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Mulher negra latino-americana e Caribenha

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Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha mostra o quanto é preciso avançar nas questões racial e de gênero

Thaynara dos Santos

No Brasil, o dia 25 de julho é comemorado como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Tereza foi uma líder quilombola no século 18, que vivia em Mato Grosso. Com a morte de seu companheiro, ela assumiu a luta da comunidade negra e indígena contra os opressores portugueses.

A data foi criada em 1992, durante o 1° Encontro de Mulheres Afro Latino-americanas e Afro Caribenhas, em Santo Domingos, República Dominicana. Em 2014, a Lei nº 12.987, sancionada pela ex-presidente Dilma Rousseff, transformou o dia internacional da mulher negra Latino-Americana e Caribenha no dia nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.

Desde o ano de sua criação, a data se tornou um sinônimo da existência e da resistência das mulheres, especialmente das mulheres negras, como uma forma de trazer visibilidade as pautas ligadas a mulher e a raça/cor, como racismo e feminicídio.

Mulheres negras resistem

No Brasil, onde a maioria da população é negra, os impactos do racismo ficam explícitos quando exemplificados em dados sobre a violência. Em 2017, 75% das pessoas assassinadas eram negras.

A desigualdade racial e o machismo que assombram as mulheres não-brancas são alarmantes. A taxa de homicídios de mulheres negras cresceu 29,9% em dez anos. A proporção de mulheres negras entre as vítimas da violência letal foi de 66% de todas as mulheres assassinadas no ano retrasado. (Atlas da Violência 2019)

Esses números não melhoram em comparação com a realidade das mulheres da América latina e do Caribe. A cada dez feminicídios cometidos em 23 países da América Latina e Caribe, quatro ocorreram no Brasil. (CEPAL 2017)

Segundo o relatório ONU Mulheres, nove mulheres são assassinadas por dia, na América Latina, vítimas de violência de gênero. O cálculo não inclui México e Colômbia.

Mulher trans e negra resiste

Quando se trata de dados sobre mulheres trans e negras esses números são quase inexistentes. A transfobia e o racismo invisibiliza a existência dessas pessoas, dificultando a criação de políticas públicas para a população LGBT.

Nos últimos dois anos, mais de 97% dos assassinatos contra pessoas trans tiveram recorte de gênero: feminino. Em 82% dos casos as pessoas foram identificadas como negras (pretas e pardas).

O termo trans é uma abreviação de “transgêneros”, que se refere às pessoas que não se identificam com o gênero atribuído quando nasceram, seja esse gênero masculino ou feminino.

Mulheres se movimentam

Apesar dos dados de violência e desigualdade racial, as mulheres negras reinventam os territórios no qual vivem e movimentam essas estruturas massacrantes. O dia 25 de julho não se trata só de uma data de luta, mas também de celebração. No Brasil, a ideia é fortalecer as pautas voltadas às mulheres negras e visibilizar suas conquistas e trajetórias. Na Maré, as mulheres carregam na identidade e no cotidiano a força para transformar tudo a sua volta.

Para Teresa Ona, pesquisadora do Núcleo de Memória e Identidade da Maré, da Redes da Maré, “o dia da mulher negra latino-americana e caribenha é muito importante para termos nosso lugar de fala. É um espaço para discutir vivências, sonhos e nos fortalecer juntas”. Desde 2010, o NUMIM se empenha na construção das memórias das 16 comunidades que formam a Maré e seus reflexos no presente, envolvendo moradores e pesquisadores. Além dos registros orais com os moradores da Maré, há ainda uma pesquisa contínua em acervos públicos e privados, levantando o passado da Maré, ressaltando sua relação com a cidade. O Grupo Conexão G, dirigido por Gilmara Cunha, tem sede na Nova Holanda, no conjunto de favelas da Maré e atua desde 2013 para garantir e promover cidadania e direitos humanos. O espaço é destinado à população LGBT, moradora de favela e periferia, sobretudo da cidade do Rio.

Assim como Tereza de Benguela, outras mulheres foram e são importantes para a nossa história.

 Mulheres negras que foram protagonistas do seu tempo e entraram para a história do Brasil:

Dandara

Dandara foi uma guerreira negra do período colonial do Brasil. Após ser presa, suicidou-se se jogando de uma pedreira ao abismo para não retornar à condição de escrava. Foi esposa de Zumbi dos Palmares e com ele teve três filhos.

Maria Felipa

Maria Felipa de Oliveira foi uma mulher marisqueira, pescadora e trabalhadora braçal. Junto a Maria Quitéria e Joana Angélica, participou da luta da Independência da Bahia.

Luíza Mahin

Possivelmente foi ex-escrava de origem africana, nascida no século XIX, radicada no Brasil, que teria tomado parte na articulação dos levantes de escravos que sacudiram a Província da Bahia nas primeiras décadas do século XIX

Esperança Garcia

A escrava piauiense escreveu, em 1770, uma das mais antigas cartas de denúncia de maus-tratos contra negros, entregue ao governador da então província de São José do Piauí. Em 2017, recebeu o título de primeira mulher advogada do Piauí pela OAB do estado.

Tia Ciata

Hilária Batista de Almeida nasceu em 1854, em Santo Amaro, Bahia. É considerada uma das figuras mais influentes da origem do samba. No início do século XX, a mãe de santo promovia rituais religiosos e famosas rodas de partido-alto na Praça Onze.

Carolina Maria de Jesus

Nascida em 1914, em Sacramento, Minas Gerais, foi uma importante escritora brasileira. Em seus cadernos, descrevia sua vida na favela e seu dia a dia em São Paulo. Um deles deu origem ao seu mais famoso, “Quarto de despejo”, publicado em 1960. 

Suzane Santos, de 25 anos, é cria do Parque União e integrante do Amarévê, coletivo de audiovisual da Maré e Meninas Black Power.

“Eu já me reconhecia como favela, mas eu não me entendia mulher negra. A partir desse momento você relembra várias coisas que aconteceram com você e você não entendia, agora você sabe que foi racismo. Em um curso de audiovisual (ESPOOC) eu me descobri mulher preta. Isso com 20 anos. O contato com pessoas que discutiam raça me fez repensar minha negritude. A gente nasce mulher negra mas se descobre mulher negra. Pelo menos pra mim, que sou mais clara, é um caminho mais difícil. Ainda mais pela negação e pelo embranquecimento que faz a gente acreditar que ser negro é ruim”.

“AMARÉVÊ promove a ressignificação da identidade favela e as histórias da Maré, que muitas vezes são marginalizadas, esquecidas e marcadas por violência. Nosso papel é entender que a gente precisa ter arquivo histórico das nossas histórias e nossa vivência, da forma que a gente faz as coisas, nosso saber dentro da favela. As próximas gerações precisam saber como foi seu passado. A gente não sabe quem foi nossos bisavós e bisavôs. Atualmente o coletivo é formado só por mulheres, mas isso foi uma coincidência. Eu acredito que raça vem antes de gênero porque o que devemos todo dia é o jovem negro ser morto só pela cor. A gente não morre só pelo gênero, não é só mulher preta que morre. Devemos pensar em comunidade e partindo disso eu também faço parte do coletivo Meninas Black Power, que é integrado por mulheres negras e a gente se movimenta para falar sobre o recorte de ser negra e ser mulher.

Minha família tem um papel político muito grande aqui dentro. Meu tio é presidente de associação no P.U. Ele foi a pessoa que ocupou o Sem-Terra e dividiu as casas. Por conta desse contato político dentro da família a gente cresceu tendo contato com a política dentro da família, a gente se envolveu muito cedo com as coisas. Teve um momento que trombamos com a AMARÉVÊ, que inicialmente só era um portal de notícias da Maré e era produzido por dois meninos daqui. Chamaram a gente pra fazer a comunicação para as redes sociais e site. Juntamo-nos e abraçamos a ideia.

“A minha vida foi formada aqui no Parque União, eu sai para morar em Xerém e voltei. Minha vida é basicamente aqui. A minha avó chegou aqui nova, ela passou por varias favelas daqui, ela veio do nordeste. Ela veio pra cá muito nova e com muitos filhos e com meu avô tentar a vida aqui. Eles viveram em muitas favelas daqui da Maré. A última casa na Rua Tiradentes, no parque união. Ela criou 14 filhos aqui”.

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Karla Rodrigues é pesquisadora do NUMIM (Núcleo de Memória e Identidade da Maré) e moradora da Nova Holanda. Filha de uma nordestina e um mineiro, Karla já viveu no Parque União, na Rubens Vaz, no Pinheiro e por fim na Nova Holanda, onde foi criada após a separação de seus pais.

“Minha mãe era migrante nordestina, meu pai é mineiro. Ele foi a terceira geração depois da abolição da escravatura. Ele sempre conta que a avó dele nasceu no dia da abolição”.

“Não se nasce mulher, torna-se. A mesma coisa  mulher negra, você se torna. E isso é para o bem e para o mal porque quanto mais embranquecida você tenta ficar mais recompensada é pela branquitude e pela sociedade, tipo alisar o cabelo ou não falar sobre o racismo”.

“Me tornar negra foi a melhor coisa que aconteceu ao longo da minha vida. Primeiro em ser mulher e ser negra. E segundo em me apropriar da minha ancestralidade e negritude, embora eu seja mestiça, com pai negro e mãe branca. Meu processo de transição capilar só aconteceu após o falecimento da minha mãe, mas isso não teve peso na minha decisão. Acho que só seria mais difícil.  Ela me dava dinheiro quando via minha raiz crescendo. Esse processo em aceitar meu cabelo natural aconteceu quando engravidei e não podia usar química. E eu nem acuso minha mãe porque isso foi uma forma de me proteger contra o racismo também.

“A gente tem uma visão social mais marxista, mas as pessoas estão começando a perceber que se não tratarmos a questão racial junto da questão socioeconômica sempre sairemos prejudicados pelo racismo institucional. Eu acredito que o recorte racial precisa ser pautado antes da renda da pessoa. Falo isso não só como quem estuda e lê muito mas também como quem já passou por isso na hora de procurar emprego ou concorrer com alguém com um currículo um pouco inferior ao meu e a pessoa conseguir a vaga porque tinha o “perfil da empresa”. E quando consegue entrar é convidada a alisar o cabelo. Eu passei por isso quando trabalhava em uma empresa multinacional. Minha supervisora me mandava fazer um coque e colocar uma teia no cabelo, mesmo com o cabelo alisado. Eu ainda não havia passado pela transição capilar.”

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Gilmara Cunha, de 34 anos, é moradora da Maré desde criança. Mulher negra e trans dirige o Conexão G, que trabalha com a população LGBT (lésbica, gay, bissexual e transexual). O grupo, que existe há 13 anos na Maré, busca ajudar nas demandas de pessoas trans que são invisibilizadas pela população em geral. Nascida no Hospital geral de Bonsucesso, morou pouco tempo no Engenho da rainha e ainda criança retornou para a Maré, de onde nunca mais saiu. A partir da falta de políticas públicas voltadas a população LGBT surge o Conexão G.

“Não faz sentido mudar a minha vida se eu não mudo a vida das pessoas a minha volta. Quando eu penso nesse público que é inviabilizado eu penso no grupo no qual estou inserida. Sou uma mulher trans e sabemos que o Brasil lidera o ranking de assassinato contra a população de travestis e transexuais. São números alarmantes. Se dentro do meu território eu não tiver o poder de transformar outras mulheres iguais a mim também não irão ter o direito de ser quem são. Há 20 anos das travestis eram impedidas de andarem na rua de dia, porque eram associadas a prostituição é só andavam a noite. E hoje não, elas veem para o projeto, andam pela rua no horário formal da sociedade.

As pessoas devem reconhecer essa população (LGBT), não como pessoas promíscuas, mas pessoas que tem o direito de ser quem são naquele espaço. Eu me lembro de que quando a gente começou, nós sofríamos violências em espaços de lazer. Nós não podíamos participar daqueles espaços. Tacavam várias coisas, como pedaços de pau, pedra e cebola. Aí você ser uma mulher, ser negra e trans percebia que tinha muita coisa a ser trabalhada, a gente precisava ser reconhecida como pessoa”.

 “Como moradoras de favela a gente já tem vários fatores. O Estado só entra com política pública através da segurança pública, você tem a questão da identidade de gênero, a questão da orientação sexual, a falta de empregos para a população trans, a falta de saneamento básico, a falta de saúde. Enfrentamos cotidianamente a violência do Estado, porque nos nega direitos enquanto cidadãos e cidadãs LGBT e o poder paralelo, que muitas vezes dificulta a forma como expressamos quem nós somos”.

“Somos protagonistas da nossa própria história e a gente precisa estar à frente e transformar nosso território. Não só pra gente enquanto moradora, mas também para toda a comunidade. Porque uma das coisas que a gente tem enquanto diferencial é que por mais que a gente tenha nossas pautas específicas, de cada organização, ainda assim nós pensamos no coletivo, na transformação do território. Talvez eu não usufrua muito dessas mudanças, mas as próximas gerações irão fazer isso”.

Toda forma de amor: fotógrafos retratam casais LGBT’s na Maré

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Projeto fotográfico de Kamila Camillo e Matheus Affonso almeja fotografar 16 casais LGBT’s que vivem no conjunto de favelas da Maré. As fotos serão tiradas entre o Dia dos namorados e o dia do Orgulho LGBTi+

 Thaynara Santos

A sessão fotográfica “Toda forma de Amor”, idealizada por Matheus Affonso, 22, fotógrafo, integrante do grupo Pantera, Projeto Eeer e Grupo Atiro, e Kamila Camillo, 30 anos, psicóloga e fotógrafa, surgiu após uma conversa entre os dois.

Os amigos se conhecem há muito tempo de outros projetos e já passaram por experiências parecidas, por conta de sua orientação sexual, no território onde vivem. “Enquanto estava pensando nessa sessão, procurei o Matheus porque ele tirou uma foto minha e da minha mãe na série de fotos no Dia das Mães. Aí, pensei em fazer um projeto sobre o Dia dos Namorados, mas não queria fazer sozinha, aí chamei o Matheus. Não estamos disputando quem é o melhor fotógrafo, temos união. Nós nos ajudamos sempre”.

A sessão é oferecida gratuitamente para os casais e as fotos são disponibilizadas na página do Facebook de Kamila (http://www.facebook.com/kamilacamillo / @photokamilaa). “Essa sessão tem muito de nós, não só do nosso olhar, mas o que a gente sente”, diz Kamila.

Os dois parceiros contam que já sofreram violências vindas da família, do círculo religioso e no próprio território por sua conta de sexualidade, “eu sou lésbica e o Matheus é bissexual, é uma realidade que toca a gente”. O impedimento desses casais em expressar seu afeto pelo seu par, como andar de mãos dadas e trocar beijos na rua é uma pauta na série fotográfica. “Quando ela veio me chamar, eu já estava pensando no mesmo projeto quando ela me chamou. Isso se dá muito por sermos fotógrafos LGBT’s. Não existe uma narrativa sobre a gente, então vamos construí-la”, explica Matheus.

Relacionamentos duradouros

A proposta do projeto fotográfico é retratar somente casais em relacionamentos fixos. “Quando a gente fala de casais LGBT’s a gente fala sobre corpos marginalizados dentro e fora da favela, que não podem demonstrar afeto onde vive. Que sofre pelo olhar da rejeição e pelo excesso de sexualização desses corpos”, conta Matheus.

“A construção LGBT não existe. Quando a gente fala de um corpo LGBT na favela, ele não existe. E quando a gente fala desses casais, só temos como referência as bichas em festas, ou as que saem. É meio difícil encontrar um casal que mora junto. De todos os casais que tiramos fotos, a maioria são jovens, que tem média 2 a 3 anos de relacionamento”, explica o morador da Nova Holanda.

O medo dos olhares de reprovação e a incerteza são grandes tabus que muitas vezes atrapalham o trabalho dos fotógrafos. Muitos casais desmarcam em cima da hora ou simplesmente não respondem as mensagens. Além disso, há a preocupação com a sessão dessas pessoas. Muitos ainda tem medo de mostrar o relacionamento nas redes sociais. “Tinha um casal que eu agendei para fotografar mas na hora uma delas mudou de ideia, não queria tirar foto e muito menos na rua de casa. Eu pedi para ir lá e conversar com ela e ficou tudo certo”, diz o fotógrafo.

Mulheres travestis e transexuais

Kamila e Matheus acreditam que chegar até a população trans e transexual que reside na Maré é ainda mais difícil, elas não querem expor as relações delas e, muitas vezes, os parceiros também não. “Tem uma amiga nossa que quer muita fazer a foto e o namorado dela também mas quando chega a hora bate um medo de julgamentos e timidez, aí ela desiste”.

As mulheres trans e travestis sofrem com a invisibilidade e o preconceito no seu dia adia. Kamila lembra um caso que contatou um possível casal mas a companheira recusou por estar sem cabelo. “Essas querem ser vistas mas não querem ser vistas de qualquer jeito. Elas já são invisibilizadas, não querem aparecer de qualquer forma”, conta.

“Quando a gente fala desse projeto, nossa fala traz muita responsabilidade e visibilidade. Nós vamos fotografar as pessoas na rua onde elas moram, não é na esquina, nem numa pracinha. Aqui é a rua que eles vivem e convivem”, explica Kamila, que atualmente vive na Vila do Pinheiro.

Orgulho LGBTi+

28 de junho é o Dia do Orgulho LGBTI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e pessoas Intersex), data celebrada e lembrada mundialmente.


Festa junina alegra os fins de semana na Maré

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Moradores encontram lazer e resgate da tradição nordestina

Hélio Euclides

“Pamonha, curau, cuscuz, canjica, bolo de milho, pipoca, arroz doce, caldos, cocada, pé-de-moleque, paçoca, maçã-do-amor e bolo de fubá”, são algumas das comidas típicas de uma boa festa junina. Além dos quitutes, as quadrilhas, os enfeites, músicas e roupas coloridas são outras marcas dessa tradição. A festa se caracteriza pela valorização de ingredientes como milho; arroz, coco e amendoim, produtos de origem brasileira. O mês de junho tornou-se pequeno, e os festejos se estenderam para julho e, em alguns casos, agosto. Além das igrejas, a Associação de Moradores da Baixa do Sapateiro, a Casa das Mulheres e a Lona da Maré alegram a favela.

No dia 19 de junho, às 16h, a Casa das Mulheres realizou sua festa junina. O ‘Arraiá’ teve roda de coco, comidas típicas, música e quadrilha. A comemoração marcou a conclusão de cursos. “Pensamos numa confraternização do semestre, com a conclusão dos cursos do Maré de Beleza, Maré de Sabores e Alfabetização. O evento foi colaborativo, os alunos trouxeram seus pratos e deixaram farta a mesa. Ressalto a presença dos familiares, que abrilhantaram a festa, além de pessoas com roupas à caráter”, destacou Andressa Jorge, coordenadora da Casa das Mulheres. O grupo Kentaqui chamou atenção de todos, com a roda de coco, uma dança em ritmo da Região do Nordeste.

As igrejas da Maré também seguem a tradição e realizam as suas festas juninas. Quem abriu os festejos foi o “Arraiá da Jesus de Nazaré”, na Baixa do Sapateiro, nos dois primeiros fins de semana de junho, com direito a apresentação instrumental. Depois, o “Arraiá de São José”, na Vila do Pinheiro, alegrou segundo e terceiro finais de semana do mês, com muito forró. O “Arraiá do Navegantes”,  também Baixa do Sapateiro, não ficou para trás. Considerada a festa das igrejas mais antiga da Maré, abrilhantou o terceiro final de semana de junho. Fechando com chave de ouro o mês de junho, o “Arraiá da Paz”, no Parque União, com festa no segundo, terceiro e quarto finais de semana do mês, é o festejo com maior público. Em julho, ainda tem o “Arraiá da Nova Vida”, que promete diversão para a Nova Holanda.

A Associação da Baixa do Sapateiro realiza já em algumas edições o “Arraiá O Pequeno Mestre”, com barracas, comidas típicas, brincadeiras, queima de fogos e a presença de quadrilhas federadas de diversos locais, que se apresentam na Praça do 18. Ainda em julho, será realizado o “Arraiá da Lona”, na Nova Maré, celebrando os festejos populares, os chamados “Santos Juninos”, com uma programação para todos os públicos, contando com brincadeiras, gincanas e programação musical.

Origem das festas juninas*

Os historiadores apontam que as origens da festa junina estão diretamente relacionadas às festividades pagãs realizadas na Europa na passagem da primavera para o verão, momento chamado de solstício de verão (momento que o Sol atinge o maior grau de afastamento angular do equador), que no Hemisfério Norte acontece exatamente no mês de junho. Essas festas eram realizadas como forma de afastar os maus espíritos e qualquer praga que pudesse atingir a colheita. A festa originalmente pagã foi incorporada ao calendário festivo do catolicismo.

O começo da festa junina ao Brasil remonta ao século XVI. A festa era conhecida como festa joanina, em referência a São João, mas, ao longo dos anos, teve o nome alterado para festa junina, em referência ao mês no qual ocorre.. Inicialmente, a festa possuía um forte tom religioso – conotação essa que se perdeu em parte, uma vez que é vista por muitos mais como uma festividade popular. Durante as festas juninas no Brasil, são realizadas danças típicas, como as quadrilhas. Outra característica muito comum é a de se vestir de caipira de maneira caricata.

*Fragmentos do site Brasil Escola Uol/Daniel Neves       

Veja o calendário dos festejos na Maré:

Arraiá da Paz

Rua Guanabara, Nº 2 – Parque União

21, 22 e 23/06 (19h)

Arraiá da Lona

Rua Evanildo Alves, s/nº – Nova Maré

Dia 26/07 (15h)

Arraiá da Sagrada Família

Rua Tancredo Neves, s/nº – Nova Holanda

Todos os finais de semana de julho (19h)

Arraiá da Jesus de Nazaré

Rua Evanildo Alves, 83 – Baixa do Sapateiro

06, 07, 13 e 14/07 (19h)

Arraiá O Pequeno Mestre

Praça do 18 – Baixa do Sapateiro

Dias 06, 13, 20 e 27/07 (21h)

Arraiá da Nova Vida 2019

Rua Sargento Silva Nunes, 567 – Nova Holanda

Dias 12 e 13/07 (19h)


Operações policiais com o caveirão voador podem responder criminalmente à Justiça federal

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Conjunto de favelas da Maré tem sido alvo frequentes desse tipo de operação, que causa desespero no morador e paralisa a vida no território

Thaynara Santos

Os atiradores do “caveirão voador” podem responder à Justiça Federal, antes os responsáveis pelas investigações eram os Ministérios Públicos Estaduais. A decisão foi tomada pela 7ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal (MPF), responsável pelo controle externo da atividade policial e do sistema prisional.

O uso de helicópteros, que disparam tiros a esmo durante as operações, tem sido frequentes no conjunto de favelas da Maré. O Ministério Público Federal afirma que a legalidade dessas ações aéreas tem sido questionada e o excesso de força policial é preocupante, pois há relatos da prática de crimes nessas operações.

O que faz o MPF?

O MPF atua como fiscal da lei, mas tem atuação também nas áreas cível, criminal e eleitoral. Sua atividade ocorre perante o Supremo Tribunal Federal (STF), o Superior Tribunal de Justiça (STJ), o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e os tribunais regionais federais.

Cabe ao Ministério Público Federal defender os direitos sociais e individuais, como o direito à vida, à dignidade e à liberdade dos cidadãos. O MPF atua nos casos federais, regulamentados pela Constituição e pelas leis federais, sempre que a questão envolver interesse público.

Maré Online: Operações na Maré com a presença do caveirão voador

Caveirão voador efetua disparos próximos a colônia de férias na Maré

A ilegalidade dos caveirões voadores

Uma semana de ações, violações e mortes na Maré

O direito das favelas

Marcílio Dias: Ação policial diferente, terror igual

Por que uns e não os outros têm direito a segurança pública



A jovem batalhadora

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CPV da Redes levou para a jovem Antônia mais que informações; acrescentou percepções sobre cidadania e direitos dos favelados

Flávia Veloso

Nascida do Maranhão e moradora do Complexo da Maré, Antônia Natrício, de 18 anos, saiu do Curso Pré-Vestibular (CPV) da Redes da Maré com o pé direito: depois de prestar os vestibulares do ano passado, passou para Pedagogia na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e Nutrição, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UniRio), e foi esta que a jovem escolheu.

Sua primeira opção era Geografia, mas preferiu não tentar, já que precisa de conciliar emprego e estudos, e o horário do curso é integral. E essa não foi a primeira experiência da menina nos vestibulares. Após sair do Heitor Lira, colégio estadual em que estudou no Ensino Médio, foi aprovada em Educação Física, mas decidiu não cursar e viajou para o Piauí, estado em que mora a avó paterna e onde a maranhense morou por três anos.

A rotina frenética

A rotina de Antônia, atualmente, se inicia às 5h30 da manhã, quando acorda para trabalhar em uma lanchonete da Maré. Ao fim do expediente, a universitária segue para a faculdade, no campus da Urca ou do Centro, onde fica até as 22h. A única folga que tem do emprego é aos sábados, dia que também tem aula.

Quebrando tabus internos

A história com o CPV da Redes da Maré começou com a indicação de uma amiga. Saída de um colégio de formação de professores, Antônia não teve um ensino de Ciências da Natureza muito completo, questão que foi melhorada no preparatório. Além dos conhecimentos técnicos, a moça destaca como os professores do CPV a levaram a novas compreensões: “Além de os professores serem totalmente competentes, eles não estão só preocupados com a gente passar no vestibular, mas nos fazer entender que a universidade também é nossa, que é importante nós, moradores de favela, estarmos inseridos naquele local”.

“Alguns preconceitos, depois eu entendi, eram coisas que estavam só na minha cabeça, e muitas vezes outras pessoas colocavam”, acrescentou Antônia sobre as questões sociais que o Pré-Vestibular ajudaram-na a perceber.


Maré recebe curso de gastronomia e assistente de cabeleireiro gratuitos

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Casa das Mulheres da Maré abre inscrições para o Maré de Sabores e Maré de Belezas

Jéssica Pires

A Casa das Mulheres da Maré, equipamento da Redes da Maré que atua pelo fomento do protagonismo das mulheres da Maré, recebe inscrições durante todo o mês de junho para o Maré de Sabores e Maré de Belezas, cursos de gastronomia e assistente de cabeleireiro gratuitos.

O curso de gastronomia para moradoras da Maré acontece desde 2010 e, a partir de 2016, é realizado no espaço que fica na Rua da Paz, na favela Parque União. Mais de 500 mulheres passaram pela formação, que já é referência dentro e fora da Maré e tem o apoio da Nissan. O curso de assistente de cabeleireiro está na quarta turma e conta com a parceria da marca de cosméticos L´Oréal Paris. Nos dois cursos é ministrado também um módulo sobre Gênero e Cidadania.

Turmas e inscrições

O Maré de Sabores contará com três turmas com 20 alunas nos turnos da manhã ou tarde e o Maré de Belezas com quatro turmas de 12 alunas cada, também nos dois turnos. A seleção será composta por inscrição presencial, que pode ser feita na Casa das Mulheres da Maré (Rua da Paz, nº 42 – Parque União), no Prédio Central da Redes da Maré (Rua Sargento Silva Nunes, nº 1012 – Nova Holanda)  e na Lona da Maré (Rua Ivanildo Alves, s/nº – Baixa do Sapateiro); e entrevista individual. O resultado da seleção do Maré de Sabores será divulgado no dia 25 de julho e as aulas começam em 7 de agosto. O resultado da seleção do Maré de Belezas será divulgado em 15 de julho e as aulas começam já no dia 19 de julho.