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TV Globo implementa o projeto Verdejando na Maré

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Realizado em parceria com a Redes da Maré e outras organizações, projeto promoveu mutirão para plantio de mudas e outras atividades relacionadas ao meio ambiente e à sustentabilidade

Thaynara dos Santos e Hélio Euclides

Entre os dias 26 e 27 de setembro, o Projeto Verdejando realizou atividades ligadas ao meio ambiente e sustentabilidade em vários locais do conjunto de favelas da Maré. Mulheres, crianças, jovens, representantes de organizações que atuam no território e voluntários participaram de oficinas de educação ambiental e realizaram um mutirão para o plantio de mil mudas de plantas e árvores.

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O projeto, que promove ações de sustentabilidade pelo Brasil, é uma iniciativa da Rede Globo que tem como proposta mobilizar a população e incentivar a educação ambiental e outras iniciativas sustentáveis. A edição de 2019, na Maré, teve como parceira o projeto Maré Verde (da Organização Não Governamental Redes da Maré), Coosturart, Instituto Naturalis, Projeto Reflorestar Zona Oeste e Organicidade.

“O Maré Verde já vem realizando atividades na Maré. Para fortalecer essas mobilizações, o Verdejando entrou em contato para uma parceria. Isso no final de julho. Em agosto, fizemos um mapeamento das ações, e, em setembro, colocamos a mão na massa. Para apoiar nesse mutirão, veio o Instituto Naturalis e a Comlurb (Companhia de Limpeza Urbana). Foi bom mobilizar moradores para ver como eram os espaços e a transformação visual que causa. Agrega mais pessoas para transformar locais, que antes só tinham lixo, em áreas com mudas e grafites. Além do impacto visual, o objetivo é a mudança no modo de agir e uma maior conscientização. A curto prazo, teremos que ter uma articulação para o cuidado das mudas. A longo prazo, vamos ver uma arborização da Maré”, explica Julia Rossi, bióloga e coordenadora do Projeto Maré Verde.

De acordo com Júlia Rossi, a Maré tem um déficit arbóreo de mais de 1.000 árvores segundo o plano municipal. “Desejamos que a Maré seja igual a outros bairros da cidade. Os espaços da Maré precisam ser ocupados não só por casas, mas por áreas verdes. Dessa forma, vamos cultivar uma melhor qualidade do ar e transformar espaços em locais de lazer, de piqueniques, de aulas ao ar livre, de eventos e prática de esportes. Acredito que, com essas mil mudas resgatamos o interesse do morador no processo de plantar cada vez mais árvores, isso é um processo. Essa atividade foi uma sementinha”, disse a coordenadora.

A participação de crianças e jovens foi um ponto marcante durante as atividades do Verdejando na Maré. Os jovens voluntários demonstraram preocupação e medo com o futuro do meio ambiente. “É muito triste ver a nossa floresta sendo devastada. Nós estamos mostrando a todos que é necessário fazer algo pelo meio ambiente”, disse Mariana da Silva, de 13 anos, moradora da Nova Holanda. Breno Silva, outro morador da Nova Holanda, também deixa seu recado. “Muito legal a participação das crianças, que no futuro vão ver essas árvores crescerem e vão ter mais oxigênio”, explica o jovem de 15 anos.

Futuro do planeta

O projeto Maré Verde, iniciado em 2018, desenvolve atividades de educação ambiental e mobilização social que envolvem a comunidade escolar, moradores, catadores, Comlurb e outros atores locais. Essas atividades têm como objetivo estimular a reflexão sobre as questões socioambientais do território e, a partir desse processo, intervir para a melhoria desses espaços com mutirões de arborização e pautar o meio ambiente dentro de uma agenda mais estruturante para o território. No final de 2018, foram realizadas três oficinas e um mutirão no Colégio Estadual João Borges, envolvendo cerca de 70 alunos e cinco professores, onde foram plantadas 50 mudas.

Poder sobre o próprio corpo

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Ginecologia natural promove o autocuidado e eleva a autoestima

Maré de Notícias #105 – outubro de 2019

Flávia Veloso

Conhecer o próprio corpo ainda é um tabu, especialmente quando se fala no corpo feminino. A mulher ainda carrega, injustamente, estigmas e preconceitos que a sociedade impõe, com base em uma cultura machista, que insiste em querer ditar o que ela pode ou não fazer e dizer, como se comportar e até onde pode ou não ir. Essa herança, sob amarras, limita que a mulher assuma o controle de sua vida nos âmbitos profissional, social e pessoal, atingindo até a relação construída com si mesma.

Ginecologia em primeiro lugar

88% das mulheres têm costume de ir ao ginecologista

79% das mulheres citam a Ginecologia como a especialidade médica mais importante

58% das mulheres que já foram ao ginecologista recorreram ao Sistema Único de Saúde (SUS)

(dados do Febrasgo e Datafolha/2018)

Ao mesmo tempo em que vale ressaltar o lado positivo da preocupação que a mulher tem com sua parte ginecológica, como refletem os dados, é preciso averiguar se essa mulher também pratica diariamente o autocuidado.

Cuidados com si mesma: a verdade sobre a ginecologia natural

Ginecologia natural não é só tratar de si por meio de plantas (o chamado tratamento fitoterápico). O verdadeiro conceito desse movimento é conectar-se ao seu corpo: se tocar, olhar, observar e notar como você funciona, tanto no corpo quanto na mente. Dessa forma, pode-se entender que é um cuidado com a saúde no geral, e acaba por facilitar a prevenção e o tratamento de doenças, além de melhorar a autoestima.

Acesso restrito

Apesar de a Ginecologia ser uma especialidade médica, sua prática no viés natural não é, ou seja, ela não será encontrada nas redes públicas e privadas de saúde. As mulheres que trabalham com esta prática são ginecologistas que fizeram curso de formação para tal especialidade. Para Edineide da Silva Pereira (ou Neide), fundadora do Espaço Casulo, na Maré, formada em Pedagogia e no curso de Ginecologia natural, seria de grande benefício que fosse reconhecida como especialidade – apesar da atual má administração da saúde pública -, pois facilitaria o acesso de muitas mulheres a esses conhecimentos. Esta é uma luta de quem trabalha na área. Existem consultórios de Ginecologia natural, mas as consultas oferecidas são pagas e caras. A maioria das mulheres (como mostram os dados no quadro) recorrem ao SUS para consultas e tratamentos.

A importância de se conhecer

“Muitas mulheres chegam a um consultório de Ginecologia tradicional com candidíase, por exemplo, que é muito comum, e o médico ou a médica indicam pomadas e comprimidos, que vão alterar o pH vaginal e tratar os sintomas, mas não a causa do problema.” Neide explica que candidíase, causada pelo fungo Candida, já existe no corpo da mulher, e que há fatores que podem levar ao desequilíbrio dele no organismo, como estresse, outras questões de saúde e até determinadas roupas. “O estigma de que o corpo da mulher é sujo a faz acreditar que a causa é uma questão higiênica, quando, na verdade, pode vir de muitos outros fatores. Conhecer o seu eu leva a saber o que é melhor para você”, completa Neide.

Além de tratar a saúde como algo completo e ajudar a eliminar estigmas e preconceitos sobre o corpo feminino, o autoconhecimento pode evitar enganações que chegam a doer até no bolso. Neide diz que “a Ginecologia natural não é totalmente contra a tradicional, mas contra o comércio que se faz sobre as indústrias dos exames e a farmacêutica, que acabam lucrando em cima de muitas pacientes, oferecendo serviços e produtos dos quais nem sempre elas precisam.” 

Fitoterápicos: os queridinhos dos tratamentos

Os tratamentos com plantas podem não ser o único elemento da Ginecologia natural, mas isso não diminui sua importância. Usados antigamente com base somente nas experimentações, a fitoterapia virou coisa séria quando a Ciência passou a poder comprovar, em laboratório, os poderes medicinais das plantas. Agora, com respaldo do avanço tecnológico, as propriedades herbais conquistaram tanto a confiança das pessoas que até o Sistema Único de Saúde adotou vários remédios à base de plantas.

O SUS possui hoje 12 medicamentos desta natureza em sua Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename); dentre eles, dois de uso vaginal: a aroeira e a babosa. Outras práticas do sistema público que “conversam” com a Ginecologia natural são as listadas nas Práticas Integrativas e Complementares (PICS), como ayurveda – um dos mais antigos sistemas medicinais conhecidos, desenvolvido na Índia, ioga, meditação e muitas outras.

Planta também é remédio; então, cuidado!

Há muita informação na internet sobre tratamentos fitoterápicos, mas é necessário todo o cuidado para não aplicar em si mesma métodos falsos ou feitos de maneira errada. A fundadora do Espaço Casulo alerta para o fato de que as ervas também são remédios, também possuem contraindicações, dosagens, efeitos colaterais e reações alérgicas. O ideal é que a mulher procure orientação profissional para o assunto, para que a ajude a não só trabalhar a questão medicinal, mas auxiliar nos processos de conhecer o próprio corpo. Entretanto, é difícil evitar que a mulher vá atrás de métodos na internet; então, a recomendação é que se informe bastante antes de fazer qualquer coisa.

Que tal algumas dicas?

Indicadas pela própria Neide, a ginecologista natural Bel Saide (criadora do portal ginecologianatural.com.br) e as Curandeiras de Si (curandeirasdesi.com.br) são algumas das fontes confiáveis no assunto. Em seus respectivos portais on-line, elas não só oferecem cursos e materiais (que são pagos), como também disponibilizam artigos com dicas de autoconhecimento e autocuidado com todo o corpo e a mente.

A seguir, plantas fitoterápicas e energéticas e suas propriedades. Você pode encontrar maneiras de usá-las nos portais citados na matéria.

– Barbatimão

Propriedades antibacterianas, antioxidantes, analgésicas, desinfetantes, diuréticas, coagulantes, anti-inflamatórias, anti-hemorrágicas e antissépticas. Combate cistite e sintomas da candidíase.

– Tanchagem

Tem efeitos anti-inflamatórios, bactericidas e diuréticos. Trata sangramentos, agindo como pró-coagulante.

– Camomila

Tem efeitos antiespasmódicos, que provocam e regularizam a menstruação, analgésicos, estimula o estômago e a produção de leucócitos (células de defesa do corpo), anti-inflamatórios, hepáticos e combate a raiva e o estresse mental.

Ervas energéticas

Alecrim – atrai prosperidade e para abrir caminhos
Aroeira – remove negatividade
Guiné – desagrega pensamentos de más vibrações
Arruda – limpa pensamentos negativos
Alfazema – equilibra energias, traz paz e harmonia
Eucalipto – aumenta energia e autoestima
Espada-de-são-jorge (ou espada-de-santa-bárbara) – proteção
Abre-caminho – renova as forças
Anis-estrelado – aumenta a autoestima
Folhas de louro – atrai prosperidade

Dicas extras: Depilação: o ideal é que ela seja evitada, pois os pelos protegem a vulva. Ainda assim, se for feita, recomenda-se que não seja realizada com cera, pois maltrata e agita a pele.
Absorventes: os industriais não são os mais saudáveis, por causa das substâncias químicas que contêm. Recomenda-se o uso de absorventes naturais (como os de pano) ou coletores menstruais.

É limpeza!

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Chamado erroneamente de lixeiros, os garis têm uma importante função social

Maré de Notícias #105 – outubro de 2019

Hélio Euclides

“Tem gente que diz que joga lixo na rua para garantir o emprego do gari. Mas morrer, para dar trabalho ao coveiro, ninguém quer né?” Com essa frase a gari Valdenise Brandão, conhecida como Val, começou a entrevista. Ela compõe a equipe da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb), que atua na Maré com 56 profissionais. Segundo a Empresa, ainda há outros 62 trabalhadores comunitários. Eles começam a sua jornada diária cedo, às 6 horas, para cumprir uma longa e pesada meta de trabalho.

Quando se pensa na função do gari, vem logo à mente a coleta domiciliar e a varrição. Eles ainda realizam a coleta seletiva, capina e roçada, coleta de entulho, limpeza das praias, das lagoas, dos túneis e viadutos, de encostas, de feiras livres, nas escolas e hospitais municipais,  de valas, ralos, parques e praças, manutenção de mobiliário, preparo de alimentos nas escolas, poda de árvore, remoção de resíduos das Ilhas, coleta hospitalar, combate a vetores, desodorização de ruas e remoção de pichações. Cansou só de ler? Pois é, o gari é um profissional invisível, mas que – faça chuva ou sol – se dedica para deixar a cidade mais limpa, bonita e melhor para se viver.

Na Maré, o trabalho da Comlurb é gerenciado por Marcos Wiliam,há três meses. Ele atuou como gari por 13 anos e depois foi fiscal por outros cinco. Para chegar antes de todos, às 5 horas da manhã, Wiliam, que mora em Cabuçu, bairro de Nova Iguaçu, levanta-se cedo, antes das 4 horas.

Ele conta que se inspira em alguns profissionais da Maré, como Jorge Luiz, de 67 anos, que atua na coleta; Tião Fonseca, de 65 anos; e Ivete Cristina, de 60 anos, ambos na varrição. “Não supervisiono de dentro do escritório, ando pelas ruas da Maré. Trabalho com amor, sempre quero fazer o meu serviço bem-feito”, afirma.

Até no meio do lixo nascem flores

Mobilização: trabalhadores e moradores comprometidos com os espaços verdes do território | Douglas Lopes

Um grupo de garis tenta acabar com os pontos de descartes indevidos de lixo na Maré. Para isso, constroem canteiros e mostram que há vida onde antes só tinha resíduos. Val, de 36 anos, 11 dedicados à profissão, compõe essa força-tarefa. Na Rua Capitão Carlos, no Morro do Timbau, só tinha lixo e foram colocadas, no lugar, plantas e flores. “Tinha morador que não pisava mais na calçada, pois não tinha espaço. Outros, não abriam mais a janela para não entrar moscas. O resultado positivo não tem preço. Dar vida à cidade é gratificante”, conta Val.

Val, antes, era vendedora de empadinhas e também trabalhou na limpeza de aeroporto. Hoje se dedica à reciclagem, a criar praças e jardins. Para se aperfeiçoar, a profissional participou de um curso de compostagem. O projeto consiste em trabalhar a reciclagem e montar horto nas escolas, além de construir tijolos de plásticos orgânicos para os canteiros. “Hoje, faço urbanismo tático. Tomei paixão, essa é a minha missão. Meu sonho é fazer a faculdade de Arquitetura”, disse. Apesar da alegria, tem algo que a deixa irritada: “Não gosto quando nos chamam de lixeiros, somos coletores”, explica.

Outro ponto de queixa é o verão. “Trabalhamos na rua sem água e banheiro. Ainda bem que tem morador que oferece até comida”, diz Val.

Maria Irece, moradora do Morro do Timbau, gostou da proximidade com os garis. “Antes, não tinha coleta domiciliar, por isso minha rua era um lixão. Agora passam três vezes por semana e ainda fizeram um canteiro lindo, no qual eu ajudei. É um trabalho lindo que estão realizando, tirando o lixo que vinha até o meu portão, deixando a calçada livre e criando jardins. Estão de parabéns!”

A alegria de ser gari

Jeferson dos Santos e Jaqueline Macena: família surgida na profissão. Garis são casados há 10 anos | Douglas Lopes

Jaqueline Macena, de 36 anos, trabalha como gari há 10 anos, sete deles na Maré. Ela trabalha varrendo a Avenida Brasil, do Supermercado Vianense até o BRT Maré. No seu caminho, encontra muito lixo pela frente. Na maioria, copos de guaraná natural e guimbas de cigarro. “Falta papeleira para as pessoas colocarem o lixo, então a maioria descarta no chão”, explica.

Para Jaqueline, a profissão é muito importante: como gari, conquistou sua casa e um carro. Um benefício que a empresa oferece é o desconto na faculdade. Dessa forma, sua filha cursa Odontologia. “Somos uma família de garis, com cunhado, primo e esposo. Eu gosto do que faço, sou feliz como gari”, conta. Um fato importante na vida da Jaqueline, que aconteceu na empresa, foi ter conhecido o seu companheiro há 10 anos, e logo depois tiveram um filho.

Apesar do trabalho, ainda há lixo na rua

Na Maré, a Comlurb disponibiliza, para os serviços, cinco caminhões de coleta, dois satélites (caminhões menores), cinco microtratores e um trator. Para Pedro Francisco, presidente da Associação do Conjunto Esperança, ainda há problemas a serem superados: “Falta diálogo e o resultado é muito lixo nas ruas. A caçamba só mudou de cor, a eficiência é horrível. Falta mão de obra, um efetivo maior nos caminhões, fortalecer o projeto Gari Comunitário, criar um espaço para colocar entulho de obras, campanhas socioeducativas e a valorização da coleta domiciliar”, afirma.

O gerente Wiliam acredita que a Maré está em constante crescimento e isso desfavorece a prestação adequada do serviço. “Para suprir a carência, pedimos ajuda a outras gerências. Em breve, virá mais um carro de coleta. O que mais nos preocupa, hoje, é a dispensa de geladeira, fogão, sofá e entulho de obras. Muitas vezes, são caminhões de fora da favela que vêm aqui jogar o lixo”, acrescenta.

Ele indica a quem deseja retirar restos de material de construção de sua residência, que procure as associações de moradores, que encaminham a demanda para a Comlurb Maré.

A Comlurb, por meio de sua assessoria de imprensa, declarou que estão sendo instaladas 110 caixas metálicas com capacidade de 1.200 litros, na Maré. Os novos equipamentos são de ferro, mais resistentes que os contêineres “laranjões”, com tampas e rodinhas, que facilitam o manejo do equipamento pelo gari. Além disso, possuem um mecanismo que permite aos novos caminhões da frota alçá-las e remover rapidamente o conteúdo.

O gari da comunidade

O projeto Gari Comunitário tinha 115 profissionais, em 2012, na Maré. A cada ano esse número vem diminuindo. A Comlurb explica, por meio de sua assessoria, que vem reduzindo gradativamente a quantidade de garis comunitários atendendo à decisão judicial do Ministério Público do Trabalho, para que sejam substituídos por garis concursados. A Comlurb disse, ainda, que um novo concurso para garis se encontra em fase de análise e assim que a Companhia tiver informações mais consistentes, tornará público.

Você sabia?

A origem dos garis

O nome gari remonta à época do Império. Em 1885, o empresário de origem francesa Pedro Aleixo Gary foi contratado para o serviço de limpeza das praias e remoção do lixo da cidade para a Ilha de Sapucaia, no Caju. Gary cumpriu essa função até o ano de 1891, quando encerrou o contrato com o governo. Anos depois, foi criada a superintendência de limpeza pública da cidade. A atuação do empresário, no entanto, foi tão forte, que os empregados encarregados pela limpeza, os varredores de rua, passaram a ser chamados de garis.

O Povo Fala

Venho sempre visitar os meus familiares aqui no Rubens Vaz e nunca vi morador reclamar do lixo. Percebo as ruas sempre limpinhas, mais até do que onde moro.” Sérgio Luiz, morador do Jacarezinho.

O grande problema são as ruas finas, o que prejudica a passagem do tratorzinho, mas avalio o trabalho deles como bom. Só falta os moradores terem um pouco de consciência.” Viviane Gabriel, moradora da Nova Holanda.

A obra que não anda

BRT Transbrasil se estende por dois governos municipais; cariocas sofrem com o transtorno

Maré de Notícias #105 – outubro de 2019

Thaynara Santos e Hélio Euclides

Em janeiro de 2015, as obras do Transporte Rápido por Ônibus (BRT) Transbrasil tiveram início com um orçamento contratual de 1,3 bilhão de reais. O primeiro prazo para seu término era dezembro de 2016, fim do mandato do ex-prefeito Eduardo Paes. Isso não aconteceu. As obras foram suspensas em agosto de 2016, por causa das Olimpíadas do Rio. O processo foi retomado em abril do ano seguinte e pararam, novamente, em março de 2018. Em 2019, a Prefeitura deu continuidade às obras na metade do ano, em junho, e promete entregá-las em dezembro.

O BRT Transbrasil já passou por inúmeras mudanças em diferentes períodos de sua construção. A ideia mais recente é conectar Deodoro ao Centro do Rio. O projeto original previa um trajeto entre os bairros de Deodoro e Caju, mas foi estendido até o Terminal Américo Fontenelle, localizado na Rua Barão de São Félix, próximo à Central do Brasil, em função de um ajuste no projeto exigido pela Caixa Econômica, financiadora da continuidade da obra. A Secretaria Municipal de Infraestrutura e Habitação (SMIH) informou que a obra já está 95% concluída, referindo-se aos 23 km que ela é responsável, que vão de Deodoro à Rodoviária Novo Rio. No entanto, a sensação é de que ainda falta muita coisa para a sua conclusão. Os outros 9 km, que completariam seus 32 quilômetros, estão a cargo da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto (CDURP).

De acordo com a nova proposta, serão 18 estações, ligando Deodoro ao Terminal Américo Fontenelle. A previsão é de que as plataformas receberão 500 mil pessoas por dia, a partir do segundo semestre de 2020. Os consórcios integrantes do Sistema de Transporte Público por Ônibus (SPPO) assinaram, com a Secretaria Municipal de Transportes, um termo comprometendo-se a iniciar a operação do BRT Transbrasil tão logo as obras fiquem prontas.

Obra do BRT irrita lideranças da Maré

O sistema de BRT Transbrasil, considerado um dos maiores projetos de mobilidade para a cidade do Rio, já deveria estar operando desde maio de 2017, mas na Vila do João parece que, além de não progredir, a obra regrediu: parte da estrutura da estação, que estava instalada, foi removida. Pedro Francisco, presidente da Associação do Conjunto Esperança, reclama do distanciamento: “Teríamos de ter uma proximidade maior com os órgãos responsáveis. A dúvida é com a construção da estação em frente à Vila do João. Não sei como vai ficar o acesso dos moradores do Conjunto Esperança”, reclama.

Com a demora na conclusão, moradores queixam-se dos transtornos, como engarrafamentos, desvios e rotas improvisadas, além da ausência de manutenção e estrutura precária das passarelas. “Estou pessimista, a tendência é só piorar. Temos uma passarela que, no meio, só falta cair; será que só vão construir outra quando acontecer uma tragédia?”,desabafa Ana Neris, moradora do Conjunto Esperança.

Em outra parte da Maré, também tem uma passarela de infraestrutura ruim, feita de tubos de ferro. Maria da Graça, moradora do Parque União, se preocupa com sua segurança. “Acho péssima. Para piorar, esses motoqueiros e ciclistas que a utilizam, deixam ainda menos segura a travessia. A gente fica na espera, pois só Deus sabe quando essa obra vai acabar.”

Vilmar Gomes Crisóstomo, o popular Magá, presidente da Associação de Moradores do Rubens Vaz, afirma que se esqueceram de fazer a drenagem da Avenida Brasil. “No verão, nas comunidades houve enchentes, após as chuvas. Também não entendo a mudança de lugar da Passarela 10, que causou a remoção de comerciantes. Por isso, estamos com um abaixo-assinado de 1.000 assinaturas”, critica. A saída da passarela da entrada do Rubens Vaz para o Parque União trouxe problemas também para o outro lado da Avenida Brasil. A Escola Municipal Clotilde Guimarães perdeu parte do seu pátio.

Esqueceram de mim: Marcilio Dias fica sem estação de BRT

Um problema que o Maré de Notícias já mostrou na Edição 82, de novembro de 2017, e na Edição 90, de julho de 2018, é a ausência de estação em Marcílio Dias. Ana Joventino, presidente da Associação de Moradores de Marcílio Dias, questiona o fato. “Vamos ter de andar até a Casa dos Marinheiros para pegar um ônibus do novo Sistema. Pela quantidade de moradores, não entendo por que nos deixaram sem acesso. Estamos até pensando em fazer um abaixo-assinado para entregar à Prefeitura”, alerta Ana.

A Secretaria Municipal de Infraestrutura e Habitação (SMIH) confirmou ao Maré de Notícias que os moradores de Marcílio Dias serão atendidos pela Estação Marinha do Brasil, que fica na Passarela 15, localizada a quase 400 metros da entrada da comunidade, e que estão previstas linhas de ônibus na pista lateral para operarem como alimentadoras. Uma equipe do Maré de Notícias fez a caminhada da Passarela 16 até à futura Estação. Serão mais 10 minutos, além daqueles que o morador já realiza todos os dias, para chegar à favela. Essa distância prejudica a mobilidade de deficientes e idosos, além de trazer riscos de assaltos.

Uma obra ainda indefinida

Apesar da promessa de conclusão ainda este ano, há dúvidas sobre como os ônibus irão atender à população. Em matéria publicada pelo Jornal O Globo, de 2 de setembro de 2019, a Prefeitura disse que ainda não há um plano operacional; que os ônibus articulados só devem começar a circular em agosto de 2020 e que será necessária uma fase de transição. O problema é que os ônibus convencionais não são compatíveis com as estações, já que a abertura de suas portas é do lado direito e as estações estão sendo feitas para veículos com acesso pelo lado esquerdo. Isso sem falar na altura das estações, que pode causar desconforto, confusão e dificultar o acesso dos passageiros. Questionada pelo Maré de Notícias, a SMIH declarou que, quanto às estações, isso está sendo estudado pelas secretarias de Infraestrutura e de Transportes.

Para Orlando Santos Junior, professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ, antes da construção do BRT Transbrasil, deveria ter ocorrido uma avaliação sobre a escolha do modal, o trajeto e as formas de participação. “Agora a discussão é centrada na ausência de planejamento para a conclusão de uma obra já iniciada, em 2015, e até agora não concluída. Isso é um descaso, um desrespeito com a população, que mora na cidade e na Baixada Fluminense, afetada pelas obras”, avalia.

Ronaldo Balassiano, do Programa de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ, lembra que o projeto inicial ligava Deodoro ao Aeroporto Santos Dumont, passando pelas avenidas Francisco Bicalho e Presidente Vargas e que o BRT precisa chegar ao Centro da Cidade e as integrações são fundamentais para desafogar a Avenida Brasil. “É importante também que, na chegada a Deodoro, o BRT Transbrasil esteja integrado com o BRT TransOlímpica. Já no caso do Centro da Cidade é importante fazer a integração com o metrô, trens, VLT e barcas”, acrescenta Ronaldo.

O Povo Fala:

 “Esta obra não termina não, já tem muitos anos. A iluminação da passarela em frente ao Conjunto Esperança melhorou um pouquinho, mas mesmo assim tem vezes que falta. Acho que não vai mudar nada com as obras. No Brasil, são 100 anos para mudar alguma coisa (risos). Só tem corrupto, não acredito na mudança.” Erasmo Carlos, vendedor.

 “Acho que a passarela é perigosa. Precisa de uma melhor, pois essa não tem nenhuma estrutura. A escada é perigosa e as madeiras desniveladas. Eu uso essa passarela quase todos os dias. Parece que se bater um vento, leva a passarela. Espero que, com o fim da obra do BRT, melhore.” Myllena Soares, funcionária da Fiocruz, referindo-se à passarela que fica na altura do Conjunto Esperança.

“A travessia na passarela em frente à Fiocruz é difícil, com piso íngreme e degraus irregulares. O ideal na inclusão da obra é a construção de uma passarela nova.” Samuel Ferreira, funcionário da Fiocruz.

Passarela na altura da Vila do João: estrutura da estação, que já estava instalada, foi removida | Douglas Lopes

Divertimento científico

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Museu da Vida completa duas décadas com desejo de conquistar a Maré

Maré de Notícias #105 – outubro de 2019

Hélio Euclides

“Quem vive de passado é museu”. Este ditado popular remete ao pensamento de que museu é algo antigo, empoeirado, com cheiro de naftalina. Pensamento totalmente errado. E quando se fala do Museu da Vida, aí é que o perfeito casamento entre o passado e o presente, que não tem nada de chato, acontece. Muito pelo contrário. Descobre-se um circuito com 11 espaços, no qual o visitante aprende se divertindo. Criado em 1999, o Museu da Vida comemorou 20 anos no último mês de maio. Apesar da proximidade, muitos moradores da Maré não acessam este “templo do conhecimento”.

O Museu da Vida tem como diferencial os espaços descentralizados. Muitos não sabem, mas todos os 11 espaços são gratuitos. “É muito importante lembrar que esse campus é um parque público. Nosso desejo é que os vizinhos – Maré e Manguinhos – ocupem o espaço, com visitas que levem a piqueniques, pois temos um grande território verde, um oásis”, comenta Alexandre Batista, chefe do Museu da Vida. Ele ressalta a necessidade de que os moradores dessas localidades sintam que têm direito ao uso do espaço. Além do campus, há ações territoriais, uma forma de o Museu estar de mãos dadas com os espaços periféricos. Essa dinâmica começou em 2017, com uma atividade externa, no Centro de Artes da Maré. A partir daí, o Museu começou a levar suas atividades para as escolas, instituições e unidades de saúde vizinhas.

Um Museu para aprender e brincar

Quem chega ao Museu já é recepcionado por um trenzinho, que leva o visitante a outros espaços. Os pequenos também ficam impressionados com o Parque da Ciência, quando têm a chance de escalar e escorregar em uma célula gigante. Outra grande atração é o Castelo Mourisco, um símbolo da ciência e arquitetura no Brasil. E, em breve, será inaugurada uma exposição de elementos de Arqueologia, com peças encontradas em escavações feitas por causa de obras no local.  “Certa vez, uma criança de 6 anos de idade falou para a mãe que a visita ao Museu tinha sido o melhor dia da sua vida. Se nada funcionasse, isso já valeria o esforço. Sou servidor público e levo tudo a sério. Por isso, tenho de servir aos frequentadores”, revela Alexandre.

Em 2001, foram 61 mil frequentadores. Recorde que foi batido em 2018, quando o Museu recebeu 65 mil visitantes. Desses, 70% visitaram pela primeira vez um teatro ou um museu. Somado com o trabalho externo, foi atingido o número de quase 300 mil pessoas, por meio do caminhão Ciência Móvel, que visita as cidades do interior do Brasil e de exposições de acervo da Fiocruz, fora do campus. A expectativa é de um público de 60 mil visitantes ao ano. Para atender todos, são cerca de 150 pessoas envolvidas, que fazem parte do departamento da Casa de Oswaldo Cruz, unidade técnico-científica da Fiocruz.

A cada ano vai crescendo o número de visitantes da Maré e de Manguinhos, mas ainda é muito tímido. “Nunca fui, mas me contaram que é muito legal e interessante. Tenho curiosidade com o aprendizado sobre as vacinas e doenças. Qualquer dia, pretendo levar a minha filha, pois é muito perto”, conta Elizabete Antônia, moradora do Parque Maré.

Analice Cabral, de apenas 7 anos, moradora da Vila do Pinheiro, visitou o Museu nas férias do meio do ano. O que mais chamou a atenção da menina foi o Parque da Ciência, onde as crianças podem fazer experiências a céu aberto. “Gostei muito do Museu, em especial dos experimentos com voz e ouvido, que tem no Parque”, resume a garota.

Uma aula no Museu

Por meio do Expresso da Ciência, um ônibus da Fiocruz, é possível levar os alunos ao Museu. Dessa forma, o professor Allysson Veloso saiu de Volta Redonda com 28 alunos para visitar o espaço. “Este universo é o local apropriado de ensino e investigação da Ciência. Meus alunos de ensino público aprendem, aqui, a ter um olhar do mundo com curiosidade, de querer resolver os problemas”, comenta o professor. Ele acredita que é importante mostrar que a Ciência está no cotidiano do cidadão, que não é algo distante.

 Para visitar o Museu da Vida com o Expresso da Ciência, é necessário fazer parte da “Rede Cultural Território em Transe”, pelo e-mail: [email protected]. Uma grande oportunidade para quem ainda não conhece o Museu serão os eventos do mês de outubro, todos voltados para as crianças (veja mais informações na página Dicas Culturais).

A arte no Museu da Vida

Vale a pena conferir duas peças em cartaz este mês:

Peça: “Cidadela”

É encenada na Tenda da Ciência. Cidadela quer dizer cidade pequena, mas também pode significar fortaleza. A peça faz refletir sobre os papéis sociais que têm sido impostos ao gênero feminino e a importância das mulheres em todas as esferas, na família, na educação, na ciência, na política, na arte – e onde mais elas quiserem! A temporada vai até 25 de outubro, às sextas-feiras, em dois horários: 10h30 e 13h30. Faixa etária: a partir de 12 anos. Gratuito!

Peça: “O problemão da Banda Infinita”

A trama começa quando cinco amigos estão prestes a se apresentar num show, mas partes da corneta “max-mega-super-ultra-sonora” somem. Para recuperá-las, eles fazem uso da Matemática nossa de cada dia e embarcam, literalmente, numa nave, desbravando mundos e esbarrando com personagens curiosos. A temporada vai até 28 de novembro. De terça a quinta, às 10h30 e 13h30, por ordem de chegada. Nos sábados, dias 12 de outubro e 9 de novembro, haverá distribuição de senhas a partir das 10h, no Centro de Recepção. Informações: (21) 2590-6747.

Mapa do Museu: rota para momentos de muita descoberta e lazer, perto da Maré e gratuito | Barbara Mello / Serviço de Design do Museu da Vida

O direito da criança é ser criança

Especialistas falam sobre as consequências do trabalho infantil na vida de crianças e adolescentes

Maré de Notícias #105 – outubro de 2019

Thaynara Santos

Outubro, o Mês das Crianças, traz à memória momentos de alegria e de muita brincadeira, porém, milhares de crianças e jovens vivem numa realidade diferente deste imaginário. Segundo o Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNPETI), quase três milhões de meninas e meninos, de 5 a 17 anos, estão em situação de exploração infantil no País, atuando no mercado de trabalho de forma desprotegida e ilegal, como mostra também a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) realizada em 2015 pelo IBGE. Duas em cada três crianças são do gênero masculino. Esses dados são de três anos atrás e o cenário não parece melhorar.

Ajudar em casa, arrumando a cama e levando o lixo para fora, por exemplo, auxiliam a criança a desenvolver autonomia e responsabilidade, desde que as tarefas sejam simples e estejam de acordo com sua idade e seu desenvolvimento. A psicóloga clínica e diretora da ONG Casa da Árvore, que desenvolve projetos de atenção à infância e seus cuidadores, Fernanda Kut, explica os impactos na vida da criança: “O trabalho infantil pode gerar graves consequências ao desenvolvimento físico e psicológico de crianças e adolescentes, como estímulo ao consumo de álcool, tabagismo, ansiedade, depressão, fadiga e iniciação sexual precoce; a condição de pessoa em desenvolvimento nesta faixa etária evidencia que ela está em formação. Todas as pressões e compromissos que envolvem o exercício de uma atividade profissional podem representar um encargo que ainda não possuem condições de suportar”, diz.

Mas afinal, o que é trabalho infantil?

No Brasil, trabalho infantil é toda forma de trabalho realizado por crianças e jovens que ainda não completaram 18 anos de idade: são todas as atividades, com ou sem finalidade de lucro, remunerada ou não, independentemente do tipo de trabalho ou serviço. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e a Constituição Federal de 1988 proíbem o trabalho de pessoas menores de 16 anos.  Se for trabalho noturno ou perigoso (segundo as atividades da lista das piores formas de trabalho infantil), a proibição se estende aos 18 anos incompletos.

São diversos os motivos que levam as crianças ao trabalho infantil, mas o principal deles é a falta de recursos financeiros da família, que gera a necessidade de outras fontes de renda. Programas sociais de distribuição de renda do Governo federal, como o Bolsa Família, têm grande importância na erradicação do trabalho infantil. Dados de 2016, do Cadastro Único (CADÚNICO), recolhidos pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário (MDSA), mostram que das mais de 236 mil famílias beneficiadas pelo Programa Bolsa Família no município do Rio de Janeiro somente 148 tinham marcação de crianças e jovens no trabalho infantil. “A entrada precoce no mercado de trabalho retroalimenta o ciclo da pobreza”, explica Fernanda Kut.

Aprendiz Legal

A legislação brasileira também prevê a entrada dos jovens no mercado de trabalho, por meio do Programa Aprendiz Legal, como instrumento de combate à evasão escolar e ao trabalho infantil. Este Programa é voltado para a preparação e inserção de jovens no mundo do trabalho, que se apoia na Lei da Aprendizagem n° 10.097/2000, e garante que jovens entre 14 e 24 anos sejam contratados como aprendizes por empresas de médio e grande porte.

O contrato de trabalho pode durar até dois anos e, durante este período, o jovem recebe formação prática e teórica. O objetivo não é só oferecer a oportunidade do primeiro emprego, mas também capacitar esse adolescente, que estuda cidadania, informática, raciocínio lógico, entre outros temas.

 Meninas invisíveis

Uma modalidade esquecida do trabalho infantil que invisibiliza mais de 174 mil crianças e adolescentes brasileiros, entre 5 e 17 anos, é o serviço doméstico. O FNPETI estima que meninas negras que trabalham em casas de terceiros e realizam serviços domésticos na própria casa sejam a maioria. Diferente do que acredita o senso comum, ajudar em tarefas domésticas não é obrigação de uma criança, muito menos responsabilidade das meninas.

A exploração dessas crianças, que são pressionadas física e emocionalmente, pode causar danos em médio e longo prazos: elas podem desenvolver lesões por esforço repetitivo, alergia por exposição a produtos químicos, acidentes domésticos e assédio sexual, quando expostas a adultos desconhecidos (em muitos casos, conhecidos também). “Trabalho infantil é uma questão de necessidade e, não, de escolha. Desta   forma, para combater o trabalho infantil é essencial fortalecer a família. Oferecer o mínimo de bem-estar social: emprego/renda, acesso à escola, à saúde e às ações de garantia de direitos, etc.”, diz Fernanda.

Quem fiscaliza o trabalho infantil?                                                                 

“O trabalho infantil é ilegal, no entanto, não há lei que o criminalize. Deste modo, um explorador do trabalho de uma criança ou adolescente não poderá ser preso, mas poderá, sim, ser multado e sofrer sanções trabalhistas – o que não tem sido suficiente para conter o cenário crescente de exploração do trabalho infantil. As denúncias podem ser feitas pelo Disque 100, no Conselho Tutelar de abrangência e no Ministério Público do Trabalho” afirma Danielle Scotellaro, advogada do CEDECA/RJ.

O papel de fiscalização do trabalho infantil é do Ministério do Trabalho, Ministério Público do Trabalho e Ministério Público do Trabalho e Emprego, mas essa missão não é individual ou fechada. O Conselho Tutelar também tem o dever de encaminhar denúncias e acompanhar famílias que têm crianças e jovens no trabalho infantil, porém, é o Ministério do Trabalho que pode aplicar sanções às famílias, empresas, etc.

Piores formas de trabalho infantil, segundo a OIT

No Brasil, são 93 as piores formas. As denúncias podem ser feitas pelo Disque 100, no Conselho Tutelar mais próximo e no Ministério Público do Trabalho. No site da Rede Peteca – Chega de Trabalho Infantil, cada forma é especificada.

As principais são:

– Todas as formas de escravidão ou práticas análogas à escravidão;

– Exploração sexual;

– Recrutamento de crianças para atividades ilícitas (tráfico de drogas);

– Trabalhos forçados ou compulsórios (inclusive recrutamento forçado ou obrigatório de crianças para serem utilizadas em conflitos armados);

– Venda ou tráfico de crianças;

– Trabalhos que podem prejudicar a saúde (desenvolvimento de lesões por esforço repetitivo, alergia por exposição a produtos químicos, etc.), segurança (acidentes domésticos, assédio sexual, etc.) ou a moral da criança e do jovem.

Números do trabalho infantil no Brasil:

– Cerca de 3 milhões de crianças e jovens

– Duas em cada três são do sexo masculino

– Cerca de 2 milhões têm entre 14 a 17 anos

– Mais de 174 mil crianças e jovens (entre 5 e 17 anos) estão no trabalho infantil doméstico

– 94% das crianças e jovens no trabalho infantil doméstico são do gênero feminino

Principais causas:

– Família pobre e desestruturada

– Desinteresse por um sistema educacional antigo e desmotivador

– Evasão escolar atrelada à busca por renda, entre outras.

Jovem Aprendiz

Geralmente, as vagas são divulgadas pela internet, em sites de emprego ou das próprias empresas contratantes. O adolescente que tenha os requisitos necessários (idade, escolaridade, etc.) precisa encaminhar seu currículo atualizado (não é necessário colocar dados pessoais como RG e CPF) e aguardar que entrem em contato.