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O que a pandemia tem a ver com meio ambiente?

Como saúde, meio ambiente e exclusão social se relacionam durante a pandemia

Maré de Notícias #114 – julho de 2020

Julia Rossi

Desde a década de 1970, com o surgimento dos movimentos ambientalistas, houve uma tendência de separar a noção de sociedade e meio ambiente, homem e natureza, cidade e campo, como se fossem coisas muito distantes. Hoje, entende-se que meio ambiente é como tudo isso está ligado: o homem também faz parte da natureza e a cidade existe por causa do campo e vice-versa. A pandemia é um bom exemplo para entendermos como esse meio ambiente está presente no nosso cotidiano, como também naquilo que muitas vezes não conseguimos ver.

Nas florestas, os vírus se encontram em equilíbrio com os seus hospedeiros, que em geral são mamíferos, sem causar mal a essas espécies. Morcegos e ratos são os hospedeiros mais frequentes, pois existem em grande número na natureza, em diferentes locais do mundo. A destruição das florestas pela ação humana, com o avanço da agropecuária e grandes indústrias, aumenta o risco de seres humanos entrarem em contato com esses hospedeiros, que podem causar doenças desconhecidas. É rápido para um vírus que estava em uma floresta chegar na cidade e por isso o meio ambiente é tudo isso, é essa relação de interdependência entre os seres vivos, inclusive, nós, humanos.

  A pandemia fez o mundo todo se adaptar. As relações humanas transformaram-se e a dinâmica da economia foi desacelerada, gerando várias consequências. Com base nos dados da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMAC), que monitora a qualidade do ar na cidade do Rio de Janeiro, pesquisadores avaliaram os efeitos da pandemia nas concentrações de poluentes em três bairros: Irajá, Bangu e Tijuca. Percebeu-se uma diminuição significativa das concentrações de poluentes em todos os bairros avaliados, sobretudo a partir de 23 de março, quando o governo adotou medidas mais rígidas do isolamento social.

Essa nova dinâmica na produção de bens e serviços pode produzir resultados positivos para a humanidade, desde que os direitos básicos sejam garantidos também para as populações mais vulneráveis. Nas favelas, ficou ainda mais evidente como o acesso ao saneamento e às condições de saúde pública estão relacionadas, como ter acesso à água potável e ao tratamento de esgoto domiciliar e industrial. Como exigir que as pessoas higienizem as mãos se o acesso à fonte de água é precário e os recursos para adquirir sabão e álcool em gel são escassos?

No levantamento de dados em 2013 realizado pelo Censo Populacional da Maré, dos 47.758 domicílios existentes na Maré, 98,3% possuem água canalizada dentro do próprio domicílio. Entretanto, são 417 domicílios com fonte de água apenas na área externa e 151 sem água encanada. Considerando que temos, em média, 3 habitantes por domicílio, cerca de 450 moradores da Maré não possuem acesso à água. Se olharmos para o tratamento de esgoto, a situação também assusta, uma vez que esse serviço público não atende à Maré. Hoje, a Estação ETE Alegria opera com 15% a 20% de seu potencial, atendendo apenas parte da Zona Norte, Centro e alguns bairros da Zona Sul.

A saúde e meio ambiente estão diretamente relacionados e a violação do direito à água e ao esgotamento sanitário gera exclusão social, sobretudo durante a pandemia, quando os cuidados precisam ser ainda mais rigorosos. Existem diversos grupos e pessoas que reivindicam esses direitos socioambientais na Maré. Essa rede está começando a se fortalecer e repensando formas de atuar nesse contexto de isolamento social em que as prioridades se transformaram e se torna ainda mais necessário o cuidado e a união. Alguns deles são: Muda Maré, Eco Maré, CocoZap, Roça, Pontilhão Cultural, Eco Rede, Valdenise, Bhega, Seu João, Seu Hélio, Douglas Thimóteo, Carlos Chagas, Tereza Onã, Karla Rodrigues e outros tantos coletivos e ativistas que estão se somando nessa luta.

Júlia Rossi – Biofísica, coordenadora do projeto Maré Verde do eixo de Desenvolvimento Territorial da Redes da Maré e atua há 10 anos com projetos socioambientais.

Ronda Coronavírus: Brasil registra por dois dias seguidos mais de 1.200 mortes

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Cientistas alertam que devido a condições sanitárias, América Latina pode ser foco de uma futura pandemia

Nesta quarta-feira (15), foram registradas 1.261 novas mortes, com uma média diária de 1.067 (cálculo feito a partir da soma das mortes de uma semana dividindo esse resultado por sete) em comparação por Covid-19 na última semana no país, além de registrar mais de 39 mil novos casos confirmados de coronavírus, fazendo o país ultrapassar a marca de 1 milhão e 900 mil pessoas contaminadas. Com isso, o Brasil registrou os sete dias mais letais ao longo da pandemia. Hoje, o Brasil registrou também mais de 75 mil mortes, de acordo com dados fornecidos pelo Ministério da Saúde.

Pesquisador da USP alerta que o Brasil está no mapa de risco de uma possível próxima pandemia por diversos fatores, entre eles sanitários e ambientais. Mesmo não sabendo ainda a origem do novo coronavírus, a hipótese mais provável foi a entrada humana no habitat animal, levando o agente transmissor da doença para espaços de circulação de pessoas. O mesmo acontece aqui no Brasil em alguns mercados abertos que tem grande quantidade de ratos circulando.

Covid-19 na Maré

O estado do Rio é o que apresenta a maior taxa de letalidade, com 8,8%. O estado registrou hoje 134.449 casos e 11.757 mortes por coronavírus, de acordo com dados fornecidos pela Secretaria de Estado de Saúde. A capital é a cidade que mais apresenta casos, com mais de 65 mil pessoas que testaram positivo. Nesta quarta-feira, a Maré apresentou 389 casos confirmados e 82 mortes, de acordo com o Painel Rio Covid-19. Em 25 favelas da cidade Rio, somam-se 3.808 casos confirmados e 604 óbitos, de acordo com dados coletados e organizados pelo coletivo Voz das Comunidades.

Vacinação em tempo de pandemia

Brasil enviou pedido oficial para Organização Mundial de Saúde (OMS) para garantir a candidata à vacina contra o novo coronavírus. Junto ao Brasil, tem mais de 70 países interessados em fazer parte do programa. Entretanto, a OMS informou que o Brasil vai precisar custear o imunizador contra a Covid-19.

Ao mesmo tempo em que vivemos na corrida para desenvolver a vacina contra o vírus do novo coronavírus, a OMS e a Unicef alertaram para uma queda na imunização infantil, principalmente no período da pandemia. Cerca de 70 países tiveram o sistema de vacinação afetado, colocando em risco aproximadamente 80 milhões de crianças menores de um ano.

Boletim da Fiocruz

         A Fiocruz desenvolveu e lançou nesta semana o Boletim Socioepidemiológico da Covid-19 nas Favelas, com o objetivo de apresentar um contraponto entre as altas taxas de letalidades em bairros com favelas e bairros sem favelas, como é o caso de Bonsucesso. O boletim apresenta também um recorte de gênero e raça para mostrar quem são as pessoas mais infectadas pelo coronavírus. O material faz parte do Observatório Covid-19 Fiocruz, que desenvolve ações integradas para enfrentamento da pandemia da Covis-19. 

CeSec desenvolve monitoramento da violência

A Rede de Observatórios da Segurança fez um levantamento entre junho de 2019 e maio de 2020 intitulado Racismo, motor da violência, sobre os índices de violência no Brasil e os atravessamentos com a raça daqueles que sofrem a violência. Os negros representam 75% dos mortos pela polícia e mulheres negras são 61% das vítimas de feminicídio. O monitoramento registrou mais de 7 mil ações policiais. Dessas, o Rio de Janeiro é o estado onde essas ações aconteceram mais – 2.772 vezes – e teve o maior número de vítimas recorrentes dessas ações. Foram 483 mortos (incluindo 19 crianças) e 479 feridos, totalizando 981 vítimas.

Dados do boletim destacam que informações sobre raça nem sempre são mencionadas

Curso de formação para mulheres

O Observatório de Favelas está com vagas abertas para o curso Delas: Direitos, Política e Arte – online. O curso é voltado para mulheres (cis/trans), negras e periféricas que tenham mais de 18 anos. O objetivo do curso é fortalecer a capacidade da atuação dessas mulheres na conquista de direitos e enfrentamento de violências. As inscrições vão até a próxima segunda-feira, 20 de julho, e podem ser realizadas no site do Observatório de Favelas.

Nenê do Zap

O Nenê sabe que quem gosta dele está preocupado e cuida bastante dele, mas quem está cuidando dos adultos? É a pergunta que o Nenê do Zap faz hoje para todos e todas que cuidam dele. 

Como anda o nosso direito à Segurança Pública em meio à pandemia?

Supremo Tribunal Federal suspende operações policiais no Rio durante a pandemia, mas ações seguem violando direitos dos moradores da Maré e outras favelas

Maré de Notícias #114 – julho de 2020

Jéssica Pires e Levi Germano

Das 15 favelas do Rio de Janeiro somavam 2.124 pessoas contaminadas e 441 vítimas fatais do coronavírus no dia 25 de junho, de acordo com os dados do painel COVID-19 nas Favelas, do coletivo Voz das Comunidades. Apesar do número alarmante, não representa ainda a realidade, diante das inúmeras questões que o Brasil tem enfrentado em relação à produção e publicação de dados sobre a pandemia. O Boletim De Olho no Corona! produzido pela Redes da Maré informou que, até o dia 25 de junho, as 16 favelas da Maré apresentavam, pelo menos, 1.010 casos da doença (297 confirmados e 713 suspeitos) e 104 óbitos.

Mesmo diante desta crise sanitária sem precedentes, o direito à vida nas favelas do Rio de Janeiro continua sendo negado pela política de Segurança Pública adotada pelo governo do Estado do Rio de Janeiro. De acordo com relatório sobre operações policiais no Rio de Janeiro durante a pandemia, da Rede de Observatórios da Segurança, houve mais operações policiais e mais mortes decorrentes delas durante a pandemia, se comparado com o mesmo período de 2019.  Houve uma redução no início do isolamento social, em março, porém, o aumento de ações em abril e maio, com vítimas fatais, é indicado pelo relatório e foi notado pelos trágicos episódios de vidas jovens e negras interrompidas.

Mesmo durante a pandemia e isolamento social, moradores da Maré tiveram de lidar com três operações policiais – Foto: Douglas Lopes

No dia 15 de maio, uma operação conjunta do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais), da Polícia Militar, da Desarme (Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos) e da Polícia Civil no Complexo do Alemão resultou em 13 mortes. Três dias depois da chacina no Complexo do Alemão, aconteceram duas operações em regiões distintas da Região Metropolitana do Rio, vitimando dois jovens. Uma operação foi realizada no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, e resultou na morte de João Pedro Mattos Pinho, de 14 anos, alvejado com um tiro de fuzil na barriga. O menino estava na casa da tia com o primo da mesma idade e outros quatro adolescentes, quando a casa foi invadida por policiais. Já em Acari, Zona Norte do Rio, Iago César dos Reis Gonzaga, de 21 anos, foi baleado e sofreu violência policial, segundo familiares. O jovem foi levado pelos policiais e encontrado morto no dia seguinte.

“Quero dizer, senhor governador, que a sua polícia não matou só um jovem de 14 anos com um sonho e projetos. A sua polícia matou uma família completa, matou um pai, matou uma mãe e o João Pedro. Foi isso que a sua polícia fez com a minha vida.”

(Neilton Pinto, pai de João Pedro, morto aos 14 anos)

Articulação pela vida nas favelas

                Diante o histórico de crescimento da letalidade na ação das forças policiais nas favelas, organizações da sociedade civil e que trabalham na defesa das vidas nas favelas têm provocado o Judiciário a rever a legalidade da política de Segurança Pública adotada pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro. Uma ferramenta utilizada para isso é a ADPF – Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental – um tipo de ação judicial, prevista no artigo 102, § 1º, da Constituição Federal de 1988, que tem por objetivo impedir que o poder público pratique condutas inconstitucionais contra a sociedade.

Em novembro, ADPF nº 635/RJ, ou ADPF das favelas (como foi batizada pelas organizações envolvidas), foi proposta ao Supremo Tribunal Federal (STF) por causa da comprovação do aumento de operações policiais violentas e do crescimento considerável da letalidade policial nessas ações, que aconteceram em 2019, no Rio de Janeiro. A ação discute e propõe à Suprema Corte que declare inconstitucional a política de Segurança Pública adotada pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro, obrigando o governador, dentre outras medidas requeridas, a elaborar um plano de redução da letalidade nas operações policiais realizadas nas favelas.

A ação, proposta pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) em conjunto com a Defensoria Pública do Estado do Rio e organizações da sociedade civil, discute e propõe à suprema corte que declare inconstitucional a política de segurança pública adotada pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro, obrigando o governador, dentre outras medidas requeridas, a elaborar um plano de redução da letalidade nas operações policiais realizadas nas favelas. Este plano deverá prever a proteção à comunidade escolar, participação social (transparência) na sua elaboração, e proibição do uso de helicópteros como plataforma de tiro. Dentre outros detalhes, os autores da ADPF propõem o prazo de 90 dias para que o Governo apresente o plano ao STF.

A participação de organizações sociais na discussão da ADPF 635 é fundamental, pois pluraliza a ação, trazendo diferentes pontos de vista, interesses e argumentos da vivência sobre quem acompanha de perto as violações cometidas. Essa participação é possível por meio de amicus curiae ou “amigos da corte”.

Para ser amigo da corte é necessário ser uma entidade ou instituição e demonstrar a capacidade de levar contribuições relevantes para o julgamento, além de demonstrar sua representatividade para discutir. São amicus curiae, na ADPF 635, a Redes da Maré, a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, a Organização Conectas, o Movimento Negro Unificado e o ISER (Instituto de Estudos da Religião). O Coletivo Papo Reto, Movimento Mães de Manguinhos, Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência, Fala Akari, Iniciativa Direito à Memória e Justiça Social também colaboram na discussão do processo.

Proibir o uso de helicóptero como plataforma de tiro é uma das propostas da ADPF

Suspensão de operações policiais durante a pandemia

No dia 5 de junho, o Ministro Edson Fachin, do STF, relator da ADPF das favelas, votou pela suspensão das operações policiais durante a pandemia do coronavírus. A realização das operações durante o período estará sob pena de responsabilização civil e criminal. Hipóteses absolutamente excepcionais estariam autorizadas, mas elas devem ser devidamente justificadas, por escrito, pela autoridade competente, com a comunicação imediata ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro – responsável pelo controle externo da atividade policial. O voto do ministro pode ser lido na íntegra no link.

Fachin agendou julgamento colegiado (coletivo) determinando a proibição de operações policiais durante a pandemia do Coronavírus no Rio de Janeiro. A medida começará a ser julgada no plenário virtual pelos 11 ministros do STF em 26 de junho, podendo se estender até agosto, por conta do recesso do judiciário.

Para a cientista social e especialista em Segurança Pública, Silvia Ramos, a suspensão das operações pelo STF tem um grande valor simbólico. “A articulação discursiva do governador Wilson Witzel acentuou ainda mais esse problema que a Polícia Militar do Rio já tem, há muitos anos, em relação ao uso excessivo da força letal”. Para a coordenadora do CeSec (Centro de Estudos de Segurança e Cidadania) não é momento de ingenuidade sobre a redução dos números de violência policial, por causa da suspensão. Porém, a ação do STF demonstra que é preciso impor condições e limites para a atuação da polícia no Rio de Janeiro, que virou uma cultura.

Brecha para a excepcionalidade

Mesmo com a votação da ADPF e a suspensão das operações policiais durante a pandemia do coronavírus, no último dia 17 de junho uma ação policial foi realizada nas favelas Nova Holanda e Parque Maré. Homens do Batalhão de Polícia de Choque passavam pela Avenida Brasil e, supostamente, foram atingidos por tiros, desencadeando a ação. De acordo com a assessoria de imprensa e o porta-voz da PMERJ, coronel Mauro Fliess, a mobilização de mais policiais do Choque para a ação na região foi emergencial. Ações de solidariedade, como a entrega de cestas básicas e itens de higiene e o trabalho de desinfecção das ruas, foram interrompidas e o atendimento na Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva, que fica na Nova Holanda, ficou suspenso durante toda a manhã.

Diante de ações policiais como a do dia 17 de junho na Maré, posteriores à data da decisão do STF (05/06), o conjunto dos amigos da corte está se articulando para monitorar operações policiais nas favelas do Rio e pressionar o Ministério Público do Estado a fiscalizar o cumprimento da determinação judicial por parte do Governo fluminense. Na última sexta, 18 de junho, foi enviado ao relator da ADPF 635 uma manifestação sobre o possível descumprimento da decisão por conta da operação policial realizada no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, no dia 12 de junho, cuja motivação era a interrupção de uma festa de aniversário de um traficante da região. No documento, argumenta-se que a operação não se enquadra no que pode ser considerado hipótese de absoluta excepcionalidade e pede que o Ministro Fachin intime o Governo e Ministério Público estaduais a prestarem esclarecimentos sobre a operação e comprovem que respeitaram a ordem judicial da suprema corte. 

Antes dessa ação, aconteceram três operações policiais na Maré. No dia 27 de março, em Marcílio Dias; no dia 6 de abril, no Parque União e, em 29 de abril, no Morro do Timbau, Baixa do Sapateiro e Nova Maré. No dia 6 de abril, as Clínicas da Família Diniz Batista, do Parque União, e Jeremias Moraes da Silva, da Nova Holanda, tiveram o atendimento suspenso. No dia 29, as Clínicas da Família Augusto Boal e Adib Jatene interromperam suas atividades. Violações, como invasão ao patrimônio, também foram relatadas nas primeiras duas operações.

O De Olho na Maré, projeto da Redes da Maré responsável por acompanhar e sistematizar os impactos das operações no território, identificou que, juntas, essas quatro operações durante a pandemia somaram uma morte, sete feridos, sete invasões em domicílio e três dias de perda, parcial ou total, dos atendimentos nas unidades de saúde.

Sustentação oral popular

Familiares de vítimas da violência de Estado e como moradores de favelas se uniram em um  vídeo para apresentar as razões pelas quais as operações policiais durante a pandemia devem ser barradas pelo Supremo Tribunal Federal. Essa mobilização ficou conhecida como sustentação oral popular, um paralelo à sustentação oral formal de advogados perante os juízes. Participam como depoentes as seguintes pessoas:

  • Rafaela Mattos, mãe de João Pedro Mattos, assassinado no Salgueiro, em São Gonçalo.
  • Vanessa Salles, mãe da Ágatha, assassinada no Alemão
  • Joyce da Silva, filha de Marco da Silva, assassinado no Vidigal.
  • Catarina da Silveira – mãe de Rogério da Silveira.
  • Buba Aguiar, Coletivo Fala Akari.
  • Bruna Silva, mãe de Marcos Vinícius, assassinado na Maré.
  • Gizele Martins, Movimento de Favelas do Rio.
  • Ana Paula Oliveira, mãe de Johnathan de Oliveira, assassinado em Manguinhos.
  • Laura Ramos, mãe do Lucas Azevedo, assassinado em Costa Barros.
  • Anielle Franco, irmã de Marielle Franco.
  • Uidson Alves, irmão de Maria Eduarda, assassinada em Acari.
  • Irone Santiago, mãe de Vitor Santiago.
  • Marcelo Dias, Movimento Negro Unificado.
  • Monica Cunha, mãe de Rafael Cunha, assassinado no Riachuelo.
  • Patrícia Oliveira, Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência.
  • Giselle Florentino, Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial.
  • Dalva Correia, mãe de Thiago, assassinado no Borel.

Ronda Coronavírus: Brasil se aproxima dos 2 milhões de casos de coronavírus

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Dez estados brasileiros sinalizaram que a tendência do número de mortes por Covid-19 é aumentar

Brasil, EUA e Índia encabeçaram os países com as maiores taxas de novos casos de coronavírus em 24 horas, superando 230 mil novos casos. O Brasil, que chegou à marca de 1.884.967 casos nessa segunda-feira (13), tem estimativa de chegar a 2 milhões de pessoas infectadas na próxima semana, de acordo com projeção do Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, ligado à Universidade de São Paulo (USP). 

Dez estados brasileiros apresentaram tendência de aumento de mortes por coronavírus, quanto cinco sinalizaram queda, incluindo o Rio de Janeiro. A análise foi feita a partir de dados compilados pelo consórcio dos veículos da mídia. Vale lembrar que nem todos os casos são notificados, o que pode influenciar nos números apresentados. Em conversa com profissionais da área de saúde da cidade do Rio, houve relatos de aumento de número de casos e mortes por coronavírus nas últimas semanas.

Covid-19 na Maré

O estado do Rio apresentou nesta segunda-feira (13) mais de 132 mil casos confirmados e mais de 11 mil mortes por coronavírus. Dos casos confirmados, mais de 64 mil são na capital. Na Maré, são 385 casos confirmados e 82 mortes, de acordo com o Painel Rio COVID-19. Já o Painel Unificado Covid-19 das Favelas aponta para 1.275 casos e 112 mortes por coronavírus, entre confirmados e suspeitos.

Moradores da Maré relataram grandes aglomerações em bares do Parque União nesse domingo, com muitas pessoas circulando sem máscara. O Parque União possui 170 casos suspeitos e é a segunda favela da Maré com o maior número de casos sem confirmação, segundo o Painel dos Invisíveis.

Frentes da Campanha da Maré

A campanha segue atuando com a distribuição de álcool em gel e máscaras para a população da Maré. Hoje, dia 13 de julho, a entrega aconteceu na favela Salsa & Merengue.   

A Campanha Maré Diz NÃO ao Coronavírus segue com uma Campanha de arrecadação de recursos financeiros pela plataforma Catarse, com o objetivo de comprar mais 4.000 cestas básicas para as famílias da Maré. As doações mínimas são a partir de R$20 e doadores individuais e empresas podem ajudar. Todos e todas podem participar contribuindo e compartilhando essa iniciativa.

O projeto agora tem duas opções de atendimentos, uma pelo e-mail [email protected] e outra por meio presencial na Redes da Maré na Vila dos Pinheiros. A equipe de assistentes sociais, advogadas e psicólogas do Maré de Direitos vai estar disponível às terças e quintas-feiras, das 14h às 17h, para ajudar moradores nas questões de saúde, violações e dúvidas sobre como acessar direitos.

Atendimento médico sem sair de casa

A partir desta segunda-feira (13) moradores da Nova Holanda, Parque Maré e Rubens Vaz poderão fazer uso da telemedicina, serviço de atendimento médico e psicológico via Whatsapp. Essa é uma das ações que faz parte do Plano de ação para enfrentamento da Covid-19 em comunidades vulneráveis. As consultas são gratuitas e acontecem todos os dias, das 8h às 20h. Para fazer o atendimento, basta mandar uma mensagem para o Whatsapp (21)99271-0554.

Dificuldades e obstáculos na educação durante a pandemia

Tamires Santos é auxiliar administrativo e moradora do Morro do Timbau, tem dois irmãos estudantes e percebeu que com o fechamento das escolas foi muito mais difícil lidar com a aprendizagem das crianças. “A maioria dos pais não são habilitados a dar aula e não sabem o que fazer com os filhos dentro de casa. Em contrapartida, vamos ter a reabertura dos colégios”, diz Tamires.

Tamires percebe a dificuldade dos pais em ensinar durante a pandemia

Segundo a Prefeitura do Rio de Janeiro, a previsão para a reabertura das escolas municipais está prevista para o mês de agosto e a reabertura dos colégios particulares, possivelmente, para este mês de julho. Pensando nesses pontos, o Por Dentro da Redes dessa semana buscou entender como os estudantes moradores da Maré têm se organizado para estudar durante a pandemia. 

Podcast e informação

O podcast Maré em Tempos de Coronavírus já está no ar. Nesta nona edição, Eliana Sousa aborda como a pandemia também afeta a população de rua. Você pode enviar perguntas ou receber os episódios pela lista de transmissão. Basta enviar uma mensagem para (21) 97271-9410. Para ouvir todos os episódios, basta acessar o site ou o perfil do Maré de Notícias Online no Spotify

Guia de cuidados para a mulher mareense

A Casa das Mulheres, em parceria com a Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ESS-UFRJ) desenvolveram o guia Pequeno livro de cuidados para as mulheres da Maré, material que retrata dimensões e tipos de cuidados diversos sobre a saúde das mulheres. No material é possível encontrar informações sobre serviços existentes, formas de prevenção e enfrentamento de situações de violência contra a mulher e de violência policial. As 36 páginas desse documento estão disponíveis no site.

Live da Casa Preta da Maré

Na próxima quarta-feira, 15 de julho, às 19h, acontece mais uma edição do Café Preto em Casa! O tema “Corpo e os conhecimentos que vêm da Maré”, será abordado pelo mestrando em Dança pela UFRJ Gabriel Lima, com mediação de Joelma Sousa. O encontro será no Instagram da Redes da Maré. 

Nenê do Zap

O Nenê do Zap nos faz pensar em como podemos ser criativos usando objetos comuns que já temos em casa e transformá-los em brinquedos divertidos. Confira a dica de hoje.

Por dentro da Maré #6 Luta e mobilização pela Educação na Maré: antes e durante a pandemia

Por Jéssica Pires

Na Maré, são 16.692 mil alunos das 46 escolas municipais. Que, junto com os 4.246 professores, têm procurado alternativas para se ajustar às demandas que a pandemia trouxe junto com o vírus. Sem contar com os estudantes da rede estadual, escolas particulares e cursinhos.  Esses mais de cem dias sem aulas, revelou desigualdades mas, também, trouxe aprendizado. “Toda a escola teve que se reinventar. As crianças, a direção, a equipe docente. E não é fácil.”, diz a professora Maria Cristina, que trabalha na rede municipal há 18 anos, no CIEP Ministro Gustavo Capanema, na Vila dos Pinheiros.  Quais são os desafios da educação básica, na Maré, neste momento?

A tecnologia, sem dúvida, foi uma das soluções e – ao mesmo tempo – um grande problema. Aqui na Maré, os professores e pais se desdobram para garantir o mínimo do acesso ao conteúdo para os alunos, enfrentando barreiras como a dificuldade ao acesso à internet e a pouca habilidade com as ferramentas de comunicação digital.  A dispersão que as crianças tem dentro das casas e a falta de recursos como tempo e  informação das famílias para acompanhar esse processo também são desafios. “Os impactos da pandemia para as populações mais pobres são infinitamente maiores do que para as mais favorecidas economicamente”, diz Andreia Martins, diretora da Redes da Maré.  “Tô tendo que lidar com as minhas dificuldades e tentar superá-las. Principalmente nessa questão da tecnologia que pra mim é muito complicado, mas a gente não desanima”, diz a professora Maria Cristina.  “Reaprendendo muitas coisas, aprendendo outras.”

Para as famílias, os desafios são também estruturais. As casas aqui na Maré são que nem coração de mãe: são pequenas, abrigam muitas pessoas, e volta e meia sempre abriga ainda mais um ou outro. E assim, nem sempre existe um espaço dedicado para as crianças estudarem. Ou um adulto disponível para auxiliar esse processo.

Aos poucos, surgem soluções.  “Vale a pena investir em propostas simples, como faz de conta, contação de histórias e atividades como desenho e jogos reais, não virtuais. Conversar com a criança também é uma atividade estimulante, que ajuda a desenvolver o raciocínio e a linguagem”, diz Beatriz Abuchaim, especialista em educação infantil e gerente de Conhecimento Aplicado da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.

O retorno ao novo normal

As discussões sobre o retorno às aulas ainda seguem nos níveis estadual e municipal aqui no Rio de Janeiro.  “Sabemos que é preciso retornar, em algum momento, mas caso não haja um planejamento que possa envolver toda a comunidade escolar e contar com a disponibilização de equipamentos para proteção individual e coletiva, à volta às aulas poderá aumentar as possibilidades de disseminação do coronavírus na Maré”, comenta Andreia Martins. A estrutura da rede de ensino no Rio de Janeiro ainda é muito precária. Mas territórios marginalizados, como as favelas, sofrem com mais descaso. Em tempos normais, até de material de limpeza pessoal falta para os alunos.

Aos mestres, com carinho:

A valorização dos e das profissionais da educação é uma das diretrizes do Plano Municipal de Educação, de 2018. E o que a gente percebeu é que os professores da Maré estão derrubando os muros que a falta de estrutura construiu antes desse momento de crise. Ainda são incertos os impactos e caminhos possíveis para a retomada das aulas na Maré. Mas o resultado da dedicação dos professores a gente sentiu com a fala da Maria Isabel, moradora de 11 anos da Praia de Inhaúma e aluna da Escola Municipal IV Centenário, do Morro do Timbau: “ É bem divertido ter uma professora companheira, que gosta de ver o nosso bem, que sempre quer ajudar”.

Maré que Queremos:

De acordo com o Censo da Maré, 89,5% dos moradores frequentam as escolas públicas do território. Mas a realidade nem sempre foi essa. O acesso à educação na Maré foi uma demanda pautada por moradores e conquistada por um processo de mobilização. A primeira escola da Maré foi construída em 1936 (Escola Municipal Bahia), antes mesmo da existência de algumas das favelas que compõem o conjunto, quando a Maré ainda nem era considerada um bairro. 

Até o ano 2000, a Maré contava com 28 unidades escolares, de creches à escolas de ensino fundamental e médio. Nos últimos anos, como resultado desse processo de luta,  foram construídas mais escolas. Além da rede municipal, quatro unidades da rede estadual atendem o Ensino Médio, na Maré. “A história da Maré é uma história marcada pela participação ativa dos moradores nas lutas que de uma forma ou de outra melhoraram as condições de vida local”, conclui Edson Diniz, diretor da Redes da Maré.

  • Direção de produção e conteúdo: Geisa Lino
  • Direção de Captação Audiovisual: Drika de Oliveira
  • Captação de imagens: Gabi Lino e Douglas Lopes
  • Edição: Drika de Oliveira e Nicholas Andueza
  • Narração: Jéssica Pires
  • Reportagem e texto: Jéssica Pires
  • Revisão de texto: Jô Hallack
  • Agradecimentos dessa edição: Andréia Martins, Maria Isabel, Gisele Ribeiro, e todos os professores e estudantes da Maré.

Esse material foi produzido com apoio do CRIAndorede: iniciativa da UNICEF em parceira com o Luta pela Paz, Redes da Maré e Observatório de Favelas pela proteção à vida de crianças e adolescentes na Maré.

Pastor evangélico Milton Ribeiro é o novo ministro da Educação

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Ribeiro será o quarto ministro a comandar a pasta em um ano e meio de governo Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro anunciou hoje (10) por meio de uma rede social que o professor e pastor evangélico Milton Ribeiro é o novo ministro da Educação. A nomeação foi publicada em uma edição extra do Diário Oficial da União (DOU). Ribeiro será o quarto ministro a comandar a pasta em um ano e meio de governo Bolsonaro. Os antecessores são Ricardo Vélez Rodríguez, Abraham Weintraub e Carlos Alberto Decotelli. O novo ministro da Educação é militar da reserva do Exército e pastor da Igreja Presbiteriana de Santos.

Dados da Covid-19

O estado do Rio de Janeiro tem registrado até esta sexta-feira (10), 129.443 casos confirmados e 11.280 mortes por Covid-19. Há ainda 1.073 mortes em investigação. Na capital fluminense são confirmados  64.027 casos e  7.254 mortes Só nas favelas da cidade maravilhosa são 4.233 casos e 641 mortes, de acordo com Painel Unificador das Favelas do Rio, que contabiliza  suspeitos e confirmados a partir de um canal direto com a população. O Conjunto de Favelas da Maré é a comunidade carioca com o maior número de casos e mortes: 1.275 casos e  112 mortes.

Painel dos Invisíveis

Desde que a Covid-19 chegou ao Rio de Janeiro em março, a cidade tem visto uma curva ascendente sem sinais de estabilização. O impacto é particularmente sentido por moradores de favelas e periferias, onde uma imensa lista de fatores contribui para a transmissão e letalidade do vírus, como a histórica negligência do poder público, falta d’água, de geração de renda, de testagem e cuidados médicos, alta densidade dentro das moradias, entre outros. Diante desta realidade, diversos coletivos estão monitorando e identificando casos por iniciativas próprias, como o boletim De Olho no Corona!, da Redes da Maré. Semanalmente, um tema é proposto para o lançamento dos dados identificados pela equipe da organização. A partir dele, o Maré de Notícias produziu o Painel dos Invisíveis, um mapa das 16 favelas da Maré com seus respectivos casos e mortes suspeitas de Covid-19. O lançamento do Painel foi tema de uma live no Facebook. Confira aqui.

Caixa Eletrônico sem dinheiro

Muitos mareenses estão apreensivos com a fila enorme do Caixa Eletrônico perto a Avenida Brasil, próximo à Rua Bittencourt Sampaio, na Nova Holanda. A situação se repete com frequência e se agrava em dias de recebimento do auxílio emergencial. Moradores relatam que não são poucas as vezes que o dinheiro disponível nos caixas para saque acaba, em especial, nesses dias de pagamento do auxílio do governo.

Atendimento à população em situação de rua

O projeto Atenda realiza um trabalho de articulação com saúde e assistência para o cuidado às pessoas em situação de rua e usuários de crack e outras drogas do Centro de Atenção Psicossocial (Caps Ad III) Miriam Makeba. A iniciativa começou em 2017 na Maré, e em tempos de pandemia, o atendimento nas ruas e vielas das favelas mareenses tem sido fundamental. Nesta quinta-feira (09) a equipe atendeu a população em situação de rua que se encontrava na Rua Sargento Silva Nunes, na Nova Holanda, distribuindo máscaras e encaminhando os que tinham necessidade para a Clínica de Família Jeremias Moraes da Silva. O trabalho é feito às terças e quintas-feiras.

Reabertura X aumento de casos

A reabertura gradual das atividades econômicas na cidade e, consequentemente, nas favelas fez Ana Cláudia, Manipuladora de Alimentos e moradora da Nova Holanda, se surpreender com o aumento de mortes na Maré assim que as pessoas relaxaram nas medidas de isolamento social. “O comércio é algo de extrema necessidade, porém queria que nós tivéssemos plena consciência de fazer um bom uso do ambiente. Agora, o comércio está liberado, mas mesmo assim vamos tentar manter o distanciamento e a máscara”, aconselha Ana.

AMARÉDECASA

O projeto A Maré de casa está com votação aberta para a escolha de fotos. O projeto recebe fotos das janelas dos moradores das 16 favelas da Maré. As fotos com maior número de votos ganham prêmios a cada mês.  O site, além do seu voto, está recebendo contribuição para a próxima edição. 

Dicas Culturais

O rapper Black Alien, que acaba de lançar o disco Babylon by Gus Vol. 1 – O Ano do Macaco (Ao Vivo), estreia hoje à noite nas lives. A apresentação visa arrecadar fundos para a equipe do músico e para o projeto Backstage Invisível. Na programação do Sesc, transmitida pelo YouTube, hoje tem show de Roberta Campos, amanhã de Virgínia Rosa e, no domingo, de Margareth Menezes. 

No festival #CulturaEmCasa, o duo de Lívia Nestrovski com Fred Ferreira se apresenta hoje e amanhã é a vez da cantora Angela Ro Ro. Os atores Silvero Pereira e Gyl Giffony realizam o espetáculo Metrópole On-line hoje e amanhã pelo Centro de Artes da UFF.

Nenê do Zap

Não é incomum que os bebês coloquem mãos e pés na boca boa parte do tempo. Mas isso pode significar muito mais do que se imagina. Fique ligado na dica de hoje do Nenê do Zap.