculo a ser superado

Neste ano, o Dia dos Pais não chamou atenção pelos preços dos presentes, a ida às lojas nos últimos momentos ou por ser mais uma data em que o distanciamento social deve ser respeitado por conta da pandemia. O que causou comoção foi o preconceito. Ao organizar uma campanha publicitária para a festividade paterna, a Natura reuniu influenciadores digitais, como Rafael Zulu, Babu Santana, Henrique Fogaça, Fernando Ferraz, Rodrigo Capita, Thammy Miranda, entre outros, para realizarem posts em suas redes sociais. O único nome questionado pelos internautas foi o de Thammy, por não se sentirem representados por ele como pai, por ser um homem trans. Esse se tornou um dos assuntos mais comentados nas redes sociais na última semana, vésperas da festividade.

A empresa apostou em nomes para potencializar sua campanha de Dia dos Pais deste ano com um time de influenciadores que está divulgando a #MeuPaiPresente nas redes sociais. O problema foi que figuras como o pastor Silas Malafaia e o deputado federal Eduardo Bolsonaro disseram que Thammy Miranda não poderia ser pai do pequeno Bento, de 6 meses, pelo fato de ele ser um homem trans. Influencers conservadores convocaram seus seguidores a não comprarem mais produtos da Natura, responsável pela ação. Com uma atitude de ódio, Thammy sofreu incontáveis ataques transfóbicos após a publicação. 

Vídeo da campanha de Dia dos Pais da Natura #MeuPaiPresente

Até o momento, a polêmica gerada em torno de um pai ao falar do amor pelo seu filho mostrou que o discurso de ódio persiste e que a defesa da liberdade e igualdade entre as pessoas, independente de suas orientações sexuais e de gênero, precisa sair vitoriosa. Thammy comentou em uma rede social que nunca teve a pretensão de ser representante de todos os pais e que não esperava essas atitudes de preconceito. “Eu não fui contratado sozinho. Quem não se sentir representado pela minha pessoa, pode procurar outra representação. Eu represento um nicho, que deseja liberdade e respeito às diferenças. Um grupo de pessoas que não precisa ouvir um monte de besteira. Percebo uma falta de respeito, não só comigo, mas agressões a todas as pessoas que represento nesta ação. A Natura busca com a campanha o respeito e a representatividade”, comenta.

O influenciador fala sobre o papel do pai. “Uma pena que o ser humano ainda precise passar por mais catástrofes para evoluir. Não sou melhor ou pior, só sou um pai atencioso que abraça, educa, protege, amoroso, carinhoso e que dá a vida pelo seu filho. Algo que todos deveriam ser, um pai presente que faz a diferença”, expõe. Thammy cita que todos deveriam estar discutindo por que no Brasil são 5,5 milhões de crianças sem o nome do pai na certidão de nascimento, segundo o Conselho Nacional de Justiça, com base no Censo Escolar, divulgado em 2013.

Direito é direito está na constituição

Para Gilmara Cunha, diretora executiva do Grupo Conexão G, moradora da Nova Holanda, mulher trans, negra e favelada, a sociedade precisa entender o que é ser pai. “Não é algo que passa pela genitália, e sim pela referência e identificação. Existe vários casais LGBTQIA+, que fazem o papel de mãe e pai. Podemos também identificar que uma avó ocupa esse papel de mãe e pai em diversos momentos”, diz. Para ela, esses comentários são de puro preconceito, pois esquecem que ser diferente não é ser melhor nem pior do que ninguém. “Quando o diferente não é aceito, aí surgem os problemas. Muita gente que tem o modelo de vida diferente do comum é marginalizada e sofre com o isolamento e a discriminação. A nossa sociedade é diversa e precisa compreender que não seguimos as padronizações da heterossexualidade”, conclui.

Enquanto o número de mortes devido à Covid-19 só cresce, com proximidade aos 100 mil óbitos, políticos e líderes religiosos perdem tempo com comentários que incentivam ataques transfóbicos. Luiz Costa, professor, pai de dois filhos, membro do Especiais da Maré e da instituição Espaço Linha de Conversa, no Morro do Timbau, acredita que é o momento que a sociedade necessita de expressão reflexiva. “Agosto continua sendo o melhor mês para tocar o homem amoroso possível a cada um de nós. O problema é que o machismo deixa um rastro de medo quase sempre travestido de negação do outro”, diz.

“Na minha juventude conheci um casal de homens nordestinos gays que cuidavam de duas irmãs de um deles. Elas hoje são mulheres muito bem formadas, bem posicionadas socialmente e com uma família linda. Não faltou nada para que elas fossem o que são hoje. Ser homem e/ou pai amoroso independe da vivência sexual”, fala. Para o professor, todos têm o direito à família. “Thammy falou também sobre uma quantidade enorme de pessoas que sequer tem nome do pai na certidão de nascimento. Eu me enquadro nesta categoria”, finaliza.

O avanço e a sedimentação do fundamentalismo religioso que quer impor seus modos de pensar sobre todos os corpos existentes, incitando punição para os divergentes já traz resultados ruins. “Essa é uma das razões do Brasil ser o país que mais mata LGBTQIA+ no mundo. Nesse sentido, é esperado que os principais adversários dessa campanha da Natura sejam pessoas ligadas a esses segmentos religiosos”, expõe Dayana Gusmão, assistente social da Redes da Maré, moradora do Conjunto Bento Ribeiro Dantas e membro do Coletivo Resistência Lésbica da Maré.

“Particularmente me assusta perceber o quanto algumas pessoas se sentem afetadas quando outro grupo de pessoas alcança direitos que elas sempre tiveram. No caso dos homens trans o direito paternal é conquista. Então ouso dizer que todo esse repúdio não tem bases racionais. É apenas ódio mesmo. As pessoas negras e pessoas com deficiência passam por preconceitos muito parecidos e muitas vezes são vítimas do mesmo ódio”, comenta. Para Dayana, infelizmente o Brasil é um país racista, machista e lgbtfóbico, com uma amarga realidade que se lança sobre todos os grupos minoritários e divergentes como a ponta da lança da morte.

Uma ação que visa a igualdade

Nos últimos anos tem se tornado comum que pessoas boicotem marcas por elas trazerem diversidade às suas campanhas publicitárias. Em 2015, o Boticário realizou campanha do Dia dos Namorados onde trazia um casal LGBTQIA+ trocando presentes e carinhos ao som de “Toda forma de amor” de Lulu Santos, reforçando a bandeira da diversidade. Na época, o vídeo causou revolta a milhares de consumidores, que organizaram mutirões  e correntes nas redes sociais para dar dislike (não gostei) no vídeo no YouTube. 

O Maré de Notícias entrou em contato com Natura, que enviou uma nota de repúdio às declarações ofensivas:

“A Natura acredita na diversidade. Esse valor está expresso em nossas crenças há mais de vinte anos, estando sempre presente em nossas campanhas publicitárias e projetos patrocinados. A campanha de Dia dos Pais mergulha na rotina desafiadora que todos estão vivendo durante a quarentena e mostra como esse intenso convívio pode fortalecer a relação entre pais e filhos, mostrando que a presença paterna é o maior presente. A Natura celebra todas as maneiras de ser homem, livre de estereótipos e preconceitos, e acredita que essa masculinidade, quando encontra a paternidade, transforma relações.”

Um Brasil sem pai

O direito à convivência familiar é reconhecido constitucionalmente e assegurado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, assim como a criança ou o adolescente tem o direito de ser criado pela sua própria família, de um modo geral e, excepcionalmente, por família substituta. Contudo, dados do Instituto Data Popular, divulgados pela Agência Brasil em 2015, apontam que o país conta com 67 milhões de mães, das quais 31% são mães solos. Isso significa que pouco mais de 20 milhões cuidam sozinhas de seus filhos ou com ajuda de algum familiar.

No Censo Populacional da Maré 2013, os resultados indicam uma importante participação feminina na responsabilidade dos domicílios. Na condição de única ou principal responsável, estão 30,3% das mulheres maiores de 15 anos. Além destas, 19,1% exercem a responsabilidade de forma compartilhada nos demais domicílios, mas em igualdade de condições com as outras pessoas responsáveis. Portanto, praticamente a metade das mulheres com 15 anos ou mais de idade é responsável por domicílios na Maré. Ou seja, uma boa parte das mulheres mareenses e brasileiras já desempenha o papel econômico e afetivo que deveria ser feito por um pai, homem, hétero. Infelizmente, poucos se preocupam com esse quadro.

O grupo de samba Nova Cor gravou em 1994 a música Ser Pai Ser Mãe, de Chiquinho Fabiano, Cizinho e Paulinho Carioca, que traz em seus versos a responsabilidade de ser cuidar de um filho: “Ser pai não é pra qualquer mané. Ser mãe não é pra qualquer mulher. Tem gente que sabe ser pai e ser mãe, dá olé! Ser mãe não é só dar a luz. Ser pai não é só pôr no mundo…”

Que o Brasil seja um país com menos preconceito e mais responsabilidade. Feliz Dia dos Pais!

Ronda Coronavírus: Witzel prorroga medidas de isolamento até 20 de agosto

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Brasil é país que lidera em número de novas mortes em 24h, segundo OMS

No dia 06 de agosto, o governador Wilson Witzel prorrogou as medidas restritivas para evitar a proliferação do novo coronavírus no estado do Rio, que nesta sexta-feira atingiu a marca de 175.969 casos confirmados e 14.028 mortes, segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES). No Decreto publicado no Diário Oficial, estão suspensas quaisquer atividades que envolvam aglomeração, como shows, cinemas, teatros, visitas a unidades prisionais e outros. Pontos turísticos, bares e restaurantes podem funcionar, mas respeitando o limite de 50% de sua capacidade. Confira o texto completo do Decreto aqui.

Mesmo com os apontamentos para a queda dos números de casos e mortes no estado, pelo segundo dia consecutivo o Brasil é o país que lidera em número de novas mortes confirmadas em 24h por Covid-19, segundo levantamento feito pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O Brasil tem hoje 2.962.442 casos e 99.572 mortes confirmadas pelo novo coronavírus, além de 50.230 novos casos nas últimas 24h, segundo o Ministério da Saúde.

Covid-19 ns favelas

As favelas do Rio tem hoje 6.098 casos confirmados e 833 mortes, entre dados oficiais e relatoria comunitária, como aponta o Painel Unificador Covid-19 nas Favelas do Rio de Janeiro. A Maré fecha a semana com 493 casos confirmados e 90 mortos, de acordo com o painel da Prefeitura. Entre os números suspeitos e sem confirmação, são 1.055 pessoas infectadas e 33 mortes no território, segundo levantamento feito pelo 14º boletim De Olho no Corona!, que já está disponível para leitura aqui

Além de trazer dados atualizados sobre a pandemia no conjunto de favelas, o boletim chamou atenção para a situação da saúde mental da população da Maré, que sofreu com a necessidade do isolamento social ocasionado pela pandemia.

CPI das escolas

Comissão da Câmara de Vereadores do Rio concluiu que escolas municipais não têm condições de retorno às aulas devido a problemas estruturais, como falta de iluminação, de equipamentos nas cozinhas, de portas nos banheiros e outros problemas. Assim, além da questão pandêmica, a estrutura das unidades municipais impossibilita o retorno imediato de alunos.

Enquanto ainda acontece o impasse para decidir a data de retorno das aulas na rede pública de ensino do município e estado, os estudantes que podem se dedicar aos estudos continuam em casa. Já os professores têm o desafio de inovar neste novo modelo de aula virtual. 

Klaus Grunwald, morador da Baixa do Sapateiro e Professor de Educação Musical na Maré, precisou encontrar alternativas para continuar estimulando o aprendizado dos alunos durante a suspensão das aulas presenciais. O desafio foi alcançar todos estudantes que nesse momento tem acesso a internet. “O que desenvolvi durante esse período foi compartilhar muito vídeo, aplicativos com execução musical, de jogos… E com todos esses conteúdos, fui montando uma apostila”. 

Klaus precisou lidar com a instabilidade da internet de seus alunos para pensar em suas aulas

Matrículas online

A Secretaria Municipal de Educação anuncia que a partir do dia 10 de agosto será reaberto o período de pré-matrícula para transferência externa para aqueles que desejarem estudar nas escolas da rede municipal de ensino. No momento não serão feitas transferências internas. As inscrições serão realizadas apenas pelo site até o dia 31 de agosto para os segmentos Pré-escola, Ensino Fundamental, Ensino de Jovens e Adultos e Educação Especial. 

Campanha de amamentação

Para reforçar a importância do aleitamento materno, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) apoia a campanha Agosto Dourado e a Semana Mundial de Amamentação, que vai do dia 1 a 7 de agosto. Mesmo em meio à pandemia, que reforça a necessidade de se respeitar o isolamento social, as doações do Bancos de Leite Humano (BHL) se mantiveram na média, beneficiando 518 bebês que receberam doações de 408 doadoras de janeiro a julho deste ano. 

As doações podem ser feitas no BHL ou postos de coleta da cidade. Alguns bancos de leite oferecem serviço de visita domiciliar. Para mais informações, acesse o site ou ligue para o número 136.

Dicas Culturais

O final de semana promete ser de lives para acompanhar com toda a família. Nesta sexta-feira (07) Caetano Veloso irá comemorar seu aniversário de 78 anos se apresentando na Globoplay a partir das 21h30. 

No sábado, às 15h, acontece o Festival de Inverno Rio 2020, com a apresentação de Barão Vermelho, Detonautas e Raimundos no canal do YouTube do Festival. Ainda no sábado, os Novos Baianos irão se encontrar a partir das 17h30 no YouTube para fazer uma homenagem a Moraes Moreira. E no domingo, o samba está liberado! No início da tarde a apresentação começa com Xande de Pilares, que irá cantar em seu canal a partir das 14h. Na sequência, às 17h, Zeca Pagodinho irá presentear os pais com a segunda live da quarentena que o artista irá realizar em seu canal.

Ronda Coronavírus: Brasil está próximo das 100 mil mortes

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Após prefeito liberar retorno de aulas de algumas turmas da rede privada, estado do Rio decreta suspensão das aulas

Nesta quarta-feira, 03 de agosto, o Brasil tem mais de 2,8 milhões de infectados e mais de 97 mil mortes pela Covid-19, de acordo com o consórcio dos veículos de mídia, sendo o segundo país em pessoas infectadas e mortas, atrás apenas dos Estados Unidos. Nas últimas 24h, as secretarias estaduais de saúde registraram 54.685 novos casos da doença. 

A Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro registrou nesta quarta-feira (03) 172.679 casos confirmados e 13. 855 mortes pelo novo coronavírus. A cidade do Rio tem 73.396 casos confirmados e 8.499 mortes por Covid-19. Desses números, são 6.040 casos e 824 mortes registradas de coronavírus nas favelas do Rio, entre confirmados e suspeitos, como aponta o Painel Unificador Covid-19 nas Favelas do Rio. A Maré tem 452 casos confirmados e 88 mortes, de acordo com o Painel Rio Covid-19, da Prefeitura.

Impasse na educação

Embora a Prefeitura do Rio tenha autorizado o retorno das turmas de 4º, 5º, 8º e 9º ano da rede privada a partir de 03 de agosto, o governo do Estado determinou nesta quarta-feira (05) a suspensão das aulas presenciais até 20 de agosto para ensino público, privado e superior. De acordo com o secretário de educação, Pedro Fernandes, as instituições que retomarem as atividades sem autorização do estado podem ser multadas ou fechadas. 

Diante a decisão do prefeito Marcelo Crivella, os professores das escolas particulares decidiram em assembleia virtual no dia 01 de agosto por manter a greve iniciada em julho, por não se sentirem seguros para o retorno às salas de aula. A Secretaria Municipal de Educação informa que não há previsão para retorno das aulas da rede pública municipal de ensino.

Hospitais de campanha

A atual situação dos hospitais de campanha do Rio de Janeiro ganhou um novo capítulo. O Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (Iabas) contratou 14 empresas para montar estruturas, redes elétrica e hidráulica, além de cuidar dos equipamentos. Entretanto, os empresários dessas empresas alegam não ter recebido os repasses do Iabas, cerca de R$25 milhões. 

Após o anúncio, na última semana, do fechamento dos hospitais de Duque de Caxias, Nova Friburgo e Nova Iguaçu em 05 de agosto, os empresários alegaram que a desmontagem dos hospitais só acontecerá após o pagamento dos atrasados. 

Em entrevista ao Maré de Notícias, o doutor e mestre em Saúde Pública, professor e pesquisador da Fiocruz Daniel Soranz comentou que o dinheiro gasto nos hospitais de campanha poderia ter tido outro destino: “Tinha de investir no Sistema Único de Saúde, no tratamento primário. Enquanto temos hospitais luxuosos de campanha no Riocentro e Maracanã, a UPA Maré está caindo aos pedaços, soltando o piso; o Centro Municipal da Vila do João não tem nem tinta para pintar as paredes; e na Nova Holanda, a Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva não teve, até hoje, a ligação elétrica feita. Isto é desconhecer a cidade”, comenta. Confira o texto completo aqui.

Venda irregular de hidroxicloroquina

Camelô é visto vendendo hidroxicloroquina em vagão de trem do Rio de Janeiro. Mesmo sem nenhuma comprovação sobre sua eficácia no combate ao novo coronavírus, o medicamento é bastante procurado pela população. A Supervia, concessionária responsável pela malha ferroviária do Rio, esclareceu que os agentes não têm poder para apreender a mercadoria. Em nota, informou que é “proibida a negociação ou comercialização de produtos e serviços no interior dos trens, nas estações e instalações, exceto aqueles devidamente autorizados pela Administração Ferroviária”.

Suspensão das operações policiais

Nesta terça-feira, 04 de agosto, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu por maioria manter a suspensão de operações policiais nas favelas e periferias do estado do Rio de Janeiro durante a pandemia da Covid-19. Com o voto da ministra Carmen Lúcia, publicado ontem em sessão virtual, formou-se maioria para aprovar a decisão. Até o momento, sete dos onze ministros publicaram seu voto. 

A medida mostra a importância de articulações como a ADPF das favelas, que ajudou a pressionar o STF nessa votação, impedindo que a política de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro pratique condutas inconstitucionais contra a sociedade.

Resiliência é ser mangue na Maré

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Acompanhados por um antigo pescador e morador do Parque União, fomos em busca das árvores de mangue que ainda existem no litoral do Complexo da Maré, uma das maiores favelas do mundo.

Reportagem: Breno Souza do data_labe
Edição: Fred Di Giacomo
Arte: Giulia Santos

Julho é considerado mês dos manguezais, um ecossistema vivo na memória dos moradores mais antigos do Complexo da Maré (RJ), cujas histórias se cruzam com a lama debaixo das palafitas, nas madeiras das árvores utilizadas para construção das casas e pontes e na lembrança dos pescadores da região. Mas como estão os manguezais da Maré atualmente?

Antes dominada por ilhas, florestas extensas e praias de mar calmo, a região de 578,84 hectares, onde atualmente se encontra o conjunto de favelas da Maré, lar de mais de 140 mil pessoas, foi um cenário de extrema beleza natural e rica biodiversidade. As águas da Baía de Guanabara adentravam imensas porções do território que hoje chamamos de Zona Norte da Cidade do Rio de Janeiro através da Enseada de Inhaúma. Antigas faixas de vegetação, lama e maré, hoje, dão espaço a milhares de casas, indústrias, escolas, avenidas e ao caos da poluição que afeta nossas matas, rios e atmosfera. O pouco mangue da Maré que consegue se manter vivo é a perfeita representação de resiliência. Onde morre o manguezal também morrem tradições populares, as histórias de um povo e vidas cuja fonte de recursos era a própria natureza. 

Em nossa busca foi impossível não cruzar com as histórias de um antigo pescador local, Hélio de Carvalho (55), que pratica a pesca tradicional há 40 anos e foi um dos fundadores da colônia de pescadores que existe embaixo da Linha Vermelha, no Parque União, uma das 16 favelas do Complexo da Maré. 

De origem humilde, Hélio sabe bem o que é enfrentar adversidades para sobreviver: “no começo foi difícil quando eu queria comprar o meu próprio material. Eu [pescava] com dois pescadores já senhores, um ainda vivo é o Seu Vicente e o outro era Seu Valdemar, hoje já falecido. Eu já tinha aprendido a costurar rede com eles na praia, mas para eu ter uma rede eu juntava um dinheiro, ia no mercado. Vamos fazer uma suposição, a rede era R$ 80, eu chegava lá com os R$ 80, no mercado São Pedro, a rede era R$ 90… Não tinha como comprar. Eu nunca conseguia comprar e aí continuei pescando com eles lá. Depois com o tempo comecei a trabalhar de ajudante de pedreiro, no final de semana eu recebia meu dinheiro e no sábado estava no mercado comprando rede, quando acabei de comprar a rede eu comprei os cabos da rede, as bóias e os chumbos. Hoje em dia eu pego serviço de entralhamento de rede, costuro tarrafa, monto qualquer tipo de rede. Hoje em dia também tá tudo alto [preços] com esse problema da pandemia.” 

Hélio de Carvalho, um dos fundadores da Colônia de Pescadores da Maré. Foto: Hélio de Carvalho.

A natureza exuberante e a grande oferta de pescado são as principais lembranças de uma época em que o regime de marés dominava o território. São memórias vivas na história de Hélio, que também não esquece de antigos companheiros de pesca: “me recordo muito bem como era a maré aqui do Parque União. A maré tinha uma extensão muito grande em largura e não existia o CIEP César Pernetta, não existia a linha vermelha, a maré era larga. A gente buscava tainha lá do outro lado no mangue, tinha tainha pra caramba, a gente botava a rede do outro lado né? Lançava a rede, cercava a beirada e deixava lá de espera. A gente via elas [as tainhas] levantando a rede. A rede era alta e embolava, a gente ia lá depois de uma hora, recolhia as tainhas e vendia na comunidade. O mangue era vivo, tinha caranguejo, aquele caranguejo-uçá tinha muito. Tinham mais pescadores, hoje em dia tudo já falecido, muitos que fizeram história foram esquecidos como o pescador Dilon, Seu João, o Leca, o Nininho, todos esses.”

Linha Vermelha. Importante via expressa da cidade, um dos frutos do processo de aterramento da região.

De dentro do canal é possível enxergar a favel além da Linha Vermelha.

Com o passar do anos, a política de aterramento de áreas alagadas na cidade deu início a um processo de modificação da paisagem natural da Enseada de Inhaúma, impactando na biodiversidade e na forma de vida dos moradores da região. A fala de Hélio retrata bem este processo: o manguezal tinha muito caranguejo, muito mesmo, aí foram aterrando, aterrando, vieram algumas empresas e acabou, ficou tudo aterrado. Hoje o manguezal é só uma faixinha pequena e só tem uns pés de mangue. Tem pouco tempo, a mais ou menos cinco anos, ali vinha tainha e agora sumiu totalmente, sinal de que está muito [alto] o nível de poluição. Agora só nos restam recordações: tempo bom, tempo das palafitas.”

Triste realidade dos mangues na região, Hélio segue trabalhando.

Na companhia de Hélio, fomos encontrar os mangues que ainda estão de pé no Complexo da Maré. A busca ocorreu nos limites da favela do Parque União, nas proximidades da colônia de pescadores e da Linha Vermelha. Não foi fácil encontrar as árvores de mangue. Além do mato ser bem alto e existirem muitas espécies de árvores de terra, como por exemplo amendoeira e pé de mamona, o lixo de todo tipo (fraldas, brinquedos, utensílios de cozinha, embalagens de alimento, de produtos de limpeza, peças de automóveis e etc) acumula na lama e o forte  cheiro de esgoto domina o ar, dificultando o acesso ao canal que separa a Maré da Ilha do Fundão. Foi preciso explorar regiões mais para dentro do canal e não estávamos de barco, todo trajeto foi feito a pé, mesmo assim não desistimos. Neste ponto foi possível avistar e se aproximar de uma pequena ilhota de mangue-branco (Laguncularia racemosa), cercada por poucas árvores de mangue-preto (Avicennia schaueriana). Uma toca na lama também foi avistada, mas nenhum sinal de caranguejos. 

A busca seguiu dentro da colônia de pescadores, onde também foi possível avistar poucas árvores de mangue-preto e branco, mas nenhum sinal de mangue-vermelho (Rhizophora mangle) foi notado. Embora, segundo Hélio, ainda exista mangue vermelho em locais próximos onde ocorreram projetos de revitalização e recuperação de áreas de manguezal degradado.

Colônia de Pescadores da Maré em baixo da Linha Vermelha.

Se os mangues são as espécies de árvores, o que seriam os manguezais? A oceanógrafa Viviane Fernandez, doutora em meio ambiente e professora adjunta na Universidade Federal Fluminense (UFF) define para nós. “Existe uma definição clássica de manguezais, mas hoje eu definiria assim: manguezais são ecossistemas formados por árvores, animais e isso inclui nós, seres humanos, que vivem em um ambiente de transição entre a terra e o mar, regulado pelo fluxo das marés. É importante preservar os manguezais, entre outros fatores, porque sem eles nossos mares terão menos peixes, espécies poderão ser extintas, as inundações poderão aumentar em áreas baixas da planície litorânea. Por exemplo, a região da Praça da Bandeira era formada por manguezais que foram aterrados e por canais que foram retificados. Por isso, foram necessárias grandes obras de engenharia para conter parcialmente as enchentes que ali ocorrem.”

Viviane traz em sua jornada reflexões sobre a existência humana e o domínio da natureza, e não deixa de citar os manguezais da Maré, que deveriam existir em plenitude de serviços ambientais: “o escritor e ambientalista indígena Ailton Krenak destaca que deixamos de prestar atenção no verdadeiro sentido do que é ser humano. Para ele, a humanidade é constituída por um seleto grupo de pessoas que passou a definir que a natureza deve ser dominada para proporcionar seu bem-estar na Terra. Explica que a maioria dos humanos faz parte da “sub-humanidade, que vive numa grande miséria sem chance de sair dela”, mas que continua tentando. Ele destaca  também que fazem parte da sub-humanidade os povos que vivem vinculados à Terra: caiçaras, índios, quilombolas, aborígenes, e que é com eles que precisamos aprender. Na minha opinião o que levou os Manguezais da Maré à destruição quase completa foi o mesmo fator que vem destruindo todo o planeta, a ideia de progresso inerente ao sistema econômico capitalista. Neste caso, os manguezais foram convertidos quase completamente e, por isso, os serviços ambientais deixaram de ser prestados por eles. O termo “serviços ambientais” é uma tentativa de dar destaque, de atribuir valor, a tudo que a humanidade recebe “gratuitamente” da natureza. Estes incluem produção de alimento e água; controle de enchentes, secas e doenças; ciclos de nutrientes e serviços culturais como recreação, valores espirituais e religiosos e outros benefícios não materiais.”

A oceanógrafa Viviane Fernadez há muitos anos trabalha com manguezais de todo Brasil. Foto: Núcleo de Estudos em Manguezais (NEMA – UERJ).

A busca pelos manguezais da Maré evidenciou para nós a necessidade urgente de medidas para cuidar desse ecossistema, cujas poucas árvores remanescentes no território agonizam e não se sabe até quando resistirão de pé. O pescador Hélio pensa em medidas que possam melhorar a qualidade da água do mar na região: “o canal do Fundão é bem estreito, é tudo assoreado. Bom seria uma boa dragagem ali pra poder aprofundar bem para ter um fluxo de água legal, e aí [a água] vai renovando… a maré mesmo faz o serviço de renovar. A água lá de fora entra, vem ali pelo Caju, vem do lado da ponte Rio-Niterói, [a água] entra e vai circulando e aí vai aparecendo peixe”. A oceanógrafa Viviane segue na mesma linha de Hélio: “para que os manguezais remanescentes sobrevivam é necessário manter o fluxo de água nos locais onde eles ainda ocorrem, garantir a qualidade dessa água, evitar a chegada de lixo e impedir os aterros.

Ao olharmos para a situação ambiental do Complexo da Maré, somos atravessados por questões que vão além da sobrevivência das árvores de mangue. Percebemos que quando falamos de ecologia falamos também de justiça social. O acesso a um meio ambiente saudável e que promova qualidade de vida para as populações adjacentes, não pode ser na prática, um direito apenas dos mais ricos. Meio ambiente não é mercadoria. Dialogar com comunidades tradicionais ou faveladas de forma acessível e participativa é um dos desafios das ciências ambientais. É preciso que ambientalismo e saúde pública deixem  de ser pautas chatas ou elitizadas e que os debates ganhem força nos territórios mais desprovidos de direitos. Cuidar da natureza também é cuidar da cultura e do modo de vida dos nosso avós. 

A garantia de uma vida digna para os mais de 140 mil moradores do território precisa ser pauta constante da sociedade civil e das autoridades, garantir que as memórias ambientais não se percam é parte importante desse processo: “acredito no poder do resgate da memória das relações que os primeiros moradores tinham com os manguezais e a Baía. Essa memória pode ajudar na definição do que realmente importa”, diz Viviane. O Núcleo de Estudos em Manguezais (NEMA – UERJ), laboratório onde Viviane desenvolveu inúmeras pesquisas,  há muitos anos vem produzindo conhecimento acerca dos manguezais da Baía de Guanabara, cujas águas conduzem Hélio e os demais pescadores diariamente em suas jornadas no mar. É preciso garantir que as árvores de mangue não sumam. Que os Hélios não sumam. Que a história que liga a ancestralidade das favelas e da natureza não sumam. O mangue é a Maré. E ambos resistem.

*Breno é colaborador do data_labe no âmbito da parceria com o PPGTU/PUCPR e Durham University em pesquisa sobre ativismo digital e territórios urbanos da margem, apoiada pela British Academy.

Ronda Coronavírus: Por dois meses seguidos, Brasil registra mais de 30 mil mortes

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Final de semana foi de grande movimento na cidade e nas favelas do Rio

Desde o início da pandemia no Brasil, julho foi o mês que registrou o maior número de mortes de todo esse período, num total de 32.912 mortes, de acordo com levantamento feito pelo consórcio de veículos de mídia, que tem como fonte primária as secretarias estaduais de saúde. Comparado a outros países, o Brasil foi o local onde mais pessoas morreram por Covid-19 no mês de julho. Apenas nos dois últimos meses, o país registrou mais da metade do número de mortes de toda a pandemia, mais de 60 mil. Hoje, 03 de agosto, o Brasil tem 2.750.318 pessoas infectadas e 94.665 vítimas do novo coronavírus, segundo o Ministério da Saúde.

E mesmo com o aumento dos casos e mortes a cada mês, os números parecem não chocar nem mesmo aqueles que no início da pandemia reforçaram a necessidade de se ficar em casa. Na cidade do Rio, por exemplo, o final de foi de praia cheia. Além disso, 59 estabelecimentos, entre bares, restaurantes e quiosques foram multados pela Subsecretaria de Vigilância Sanitária da Prefeitura do Rio. São 839 novos casos e 32 mortes confirmadas em 24h, totalizando nesta segunda-feira (03) 72.079 casos registrados e 8.371 mortes, de acordo com o Paine Rio Covid-19, da Prefeitura.

Na Maré não foi diferente: houve grande movimentação pelas ruas, com muitas pessoas circulando sem máscara. Hoje são 431 casos confirmados e 88 mortes na Maré, de acordo com o painel da Prefeitura. O Painel Unificador Covid-19 nas Favelas do Rio de Janeiro registra 5.848 casos, entre dados públicos e relatados por lideranças comunitárias.

ADPF 635

No período de um mês, o número de mortos em operações policiais reduziu em 70% após decisão cautelar do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) de suspender essas operações em favelas do estado do Rio durante a pandemia. Esses são dados do GENI (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos – Universidade Federal Fluminense), que fez uma análise entre 05 de junho e 05 de julho sobre as operações no estado.  

A ADPF 635 ou ADPF das favelas – Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental – teve papel importante nesse processo para ajudar a impedir que o poder público pratique condutas inconstitucionais contra a sociedade. Neste caso, a política de Segurança Pública adotada pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro.

A participação de organizações sociais na discussão da ADPF 635 é fundamental, trazendo a vivência de quem acompanha de perto as violações cometidas em ações policiais. A Redes da Maré, junto a organizações como Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, o Movimento Negro Unificado, Movimento Mães de Manguinhos, Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência e outras colaboram na discussão do processo. Saiba mais no vídeo.

Campanha Maré Diz NÃO ao Coronavírus

A Campanha Maré Diz NÃO ao Coronavírus completou quatro meses de atuação no final de julho e segue a todo vapor! A campanha, que começou em março como uma ação emergencial de distribuição de cestas de alimentos e kits de higiene e limpeza, se desmembrou em diversas frentes de trabalho no território, impactando a vida de milhares de moradores. Distribuição de quentinhas para pessoas em situação de rua, desinfecção das ruas da Maré, criação de produtos de comunicação sobre a pandemia são algumas das ações que a Redes da Maré tem realizado ao longo desses meses. 

Veja as ações realizadas até agora pela Campanha Maré Diz NÃO ao Coronavírus

Redes da Maré no Catarse

Durante a pandemia, a Redes da Maré beneficiou milhares de famílias, mas o número de pessoas precisando de ajuda aumentou. Podemos fazer a nossa parte compartilhando e doando para a campanha de arrecadação no CATARSE, que está na última semana. A meta é comprar 4 mil cestas para doar a famílias da Maré que mais precisam de apoio nesse momento. Ajude a Redes da Maré a engajar mais pessoas nessa campanha! Para doar e saber mais informações, basta acessar o site da campanha.

Ações de saúde contra a Covid-19

A Maré tem desenvolvido algumas ações para enfrentamento da Covid-19 no território. O serviço de telemedicina gratuito oferecido pelo SAS realiza consultas todos os dias, das 8h às 20h via Whatsapp. Para fazer o atendimento, basta mandar uma mensagem para o número (21) 99271-0554 e aguardar agendamento. 

Comunicação comunitária na pandemia

Na terça-feira, 04 de agosto, às 19h, acontece um papo importante sobre os rumos da comunicação comunitária durante a pandemia. Para conversar melhor sobre o assunto, o tecedor e jornalista Hélio Euclides vai mediar uma conversa com o também jornalista e pesquisador Pedro Barreto e a coordenadora do Jornal Fala Roça Michele Silva. O encontro será no Facebook da Redes da Maré.

Jornal Maré de Notícias

Está no ar a edição 115 do nosso Jornal Maré de Notícias, falando sobre a atual situação da pandemia na Maré. O jornal já está disponível para leitura em PDF no site do Maré Online.

Galeria da minha janela

Já conferiu a galeria do site A Maré de Casa? Os moradores da Maré que quiserem participar, podem enviar uma mensagem para o Whatsapp (21)97205-0989 ou e-mail [email protected] com uma foto e um texto sobre o que tem visto de suas janelas durante a quarentena. Os cinco autores das fotos e textos mais votados ganharão o prêmio e um destaque no site do projeto. 

Nenê do Zap

Tem um momento em que os pequenos querem descobrir novas sensações, como tocar, morder, cheirar… Faz parte do aprendizado da nenezada e é um momento muito importante para o seu crescimento e desenvolver os seus sentidos. Veja mais na dica de hoje.