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Inspira: A esperança equilibrista

Em formato inédito, live com produção cinematográfica e interpretações ao vivo de gigantes da cultura brasileira acontece no próximo sábado (27/06) às 18h.

Clarice Niskier, Cristina Braga, Dan Stulbach, Eduardo Wotzik, Flávio Bauraqui, Ivan Lins, Jaques Morelenbaum, João Bosco, Leandro Karnal, Leila Pinheiro, Lia Rodrigues, Mário Adnet, Naruna Costa, Nelson Sargento, Orquestra Maré do Amanhã, Ricardo Silveira, poetas, músicos e dançarinos da Maré, Rodrigo Maré, Thiago Ávila, Zeca Baleiro, Zélia Duncan são alguns dos nomes que estarão presentes no Inspira, a esperança equilibrista, evento cultural que acontece em formato de live nas plataformas Youtube e Facebook no próximo sábado (27/06) às 18h. 

Com algumas parcerias inéditas e formato inusitado com produção cinematográfica e interpretações ao vivo de grandes nomes da cena brasileira, o Inspira é uma voz de liberdade e de esperança no futuro do Brasil. Um encontro para ampliar a  consciência, a escuta e desejo de entender e aprender com o outro.  Uma  pluralidade de significados com poesia, música, teatro, dança, filosofia e histórias inspiradoras de quem tem se mostrado potente para transformação social. 

O evento, que tem diversas causas como parte do roteiro (meio ambiente, cultura, saúde, comunidade e antirracismo), é uma parceria da Inspirartes Cultural com a Redes da Maré – organização social que atua há mais de 20 anos no conjunto de 16 favelas da Maré – , com patrocínio da Fenae e das Apcefs e apoio do CIVI-CO  e Canal Curta.

O público poderá doar para Maré Diz Não ao Coronavírus, campanha da Redes da Maré que já doou mais de 900 toneladas de alimentos para a população da Maré, estimada em 147 mil pessoas. “Eu fico muito feliz em ver um projeto como esse. O fato de as pessoas estarem envolvidas num projeto como esse significa um trabalho, um investimento na esperança. E a esperança tem esse lado otimista”, disse João Bosco, um dos artistas que abraçou imediatamente o projeto do Inspira.

A atriz e diretora Clarice Niskier também relata sua felicidade em participar do projeto. “Espero que as pessoas se sintam revigoradas após a apresentação. Foi lindo ver chegando artistas e seres humanos de primeira grandeza em torno do projeto. Projeto/fogueira que gera calor humano, reflexões e descondiciona os olhares, nos fazendo ver para além dos perigos, os horizontes”, conta a atriz. 

João Bosco é um dos artistas que estarão presentes no evento

Segundo Leila Pinheiro, o evento oferece através da arte e do melhor de cada um de nós, alguma luz, algum alento e, sempre, muito amor a quem tanto precisa. “O Inspira mergulha na esperança – por dias melhores, por um planeta saudável, em harmonia e por seres humanos que pensem cada vez mais no coletivo, no todo, em todos”.  Zeca Baleiro também participará do evento. “Estou muito feliz de ter sido convidado para o Inspira: A Esperança Equilibrista, este evento bonito e oportuno neste momento de dor e desesperança. Sobretudo porque estarei na companhia de alguns colegas que muito admiro”, diz.

Serviço: Dia 27 de junho às 18h

Onde: Facebook e Youtube da Inspirartes Produções Culturais.

Política, Favela e Pandemia: E agora?

Por Jéssica Pires e Mayara Donaria

O período eleitoral na região metropolitana do Rio de Janeiro, é sempre carregado de muitos desafios, e este ano não tem sido diferente. O histórico de territórios dominados pela milícia fortalece um sistema antidemocrático. Mesmo com muitos esforços, ainda não há solução prevista para a onda de desinformação causada pelas fake news. A pandemia do coronavírus culminou na maior crise da saúde de gerações no Brasil, e também em uma crise política. A política guarda soluções para muitos problemas sociais, mas tem o poder de criar novos. Como renovar a esperança das pessoas, para acreditar que o voto pode mudar uma realidade? Talvez este seja o maior desses desafios.

De acordo com o que tem sido apontado por autoridades médicas de todo o mundo, os países que seguiram as orientações da Organização Mundial da Saúde sobre ações durante a pandemia, tiveram números mais brandos. Infelizmente o Brasil não seguiu esse exemplo. O cenário piora ainda mais nas favelas e periferias. Só na cidade do Rio, já são mais de 2 mil casos confirmados nas favelas, de acordo com o Painel do Jornal Voz das Comunidades. Sem contar com a gigante subnotificação. O isolamento social nesses territórios tem sido um desafio pois faltam políticas públicas específicas. Muitas pessoas precisaram continuar trabalhando, já que o auxílio emergencial oferecido pelo governo não foi o suficiente ou nem existiu para milhares de famílias. Ainda assim, o presidente segue com um discurso negacionista e por isso é criticado mundialmente. Mesmo com todas essas dificuldades, vimos lideranças de favelas e periferias tendo grande protagonismo no combate à crise do Covid e estão na linha de frente nos seus territórios. 

Um dos maiores desafios que jornalistas, cidadãos, candidatas e candidatos, preocupados e comprometidos com a verdade tem enfrentado são as notícias falsas. Durante o período eleitoral essa prática tem chegado aos celulares de maioria dos eleitores. As consequências são confusão, revisionismo histórico de disputas de narrativa e da verdade. Candidatos têm sido eleitos se beneficiando dessas práticas, muitas vezes arquitetadas dentro de gabinetes e financiadas por dinheiro público. É um compromisso de todos combater as fake news.

O número de territórios dominados pela milícia no Rio de Janeiro já é maior do que o de dominados por outros grupos civis armados. Uma das faces das desigualdades raciais, de gênero e classe é a falta de representatividade na política. A falta de abertura, de transparência,  mecanismos de perpetuação de poder dos processos políticos e eleitorais tornam o jogo eleitoral um jogo de cartas marcadas. Quando falamos em disputar uma representatividade territorial, a presença de milícia também acaba sendo um obstáculo. O grupo tem convertido o poder territorial em eleitoral. Campanhas só podem ser realizadas com quem se compromete a garantir retornos financeiros para esses grupos durante o processo eleitoral e depois dele. A presença de milicianos em cargos legislativos e executivos tem sido uma evidência nos últimos tempos. Campanhas que têm discursos contrários aos interesses de milicianos sofrem ameaças e são proibidas de atuarem nesses territórios, ficando limitadas à uma atuação digital e à outros regiões não marginalizadas por estes grupos.

As eleições municipais, até o momento, estão previstas para o mês de outubro. Fazer campanha nessa situação será inédito. É previsto um esforço muito maior digitalmente, já que será mais difícil a convocação para as ruas por parte dos candidatos que acreditam no isolamento como forma de combate à Covid-19. 

 As eleições para a vereança, são muito importantes pois são candidaturas mais acessíveis para grupos historicamente excluídos da política. O que deveria ser garantido a essas pessoas é condições de competir igualmente e segurança, durante e pós campanha. Pois são eles  os alvos constantes dos discursos de ódio. Outro desafio, será as novas regras eleitorais. Com o fim das coligações para cargos proporcionais, existe uma tendência à redução do número de partidos e candidatos com poucos votos, não serão eleitos por conta dos “puxadores de votos” do seu partido. 

Por fim, um caminho possível para essas questões é uma proposta de estrutura política participativa. A resolução de problemas estruturais de desigualdade e um plano de ampliação deles só pode ser revertido com a participação popular. Acredita-se na política da representação, onde um povo só avança quando ele se vê no poder. Mesmo quando representantes públicos criam problemas sociais profundos, usam, compram e manipulam o voto para fazer a manutenção desse abismo social, e assim manter no poder apenas os mesmos sobrenomes. 

Essa eleição, acontecerá depois do levante anti racista que tomou as ruas do mundo todo. Importante destacar que é a primeira eleição para vereadores, pós eleição de Marielle Franco, assassinada brutalmente em março, de 2018, que se tornou um símbolo para todas as pessoas negras, população favelada e periférica, mulheres e LGBTs, provando que sim, é possível que “minorias” ocupem esse espaço de poder. E só vamos mudar essa realidade quando tivermos a base da pirâmide da sociedade tomando as decisões, as mulheres negras. Isso reforma e balança todas as estruturas. 

Como anda o nosso direito à segurança pública em meio à pandemia?

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Supremo Tribunal Federal suspende operações policiais no Rio durante a pandemia, mas ações seguem violando direitos dos moradores da Maré e outras favelas

Jéssica Pires e Levi Germano

São 15 favelas do Rio de Janeiro que estão sendo acompanhadas Painel Covid-19 nas Favelas, do coletivo Voz das Comunidades, e até o momento (25/06) elas somavam 2.124 pessoas contaminadas e 441 vítimas fatais do Coronavírus. Apesar do número ser alarmante, não representa ainda a realidade, diante das inúmeras questões que o Brasil tem enfrentado em relação à produção e publicação de dados sobre a pandemia. A oitava edição do boletim De Olho no Corona!, produzido, pela Redes da Maré apontou que até esta quinta-feira (25), as 16 favelas da Maré reuniam pelo menos 1.010 casos da doença (297 confirmados e 713 suspeitos) e 104 óbitos. Veja o estudo na íntegra aqui.

Mesmo diante desta crise sanitária sem precedentes, o direito à vida nas favelas do Rio de Janeiro continua sendo negado pela política de Segurança Pública adotado pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro. De acordo com relatório sobre operações policiais no Rio de Janeiro durante a pandemia, da Rede de Observatórios da Segurança, houve mais operações policiais e mais mortes decorrentes delas durante a pandemia, se comparado o mesmo período de 2019.  Houve, também, uma redução no início do isolamento social, em março, porém, o aumento de ações em abril e maio, com vítimas fatais, é indicado pelo relatório e foi notado pelos trágicos episódios de vidas jovens e negras interrompidas. 

No dia 15 de maio, uma operação conjunta do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais), da Polícia Militar e da Desarme (Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos) e da Polícia Civil no Complexo do Alemão resultou em 13 mortes. Três dias depois da chacina no Complexo do Alemão, aconteceram duas operações em regiões distintas da região metropolitana do Rio, vitimando dois jovens. Uma operação foi realizada no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo e resultou na morte de João Pedro Mattos Pinho, de 14 anos, alvejado por um tiro de fuzil na barriga. O menino estava na casa da tia com o primo da mesma idade e outros quatro adolescentes quando a casa foi invadida por policiais. Já em Acari, zona norte do Rio, Iago César dos Reis Gonzaga, de 21 anos, foi baleado e sofreu violência policial, segundo familiares. O jovem foi levado pelos policiais e foi encontrado morto no dia seguinte.

Articulação pela vida nas favelas

Diante do histórico de crescimento da letalidade na ação das forças policiais nas favelas, e considerando o cenário de pandemia, organizações da sociedade civil e que trabalham na defesa pelas vidas nas favelas têm provocado o judiciário a rever a legalidade a política de segurança pública adotada pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro. Uma ferramenta utilizada para isso é a ADPF – Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental. Trata-se de um tipo de ação judicial, prevista no artigo 102 § 1º da Constituição de 1988, que tem por objetivo impedir que o poder público editar normas e adotar medidas que violem a Constituição. 

Em novembro, a ADPF nº 635, ou ADPF das Favelas (como foi batizada pelas organizações envolvidas), foi proposta ao Supremo Tribunal Federal (STF) por conta da comprovação do aumento de operações policiais violentas e do aumento considerável da letalidade policial nessas ações, que aconteceram em 2019 no Rio de Janeiro. Além disso, os autores da ação apontam o risco provocado pelas operações à segurança dos moradores de favela em meio a atual pandemia do coronavírus, com ameaça ao normal funcionamento de ações humanitárias, como a entrega de cestas básicas. 

A ação, proposta pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) em conjunto com a Defensoria Pública do Estado do Rio e organizações da sociedade civil, discute e propõe à suprema corte que declare inconstitucional a política de segurança pública adotada pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro, obrigando o governador, dentre outras medidas requeridas, a elaborar um plano de redução da letalidade nas operações policiais realizadas nas favelas. Este plano deverá prever a proteção à comunidade escolar, participação social (transparência) na sua elaboração, e proibição do uso de helicópteros como plataforma de tiro. Dentre outros detalhes, os autores da ADPF propõem o prazo de 90 dias para que o Governo apresente o plano ao STF.

A participação de organizações sociais na discussão da ADPF 635 é fundamental pois pluraliza a ação, trazendo diferentes pontos de vista, interesses e argumentos da vivência sobre quem acompanha de perto as violações cometidas. Esta participação é possível por meio da figura jurídica do amicus curiae (ou “amigos da corte”), que é uma habilitação concedida à entidades especialistas no tema em julgamento a prestarem informações relevantes para os juízes tomarem uma decisão. Assim, movimentos e organizações sociais podem apresentar seus argumentos para os juízes do STF, nesse caso.

Para ser amigo da corte é necessário ser uma entidade ou instituição e demonstrar a capacidade de levar contribuições relevantes para o julgamento, além de demonstrar sua representatividade para discutir. São amicus curiae na ADPF 635 a Redes da Maré, a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, a organização Conectas, a Justiça Global, a Educação Cidadania de Afrodescendentes Carentes (EDUCAFRO), o Movimento Negro Unificado e o ISER (Instituto de Estudos da Religião). Foram também habilitados como amigos da corte o Coletivo Papo Reto, o Movimento Mães de Manguinhos, a Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência, o Fala Akari e a Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial, que também colaboram na discussão do processo. 

Suspensões de operações policiais durante a pandemia

No dia 5 de junho, o Ministro Edson Fachin, do STF, e relator da ADPF das Favelas (635), proferiu decisão concedendo o pedido de medida cautelar (em caráter provisório e emergencial) para suspender as operações policiais durante a pandemia do coronavírus, no estado do Rio de Janeiro. A decisão é válida até que todos os demais 10 ministros do Supremo se manifestem e divulguem seus votos em um julgamento colegiado (coletivo). O descumprimento dessa decisão estará sujeita à responsabilização civil e criminal. Operações com hipóteses que pudessem ser consideradas absolutamente excepcionais estariam autorizadas, mas elas deverão ser devidamente justificadas por escrito pela autoridade competente, com a comunicação imediata ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro – responsável pelo controle externo da atividade policial. O voto do ministro pode ser lido na íntegra no link

Para a cientista social e especialista em segurança pública Silvia Ramos, a suspensão de operações por parte do STF tem um grande valor simbólico. “A articulação discursiva do governador Wilson Witzel acentuou ainda mais esse problema que a Polícia Militar do Rio já tem há muitos anos do uso excessivo da força letal”. Para a coordenadora do CeSec (Centro de Estudos de Segurança e Cidadania), não é momento de ingenuidade sobre a redução dos números de violência policial por conta da suspensão. Porém, a ação do STF demonstra que é preciso impor condições e limites para atuação da polícia no Rio de Janeiro, que virou uma cultura. 

Brecha para o descumprimento da decisão

Mesmo com a decisão liminar (provisória) da ADPF determinando a  suspensão das operações policiais durante a pandemia do coronavírus, no último dia 17 de junho, uma ação policial foi realizada nas favelas Nova Holanda e Parque Maré. Homens do Batalhão de Polícia de Choque passavam pela avenida Brasil e supostamente foram atingidos por tiros, desencadeando na ação. De acordo com a assessoria de imprensa e e pelo porta-voz da PMERJ, Coronel Mauro Fliess, a mobilização de mais policiais do choque para ação na região foi emergencial e não uma operação policial, o que caracterizaria uma desobediência à decisão do STF. Ações de solidariedade, como a entrega de cestas básicas e itens de higiene e o trabalho de desinfecção das ruas, porém, foram interrompidos e o atendimento na Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva, que fica na Nova Holanda, ficou suspenso durante toda a manhã.

Antes dessa determinação judicial, aconteceram três operações policiais na Maré. No dia 27 de março, em Marcílio Dias; no dia 6 de abril, no Parque União e em 29 de abril, no Morro do Timbau, Baixa do Sapateiro e Nova Maré. No dia 6 de abril, as Clínicas da Família Diniz Batista, do Parque União, e Jeremias Moraes da Silva, da Nova Holanda, tiveram o atendimento suspenso. No dia 29, as Clínicas da Família Augusto Boal e Adib Jatene interromperam suas atividades. Violações, como invasão ao patrimônio, também foram relatadas nas primeiras duas operações. 

O De Olho na Maré, projeto da Redes da Maré responsável por acompanhar e sistematizar os impactos das operações no território, identificou que, juntas, essas quatro operações durante a pandemia somaram uma morte, sete feridos, sete invasões a domicílio e três dias com perda parcial ou total dos atendimentos nas unidades de saúde.

Articulação para monitorar e fiscalizar o cumprimento da decisão

Diante de ações policiais como a do dia 17 de junho na Maré, posteriores à data da decisão do STF (05/06), o conjunto dos amigos da corte está se articulando para monitorar operações policiais nas favelas do Rio e pressionar o Ministério Público do Estado a fiscalizar o cumprimento da determinação judicial por parte do Governo fluminense. Na última sexta, 18 de junho, foi enviado ao relator da ADPF 635 uma manifestação sobre o possível descumprimento da decisão por conta da operação policial realizada no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, no dia 12 de junho, cuja motivação era a interrupção de uma festa de aniversário de um traficante da região. No documento, argumenta-se que a operação não se enquadra no que pode ser considerado hipótese de absoluta excepcionalidade e pede que o Ministro Fachin intime o Governo e Ministério Público estaduais a prestarem esclarecimentos sobre a operação e comprovem que respeitaram a ordem judicial da suprema corte.  

Julgamento da medida que proíbe operações policiais

O ministro relator da ADPF 635 Edson Fachin agendou julgamento colegiado (coletivo) da medida cautelar que ele concedeu determinando a proibição de operações policiais durante a pandemia do Coronavírus no Rio de Janeiro. A medida começará a ser julgada no plenário virtual pelos 11 ministros do STF nesta sexta-feira (26), podendo se estender até agosto, por conta do recesso do judiciário.

Sustentação oral popular


Diversas mães e familiares de vítimas da violência de Estado, assim como moradores de favelas se uniram para apresentar, em um vídeo, as razões pelas quais as operações policiais durante a pandemia devem ser barradas pelo Supremo Tribunal Federal. Essa mobilização ficou conhecida como sustentação oral popular, um paralelo à sustentação oral formal de advogados perante os juízes. Participam como depoentes as seguintes pessoas:

  • Rafaela Mattos, mãe de João Pedro Mattos, assassinado no Salgueiro, em São Gonçalo.
  • Vanessa Salles, mãe da Ágatha, assassinada no Alemão
  • Joyce da Silva, filha de Marco da Silva, assassinado no Vidigal.
  • Catarina da Silveira – mãe de Rogério da Silveira
  • Buba Aguiar, Coletivo Fala Akari
  • Bruna Silva, mãe de Marcos Vinícius, assassinado na Maré
  • Gizele Martins, Movimento de Favelas do Rio
  • Ana Paula Oliveira, mãe de Johnathan de Oliveira, assassinado em Manguinhos
  • Laura Ramos, mãe do Lucas Azevedo, assassinado em Costa Barros
  • Anielle Franco, irmã de Marielle Franco
  • Uidson Alves, irmão de Maria Eduarda, assassinada em Acari
  • Irone Santiago, mãe de Vitor Santiago
  • Marcelo Dias, Movimento Negro Unificado
  • Monica Cunha, mãe de Rafael Cunha, assassinado no Riachuelo
  • Patrícia Oliveira, Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência
  • Giselle Florentino, Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial
  • Dalva Correia, mãe de Thiago, assassinado no Borel

Ronda Coronavírus: Maré passa de 900 casos e tem 96 mortes por Coronavírus

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Com o crescente número de casos, a previsão é que a América Latina seja o novo epicentro da doença no mundo

Os números da Covid-19 no Brasil continuam aumentando exponencialmente. Foram 1.185 mortes registradas nas últimas 24 horas, totalizando 53.830 mortes, e 42.725 novos casos confirmados. São 1 milhão 188 mil 631 brasileiros com Covid-19. A previsão de que a América Latina seria o novo epicentro global da pandemia de coronavírus virou realidade em 31 de maio, quando o Brasil se tornou o país onde a doença mais cresce. Segundo levantamento, o Brasil tem mais que o dobro de mortes de Índia, China, Paquistão e Indonésia juntos – quatro dos cinco países mais populosos do mundo.

Covid-19 na Maré 

Dados da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro apontam que nesta quarta-feira (24), o estado passou das 9,2 mil mortes e dos 103 mil casos confirmados de Covid-19. Apesar do número grande de casos, dos sete hospitais de campanha prometidos pelo Governo do Estado do Rio, apenas dois estão em funcionamento. E esse não é o único problema: foi aprovado na Assembléia Legislativa do Rio o início do processo de impeachment do atual governador Wilson Witzel. Já na capital, passamos de 53 mil casos e 6 mil mortes. Na Maré, segundo dados oficiais, são 312 casos confirmados e 77 mortes de mareenses. Mas somando os casos suspeitos, de acordo com o levantamento do De Olho no Corona! da Redes da Maré, são 921 casos e 96 mortes das 16 favelas da Maré.

Acesso à internet

Durante a quarentena, o aumento do uso da internet no Brasil foi entre 40% e 50%, segundo a Anatel. Mas como fica a vida dos moradores de periferias brasileiras, como a Maré, onde o serviço é precário? Elaine Alipio é professora de educação infantil e depende da internet para trabalhar, entrar em contato com as crianças e pais. Segundo ela, a internet não tem ajudado. “Eu tive dificuldade porque a internet falha muito”, conta ela. Acesso à internet também foi assunto do quadro Por Dentro da Maré. Veja a coluna aqui. 

Elaine Alípio teve adaptar sua rotina de trabalho para educar à distância.

Carteira de Habilitação vale por 10 anos
A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (24) uma mudança no projeto que altera o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) a fim de permitir que a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) de motoristas profissionais, com idade inferior a 50 anos, tenha validade de dez anos. O projeto segue em votação no Senado.

Banco 24 horas inaugurado na Maré

Na ausência de agências bancárias na Maré, o resta ao morador é contar com bancos 24 horas. Mais um desses caixas será inaugurado na Rua João Araújo, 99  da favela Rubens Vaz, dentro de uma drogaria.

Banco 24 horas será aberto na Rubens Vaz.

Hoje é dia de São João 

A Prefeitura do Rio fez uma homenagem ao dia de São João, nesta quarta-feira, 24 de junho, com um clipe da música Sonho de Papel, de Alberto Ribeiro. A solista Maria Tereza Cruz dos Santos, de 6 anos, faz uma participação especial ao lado dos músicos do programa Orquestra nas Escolas, formada por alunos da Rede Municipal de Ensino. Por conta da quarentena, o isolamento social foi mantido na gravação do clipe. Cada aluno tocou e cantou de sua própria casa. Para assistir ao clipe de “Sonho de Papel” acesse aqui 

Nenê do Zap

Com tantos problema a resolver e tantos afazeres domésticos, a criançada nessa quarentena pode ficar de lado. Mas quando é a hora de dar aquela atenção especial, confira na dica do Nenê Zap de hoje.

Por Dentro da Maré #5 Pandemia e internet: mais um dos desafios dos moradores da Maré

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Jéssica Pires

A gente usa a internet pra se comunicar, se divertir e ter acesso a direitos. Durante a quarentena, o aumento do uso da internet no Brasil  foi entre 40% e 50%, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).  Essa gigante rede de informações, porém, não chega de forma democrática nos territórios de favela. Dos produtores de conteúdo que lidam com arquivos pesados a moradores que precisam acessar cadastros simples, todos sofrem com a má qualidade. Um serviço que piorou justamente quando mais precisamos dele, seja para prosseguir com os estudos ou solicitar o auxílio emergencial.


Os perrengues

Para o André, que é responsável pelo suporte técnico em TI na Redes da Maré, há pouca concorrência na oferta dos serviços de internet e isso torna a entrega muito ruim: “a quantidade de megas ofertado não corresponde, na prática, à velocidade contratada”. A intermitência também é comentada por muitos moradores. “A quantidade de solicitações de reparos é muito grande”, diz. “Agora na pandemia tem sido mil vezes pior porque não tem técnico pra vir aqui na favela resolver a conexão de internet que normalmente já é ruim e agora está pior ainda”, diz Karina, comunicadora e moradora do Parque União.

Há uma grande diferença de ofertas e qualidade de serviços da Maré em relação a outras regiões da cidade.  Diferença que foi percebida também por Mayara, ex-moradora do Parque União. “Trabalho com audiovisual e demorava horas pra subir um vídeo quando morava na Ari Leão. Era muito lento e sempre que reclamava o atendimento era ruim. Hoje moro na Lapa e a internet é bem mais rápida. Tem várias opções e até hoje não consigo entender o porquê da internet na Maré ser tão ruim se os moradores querem e pedem mais”, explica. 

Pamela, moradora do Parque União e coordenadora do Eixo de Arte, Cultura, Memórias e Identidades da Redes usou as redes sociais para compartilhar um desabafo:  “os moradores de favela ficam à margem de um serviço essencial, que é a internet, ainda mais em tempos de pandemia”. A internet 4G só funciona em dois cômodos da casa.  Ela divide o wifi coma vizinha, uma parceria frequente entre muitos moradores, e a rede fica sobrecarregada. Não suporta chamadas de vídeo e uploads.

Por Dentro do acesso à internet na Maré

De acordo com o Censo Maré, de 2013, 36,7% domicílios na Maré têm acesso à internet. Já o número na região metropolitana do Rio de Janeiro é de 56,1%, de acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE, também de 2013. O Censo Maré também chamou atenção para a diversidade no acesso entre as favelas da Maré. No Conjunto Esperança, 44,1% dos domicílios tinham acesso à internet na época e, em Roquete Pinto, apenas 29,4%, por exemplo. Ao longo dos anos, estes números foram crescendo, principalmente com o uso de smartphones com pacote de dados. Em 2015, uma pesquisa do Data Favela já apontava que 86% dos moradores de favelas tinham celular e ele já era a principal fonte de acesso à internet. Em 2018, a PNAD apresentou uma taxa de 87,3% de domicílios com internet no estado do Rio de Janeiro.

Essencial para garantir direitos
Durante a pandemia, a necessidade da internet aumentou. Precisamos dela para tudo. Até para fazer valer nossos direitos. O auxílio emergencial do governo federal, por exemplo, só pôde ser solicitado por um aplicativo. Na educação, ela se tornou fundamental. Desde março, os professores estão realizando aulas online  pelo aplicativo GoogleMeet  e o principal motivo para a não participação das aulas é a internet.  Entre os 115 adolescentes que frequentam o preparatório para o Ensino Médio da Redes da Maré, a média dos que participa das aulas online é 47. A principal justificativa para a ausência é a instabilidade da rede.  Os alunos que se preparavam para o vestibular também passam pelas mesmas dificuldades. Dos 241 jovens que frequentam o Curso Pré Vestibular da Redes da Maré, apenas 157 tem acesso à internet via cabo ou WiFi e 23 a dados móveis. 

O direito à vida e a segurança pública na Maré também estão ligados ao acesso à internet. Em dias de operações policiais, os moradores, em sua maioria, se informam sobre fechamento de escolas, postos de saúde e de circulação no território pelos grupos de WhatsApp e Facebook. 

O acesso à internet em muitos países é um direito constitucional. No Brasil, existe a “Lei do Marco Civil da Internet” que diz que o acesso à rede é importante para garantia da cidadania. Há também um proposta de emenda à Constituição (PEC) 8/2020, que segue em tramitação no senado, que defende que o acesso à internet é direito fundamental.

A gente também quer visibilidade!

“O acesso à internet livre e gratuita é tão fundamental para a educação quanto para um acesso à informação mais livre, para você buscar suas próprias fontes” , diz a
jornalista Thamyra, coordenadora do GatoMidia, espaço de aprendizado em mídia e tecnologia do Complexo do Alemão. Para ela, o acesso à internet possibilita que as pessoas de territórios de favelas também produzam sua comunicação, “hoje o favelado faz muito mais upload, do que download”.

Durante a pandemia, vários coletivos, organizações e pessoas se mobilizaram para produzir conteúdo sobre o novo vírus. Dados, prevenção, ações que acontecem na Maré e tudo que gira em torno da favela e esse momento que estamos vivendo. Foi assim que o surgiu o “Corona Favelado”, perfil no instagram administrado pelo artista Raphael Cruz. 

Já o  Raphael, morador da Nova Holanda e do canal Nada com Nada” do Youtube, criou uma conta no “TikTok”, um aplicativo para criação e publicação de vídeos rápidos que tem bombado durante a pandemia. Depois de 3 meses, o perfil do Rapha chegou a 100 mil seguidores na nova rede.


O que fica de aprendizado com a pandemia: democratizar o acesso de qualidade e a preço acessível à internet traria ainda mais potência à Maré. A quem acessa à rede em busca de direitos básicos e fundamentais, como a educação e informação. E também a quem produz e publica suas próprias narrativas, como nós. Criar é coisa da favela. E a gente segue criando maneiras de garantir o acesso a direitos e contar nossas histórias, articulando os saberes e os recursos disponíveis.

Esse material foi produzido com apoio do CRIAndorede: iniciativa da UNICEF em parceira com o Luta pela Paz, Redes da Maré e Observatório de Favelas pela proteção à vida de crianças e adolescentes na Maré.  

Ronda Coronavírus: Maré é a favela carioca com maior número de casos e de mortes

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No final de semana que chegou-se a 50 mil mortos, houve aumento de circulação de pessoas na cidade

O Brasil ultrapassou as 50 mil mortes por Covid-19 em pouco mais de três meses após registrar sua primeira morte 17 de março. Se seguirmos nessa curva, o Brasil pode superar os Estados Unidos em número de mortes de Coronavírus no dia 29 de julho, aponta a projeção de um dos principais modelos matemáticos usados pelo governo americano para definir suas estratégias. Neste dia 29 de julho, o Brasil teria 137,5 mil mortos e os EUA, 137 mil. 

OMS fala da subnotificação no Brasil 

O  Diretor de programas de emergência da Organização Mundial de Saúde (OMS) relatou nesta segunda (22) que o Brasil está em subnotificação. Ele mencionou que a taxa de prevalência (número de indivíduos afetados pelo número total de pessoas) do coronavírus é bem parecido no mundo todo, mas que no Brasil é inferior  mesmo diante do número grande de nossa população. Ele ressalta que pela falta de testagem em massa, o Brasil certamente não tem dados que demonstrem a realidade que vivemos hoje.

Dados Covid-19

A Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro informou que são 97.572 casos confirmados e 8.933 mortes Coronavírus. Até o momento, entre os casos confirmados, 78.316 pacientes se recuperaram da doença. Na capital, passamos dos 50 mil casos confirmados (50.922) e  5.875 mortes. Só nas favelas cariocas são  2060 casos confirmados e 433 mortes. Na Maré, segundo dados oficiais, são 297 casos e 75 mortes, fazendo com que o conjunto de 16 favelas fique em primeiro no ranking em um número de mortes e número de casos de Covid-19 nas favelas cariocas. Segundo o levantamento do De Olho no Corona!, ainda há 663 casos suspeitos, que somando aos oficiais, dá pelo menos 921 pessoas com suspeita ou confirmação de coronavírus na Maré, e 96 mortes. 

Maré Diz Não ao Coronavírus 

Começou na última sexta-feira, 19, a terceira fase da Campanha Maré diz NÃO ao Coronavírus, com distribuição de cestas de alimentos e kits com produtos de higiene pessoal e de limpeza para a população das 16 favelas da Maré. Como o número de famílias que precisam dessa ajuda aumentou, a Redes da Maré está com uma campanha de arrecadação de recursos financeiros pela plataforma do Catarse. Para ajudar, é só contribuir e compartilhar essa ideia:

Solidariedade

João Batista, de 56 anos e morador da Baixa do Sapateiro, uma das 16 favelas da Maré,  buscou formas de continuar trabalhando durante a pandemia para garantir a renda da família com o seu comércio perto de casa. João também conta com a doação de alimentos e reforça a importância da ajuda ao próximo. “A gente primeiro tem que se apegar com Deus e depois com a ajuda das pessoas, porque se for esperar por esses governantes, eles não estão nem aí pela gente. O pouco que eu tenho eu estou ajudando o meu vizinho”. 

João Batista, buscou formas de continuar trabalhando durante a pandemia para garantir a renda da família

Desinfecção das ruas 

A frente Cuidados e Prevenção de Saúde da Campanha Maré Diz NÃO ao Coronavírus irá concluir até o final de junho a desinfecção das ruas, becos, vielas, travessas e praças da Maré. Assim, 100% das ruas do território terá uma película protetora que mantém pisos e paredes protegidas contra a propagação da Covid-19. Comlurb, Redes da Maré e associações de moradores estão juntas nesta iniciativa, que envolve cerca de 70 pessoas na ação, além de dois carros de som que passam no dia anterior na favela que será limpa dando orientações e cuidados para a população. Esta semana será a vez das ruas do Conjunto Pinheiro, Salsa & Merengue, Vila do João e Conjunto Esperança.

Foto: Douglas Lopes

LIVE MUSICAL

No próximo sábado, 27 de junho, às 18h, acontece a live A Esperança Equilibrista, com diversos nomes da arte, música e poesia, como Ivan Lins, Zeca Baleiro, João Bosco e outros mais. A live tem a organização da Inspirartes Cultural, em parceria com a Redes da Maré e apoio da Fenae. Um grande show que todos podem assistir sem sair de casa, através do canal do YouTube da Inspirartes Cultural e também do Facebook. Mais informações aqui. 

EDUCAÇÃO FEMININA

Atenção  meninas e mulheres estudantes moradoras da Maré, a Redes da Maré quer saber como anda o ensino durante a pandemia. O objetivo é  ajudar a melhorar a educação do território. Basta acessar o link para responder:

RESULTADO DA CHAMADA PÚBLICA

Com a pandemia de Covid-19, a Redes da Maré, organização da sociedade civil com atuação no conjunto de favelas da Maré há mais de duas décadas, lançou a Campanha Maré diz NÃO ao Coronavírus, em março de 2020, com o objetivo de apoiar moradores e moradoras da Maré. Dentre as linhas de atuação da campanha, foi feita uma chamada pública para selecionar projetos que contemplem novas formas de fazer arte, cultura e comunicação nas favelas. Confira o resultado aqui 

VOTAÇÃO ABERTA

O projeto A Maré de casa compartilha o que os moradores da Maré veem das suas janelas, por meio de fotografias e textos reunidos no ensaio. Todo mês acontece uma votação popular para escolher cinco autores que serão premiados e terão sua foto e texto em destaque na Galeria da Minha Janela. Confira as fotografias e vote aqui.  

#COLABORA NESSA MARÉ DE NOTÍCIAS

O Projeto #Colabora e o Maré de Notícias estão com inscrições abertas para profissionais de comunicação, com o objetivo de produção de conteúdos sobre o impacto da pandemia de Covid-19 no território. As inscrições vão até 30 de junho. Informações e inscrição aqui.