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COE faz quarta operação na Maré em menos de um mês

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Vila dos Pinheiros, Vila do João, Salsa e Merengue, Morro do Timbau e Baixa do Sapateiro seguem desde hoje de manhã com a ação do Bope, BAC e Choque

Jéssica Pires

O Comando de Operações Especiais da PMERJ esteve em ação desde antes das 6h da manhã em cinco favelas da Maré nesta quarta-feira. A ação conta também com a presença  do Batalhão de Operações Especiais da PM (Bope), Batalhão de Ações com Cães (BAC) e o Choque. É a quarta operação do Core na Maré em menos de um mês, todas marcadas por um longo período de duração e denúncias  de violações de direitos.

A equipe do Maré de Direitos, (projeto da Redes de Maré que oferece atendimento sociojurídico gratuito) esteve de plantão na Vila dos Pinheiros, e recebeu  denúncias  dos moradores de  violações de direitos  por WhatsApp. O relato foi de residências sendo invadidas e carros arrombadas por homens da PM, sem mandados judiciais. A ação que iniciou nessas três favelas, avançou para o Morro do Timbau e Baixa do Sapateiro por volta de 10h30min, com relatos de intensas trocas de tiro na região.

A ação durou cerca de dez horas. Homens da polícia circularam no território a pé e contou com a presença de caveirões blindados. A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar confirmou a ação, mas até o momento não informou a motivação da mesma.

Férias com diversão e tecnologia para crianças e adolescentes

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Colônia de férias “A História da Favela” ensinará conhecimentos de tecnologia e estimulará arte e criatividade

Flávia Veloso

Julho chegou, e com ele vêm as férias escolares. É tempo para dar uma aliviada nas obrigações e aproveitar o recesso para descansar e se divertir. Mas quem disse que diversão não pode ser combinada com aprendizado? Com esta premissa, o projeto Pipas Labs está promovendo sua primeira colônia de férias durante todo o mês de julho, voltada para crianças e adolescentes dos 8 aos 16 anos.

Em parceria com a Casa Voz, nova sede da ONG Voz das Comunidades, o Pipas Labs oferecerá diversas atividades que, combinadas com o estímulo artístico e criativo, ensinarão conceitos e técnicas de áreas da tecnologia.

A História da Favela

Toda a técnica aprendida não será em vão. Como parte da colônia, os alunos criarão uma maquete interativa, com luzes e som. A ideia do projeto, pensada conjuntamente por Claudia Bernett, fundadora do Pipas Labs, e Rene Silva, fundador do Voz das Comunidades, é estimular crianças e jovens a contarem histórias sobre as favelas a partir de suas perspectivas, daí nasceu o nome da colônia de férias: “A História da Favela”.

Combinando criatividade e conhecimento

“Não é só aprender sobre tecnologia, mas usar a imaginação, ter ideias inovadoras e estimular criatividade. É uma combinação de pensamento crítico, processo criativo, habilidade e técnica”, conta Claudia Bernett. Ela acrescenta que tem expectativas de que os alunos possam buscar mais conhecimentos sobre tecnologia após a colônia.

Inscreva-se

As atividades já começam no dia dois de julho e vão até o dia 25. Para conferir os horários das turmas e se inscrever, basta preencher este formulário. A Casa Voz fica no Morro do Adeus, Complexo do Alemão, na Rua Engenheiro Manoel Segurado, número 228.

Unisuam recebe palestra sobre criminalização da homofobia

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O evento #CriminalizaSTF teve mesa composta por profissionais e estudantes homossexuais; Kamila Camillo representou a Maré com a exposição “Toda Forma de Amor”

Flávia Veloso

O Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+ é uma representação de resistência. Em 28 de junho de 1969, 50 anos atrás, quando as orientações sexuais diferentes da heterossexualidade ainda eram consideradas uma doença, um episódio marcaria para sempre a história desse grupo. O local era o bar Stonewall Inn, em Nova Iorque, um lugar frequentado por gays, lésbicas e transsexuais, que sempre recebia investidas policiais violentas. Nessa data, o público do bar reagiu, e a rebelião durou mais dois dias. Em 1° de julho de 1970, em Nova Iorque, foi realizada a primeira parada LGBT, em memória ao levante do bar Stonewall Inn.

Meio século após o episódio, o Brasil determina que é crime discriminar alguém por sua orientação sexual ou identidade de gênero. Esse foi o tema da palestra realizada na Unisuam, na noite do dia 28. Profissionais e estudantes das áreas de Pedagogia, Psicologia e Direito discursaram sobre este e outros assuntos.

Abrindo a mesa, o pedagogo e graduando em Psicologia Adriano Faria contou sobre as dificuldades de ser homossexual na universidade. Segundo Adriano, apesar de ser um espaço com pessoas de mais instrução, muitos universitários ainda reproduzem discursos preconceituosos, por isso as questões LGBTQIA+ devem ser debatidas desde o ensino básico, para que os preconceitos sejam combatidos.

“As fobias são frutos da construção”

Em seguida, o professor de Psicologia Edson Petrônio falou sobre os desafios de se atender a pacientes LGBTQIA+. O professor ainda explicou que “as fobias são frutos da construção”, referindo-se a construção social que leva a entender como diferente pessoas trans ou de orientação que não seja a heterossexual.

O país que mais mata homossexuais e trans no mundo

Encerrando as falas, o advogado e professor Bruno Lúcio Manzolillo abordou as leis sobre discriminação ao longo da história e ressaltou a importância que se tinha de aprovar uma lei que protegesse a vida de homossexuais e pessoas trans no Brasil, país que mais mata homossexuais e transsexuais no mundo.

Medo de represália

Fechando a noite, foi apresentada a sessão fotográfica “Toda Forma de Amor”, produzida pela psicóloga, fotógrafa e moradora da Maré Kamila Camillo e pelo fotógrafo Matheus Affonso. Ao longo de junho, os dois publicaram 16 fotos nas redes sociais com casais homossexuais do Complexo da Maré. Kamilla confessou que não conseguiu registrar casais transgênero ou transsexuais, pois eles tinham medo de sofrer represália.

Não sabe o que significa a sigla LGBTQIA+? A youtuber e drag queen Lorelay Fox explica:

Saneamento em pauta

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Especialistas, moradores e organizações discutem em encontro soluções para o saneamento básico no bairro

EQUIPE DATA_LABE

Historicamente, os moradores da Maré sempre foram responsáveis pela conquista de direitos básicos relacionados ao saneamento. Abastecimento de água, coleta de lixo, pavimentação das vias e esgotamento foram garantidos por meio da organização e demanda popular. Para fortalecer e avançar nessa tradição, o Encontro de Saneamento da Maré reuniu, na Lona Cultural, no dia 13 de abril, moradores, organizações da sociedade civil, ativistas e especialistas, para levantar soluções e exigir medidas do Estado.

O evento, que recebeu cerca de 60 pessoas, foi uma articulação do data_labe, Redes de Desenvolvimento da Maré e Casa Fluminense. As organizações desenvolvem o projeto Cocôzap – um número de WhatsApp que recebe queixas relacionadas a lixo e esgoto, enviadas por moradoras e moradores da Maré. “Nossa ideia é que, com a participação das moradoras e moradores, a gente possa reunir os problemas e demandas para ajudar na garantia de políticas mais eficazes a partir da realidade da favela”, explica Clara Sacco, coordenadora do data_labe.

Com o objetivo de sistematizar demandas e soluções de forma colaborativa, os presentes no evento foram divididos em quatro grupos de trabalho. O desafio foi dimensionar os problemas causados pela falta de estrutura do sistema sanitário do bairro. A partir da união e troca das várias frentes, os participantes produziram uma Carta-manifesto, para a construção coletiva e articulação permanente das demandas e soluções estabelecidas.

A seguir, de forma resumida e objetiva, alguns dos pontos levantados na Carta:

Esgoto e Baía de Guanabara

Retomada e efetivação dos Planos de Saneamento Estadual e Municipal. No caso da Maré, é urgente a construção do Tronco Coletor para a Estação de Tratamento Alegria.

Discutir a terceirização do serviço da Cedae na região, que não atende às necessidades dos moradores. Faltam equipamentos e algumas áreas que pagam a taxa social não são atendidas pela Companhia.

Promoção de ações do poder público e mutirões comunitários no entorno dos valões para despoluição e criação de áreas verdes, como ilhas flutuantes que auxiliam no tratamento de esgoto, a partir de plantas e raízes.

Abastecimento de água e manejo de água pluvial.

É importante um movimento de conscientização, educação e informação para os moradores que passe pelo histórico de luta do território pelo acesso à água; combate à cultura do desperdício; direitos em relação aos serviços da Cedae e alternativas de captação da água da chuva. 

A Maré tem um sistema público de encanamento da década de 1960. É necessária a implantação de um novo sistema que contemple as atuais demandas e que leve em conta a expansão do bairro.

Lixo e segurança pública

A Maré é maior que 95% dos municípios do País e sua população cresce exponencialmente. É preciso aumentar e melhorar os serviços da Comlurb, por meio de equipamentos, número de garis e frequência.

Mapear e investir na articulação entre grupos e cooperativas de catadores e garimpeiros da Maré para a criação de Ecopontos, como alternativas para o descarte de lixo.

Experiências históricas demonstram que o cuidado nas áreas com maior número de violações de direitos impacta na diminuição da violência. Mutirões realizados pela comunidade, com apoio de equipamentos públicos, são importantes para a transformação desses espaços.

Saúde e bem-estar

Melhoria na eficiência do atendimento das demandas nos postos de saúde e maior investimento em Clínicas da Família e na atuação dos agentes comunitários de saúde.

Além das campanhas de abrangência nacional, é preciso focar no desenvolvimento de campanhas pensadas por moradores e integradas com os equipamentos de saúde. A inserção de moradores nas formações de agentes comunitários de saúde pode ser efetiva.

Os pontos levantados na Carta abordam o acesso ao direito básico da população da Maré ao saneamento. O incentivo e articulação de mutirões, mais acesso a serviços públicos, maior interação entre moradores e poder público, bem como o fortalecimento de iniciativas populares afetam no desenvolvimento da vida das pessoas que vivem em territórios populares. Fique de olho, novos encontros estão sendo preparados para o próximo semestre. Vamos, juntos, avançar na luta pelo saneamento!

Um bairro chamado Maré

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Apesar do status, ainda é necessário lutar por direitos e prestação de serviços de qualidade

Hélio Euclides

De acordo como o estabelecido pelo Projeto de Lei nº 2119, a Maré é um bairro carioca desde 19 de janeiro de 1994. Com uma população de 139.073 habitantes, segundo o Censo Maré 2013, se fosse uma cidade ficaria em 24º lugar entre as 92 que compõem o Estado do Rio de Janeiro, na frente de municípios como Araruama, por exemplo. Atualmente, o bairro tem mais de 40 escolas, quatro clínicas da família, uma unidade de pronto-atendimento, três centros de saúde, um Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil, duas unidades da Fundação Leão XIII, um Centro Comunitário de Defesa da Cidadania, duas unidades do Detran, um posto da Cedae, uma agência da Comlurb, dois postos policiais e uma Região Administrativa. Parece muito, mas não é. Apesar do volume de equipamentos públicos, os serviços não funcionam como deveriam.

Um exemplo é a Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva. Inaugurada há mais de um ano na Nova Holanda, até hoje funciona de forma improvisada, por meio de gerador. Outro fato que mostra descaso é o desentupimento dos esgotos do bairro, serviço a cargo da Cedae Maré, que ainda é feito com o uso de canos de PVC. No Maré de Notícias, Edição 35, de novembro de 2012, a Cedae prometeu a compra de um conjunto de varas de aço para a melhor desobstrução por via manual, que não chegou até hoje. 

Para Helena Edir, moradora da Nova Holanda e diretora da Redes da Maré, o local melhorou após muitas conquistas dos moradores, mas não se pode cruzar os braços. “Lutamos muito para a Maré ter a Comlurb. Hoje, tem coleta diária nas ruas principais, mas também muito lixo espalhado. Penso que, apesar do avanço, ainda falta muito, como ter uma agência bancária”, diz.

A distância dos serviços públicos

Marcílio Dias é a favela mais distante, mas igualmente ao restante da Maré, foi surpreendida pelo Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). Este ano, a localidade recebeu 817 carnês, que não vieram acompanhados de melhorias. Já na Praia de Ramos e Roquete Pinto a pauta das conversas é a educação. “Falta creche para bebês. Já recusei diversas vezes trabalho, por não ter com quem deixá-la. O Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI) Armando de Salles Oliveira só atende crianças a partir dos três anos, e em meio expediente”, questiona Aline Maria, moradora da Praia de Ramos.

No dia 17 de junho, às 18h, o Maré de Notícias visitou a Loteria Alvorada, que fica na Rua Teixeira Ribeiro, e constatou 55 pessoas na fila. “Ficamos passando mal, na fila. Por que em Bonsucesso são cinco loterias e aqui apenas uma”? – reclama Eliane Nascimento, moradora do Parque Maré.

A construção vem do coletivo

A Redes da Maré, com o projeto Maré de Direitos, analisou as demandas sociojurídicas atendidas ao longo de dois anos e percebeu que, mesmo com encaminhamentos, os moradores têm dificuldades. “Realizamos reuniões com a Ouvidoria da Defensoria Pública e relatamos a viabilidade de implantação de um núcleo da Defensoria Pública no território da Maré. Isso deve acontecer no início de novembro, para deixar a Justiça mais próxima do morador, comemora Patrícia Ramalho, assistente social e coordenadora do Maré de Direitos.

Eblin Farage, professora da Escola de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense e coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Favelas e Espaços Populares, diz que para reverter o quadro de dificuldades é necessária mobilização. “Não adianta ficar esperando o poder público fazer por si, se não for cobrado e pressionado a fazer. Tudo é uma conquista e, por isso, deve ser coletiva. Meu sonho é que a Maré seja um território com direitos e acesso a políticas públicas de qualidade, educação, saúde, cultura, emprego, assistência social e lazer”, diz.

Problemas que precisam de soluções

Apesar da insistência por parte do Maré de Notícias, os órgãos públicos deram respostas vagas ao serem questionados sobre os serviços precarizados que disponibilizam para os mareenses. Um desses serviços é o de entrega de cartas e encomendas, feita pelos Correios, que argumentam que as comunidades Nova Maré, Salsa e Merengue, Marcilio Dias, Roquete Pinto e parte do Parque União não atendem às condições para serviço de distribuição domiciliar, por não terem CEP específico para cada rua. Como alternativa de entrega, os Correios estabeleceram parceria com as associações de moradores. Sobre a questão de agências, os Correios disseram apenas que não há previsão de abertura na Maré.

A Gerência de Engenharia e Arquitetura da Secretaria Municipal de Saúde informou que o prédio da Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva pertence ao governo do Estado, que discute com representantes do Estado a melhor forma de individualizar o fornecimento de água e luz para a unidade. Gilmar Junior, presidente da Associação de Moradores da Nova Holanda nega a informação. Ele disse que o prédio foi municipalizado e aguarda aval da Prefeitura para o fornecimento de energia. Uma das reclamações de moradores é a falta de remédios nas farmácias da Prefeitura. A Coordenação de Atenção Primária da Área de Planejamento3.1 declarou que não há falta generalizada de medicamentos nas farmácias das quatro clínicas da família e dos três centros municipais da Maré.

A diretoria de comunicação da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) disse que a escolha dos locais onde agências e postos de atendimento serão abertos é feita pelos bancos individualmente, de acordo com a análise de demanda e estratégia comercial de cada instituição.

A Comlurbinformou que atende diariamente os moradores com coleta de lixo e remove o lixo dos contêineres metálicos. A Companhia apela para que os moradores respeitem o horário de coleta e coloquem os resíduos domiciliares dentro dos contêineres. Para solucionar os problemas, a empresa declarou estar em contato com as associações de moradores.

Heitor Pereira, administrador regional da 30ª Região Administrativa, entende que falta diálogo. “Marcílio Dias tem um problema sério, de responsabilidade de gestão. A competência é da RA da Penha, que não faz. Eu quero ajudar, mas não consigo, por causa desse impasse. Sobre o lixo, estamos dando um apoio à Comlurb, que tem poucos funcionários e maquinários. Já o saneamento, há necessidade de troca de manilhas, que em alguns casos já tem 30 anos. Na parte de atendimento, estamos negociando a instalação dos postos avançados do Ministério do Trabalho (para emissão da Carteira do Trabalho) e da Light”, revela. 

A Secretaria Municipal de Educação, Cedae e Superintendência da AP 3.1 não responderam aos nossos questionamentos. 

Serviços disponíveis na Maré:

Banco Digital Maré

Funciona das 9h às 16h

Rua Sargento Silva Nunes, 1.012 – Nova Holanda

Rua Gerson Ferreira, 29 – Ramos

Rua Quatorze, 222 – Vila do João

Associação de Moradores do Rubens Vaz

Atendimento jurídico nas terças, das 14h às 17h; nas quartas, das 9h às 12h; e nas quintas, das 14h às 17h.

Rua João Araújo, 117

Maré de Direitos

Atendimento gratuito com assistente social e advogado às sextas-feiras, das 9h às 13h.

Rua Sargento Silva Nunes, 1.012 – Nova Holanda

Casa das Mulheres da Maré

Atendimento gratuito, como parte do projeto Maré de Direitos Mulher, aos sábados, das 9h às 13h, com advogada, assistente social e psicóloga.

Rua da Paz, 42 – Parque União

Detran Maré

Habilitação e identificação civil, de segunda a sexta, das 8h às 17h.

Rua Principal, s/nº – Baixa do Sapateiro.

Rua Teixeira Ribeiro, 629, Lojas 04 e 05 – Parque Maré

30ª Região Administrativa

Atendimento de RioCard, agendamento de título de eleitor, identidade e carteira de trabalho, acesso à internet para vaga nas escolas e intermediação de serviços com órgãos municipais.

Rua Principal, s/nº – Baixa do Sapateiro

Centro de Referência de Mulheres da Maré – Carminha Rosa

Atendimento e acompanhamento psicológico, social e jurídico às mulheres em situação de violência de gênero.

Rua 17 – Vila do João

O povo fala:

“Precisamos de projetos de esportes, um cuidado com o lixo e escolas de ginásio e Ensino Médio. Não podemos esquecer de que um local grande como esse não tem carteiro”. Marcos Paulo, morador de Marcílio Dias

“Necessitamos de tudo, mas principalmente de escola, creche, asfalto e o fim dos alagamentos”. Roseane dos Santos, moradora de Marcílio Dias

“O papel da associação é correr atrás de melhorias. Mas hoje, esbarramos em órgãos municipais e estaduais deficitários, sem suporte e ausência de material humano”.  Valtemir Messias, Índio, presidente da Associação de Moradores da Vila do João

 “Hoje, os grandes problemas da Maré são esgoto e lixo. Também acho que é preciso retornar o posto da Light”.  Alexandre da Rocha, presidente da Associação da Nova Maré

Você sabia?

*O bairro Maré foi criado pelo Projeto de Lei nº 2119, 19 de janeiro de 1994.

*Segundo o Censo Maré, o bairro tem uma população de 139.073 habitantes.

*Se a Maré fosse uma cidade, ocuparia o 24º lugar maior, entre os 92 municípios do Estado do Rio de Janeiro.

Sem base para o futebol

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O início na carreira de jogador vira dilema na vida das crianças

Hélio Euclides

Embaixadas e uns dribles até chegar ao gol. Esse é o desejo de meninos que almejam jogar em clubes de futebol. Primeiro é preciso vencer uma peneira de altíssimo nível. Não adianta se iludir no País do Futebol: mesmo se o garoto for bom com a bola nos pés, não é nada fácil entrar em um time. As dificuldades não param por aí. Os alojamentos, que deveriam ser a segunda casa das crianças, viraram um depósito de gente. Em fevereiro, um incêndio colocou um prematuro ponto final em dez promissoras carreiras no futebol – e o que é mais importante: em vidas – e deixou três feridos. O acidente ocorreu no Centro de Treinamento (CT) do Flamengo, em Vargem Grande. Outra problemática são os estudos, que ficam em segundo plano na vida dos jogadores.

Passados cinco meses da tragédia no Flamengo, a Polícia Civil indiciou oito pessoas, acusadas de homicídio com dolo eventual, por terem assumido o risco de deixar os atletas expostos ao perigo. O inquérito concluiu que o alojamento provisório não tinha condições de servir como dormitório para os atletas de base, pois havia diversas irregularidades estruturais. Além disso, a ausência de monitores no interior do contêiner, a falta de reparos nos aparelhos de ar-condicionado e o descumprimento da Ordem de Interdição imposta pela Prefeitura do Rio foram outros pontos que pesaram na decisão. O pernoite só voltou a ser permitido recentemente, quando o Clube obteve o alvará definitivo para o funcionamento do CT.

Paixão nacional: sonho de muitas crianças e famílias | Foto: Douglas Lopes

Edson Izidoro, da Associação Esportiva Beneficente Amigos da Maré, há 20 anos se dedica a ser treinador no território. Ele vê muita diferença entre o tratamento das escolinhas e dos clubes. “O que aconteceu no Ninho do Urubu me emociona até hoje, pois o sonho deles acabou ali. Acredito que os clubes precisam investir mais. Falta profissional para acompanhar de perto os meninos, se preocupar com a comida e dar assistência. Meu trabalho é interligado com a escola, pois acompanho as notas e converso como os professores deles. No clube, precisa estar estudando, mas não tem a preocupação com notas; só olham o boletim no final do ano”, questiona.

No campo do Rubens Vaz, Izidoro acompanha 58 crianças, entre 5 e 15 anos. “Nosso trabalho vai além da parte física, tática e coletiva; orientamos os nossos atletas sobre a realidade da vida”, afirma. Ele revela que tudo é possível graças aos amigos, aos comerciantes e à Associação de Moradores do Rubens Vaz, já que não recebe ajuda dos governantes. Cleiton dos Santos, de 27 anos, deu seu pontapé inicial na escolinha e, hoje, é preparador de goleiros da associação e no Clube Real Maré. “O projeto forma não só jogador, mas pessoas do bem”, afirma Cleiton, que segue este ano para a Itália, para um intercâmbio.

Vitório Leandro, de 15 anos, é um dos alunos da escolinha, e diz que sempre tem incentivo ao estudo. O que marcou a sua vida foi ter feito avaliação com os meninos que morreram no Ninho do Urubu. “Conhecia todos. Em 2018, fiquei cinco dias no Flamengo fazendo testes, e um dia dormi no alojamento. Foi uma tragédia, de um alojamento que era considerado, por nós, como bom”, comenta.

Klaus Grunwald é professor de música, morador da Baixa do Sapateiro, e todo ano visita seus familiares que moram na Alemanha. Ele acha que os clubes brasileiros precisam seguir trajetórias europeias bem-sucedidas. “O que vejo é que eles investem desde a categoria de base até a seleção. Na Alemanha, em qualquer área, há uma preocupação com a criança. Aqui, no Brasil, é deixa a vida me levar”, diz.

Escolaridade: é fundamental que os estudos e o futebol caminhem lado a lado | Foto: Douglas Lopes

É preciso pagar para virar jogador de futebol

O Maré de Notícias, Edição 88, de maio de 2018, trouxe o comentário de Nivaldo João da Silva, o Godoy, sobre a necessidade de ter dinheiro no início da carreira, para transporte e alimentação. Isso é confirmado por Flávio Alves, professor de Educação Física e treinador da escolinha Renovação Associação de Futebol, onde convivem 30 alunos de 5 a 17 anos, no campo da Paty, na Nova Holanda. “Essa é a dura realidade do futebol brasileiro. Um clube pequeno cobra taxa de arbitragem das crianças e, muitas vezes, o atleta nem é escalado. A família precisa investir, em média, 400 reais mensais. Para o pobre, ser jogador virou um sonho fora da realidade”, revela.

“Às vezes me sinto iludindo a criança, pois encaminho para o clube, mas sem o apoio financeiro, ela não continua”, conta. Para Flávio, é necessário cuidar da mente. “É preciso trabalhar a cabeça da criança, pois ela pode chegar a ganhar, a vida toda, um salário mínimo. Se um homem pode chegar a receber apenas isso, imagina a mulher, num País onde elas ainda ganham menos”, avalia. Quando se fala em futebol feminino, vale lembrar que, apesar da falta de investimentos, a Seleção Brasileira é tricampeã nos Jogos Pan-Americanos. O time ainda conta com a jogadora Marta, pessoa com o maior número de gols em Copas do Mundo (17 gols até o fechamento dessa Edição). 

Estudo e futebol em lados opostos

Leo Oliveira, de 36 anos, teve sua carreira no auge em 2006, quando jogou uma temporada pelo Flamengo. Foram 16 jogos pelo Rubro-Negro. Hoje, joga pelo Itaboraí Profute, time da série B2 do Campeonato Carioca. Em sua trajetória, Leo só teve a chance de estudar até a 8ª série, pois viajava muito, com mudanças de clubes de outros estados. “O estudo é muito importante para a trajetória de um atleta. Na prática, ele usa esse ensinamento ao conceder uma entrevista ou quando joga fora do País e precisa apender outros idiomas. Mas, principalmente na questão da Matemática, para não ser enrolado por empresários que se acham espertos”, alerta o morador da Nova Holanda.

“Na base, há um incentivo aos estudos. O alojamento, quando tem uma estrutura boa, é muito importante para o desenvolvimento. Nem todos os clubes têm um alojamento digno para o futebol brasileiro; não há estrutura para abrigar atletas”, confessa Leo. Flávio concorda que alojamento bom ajuda no desenvolvimento do menino. “Cheguei a jogar na Portuguesa, Bonsucesso, Bangu e São Cristóvão e, muitas vezes, almoçava e jantava cachorro-quente com suco. Alojamento de clube pequeno é pior do que qualquer quarto da favela e, muitas vezes, nem tem ventilador. A base do Flamengo não precisava ter passado por isso, não houve investimento”, afirma.

Mauricio Murad, sociólogo, defende que bola e estudos precisam caminhar juntos. “Lamentavelmente não há essa preocupação, apesar de a lei exigir que essa orientação seja dada e seja uma das perspectivas das divisões de base dos clubes. De um modo geral, os dirigentes econômicos e políticos de nosso País não estão nem aí para a educação. E os do futebol não fogem a essa regra”, denuncia. Para ele, a escola é prioridade na vida do atleta. “No Rio de Janeiro, o único clube que tem uma escola dentro de suas dependências, como parte de sua estrutura de funcionamento, é o Vasco. Isso é muito grave, porque todos nós sabemos que sem educação não há solução. Educação tem de ser prioridade de Estado e não somente de governo”, sugere Murad.INFOGRÁFICO| ou OUTRA ARTE

Veja como estão os alojamentos dos grandes clubes da cidade:

Botafogo – utiliza o centro de treinamento profissional de General Severiano, em Botafogo, alojamento de pequeno porte com capacidade para até 16 atletas. Os jovens permanecem sob a supervisão de inspetores e são acompanhados de perto por uma assistente social. 

Fluminense – atualmente são 45 meninos alojados, mas a média por ano é de 70 meninos. O Clube conseguiu o laudo da vigilância sanitária e alvará provisório de funcionamento para o CT de Xerém.

Vasco – fica debaixo das arquibancadas de São Januário, recebe de 40 a 45 jovens. São quatro monitores que se revezam em esquema de plantão. À disposição dos meninos, ficam três assistentes sociais e três psicólogos, um para cada categoria: sub-15, sub-17 e sub-20.

Flamengo – antes da tragédia, o alojamento era para cerca de 60 jovens, entre 14 a 17 anos. Com módulos habitáveis feitos de contêineres dentro do CT.

 *fonte: site Globo Esporte