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Articulações resultam em visita do MPF e órgãos da Justiça à Maré

Ações de movimentos sociais têm por objetivo garantir os direitos dos moradores das favelas

Por Jéssica Pires

Quarta-feira, 27 de março de 2019, mais um dia que os moradores da Maré e ativistas dos direitos humanos nas favelas não esquecerão. Nele, a Maré recebeu o Ministério Público Federal e outros órgãos da Justiça para uma visita ao território. O objetivo foi ampliar o diálogo com os moradores e as moradoras da Maré e identificar violações de direitos humanos.

Ao longo do dia, os representantes dos órgãos da Justiça e dos movimentos sociais conheceram locais da Maré e conversaram com moradores, representantes de organizações locais da sociedade civil e de movimentos sociais. O que se espera de resultado da visita é uma proximidade dos órgãos com a realidade das violações de direitos na Maré e aprendizados e ensinamentos para a atuação futuras.

A articulação dos movimentos sociais e de direitos humanos tem promovido avanços na garantia de direitos nas favelas. A visita aconteceu em decorrência dessa articulação, porém ainda há muito a ser feito.

Reconhecendo demandas

Segundo Rodrigo Mondego, membro da Comissão de Direitos Humanos e Assistência Judiciária da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ) é importante que os agentes do estado estejam presentes nos territórios de favela não só para fazer atendimento in loco, como também para conhecer a realidade. “É importante termos essa vivência para transformarmos essa sociedade de tantas violações e deixarmos de ser um estado de barbárie, para sermos um estado de direito de verdade”, complementou.

Para Marcelo Freire, da 7ª Câmara do Ministério Público Federal, um fator importante é ter a dimensão de que o Estado quando age dentro de qualquer território tem que garantir direitos. “Ele [o estado] tem que respeitar as leis e tem que agir de acordo com o que a Constituição determina. Esse trabalho,tem que ser desenvolvido em uma ótica de preservação da cidadania, dos direitos humanos, sempre preservando o direito do cidadão”.

Voltando à realidade

Ao fim da visita, entrou em curso mais uma operação policial na Maré – com a presença de caveirões voadores e terrestres, trazendo medo e danos materiais e imateriais de diversos níveis para os moradores da Maré. Segundo a assessoria da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, a operação resultou em dois mortos, um preso e um policial militar ferido. Como se pode concluir, esse foi mais um dia que a Maré não vai esquecer.

Ouvidoria da Defensoria do Estado do Rio de Janeiro participa de reunião do Fórum Basta de Violência Outra Maré é Possível

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Por Jésssica Pires

Nesta segunda-feira (8), a segunda reunião do ano do Fórum Basta de Violência Outra Maré é Possível possibilitou o encontro dos movimentos, organizações da sociedade civil e moradores com a Ouvidoria da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (DPERJ). O objetivo foi apresentar o Circuito Favelas por Direitos e estudar estratégias possíveis de atuação na Maré.

Violações e Denúncias

O Circuito Favelas por Direitos surge no cenário da Intervenção Militar (2018) para aproximar a Defensoria dos moradores e possibilitar o reconhecimento de violações para além das fontes “oficias”; apresentando também os canais de denúncia da Defensoria.

No último ano, foram realizadas visitas a 30 favelas do estado do Rio de Janeiro. Um dos resultados, foi a produção de um quadro com 30 violações-padrões e 16 medidas para evitar danos a moradores. O quadro de violações e demais informações sobre o circuito podem ser conferidos no relatório final da iniciativa disponível no site da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro.

Defensoria Pública na Maré

A Defensoria Pública realiza acompanhamento de violações contínuo na Maré em parceria com a Redes da Maré. A Redes utiliza a metodologia do “De Olho na Maré” para coletar e sistematizar os dados sobre o direito à Segurança Pública. Em 2019, a Defensoria pretende fortalecer a parceria com os órgãos responsáveis pela saúde, educação e dinâmicas policiais na Maré, além de promover espaços de escuta mais qualificados entre o órgão e os moradores. O Fórum segue articulando ações com a ouvidoria da DPERJ para que esses objetivos sejam atingidos.


Rio em estado de crise

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Maré teve pontos de alagamentos; população deve seguir recomendações de segurança

Por Camille Ramos

A chuva que começou na noite de ontem, 8, no Rio de Janeiro, já dura há quase 24 horas e, de acordo com o twitter do Centro de Operações Rio (@OperacoesRio), fez com que a cidade entrasse em estágio de crise às 20h55 desta segunda-feira. Até o momento foram registradas 10 mortes em função de deslizes e enxurradas, segundo matéria do G1. Inúmeros pontos de alagamento aconteceram pela cidade, incluindo nas comunidades da Vila do Pinheiro, próximo ao CIEP Ministro Gustavo Capanema, na Via A-1; na Baixa do Sapateiro, área da Praça 18; e em parte do Parque União. Trechos da Avenida Brasil e ruas em Bonsucesso também alagaram. A cidade permanece em estágio de crise, podendo chover forte durante a madrugada. A previsão é de que a quarta-feira continue chuvosa, com pancadas a qualquer hora do dia, mas não deve chover na quinta (11).

Rua Principal, em frente a Região Administrativa | Foto: Douglas Lopes

Recomendações

A Prefeitura recomenda que a população tome as seguintes ações preventivas:

– Os habitantes das áreas de risco devem se deslocar imediatamente para locais seguros.

– Os moradores de áreas de encostas devem ficar atentos para indícios de ameaças de deslizamentos e estarem preparados para se deslocarem para locais seguros.

– As pessoas que estiverem em locais seguros devem permanecer nestes locais até o cancelamento do alerta.

– As vias urbanas que atravessam os maciços montanhosos da cidade e as áreas inundáveis devem ser evitadas.

– Deve se evitar transitar em áreas alagadas e próximas a córregos, canais e rios sujeitos a transbordamentos.

– Em casos de ventos fortes e/ou chuvas com descargas elétricas, deve-se evitar ficar próximo a árvores, redes de distribuição de energia elétrica ou em áreas descampadas.

Se necessário, use os telefones de emergência 193 (Corpo de Bombeiros), 199 (Defesa Civil) ou 1746 (Central de Atendimento da Prefeitura).

Tânia Rêgo/Agência Brasil


O que leva militares a atirarem 80 vezes contra um carro?

Por Lidiane Malanquini¹

Era tarde de um domingo ensolarado, quando uma família carioca seguia a caminho de um chá de bebê. Essa poderia ser uma prática comum, mas, para algumas famílias e alguns corpos, circular por determinados territórios da cidade traz risco, muito risco.

Ontem, por volta de 14h30, a família de Evaldo seguia para um chá de bebê pela Estrada do Camboatá, em Guadalupe, quando, no caminho, um grupo de militares disparou 80 tiros contra o carro onde estava a família. Evaldo morreu e seu sogro segue internado para cuidados médicos. Uma mulher, que passava no momento e tentava acenar o absurdo daquela ação, também foi atingida por disparos.

Essa não foi a primeira, nem a segunda vez que um carro, nesta região, foi interceptado por tiros de fuzil. Em dezembro de 2015, a menos de dois quilômetros dali, em Costa Barros, outro carro – com cinco amigos – foi fuzilado por 111 tiros. Eles estavam comemorando o primeiro salário de Roberto como Jovem Aprendiz. Porém, nenhum deles retornou para casa. Poucos meses antes, outro veículo, com cinco jovens também, foi atingido por tiros de fuzil disparados por agentes das Forças Armadas na favela Salsa & Merengue, na Maré, quando retornava de um jogo do Flamengo. Na ocasião, o Flamengo ganhou de 5 X 1 do Cabofriense. Como bons flamenguistas, os jovens só queriam comemorar. Mas quatro deles foram atingidos pelos disparos, sendo que um perdeu uma das pernas e ficou paraplégico.

Nas três histórias, todas as pessoas envolvidas estavam apenas exercendo seu direito de ir e vir e tiveram suas vidas atravessadas por uma política de segurança que não garante às vidas este direito.
Em qual lugar do mundo, um carro poderia ser interceptado por agentes do Estado com tiros de fuzil? Nos faltam palavras para exprimir tamanha revolta diante mais essa barbárie. Como é possível, agentes do Estado fuzilarem um carro com 80 tiros de fuzil e dizer publicamente que foi um “engano”? A quem poderia ser endereçado desproporcional uso de força desses agentes? Quem poderia ser alvo de uma ação como essa? A construção da narrativa dos militares, endossada pela nota pública do Comando Militar do Leste, reforça a lógica de que em determinados espaços da cidade, determinados corpos são passíveis de tamanha violência. É como se o próprio Estado concretizasse a lógica de que moradores de favelas e periferias seriam parte de um “exército inimigo” a ser combatido pelos agentes do Estado. Ao assumir esta postura, é como se os precedentes legais, o que determina às leis, pudessem ser suspenso, inclusive por agentes do Estado.

Na descabida necessidade de justificar o injustificável, o Comando Militar do Leste informou, no dia de hoje, que os militares estariam fazendo patrulhamento de rotina na Vila Militar. O local onde aconteceu o ataque à família fica a quatro quilômetros da Vila Militar. Por que estariam os militares fazendo patrulhamento pelas ruas de Guadalupe? O que justificaria essa ação, uma vez que não temos nenhum decreto de Garantia da Lei e da Ordem vigente no estado do Rio que pudesse justificar a repressão de crimes de esfera estadual por militares? Reforçamos aqui os preceitos legais que forças militares só poderão agir com poder de polícia a partir da vigência do referido decreto.

Hoje, acordamos com mais perguntas que respostas. Com um nó na garganta de ver e perceber a forma como os direitos são desrespeitados no Brasil, sobretudo, quando estes estão direcionados à população pobre, negra e periférica. Vivemos um contexto político muito sensível e de fortes ameaças à nossa frágil democracia. Temos um Ministro da Justiça que advoga em favor do excludente de ilicitude para policiais em serviço, alegando que esse “excesso pode decorrer de escusável medo, surpresa ou violenta emoção”. Temos um governador do estado que defende uma “política de abate”, quando os policiais estariam autorizados a “abater” pessoas armadas.

Às vezes, podemos considerar muito distante todas essas movimentações no campo da política, daquilo que consideramos o cotidiano nas favelas e periferias. Porém, estas falas e propostas reforçam uma lógica de criminalização da pobreza e dos corpos negros e legitimação de que militares pudessem “por engano” atirar 80 vezes contra um carro. As decisões para planejamento e implementação da ação de agentes públicos está pautada em escolhas. Escolhas que são políticas! Nesse sentido, é urgente pensarmos em política pública, inclusive de segurança, que tenham como valor central a garantia de direitos básicos desta parcela da população que historicamente tiveram seus direitos desrespeitados. Lutamos e acreditamos que um dia uma simples ida a um chá de bebê com a família, comemorar o primeiro salário de um amigo ou a vitória do seu time não tragam risco à vida de ninguém nesta cidade!



¹Lidiane é mulher, periférica, flamenguista, assistente social, coordenadora do Eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré e doutoranda em Serviço Social pela UFRJ.

Exército fuzila músico ‘por engano’

80 tiros foram disparados contra o carro que levava a família a um chá de bebê; crime aconteceu em Guadalupe, Zona Norte

Por Camille Ramos

Na tarde de ontem, mais uma morte chocou a cidade. Desta vez, o soldados do Exército Brasileiro disparam 80 tiros contra o carro da família de Evaldo dos Santos Rosa, de 51 anos, que era músico e trabalhava como segurança. O crime aconteceu em Guadalupe, Zona Norte do Rio de Janeiro, quando a família de Evaldo passava pelo local a caminho de um chá de bebê. Segundo a apuração do G1, cinco pessoas estavam no carro. A mulher, o filho do músico e uma amiga conseguiram sair do carro sem nenhum ferimento. O Sogro de Evaldo, Sérgio Gonçalves de Araújo, foi atingido e socorrido. Até o fechamento desta matéria, inda não se tinha informações sobre seu estado de saúde. Um homem, ainda não identificado, também estava próximo à cena e foi baleado.

Em nota, o Comando Militar do Leste (CML) primeiro negou ter atirado contra uma família e disse ter respondido a uma “injusta agressão” de “assaltantes” próximo ao Piscinão de Deodoro. À noite, o CML informou, em nova nota, que o caso está sendo investigado pela Polícia Judiciária Militar com a supervisão do Ministério Público Militar. Evaldo deixa a mulher e um filho de sete anos.

Por quê?

Lidiane Malanquini, coordenadora do Eixo de Segurança Pública da Redes da Maré, correlaciona o crime a um padrão promovido pelas políticas de segurança do Estado na Zona Norte e periferias da cidade. “Como que o CML usa como justificativa metralhar um carro achando que era de bandidos? Como se o fato do carro ser de bandidos pudesse legitimar os 80 tiros? Como o território periférico, favelado e a população que vive neles é vista como um exército inimigo que pode ter o carro fuzilado? Então, independentemente de ser uma família ou bandidos, por que nesse lugar se pode dar tiros?”, questiona.


Dicionário de Favelas Marielle Franco será lançado quarta-feira, 10, na Fiocruz

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Por: Ascom/ICICT/Fiocruz

Como parte das comemorações dos 33 anos do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde – Icict, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), haverá o lançamento do Dicionário de Favelas Marielle Franco, na quarta-feira, 10 de abril.

Um dos objetivos do Dicionário é ser um espaço facilitador para o resgate da memória da cidade e identidades coletivas de agrupamentos territoriais e comunidades. Ele também é um espaço virtual para congregar o conhecimento sobre as favelas de forma interdisciplinar e interinstitucional, que busca mobilizar atores com diferentes inserções sociais em uma rede que busque a produção coletiva de conhecimentos neste campo. A sua plataforma é baseada em Wiki, daí o nome WikiFavelas.

Segundo Sônia Fleury, coordenadora do Dicionário de Favelas Marielle Franco, “ele é um resgate de memória das favelas e também da cidade do Rio de Janeiro”. O Dicionário já começa com 258 verbetes e já há 67 colaboradores, entre pesquisadores acadêmicos e intelectuais da favela, além da contribuição da população em geral.

Os verbetes são os mais variados Por exemplo, é possível saber um pouco da história dos bailes funks, no verbete ‘baile funk’, ou saber o significado das AEIS – ‘Área Especial de Interesse Social’, ou ‘Carnaval de rua na Maré’, ou ‘Guerra ao crime organizado? Favelas e intervenção militar’, ‘Projeto Vamos Desenrolar: Produção de Conhecimento e Memórias’, só para citar alguns exemplos.

A iniciativa pioneira do Dicionário teve o apoio e a participação de Marielle Franco, que não só foi uma entusiasta da obra, como – a convite de Sônia Fleury – escreveu uma ementa e uma proposta de verbete sobre a sua monografia “UPP – A redução da favela a três letras: uma análise da Política de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro”, que consta no Dicionário. Segundo a coordenadora do Dicionário, “ela estava realmente muito envolvida e entusiasmada. Com o seu assassinato, decidimos colocar o seu nome no Dicionário”, que passou de Dicionário Carioca de Favelas para Dicionário de Favelas Marielle Franco.

Durante o evento de lançamento haverá apresentações culturais, mesa de abertura, a apresentação do WikiFavelas – o Dicionário de Favelas Marielle Franco, uma roda de conversa e o encerramento, com mais apresentações culturais.

O lançamento será realizado a partir das 13h30, no Salão de Leitura da Biblioteca de Manguinhos, da Fiocruz, que fica na Avenida Brasil, 4.365, em Manguinhos, no Rio de Janeiro (RJ). A entrada é franca, mas é necessária a inscrição no link http://eventos.icict.fiocruz.br

Dicionário de Favelas Marielle Franco – http://wikifavelas.com.brLeia mais em: http://bit.ly/2uPg6SQ