Realizado em parceria com a Redes da Maré e outras organizações, projeto promoveu mutirão para plantio de mudas e outras atividades relacionadas ao meio ambiente e à sustentabilidade
Thaynara dos Santos e Hélio Euclides
Entre os dias 26 e 27 de setembro, o Projeto Verdejando realizou atividades ligadas ao meio ambiente e sustentabilidade em vários locais do conjunto de favelas da Maré. Mulheres, crianças, jovens, representantes de organizações que atuam no território e voluntários participaram de oficinas de educação ambiental e realizaram um mutirão para o plantio de mil mudas de plantas e árvores.
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O projeto, que promove ações de sustentabilidade pelo Brasil, é uma iniciativa da Rede Globo que tem como proposta mobilizar a população e incentivar a educação ambiental e outras iniciativas sustentáveis. A edição de 2019, na Maré, teve como parceira o projeto Maré Verde (da Organização Não Governamental Redes da Maré), Coosturart, Instituto Naturalis, Projeto Reflorestar Zona Oeste e Organicidade.
“O Maré Verde já vem realizando atividades na Maré. Para fortalecer essas mobilizações, o Verdejando entrou em contato para uma parceria. Isso no final de julho. Em agosto, fizemos um mapeamento das ações, e, em setembro, colocamos a mão na massa. Para apoiar nesse mutirão, veio o Instituto Naturalis e a Comlurb (Companhia de Limpeza Urbana). Foi bom mobilizar moradores para ver como eram os espaços e a transformação visual que causa. Agrega mais pessoas para transformar locais, que antes só tinham lixo, em áreas com mudas e grafites. Além do impacto visual, o objetivo é a mudança no modo de agir e uma maior conscientização. A curto prazo, teremos que ter uma articulação para o cuidado das mudas. A longo prazo, vamos ver uma arborização da Maré”, explica Julia Rossi, bióloga e coordenadora do Projeto Maré Verde.
De acordo com Júlia Rossi, a Maré tem um déficit arbóreo de mais de 1.000 árvores segundo o plano municipal. “Desejamos que a Maré seja igual a outros bairros da cidade. Os espaços da Maré precisam ser ocupados não só por casas, mas por áreas verdes. Dessa forma, vamos cultivar uma melhor qualidade do ar e transformar espaços em locais de lazer, de piqueniques, de aulas ao ar livre, de eventos e prática de esportes. Acredito que, com essas mil mudas resgatamos o interesse do morador no processo de plantar cada vez mais árvores, isso é um processo. Essa atividade foi uma sementinha”, disse a coordenadora.
A participação de crianças e jovens foi um ponto marcante durante as atividades do Verdejando na Maré. Os jovens voluntários demonstraram preocupação e medo com o futuro do meio ambiente. “É muito triste ver a nossa floresta sendo devastada. Nós estamos mostrando a todos que é necessário fazer algo pelo meio ambiente”, disse Mariana da Silva, de 13 anos, moradora da Nova Holanda. Breno Silva, outro morador da Nova Holanda, também deixa seu recado. “Muito legal a participação das crianças, que no futuro vão ver essas árvores crescerem e vão ter mais oxigênio”, explica o jovem de 15 anos.
Futuro do planeta
O projeto Maré Verde, iniciado em 2018, desenvolve atividades de educação ambiental e mobilização social que envolvem a comunidade escolar, moradores, catadores, Comlurb e outros atores locais. Essas atividades têm como objetivo estimular a reflexão sobre as questões socioambientais do território e, a partir desse processo, intervir para a melhoria desses espaços com mutirões de arborização e pautar o meio ambiente dentro de uma agenda mais estruturante para o território. No final de 2018, foram realizadas três oficinas e um mutirão no Colégio Estadual João Borges, envolvendo cerca de 70 alunos e cinco professores, onde foram plantadas 50 mudas.
Ginecologia natural promove o autocuidado e eleva a autoestima
Maré de Notícias #105 – outubro de 2019
Flávia Veloso
Conhecer o próprio corpo ainda é um
tabu, especialmente quando se fala no corpo feminino. A mulher ainda carrega,
injustamente, estigmas e preconceitos que a sociedade impõe, com base em uma
cultura machista, que insiste em querer ditar o que ela pode ou não fazer e
dizer, como se comportar e até onde pode ou não ir. Essa herança, sob amarras,
limita que a mulher assuma o controle de sua vida nos âmbitos profissional,
social e pessoal, atingindo até a relação construída com si mesma.
Ginecologia em
primeiro lugar
88% das mulheres têm costume de ir ao ginecologista
79% das mulheres citam a Ginecologia como a
especialidade médica mais importante
58% das mulheres que já foram ao ginecologista
recorreram ao Sistema Único de Saúde (SUS)
(dados do Febrasgo e Datafolha/2018)
Ao mesmo tempo em que vale ressaltar o
lado positivo da preocupação que a mulher tem com sua parte ginecológica, como
refletem os dados, é preciso averiguar se essa mulher também pratica
diariamente o autocuidado.
Cuidados com si mesma: a verdade sobre a
ginecologia natural
Ginecologia natural não é só tratar de
si por meio de plantas (o chamado tratamento fitoterápico). O verdadeiro
conceito desse movimento é conectar-se ao seu corpo: se tocar, olhar, observar
e notar como você funciona, tanto no corpo quanto na mente. Dessa forma,
pode-se entender que é um cuidado com a saúde no geral, e acaba por facilitar a
prevenção e o tratamento de doenças, além de melhorar a autoestima.
Acesso restrito
Apesar de a Ginecologia ser uma
especialidade médica, sua prática no viés natural não é, ou seja, ela
não será encontrada nas redes públicas e privadas de saúde. As mulheres que
trabalham com esta prática são ginecologistas que fizeram curso de formação
para tal especialidade. Para Edineide da Silva Pereira (ou Neide),
fundadora do Espaço Casulo, na Maré, formada em Pedagogia e no curso de
Ginecologia natural, seria de grande benefício que fosse reconhecida como
especialidade – apesar da atual má administração da saúde pública -, pois
facilitaria o acesso de muitas mulheres a esses conhecimentos. Esta é uma luta
de quem trabalha na área. Existem consultórios de Ginecologia natural, mas as
consultas oferecidas são pagas e caras. A maioria das mulheres (como mostram os
dados no quadro) recorrem ao SUS para consultas e tratamentos.
A importância de se conhecer
“Muitas mulheres chegam a um
consultório de Ginecologia tradicional com candidíase, por exemplo, que é muito
comum, e o médico ou a médica indicam pomadas e comprimidos, que vão alterar o
pH vaginal e tratar os sintomas, mas não a causa do problema.” Neide explica
que candidíase, causada pelo fungo Candida, já existe no corpo da
mulher, e que há fatores que podem levar ao desequilíbrio dele no organismo,
como estresse, outras questões de saúde e até determinadas roupas. “O estigma
de que o corpo da mulher é sujo a faz acreditar que a causa é uma questão
higiênica, quando, na verdade, pode vir de muitos outros fatores. Conhecer o
seu eu leva a saber o que é melhor para você”, completa Neide.
Além de tratar a saúde como algo
completo e ajudar a eliminar estigmas e preconceitos sobre o corpo feminino, o
autoconhecimento pode evitar enganações que chegam a doer até no bolso. Neide
diz que “a Ginecologia natural não é totalmente contra a tradicional, mas contra
o comércio que se faz sobre as indústrias dos exames e a farmacêutica, que
acabam lucrando em cima de muitas pacientes, oferecendo serviços e produtos dos
quais nem sempre elas precisam.”
Fitoterápicos: os queridinhos dos tratamentos
Os tratamentos com plantas podem não
ser o único elemento da Ginecologia natural, mas isso não diminui sua
importância. Usados antigamente com base somente nas experimentações, a
fitoterapia virou coisa séria quando a Ciência passou a poder comprovar, em
laboratório, os poderes medicinais das plantas. Agora, com respaldo do avanço
tecnológico, as propriedades herbais conquistaram tanto a confiança das pessoas
que até o Sistema Único de Saúde adotou vários remédios à base de plantas.
O SUS possui hoje 12 medicamentos desta
natureza em sua Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename); dentre
eles, dois de uso vaginal: a aroeira e a babosa. Outras práticas do sistema
público que “conversam” com a Ginecologia natural são as listadas nas Práticas
Integrativas e Complementares (PICS), como ayurveda – um dos mais antigos
sistemas medicinais conhecidos, desenvolvido na Índia, ioga, meditação e muitas
outras.
Planta também é remédio; então, cuidado!
Há muita informação na internet sobre
tratamentos fitoterápicos, mas é necessário todo o cuidado para não aplicar em
si mesma métodos falsos ou feitos de maneira errada. A fundadora do Espaço
Casulo alerta para o fato de que as ervas também são remédios, também possuem
contraindicações, dosagens, efeitos colaterais e reações alérgicas. O ideal é
que a mulher procure orientação profissional para o assunto, para que a ajude a
não só trabalhar a questão medicinal, mas auxiliar nos processos de conhecer o
próprio corpo. Entretanto, é difícil evitar que a mulher vá atrás de métodos na
internet; então, a recomendação é que se informe bastante antes de fazer
qualquer coisa.
Que tal algumas dicas?
Indicadas pela própria Neide, a
ginecologista natural Bel Saide (criadora do portal ginecologianatural.com.br)
e as Curandeiras de Si (curandeirasdesi.com.br) são algumas das fontes
confiáveis no assunto. Em seus respectivos portais on-line, elas não só
oferecem cursos e materiais (que são pagos), como também disponibilizam artigos
com dicas de autoconhecimento e autocuidado com todo o corpo e a mente.
A seguir, plantas fitoterápicas e
energéticas e suas propriedades. Você pode encontrar maneiras de usá-las nos
portais citados na matéria.
– Barbatimão
Propriedades antibacterianas, antioxidantes,
analgésicas, desinfetantes, diuréticas, coagulantes, anti-inflamatórias,
anti-hemorrágicas e antissépticas. Combate cistite e sintomas da candidíase.
– Tanchagem
Tem efeitos anti-inflamatórios, bactericidas e
diuréticos. Trata sangramentos, agindo como pró-coagulante.
– Camomila
Tem efeitos antiespasmódicos, que provocam e
regularizam a menstruação, analgésicos, estimula o estômago e a produção de
leucócitos (células de defesa do corpo), anti-inflamatórios, hepáticos e
combate a raiva e o estresse mental.
Ervas energéticas
Alecrim – atrai prosperidade e para abrir caminhos Aroeira – remove negatividade Guiné – desagrega pensamentos de más vibrações Arruda – limpa pensamentos negativos Alfazema – equilibra energias, traz paz e harmonia Eucalipto – aumenta energia e autoestima Espada-de-são-jorge (ou espada-de-santa-bárbara) – proteção Abre-caminho – renova as forças Anis-estrelado – aumenta a autoestima Folhas de louro – atrai prosperidade
Dicas extras: Depilação: o ideal é que ela seja evitada, pois os pelos protegem a vulva. Ainda assim, se for feita, recomenda-se que não seja realizada com cera, pois maltrata e agita a pele. Absorventes: os industriais não são os mais saudáveis, por causa das substâncias químicas que contêm. Recomenda-se o uso de absorventes naturais (como os de pano) ou coletores menstruais.
Chamado erroneamente de lixeiros, os garis têm uma importante função social
Maré de Notícias #105 – outubro de 2019
Hélio Euclides
“Tem gente que diz que joga lixo na
rua para garantir o emprego do gari. Mas morrer, para dar trabalho ao coveiro,
ninguém quer né?” Com essa frase a gari Valdenise Brandão, conhecida
como Val, começou a entrevista. Ela compõe a equipe da Companhia Municipal de
Limpeza Urbana (Comlurb), que atua na Maré com 56 profissionais. Segundo a
Empresa, ainda há outros 62 trabalhadores comunitários. Eles começam a sua
jornada diária cedo, às 6 horas, para cumprir uma longa e pesada meta de
trabalho.
Quando se pensa na função do gari, vem
logo à mente a coleta domiciliar e a varrição. Eles ainda realizam a coleta
seletiva, capina e roçada, coleta de entulho, limpeza das praias, das lagoas,
dos túneis e viadutos, de encostas, de feiras livres, nas escolas e hospitais
municipais, de valas, ralos, parques e
praças, manutenção de mobiliário, preparo de alimentos nas escolas, poda de árvore,
remoção de resíduos das Ilhas, coleta hospitalar, combate a vetores,
desodorização de ruas e remoção de pichações. Cansou só de ler? Pois é, o gari
é um profissional invisível, mas que – faça chuva ou sol – se dedica para
deixar a cidade mais limpa, bonita e melhor para se viver.
Na Maré, o trabalho da Comlurb é
gerenciado por Marcos Wiliam,há três meses. Ele atuou como gari
por 13 anos e depois foi fiscal por outros cinco. Para chegar antes de todos,
às 5 horas da manhã, Wiliam, que mora em Cabuçu, bairro de Nova Iguaçu, levanta-se
cedo, antes das 4 horas.
Ele conta que se inspira em alguns
profissionais da Maré, como Jorge Luiz, de 67 anos, que atua na coleta; Tião
Fonseca, de 65 anos; e Ivete Cristina, de 60 anos, ambos na varrição. “Não
supervisiono de dentro do escritório, ando pelas ruas da Maré. Trabalho com
amor, sempre quero fazer o meu serviço bem-feito”, afirma.
Até no meio do lixo nascem flores
Mobilização: trabalhadores e moradores comprometidos com os espaços verdes do território | Douglas Lopes
Um grupo de garis tenta acabar com os
pontos de descartes indevidos de lixo na Maré. Para isso, constroem canteiros e
mostram que há vida onde antes só tinha resíduos. Val, de 36 anos, 11 dedicados
à profissão, compõe essa força-tarefa. Na Rua Capitão Carlos, no Morro do
Timbau, só tinha lixo e foram colocadas, no lugar, plantas e flores. “Tinha morador
que não pisava mais na calçada, pois não tinha espaço. Outros, não abriam mais
a janela para não entrar moscas. O resultado positivo não tem preço. Dar vida à
cidade é gratificante”, conta Val.
Val, antes, era vendedora de
empadinhas e também trabalhou na limpeza de aeroporto. Hoje se dedica à
reciclagem, a criar praças e jardins. Para se aperfeiçoar, a profissional
participou de um curso de compostagem. O projeto consiste em trabalhar a
reciclagem e montar horto nas escolas, além de construir tijolos de plásticos
orgânicos para os canteiros. “Hoje, faço urbanismo tático. Tomei paixão, essa é
a minha missão. Meu sonho é fazer a faculdade de Arquitetura”, disse. Apesar da
alegria, tem algo que a deixa irritada: “Não gosto quando nos chamam de lixeiros,
somos coletores”, explica.
Outro ponto de queixa é o verão.
“Trabalhamos na rua sem água e banheiro. Ainda bem que tem morador que oferece
até comida”, diz Val.
Maria Irece, moradora
do Morro do Timbau, gostou da proximidade com os garis. “Antes, não tinha
coleta domiciliar, por isso minha rua era um lixão. Agora passam três vezes por
semana e ainda fizeram um canteiro lindo, no qual eu ajudei. É um trabalho
lindo que estão realizando, tirando o lixo que vinha até o meu portão, deixando
a calçada livre e criando jardins. Estão de parabéns!”
A alegria de ser gari
Jeferson dos Santos e Jaqueline Macena: família surgida na profissão. Garis são casados há 10 anos | Douglas Lopes
Jaqueline Macena, de 36
anos, trabalha como gari há 10 anos, sete deles na Maré. Ela trabalha varrendo
a Avenida Brasil, do Supermercado Vianense até o BRT Maré. No seu caminho,
encontra muito lixo pela frente. Na maioria, copos de guaraná natural e guimbas
de cigarro. “Falta papeleira para as pessoas colocarem o lixo, então a maioria
descarta no chão”, explica.
Para Jaqueline, a profissão é muito
importante: como gari, conquistou sua casa e um carro.
Um benefício que a empresa oferece é o desconto na faculdade. Dessa forma, sua
filha cursa Odontologia. “Somos uma família de garis, com cunhado, primo e
esposo. Eu gosto do que faço, sou feliz como gari”, conta. Um fato importante
na vida da Jaqueline, que aconteceu na empresa, foi ter conhecido o seu
companheiro há 10 anos, e logo depois tiveram um filho.
Apesar do trabalho, ainda há lixo na rua
Na Maré, a Comlurb disponibiliza, para
os serviços, cinco caminhões de coleta, dois satélites (caminhões menores),
cinco microtratores e um trator. Para Pedro Francisco, presidente da
Associação do Conjunto Esperança, ainda há problemas a serem superados: “Falta
diálogo e o resultado é muito lixo nas ruas. A caçamba só mudou de cor, a
eficiência é horrível. Falta mão de obra, um efetivo maior nos caminhões,
fortalecer o projeto Gari Comunitário, criar um espaço para colocar entulho de
obras, campanhas socioeducativas e a valorização da coleta domiciliar”, afirma.
O gerente Wiliam acredita que a Maré
está em constante crescimento e isso desfavorece a prestação adequada do
serviço. “Para suprir a carência, pedimos ajuda a outras gerências. Em breve,
virá mais um carro de coleta. O que mais nos preocupa, hoje, é a dispensa de
geladeira, fogão, sofá e entulho de obras. Muitas vezes, são caminhões de fora
da favela que vêm aqui jogar o lixo”, acrescenta.
Ele indica a quem deseja retirar
restos de material de construção de sua residência, que procure as associações
de moradores, que encaminham a demanda para a Comlurb Maré.
A Comlurb, por meio de sua assessoria
de imprensa, declarou que estão sendo instaladas 110 caixas metálicas com
capacidade de 1.200 litros, na Maré. Os novos equipamentos são de ferro, mais
resistentes que os contêineres “laranjões”, com tampas e rodinhas, que
facilitam o manejo do equipamento pelo gari. Além disso, possuem um mecanismo
que permite aos novos caminhões da frota alçá-las e remover rapidamente o
conteúdo.
O gari da
comunidade
O projeto Gari Comunitário tinha 115
profissionais, em 2012, na Maré. A cada ano esse número vem diminuindo. A
Comlurb explica, por meio de sua assessoria, que vem reduzindo gradativamente a
quantidade de garis comunitários atendendo à decisão judicial do Ministério
Público do Trabalho, para que sejam substituídos por garis concursados. A
Comlurb disse, ainda, que um novo concurso para garis se encontra em fase de
análise e assim que a Companhia tiver informações mais consistentes, tornará
público.
Você sabia?
A origem dos garis
O nome gari remonta à época do
Império. Em 1885, o empresário de origem francesa Pedro Aleixo Gary foi
contratado para o serviço de limpeza das praias e remoção do lixo da cidade
para a Ilha de Sapucaia, no Caju. Gary cumpriu essa função até o ano de 1891,
quando encerrou o contrato com o governo. Anos depois, foi criada a
superintendência de limpeza pública da cidade. A atuação do empresário, no
entanto, foi tão forte, que os empregados encarregados pela limpeza, os
varredores de rua, passaram a ser chamados de garis.
O Povo Fala
“Venho
sempre visitar os meus familiares aqui no Rubens Vaz e nunca vi morador
reclamar do lixo. Percebo as ruas sempre limpinhas, mais até do que onde moro.”
Sérgio Luiz, morador do Jacarezinho.
“O grande
problema são as ruas finas, o que prejudica a passagem do tratorzinho, mas
avalio o trabalho deles como bom. Só falta os moradores terem um pouco de
consciência.” Viviane Gabriel, moradora da Nova Holanda.
BRT Transbrasil se estende por dois governos municipais; cariocas sofrem com o transtorno
Maré de Notícias #105 – outubro de 2019
Thaynara Santos e Hélio Euclides
Em janeiro de 2015, as obras do
Transporte Rápido por Ônibus (BRT) Transbrasil tiveram início com um orçamento
contratual de 1,3 bilhão de reais. O primeiro prazo para seu término era
dezembro de 2016, fim do mandato do ex-prefeito Eduardo Paes. Isso não
aconteceu. As obras foram suspensas em agosto de 2016, por causa das Olimpíadas
do Rio. O processo foi retomado em abril do ano seguinte e pararam, novamente,
em março de 2018. Em 2019, a Prefeitura deu continuidade às obras na metade do
ano, em junho, e promete entregá-las em dezembro.
O BRT Transbrasil já passou por
inúmeras mudanças em diferentes períodos de sua construção. A ideia mais
recente é conectar Deodoro ao Centro do Rio. O projeto original previa um
trajeto entre os bairros de Deodoro e Caju, mas foi estendido até o Terminal
Américo Fontenelle, localizado na Rua Barão de São Félix, próximo à Central do
Brasil, em função de um ajuste no projeto exigido pela Caixa Econômica,
financiadora da continuidade da obra. A Secretaria Municipal de Infraestrutura
e Habitação (SMIH) informou que a obra já está 95% concluída, referindo-se aos
23 km que ela é responsável, que vão de Deodoro à Rodoviária Novo Rio. No
entanto, a sensação é de que ainda falta muita coisa para a sua conclusão. Os
outros 9 km, que completariam seus 32 quilômetros, estão a cargo da Companhia
de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto (CDURP).
De acordo com a nova proposta, serão
18 estações, ligando Deodoro ao Terminal Américo Fontenelle. A previsão é de
que as plataformas receberão 500 mil pessoas por dia, a partir do segundo
semestre de 2020. Os consórcios integrantes do Sistema de Transporte Público
por Ônibus (SPPO) assinaram, com a Secretaria Municipal de Transportes, um
termo comprometendo-se a iniciar a operação do BRT Transbrasil tão logo as
obras fiquem prontas.
Obra
do BRT irrita lideranças da Maré
O sistema de BRT Transbrasil,
considerado um dos maiores projetos de mobilidade para a cidade do Rio, já
deveria estar operando desde maio de 2017, mas na Vila do João parece que, além
de não progredir, a obra regrediu: parte da estrutura da estação, que estava
instalada, foi removida. Pedro Francisco,
presidente da Associação do Conjunto Esperança, reclama do distanciamento: “Teríamos
de ter uma proximidade maior com os órgãos responsáveis. A dúvida é com a
construção da estação em frente à Vila do João. Não sei como vai ficar o acesso
dos moradores do Conjunto Esperança”, reclama.
Com a demora na conclusão, moradores
queixam-se dos transtornos, como engarrafamentos, desvios e rotas improvisadas,
além da ausência de manutenção e estrutura precária das passarelas. “Estou
pessimista, a tendência é só piorar. Temos uma passarela que, no meio, só falta
cair; será que só vão construir outra quando acontecer uma tragédia?”,desabafa Ana Neris, moradora do Conjunto Esperança.
Em outra parte da Maré, também tem uma
passarela de infraestrutura ruim, feita de tubos de ferro. Maria da Graça, moradora do Parque União, se preocupa com sua
segurança. “Acho péssima. Para piorar, esses motoqueiros e ciclistas que a
utilizam, deixam ainda menos segura a travessia. A gente fica na espera, pois
só Deus sabe quando essa obra vai acabar.”
Vilmar
Gomes Crisóstomo, o popular Magá, presidente da Associação de
Moradores do Rubens Vaz, afirma que se esqueceram de fazer a drenagem da
Avenida Brasil. “No verão, nas comunidades houve enchentes, após as chuvas.
Também não entendo a mudança de lugar da Passarela 10, que causou a remoção de
comerciantes. Por isso, estamos com um abaixo-assinado de 1.000
assinaturas”, critica. A saída da passarela da entrada do Rubens Vaz para
o Parque União trouxe problemas também para o outro lado da Avenida Brasil. A
Escola Municipal Clotilde Guimarães perdeu parte do seu pátio.
Esqueceram
de mim: Marcilio Dias fica sem estação de BRT
Um problema que o Maré de Notícias já
mostrou na Edição 82, de novembro de 2017, e na Edição 90, de julho de 2018, é
a ausência de estação em Marcílio Dias. Ana
Joventino, presidente da Associação de Moradores de Marcílio Dias,
questiona o fato. “Vamos ter de andar até a Casa dos Marinheiros para
pegar um ônibus do novo Sistema. Pela quantidade de moradores, não entendo por que
nos deixaram sem acesso. Estamos até pensando em fazer um abaixo-assinado para
entregar à Prefeitura”, alerta Ana.
A Secretaria Municipal de
Infraestrutura e Habitação (SMIH) confirmou ao Maré de Notícias que os
moradores de Marcílio Dias serão atendidos pela Estação Marinha do Brasil, que
fica na Passarela 15, localizada a quase 400 metros da entrada da comunidade, e
que estão previstas linhas de ônibus na pista lateral para operarem como
alimentadoras. Uma equipe do Maré de Notícias fez a caminhada da Passarela 16
até à futura Estação. Serão mais 10 minutos, além daqueles que o morador já
realiza todos os dias, para chegar à favela. Essa distância prejudica a
mobilidade de deficientes e idosos, além de trazer riscos de assaltos.
Uma
obra ainda indefinida
Apesar da promessa de conclusão ainda
este ano, há dúvidas sobre como os ônibus irão atender à população. Em matéria
publicada pelo Jornal O Globo, de 2 de setembro de 2019, a Prefeitura
disse que ainda não há um plano operacional; que os ônibus articulados só devem
começar a circular em agosto de 2020 e que será necessária uma fase de
transição. O problema é que os ônibus convencionais não são compatíveis com as
estações, já que a abertura de suas portas é do lado direito e as estações
estão sendo feitas para veículos com acesso pelo lado esquerdo. Isso sem falar
na altura das estações, que pode causar desconforto, confusão e dificultar o
acesso dos passageiros. Questionada pelo Maré de Notícias, a SMIH declarou que,
quanto às estações, isso está sendo estudado pelas secretarias de
Infraestrutura e de Transportes.
Para Orlando Santos Junior, professor do Instituto de Pesquisa e
Planejamento Urbano e Regional da UFRJ, antes da construção do BRT Transbrasil,
deveria ter ocorrido uma avaliação sobre a escolha do modal, o trajeto e as
formas de participação. “Agora a discussão é centrada na ausência de
planejamento para a conclusão de uma obra já iniciada, em 2015, e até agora não
concluída. Isso é um descaso, um desrespeito com a população, que mora na
cidade e na Baixada Fluminense, afetada pelas obras”, avalia.
Ronaldo
Balassiano, do Programa de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ, lembra
que o projeto inicial ligava Deodoro ao Aeroporto Santos Dumont, passando pelas
avenidas Francisco Bicalho e Presidente Vargas e que o BRT precisa chegar ao
Centro da Cidade e as integrações são fundamentais para desafogar a Avenida
Brasil. “É importante também que, na chegada a Deodoro, o BRT Transbrasil
esteja integrado com o BRT TransOlímpica. Já no caso do Centro da Cidade é
importante fazer a integração com o metrô, trens, VLT e barcas”, acrescenta
Ronaldo.
O
Povo Fala:
“Esta obra não termina não, já tem muitos
anos. A iluminação da passarela em frente ao Conjunto Esperança melhorou um
pouquinho, mas mesmo assim tem vezes que falta. Acho que não vai mudar nada com
as obras. No Brasil, são 100 anos para mudar alguma coisa (risos). Só tem
corrupto, não acredito na mudança.” Erasmo
Carlos, vendedor.
“Acho que a passarela é perigosa. Precisa de
uma melhor, pois essa não tem nenhuma estrutura. A escada é perigosa e as
madeiras desniveladas. Eu uso essa passarela quase todos os dias. Parece que se
bater um vento, leva a passarela. Espero que, com o fim da obra do BRT, melhore.”
Myllena Soares, funcionária da
Fiocruz, referindo-se à passarela que fica na altura do Conjunto Esperança.
“A travessia na passarela em frente à Fiocruz é difícil, com piso íngreme e degraus irregulares. O ideal na inclusão da obra é a construção de uma passarela nova.” Samuel Ferreira, funcionário da Fiocruz.
Passarela na altura da Vila do João: estrutura da estação, que já estava instalada, foi removida | Douglas Lopes
Museu da Vida completa duas décadas com desejo de conquistar a Maré
Maré de Notícias #105 – outubro de 2019
Hélio Euclides
“Quem vive de passado é museu”. Este
ditado popular remete ao pensamento de que museu é algo antigo, empoeirado, com
cheiro de naftalina. Pensamento totalmente errado. E quando se fala do Museu da
Vida, aí é que o perfeito casamento entre o passado e o presente, que não tem
nada de chato, acontece. Muito pelo contrário. Descobre-se um circuito com 11
espaços, no qual o visitante aprende se divertindo. Criado em 1999, o Museu da Vida comemorou 20 anos no último mês de
maio. Apesar da proximidade, muitos moradores da Maré não acessam este “templo
do conhecimento”.
O Museu da Vida tem como diferencial
os espaços descentralizados. Muitos não sabem, mas todos os 11 espaços são
gratuitos. “É muito importante lembrar que esse campus é um parque
público. Nosso desejo é que os vizinhos – Maré e Manguinhos – ocupem o espaço,
com visitas que levem a piqueniques, pois temos um grande território verde, um
oásis”, comenta Alexandre Batista, chefe do Museu da Vida. Ele ressalta
a necessidade de que os moradores dessas localidades sintam que têm direito ao
uso do espaço. Além do campus, há ações territoriais, uma forma de o
Museu estar de mãos dadas com os espaços periféricos. Essa dinâmica começou em
2017, com uma atividade externa, no Centro de Artes da Maré. A partir daí, o
Museu começou a levar suas atividades para as escolas, instituições e unidades
de saúde vizinhas.
Um Museu
para aprender e brincar
Quem chega ao Museu já é recepcionado
por um trenzinho, que leva o visitante a outros espaços. Os pequenos também
ficam impressionados com o Parque da Ciência, quando têm a chance de escalar e
escorregar em uma célula gigante. Outra grande atração é o Castelo Mourisco, um
símbolo da ciência e arquitetura no Brasil. E, em breve, será inaugurada uma
exposição de elementos de Arqueologia, com peças encontradas em escavações
feitas por causa de obras no local.
“Certa vez, uma criança de 6 anos de idade falou para a mãe que a visita
ao Museu tinha sido o melhor dia da sua vida. Se nada funcionasse, isso já
valeria o esforço. Sou servidor público e levo tudo a sério. Por isso, tenho de
servir aos frequentadores”, revela Alexandre.
Em 2001, foram 61 mil frequentadores.
Recorde que foi batido em 2018, quando o Museu recebeu 65 mil visitantes.
Desses, 70% visitaram pela primeira vez um teatro ou um museu. Somado com o
trabalho externo, foi atingido o número de quase 300 mil pessoas, por meio do
caminhão Ciência Móvel, que visita as cidades do interior do Brasil e de
exposições de acervo da Fiocruz, fora do campus. A expectativa é de um
público de 60 mil visitantes ao ano. Para atender todos, são cerca de 150
pessoas envolvidas, que fazem parte do departamento da Casa de Oswaldo Cruz,
unidade técnico-científica da Fiocruz.
A cada ano vai crescendo o número de
visitantes da Maré e de Manguinhos, mas ainda é muito tímido. “Nunca fui, mas
me contaram que é muito legal e interessante. Tenho curiosidade com o
aprendizado sobre as vacinas e doenças. Qualquer dia, pretendo levar a minha
filha, pois é muito perto”, conta Elizabete
Antônia, moradora do Parque Maré.
Analice
Cabral, de apenas 7 anos, moradora da Vila do Pinheiro, visitou o Museu
nas férias do meio do ano. O que mais chamou a atenção da menina foi o Parque
da Ciência, onde as crianças podem fazer experiências a céu aberto. “Gostei
muito do Museu, em especial dos experimentos com voz e ouvido, que tem no
Parque”, resume a garota.
Uma aula
no Museu
Por meio do Expresso da Ciência, um
ônibus da Fiocruz, é possível levar os alunos ao Museu. Dessa forma, o
professor Allysson Veloso saiu de
Volta Redonda com 28 alunos para visitar o espaço. “Este universo é o local
apropriado de ensino e investigação da Ciência. Meus alunos de ensino público
aprendem, aqui, a ter um olhar do mundo com curiosidade, de querer resolver os
problemas”, comenta o professor. Ele acredita que é importante mostrar que a
Ciência está no cotidiano do cidadão, que não é algo distante.
Para visitar o Museu da Vida com o Expresso da
Ciência, é necessário fazer parte da “Rede Cultural Território em Transe”, pelo
e-mail:[email protected]. Uma
grande oportunidade para quem ainda não conhece o Museu serão os eventos do mês
de outubro, todos voltados para as crianças (veja mais informações na página
Dicas Culturais).
A arte no Museu da Vida
Vale a pena
conferir duas peças em cartaz este mês:
Peça:
“Cidadela”
É encenada na Tenda da Ciência.
Cidadela quer dizer cidade pequena, mas também pode significar fortaleza. A
peça faz refletir sobre os papéis sociais que têm sido impostos ao gênero
feminino e a importância das mulheres em todas as esferas, na família, na
educação, na ciência, na política, na arte – e onde mais elas quiserem! A
temporada vai até 25 de outubro, às sextas-feiras, em dois horários: 10h30 e
13h30. Faixa etária: a partir de 12 anos. Gratuito!
Peça: “O
problemão da Banda Infinita”
A trama começa quando cinco amigos estão prestes a se apresentar num show, mas partes da corneta “max-mega-super-ultra-sonora” somem. Para recuperá-las, eles fazem uso da Matemática nossa de cada dia e embarcam, literalmente, numa nave, desbravando mundos e esbarrando com personagens curiosos. A temporada vai até 28 de novembro. De terça a quinta, às 10h30 e 13h30, por ordem de chegada. Nos sábados, dias 12 de outubro e 9 de novembro, haverá distribuição de senhas a partir das 10h, no Centro de Recepção. Informações: (21) 2590-6747.
Mapa do Museu: rota para momentos de muita descoberta e lazer, perto da Maré e gratuito | Barbara Mello / Serviço de Design do Museu da Vida
Especialistas falam sobre as consequências do trabalho infantil na vida de crianças e adolescentes
Maré de Notícias #105 – outubro de 2019
Thaynara Santos
Outubro, o Mês das Crianças, traz à memória momentos de alegria e de muita brincadeira, porém, milhares de crianças e jovens vivem numa realidade diferente deste imaginário. Segundo o Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNPETI), quase três milhões de meninas e meninos, de 5 a 17 anos, estão em situação de exploração infantil no País, atuando no mercado de trabalho de forma desprotegida e ilegal, como mostra também a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) realizada em 2015 pelo IBGE. Duas em cada três crianças são do gênero masculino. Esses dados são de três anos atrás e o cenário não parece melhorar.
Ajudar
em casa, arrumando a cama e levando o lixo para fora, por exemplo, auxiliam a
criança a desenvolver autonomia e responsabilidade, desde que as tarefas sejam
simples e estejam de acordo com sua idade e seu desenvolvimento. A psicóloga
clínica e diretora da ONG Casa da Árvore, que desenvolve projetos de atenção à
infância e seus cuidadores, Fernanda Kut, explica os impactos na vida da
criança: “O trabalho infantil pode gerar graves consequências ao desenvolvimento
físico e psicológico de crianças e adolescentes, como estímulo ao consumo de
álcool, tabagismo, ansiedade, depressão, fadiga e iniciação sexual precoce; a condição de pessoa em
desenvolvimento nesta faixa etária evidencia que ela está em formação. Todas as
pressões e compromissos que envolvem o exercício de uma atividade profissional
podem representar um encargo que ainda não possuem condições de suportar”, diz.
Mas afinal, o
que é trabalho infantil?
No
Brasil, trabalho infantil é toda forma de trabalho realizado por crianças e
jovens que ainda não completaram 18 anos de idade: são todas as atividades, com
ou sem finalidade de lucro, remunerada ou não, independentemente do tipo de
trabalho ou serviço. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e a Constituição Federal de 1988
proíbem o trabalho de pessoas menores de 16 anos. Se for trabalho noturno ou perigoso (segundo as atividades da lista das
piores formas de trabalho infantil), a proibição se estende aos 18 anos
incompletos.
São
diversos os motivos que levam as crianças ao trabalho infantil, mas o principal
deles é a falta de recursos financeiros da família, que gera a necessidade de
outras fontes de renda. Programas sociais de distribuição de renda do Governo
federal, como o Bolsa Família, têm grande importância na erradicação do
trabalho infantil. Dados de 2016, do Cadastro Único (CADÚNICO), recolhidos pelo
Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário (MDSA), mostram que das mais de
236 mil famílias beneficiadas pelo Programa Bolsa Família no município do Rio
de Janeiro somente 148 tinham marcação de crianças e jovens no trabalho
infantil. “A entrada precoce no mercado de trabalho retroalimenta o ciclo da
pobreza”, explica Fernanda Kut.
Aprendiz Legal
A
legislação brasileira também prevê a entrada dos jovens no mercado de trabalho,
por meio do Programa Aprendiz Legal, como instrumento de combate à evasão escolar e ao trabalho infantil. Este
Programa é voltado para a preparação e inserção de jovens no mundo do trabalho,
que se apoia na Lei da Aprendizagem n° 10.097/2000, e garante que jovens entre 14 e 24 anos sejam contratados como
aprendizes por empresas de médio e grande porte.
O contrato de
trabalho pode durar até dois anos e, durante este período, o jovem recebe
formação prática e teórica. O objetivo não é só oferecer a oportunidade do
primeiro emprego, mas também capacitar esse adolescente, que estuda cidadania,
informática, raciocínio lógico, entre outros temas.
Meninas invisíveis
Uma
modalidade esquecida do trabalho infantil que invisibiliza mais de 174 mil
crianças e adolescentes brasileiros, entre 5 e 17 anos, é o serviço doméstico.
O FNPETI estima que meninas negras que trabalham em casas de terceiros e
realizam serviços domésticos na própria casa sejam a maioria. Diferente do que
acredita o senso comum, ajudar em tarefas domésticas não é obrigação de uma
criança, muito menos responsabilidade das meninas.
A
exploração dessas crianças, que são pressionadas física e emocionalmente, pode
causar danos em médio e longo prazos: elas podem desenvolver lesões por esforço
repetitivo, alergia por exposição a produtos químicos, acidentes domésticos e
assédio sexual, quando expostas a adultos desconhecidos (em muitos casos,
conhecidos também). “Trabalho infantil é uma questão de necessidade e, não, de
escolha. Desta forma, para combater o trabalho infantil é essencial
fortalecer a família. Oferecer o mínimo de bem-estar social: emprego/renda,
acesso à escola, à saúde e às ações de garantia de direitos, etc.”, diz
Fernanda.
Quem
fiscaliza o trabalho infantil?
“O
trabalho infantil é ilegal, no entanto, não há lei que o criminalize. Deste
modo, um explorador do trabalho de uma criança ou adolescente não poderá ser
preso, mas poderá, sim, ser multado e sofrer sanções trabalhistas – o que não
tem sido suficiente para conter o cenário crescente de exploração do trabalho
infantil. As denúncias podem ser feitas pelo Disque 100, no Conselho Tutelar de
abrangência e no Ministério Público do Trabalho” afirma Danielle Scotellaro,
advogada do CEDECA/RJ.
O
papel de fiscalização do trabalho infantil é do Ministério do Trabalho,
Ministério Público do Trabalho e Ministério Público do Trabalho e Emprego, mas
essa missão não é individual ou fechada. O Conselho Tutelar também tem o dever
de encaminhar denúncias e acompanhar famílias que têm crianças e jovens no
trabalho infantil, porém, é o Ministério do Trabalho que pode aplicar sanções
às famílias, empresas, etc.
Piores formas de trabalho infantil, segundo a OIT
No
Brasil, são 93 as piores formas. As denúncias podem ser feitas pelo Disque
100, no Conselho Tutelar mais próximo e no Ministério Público do Trabalho.
No site da Rede Peteca – Chega de Trabalho Infantil, cada forma é
especificada.
As
principais são:
– Todas as formas de
escravidão ou práticas análogas à escravidão;
– Exploração sexual;
– Recrutamento de crianças
para atividades ilícitas (tráfico de drogas);
– Trabalhos forçados ou
compulsórios (inclusive recrutamento forçado ou obrigatório de crianças para
serem utilizadas em conflitos armados);
– Venda ou tráfico de
crianças;
– Trabalhos que podem
prejudicar a saúde (desenvolvimento de lesões por esforço repetitivo, alergia
por exposição a produtos químicos, etc.), segurança (acidentes domésticos,
assédio sexual, etc.) ou a moral da criança e do jovem.
Números do trabalho infantil no Brasil:
– Cerca de 3
milhões de crianças e jovens
– Duas em
cada três são do sexo masculino
– Cerca de
2 milhões têm entre 14 a 17 anos
– Mais
de 174 mil crianças e jovens (entre 5 e 17 anos) estão no trabalho
infantil doméstico
– 94% das
crianças e jovens no trabalho infantil doméstico são
do gênero feminino
Principais causas:
– Família pobre e desestruturada
– Desinteresse por um sistema
educacional antigo e desmotivador
– Evasão escolar atrelada à busca por
renda, entre outras.
Jovem Aprendiz
Geralmente,
as vagas são divulgadas pela internet, em sites de emprego ou das
próprias empresas contratantes. O adolescente que tenha os requisitos
necessários (idade, escolaridade, etc.) precisa encaminhar seu currículo
atualizado (não é necessário colocar dados pessoais como RG e CPF) e aguardar
que entrem em contato.