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Comunicadores favelados visitam coletivos de mídia independente na Colômbia

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Comunicadores favelados do Intercâmbios Latinos. Foto: Artur Romeu

 

Por: Thaynara Santos da ANF – Em 14 de novembro de 2018

 

“A vida cotidiana na América Latina nos demonstra que a realidade está cheia de coisas extraordinárias”

Gabriel García Márquez

Em outubro, comunicadores de favelas e periferias do Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo iniciaram um intercâmbio em Medellín, na Colômbia. Durante uma semana de imersão cultural, o grupo com oito integrantes conheceu outros projetos de jovens comunicadores e ativistas da cidade, visitou algumas comunas de Medellín, museus urbanos que preservam a memória colombiana e se aprofundaram na história da cidade que busca diariamente diversas formas de resistir aos traumas causados por anos de violência.

A equipe participou de oficinas, palestras e assistiram mostras documentais e exposições fotográficas no Festival Gabriel García Márquez, conhecido como Festival Gabo de Periodismo. Além disso, os comunicadores fizeram uma cobertura colaborativa do evento que aconteceu entre os dias 3 e 5 de outubro. A 6º edição do GABO, considerado um dos maiores eventos de jornalismo na América Latina, foi organizada pela Fundación Nuevo Periodismo Iberoamericano (FNPI).

Faber Ramírez da organização cultural Ciudad Frecuencia, localizada na comuna 5, foi o responsável por orientar visitas aos coletivos de Antioquia. Casa de Las Estratégias (Centro de estudo em segurança pública e direitos humanos), Klan Ghetto Popular (coletivo de arte urbana e educação), Sueños de Papel (biblioteca comunitária), Rádio Latino Stereo, Carabantú (Organização Afrocolombiana de Desenvolvimento Social e Cultural), Bajo la Piel (Coletivo de turismo comunitário), Universo Centro (mídia independente), Noticiero La Otra (mídia comunitária) e o Jornal comunitário EntreCruzados foram alguns dos espaços visitados pela equipe.

Conhecer os veículos de comunicação independente e comunitários nas comunas e cidades da Colômbia foi uma das experiências mais fascinantes. Assim como no Brasil, são grupos que produzem informação e entretenimento de forma coletiva e autônoma.

Juan Ospina (blusa clara), amiga e profissional voluntária e Pascual Gaviria (blusa escura). Foto: Artur Romeu (Aurora)

Universo Centro foi um dos projetos visitados durante o intercâmbio cultural. Jornal independente, de produção mensal com cerca de vinte mil tiragens e distribuição livre em sites (contabilizam mais de cem mil web leitores por mês) e em mais de 400 locais, como bares, livrarias, universidades, cafés e comércios, localizado em Antioquia, um dos 32 distritos da Colômbia.

Juan Fernando Ospina, diretor de fotografia e Pascual Gaviria, editor do jornal, trabalham a mais de oito anos ao lado de outros dez profissionais voluntários para a resistência do periódico no qual jornalistas, escritores, historiadores, artistas, políticos, economistas, fotógrafos têm a oportunidade de mostrar seus trabalhos.

As semelhanças entre Medellín e Rio de Janeiro não se restringem somente aos projetos trazidos das comunas para a cidade, como o teleférico do Complexo do Alemão e do Morro da Providência, e o VLT (Veículo leve sobre trilhos). A luta diária dos coletivos para manterem sua autonomia e a crença no poder da comunicação aproxima nossos irmãos latino-americanos.

O grupo foi formado por uma galera que trabalha com comunicação comunitária e direitos humanos, Gabi Coelho (Voz das Comunidades), José Cícero Da Silva (Dicampana), Raull Santiago (Coletivo Papo Reto), Michele Silva (Jornal Fala Roça), Thaynara Santos (ANF e Descolando Ideias) e Hélio Euclides (Maré de Notícias) fizeram parte dessa equipe. O jornalista Artur Romeu (Aurora) e a pesquisadora e assistente social Lidiane Malanquini (Redes da Maré), foram os responsáveis pela realização e desenvolvimento das atividades durante e após o intercâmbio.

Intercâmbios Latinos – Jornalismo e Direitos Humanos é uma realização do Aurora em parceria com o Coletivo Papo Reto e a Redes da Maré.

O projeto busca promover espaços de encontro, de construção de redes e de formação para coletivos de comunicação e mídias alternativas latino-americanas pautadas pela defesa dos direitos humanos. O objetivo do projeto é contribuir com o fortalecimento de um horizonte midiático plural e diverso na região. A aproximação de diferentes experiências latino-americanas é fundamental para dar maior visibilidade às diversas iniciativas existentes e identificar soluções para os desafios semelhantes enfrentados a nível regional.

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Ponte aérea Brasil x Colômbia

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Maré de Notícias #95 – dezembro de 2018

Oito brasileiros participam de evento jornalístico em Medellín e fazem intercâmbio para troca de experiências

Por Hélio Euclides

Durante sete dias de intercâmbio, oito comunicadores de favelas e periferias do Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte participaram de oficinas, palestras, mostras documentais e exposições fotográficas do Festival Gabriel García Márquez, conhecido como Festival Gabo de Periodismo, um dos maiores eventos de jornalismo da América Latina, realizado nos dias 03, 04 e 05 de outubro, em Medellín, na Colômbia. Os comunicadores populares presentes foram Raul Santiago, do coletivo Papo Reto; Lidiane Malanquini, da Redes da Maré; Gabi Coelho, da Voz da Comunidade; José Cícero da Silva, do Di Campana; Michele Silva, do Fala Roça; Thaynara Santos, da Agência de Notícias das Favelas; Artur Romeu, da Aurora; e Hélio Euclides, do Jornal Maré de Notícias/Redes da Maré,

Apesar do prêmio ser realizado em três dias, os comunicadores brasileiros estiveram presentes em terras colombianas por uma semana. O objetivo também foi conhecer a periferia da cidade e perceber como os colombianos se mobilizam em busca da superação de seus desafios. Perceber semelhanças e diferenças nos campos de mobilização popular, comunicação comunitária e segurança pública. De acordo com o Anuário Estatístico de Medellín, de 2005, a cidade tem uma população de 104.450 habitantes, dos quais 67,2% estão abaixo dos 39 anos de idade. Segundo a Pesquisa de Qualidade de Vida do mesmo ano, o estrato socioeconômico predominante é 2 (baixo), que compreende 38,5% das residências; seguido pelo estrato 1 (baixo-baixo), que corresponde a 30,3.

Seis dos brasileiros chegaram no dia 30 de setembro, os outros dois no dia seguinte. Logo se uniram aos outros para as visitas e atividades selecionadas pelo guia e ativista Faber Andres. Embora alguns membros falassem espanhol, e tivéssemos a ajuda de Faber, o desafio de uma nova língua até poderia ser um obstáculo, mas a vontade de aprender superou qualquer dificuldade.

Reunião na Casa de Las Estrategias: discutindo a ausência de políticas públicas nas comunas | Foto: Artur Lara Romeu

Da Maré para Medellín

Eu, Hélio Euclides, e Thaynara Santos chegamos às terras colombianas no final da tarde de primeiro de outubro. A atividade era a visita à Rádio Latino Stereo FM 100,9, que atua também na internet. O veículo é uma rádio exclusiva de salsa, com programas seletos para um ouvinte que espera o incentivo da cultura. O ritmo evoluiu ao longo dos anos e décadas e foi acoplado com a tecnologia que temos hoje. Mas em Medellín existe a Latino Stereo que continua a viver com a salsa antiga, aquela que tornou esse gênero fantástico e soa todos os dias, com uma programação em torno de todo esse movimento chamado Salsa Brava.

Visitamos as instalações da estação de rádio Latino Stereo, conversamos com seus locutores e resgatamos um pouco da memória em torno desse gênero que mudou o mundo latino e fez o mundo inteiro dançar. A locutora Nari Sanchez demonstra alegria em atuar na rádio. “Os ouvintes se tornam nossa família, há uma conversa com eles, e sentimos que há uma resposta do nosso trabalho. Está no ar com a nossa cultura, faz o coração bater forte e o meu trabalho é uma paixão. Nosso trabalho é uma responsabilidade, e com, o passar do tempo, os ouvintes nos conhecem pela rádio, que transmite sabor latino”, confessa. O seu colega e fundador da rádio Jairo Luis Garcia ainda se emociona ao falar da emissora. “Quando comecei ainda era estudante, meu sentimento era de medo. Agora, temos a paixão pelo trabalho. É muito lindo o carinho do ouvinte, que é diferente do de outras emissoras”, resume.

No dia 2 de outubro, recebemos mais um colaborador na jornada, o ativista Gerardo Perez, que nos levou a Comuna 8. Ela é formada por construções populares e é considerada um dos bairros mais representativos do Vale do Aburrá. Possui uma área de 577,74 hectares e uma densidade de 180 habitantes por hectare. As comunas ficam situadas em montanhas, semelhantes aos morros cariocas, só que muito mais elevadas. Pode-se comparar Medellín com uma bacia, na qual as comunas ficam nos pontos altos.

O local foi considerado um dos lugares com pior condição social durante muito tempo. Sofreu com a violência. Primeiramente, a do narcotráfico. Nos anos 1980, vieram os conflitos, os paramilitares a invadiram e depois a polícia ocupou o território. Ocorreu uma intervenção com o propósito de trazer um novo projeto urbanístico, batizado de Ruta de Campeones. O objetivo era evitar a construção de novas casas e ocorreram remoção para criação de um parque, que é uma área de lazer. Ações que só contribuíram para aumentar a tensão social.

Percebemos que as comunas representam a resistência. Esses espaços, em 1970 pouco a pouco, começaram a ser ocupados. Ao caminhar pelas comunas, entendemos que existe um movimento popular, ou melhor, uma força comunitária muito bem organizada, que talvez falte às favelas cariocas. Eles conseguem melhorias, como água potável, escola (que foi reconhecida pelo governo), posto de saúde e creche. Contudo, também temos muito em comum. Um exemplo é a biblioteca comunitária, onde o morador Jorge Emilio, de 75 anos, organizou livros dentro de casa para fortalecer a cultura da comuna. “Meu sonho era transformar um local que no passado era de muita violência, num espaço de leitura crítica”, avalia. Esse fato lembrou o trabalho de Geraldo de Oliveira, da Biblioteca Comunitária Nélida Piñon, em Marcílio Dias, que alugou um espaço com o mesmo intuito.

Na parte da tarde a visita foi à Casa Morada, um coletivo em rede sem o desejo de fazer negócios, sem a intenção de lucro. Funciona como uma habitação, com atividades, com alianças para criar, para curtir, para conhecer. O objetivo do nome morada é assemelhar ao verbo habitar. Habitar o outro, habitar a própria vida, habitar em movimento. Os frequentadores pertencem sem ter que possuir. O prédio roxo, que lembra a Redes da Maré, oferece ao jovem, na grande maioria da Comuna 13, diversas atividades de cultura e lazer.

Um dos trabalhos da casa é a Rádio Morada Stereo, que tem o slogan: as vozes dos sonhadores. Tivemos a oportunidade de uma bela entrevista, onde falamos do Brasil, e do que esperávamos da Colômbia. No segundo andar, se encontra a Casa de Las Estratégias, um centro de estudo que busca evidências, com pesquisa e livros para a conquista de políticas públicas. Não há laços com o governo ou empresários, com o receio do controle dos conteúdos. O objetivo é fortalecer as parcerias com as outras organizações sociais, respeitando cada uma, acreditando no fortalecimento das organizações por meio dos dados relacionados de cada um dos coletivos.

A Casa das Estratégias é um centro de estudos que dialoga com métodos qualitativos e quantitativos. A equipe combina economia, política, engenharia, matemática e econometria para resolver um problema, realizar uma avaliação ou um diagnóstico. Um dos trabalhos é o La Outra Medellin.com um estudo que mostra a necessidade de espaço de lazer mínimo para certas localidades. Em outra vertente, se criou o mapa da vida com relatos de familiares de vitimados.

Os jovens que frequentam a Casa Morada tentam mudar o ambiente, como deixá-lo mais alegre, como fizeram com o grafite no Cemitério Paroquial De La América. “Um espaço de tristeza, onde a comunidade nos permitiu transformar um local de medo em lugar de vida. O grafite quer contar o que o território passa, no nosso caso, a Comuna 13”, conta Ghido Alma, grafiteiro da instituição Casa Morada. Na entrada do cemitério há uma imagem do mar com figuras indígenas, intitulada De Regresso, do artista Jomag. Nos muros dos cemitérios foram colocadas várias mudas de plantas, criando uma parede verde, viva. Isso foi feito também no prédio ao lado, do Instituto Educativa Benedikta Zur Nieden.

Esses jovens produzem o jornal La Outra. Um periódico que investiga o que o governo faz ou deixa de fazer. Além disso, o jornal é uma escola de comunicação em formação. Os jovens da Comuna 13 resistem sozinhos, sem investimento do poder público. Ao final da apresentação do jornal, cada comunicador brasileiro também exibiu o trabalho que realiza na terra natal.

Nesse mesmo dia, ainda visitamos a redação do Jornal Universo Centro, que fica em cima de um bar. O jornal, que já chegou a edição 100, nasceu há dez anos no Centro da cidade da união de amigos. O grupo, cansado da imprensa tradicional, tinha o desejo de criar um jornal de manifesto, para se expressar. Eles almejavam mostrar que era possível a realização desse jornal. O jornal tem 11 edições por ano, com uma equipe formada por oito jornalistas obstinados, que não lucram com o produto. Um projeto colaborativo que até então já reuniu 450 pessoas, na produção de textos. No geral, são 30 colaboradores em média por edição. São 20 mil exemplares, distribuídos gratuitamente em 400 pontos. Para garantir recursos, a equipe vende livros que contam a história do jornal e pôsteres das capas.

Os comunicadores brasileiros no prêmio

A maioria das palestras do prêmio eram localizadas no Jardim Botânico de Medellín. Já no caminho para o Jardim Botânico, encontramos uma praça com um monumento que retratava a luta das mulheres, intitulado: Hacia La Igualdade. A estátua, criada pela artista Olga Inês Arango, é uma homenagem a conquista do voto feminino, que em 2007 completou 50 anos na Colômbia.

Ao chegar ao local nos deparamos com um pequeno exemplo de que o mundo ainda tem solução. A confiança de um vendedor que deixou suas mercadorias sem ninguém tomando conta. O cliente pegava os biscoitos e deixava o valor de 2 mil pesos.

Enfim, no dia 3 de outubro começou o Festival Gabriel García Márquez de Jornalismo, o conhecido prêmio Gabo. Uma maratona das melhores histórias da América Latina. Uma sequência de conversas com os finalistas do prêmio Gabriel García Márquez nas categorias cobertura, imagem, texto e inovação.

Estávamos na abertura da categoria cobertura. Nela, falou-se da importância das coberturas jornalísticas, com necessidade de planejamento para um bom resultado final. A segunda mesa foi sobre a categoria imagem, com a represente brasileira, Adriana Zehbrauskas. Ela foi uma das finalistas do prêmio, com um trabalho que retrata a vida das prostitutas de idade avançada. Algumas estão alojadas em abrigos no México. “O meu trabalho foi de mostrar a história pelas imagens. Não quero retratar o que leva uma pessoa a ser prostituta, até porque não podemos apontar. É bom fazer o que temos vontade, então trabalhei o tema nas horas vagas e publiquei essa história. O que mais demora não é a realização das fotos, conversa e entrevistas, mas o contato e a conquista da confiança. A fotografia fascina e nesse trabalho mostro a trajetória de vida e a luta contra o preconceito. É essencial na profissão contribuir para um olhar profundo, que colabore com a caminhada. Há dificuldades da profissão, mas é preciso se dedicar para se aprofundar nos projetos”, explica a fotógrafa.

A terceira mesa veio com a categoria texto e marcada por temas fortes, como o poder do petróleo e a conversão religiosa dos guerrilheiros. A tarde foi aberta com a categoria inovação, marcada pelo trabalho que ilustrava as balas perdidas na cidade do Rio de Janeiro. Seguida pela mesa “Nicarágua”, sobre a luta do povo desse país pela liberdade e diálogo. Segundo os palestrantes, há um autoritarismo dos partidos políticos. Eles ainda mencionaram que centenas de cidadãos já perderam a vida em protestos contra o governo local.

O dia foi finalizado com a mesa “As Mulheres Transformadoras no Jornalismo”, com a representante brasileira Natália Viana. A discussão foi sobre a luta das mulheres para a conquista de seu espaço na sociedade e contra a violência. Uma luta que chegou ao jornalismo, espaço no qual elas precisam derrubar estruturas para serem valorizadas. Foi feita uma pesquisa com 10 leitores de um jornal, sobre a confiança, e oito disseram acreditar mais em jornalistas do sexo masculino. “No Brasil uma vitória é o crescimento dos movimentos feministas, que fortalecem a luta”, disse Natália Viana.

No dia 4 de outubro, o trabalho foi aberto com um tema forte. A mesa “Jornalismo contra a Corrupção”. Para a descoberta e divulgação de fatos, são essenciais os jornalistas investigativos, para que esse mal da política seja combatido e os envolvidos sejam punido. A manhã foi encerrada com a mesa “Os mistérios das Audiências”. Nela, o jornalista brasileiro Pedro Burgos lembrou que é necessário um maior engajamento do profissional de jornalismo. Mas que é necessário ética em todos os departamentos, para que não seja usado o artifício da audiência acima de tudo. Qual o papel do jornalismo na democracia? “Vejo os projetos vindo de uma velha mídia, e, com isso, nos comunicamos menos. É preciso investir no público”, acredita.

Já na parte da tarde, na mesa “Jornalista Apesar de Tudo”, Ignacio Escolar detalhou que é mais fácil falar do poder econômico, pois o poder político tem braços de manobra. Ele é fundador e diretor do El Diário da Espanha, com mais de 33 mil sócios que mensalmente pagam por informação de qualidade, transparente e independente. “As redes sociais nos facilitam financeiramente, pois podemos nos comunicar sem custos. O Twitter tem uma vertente mais jornalística. O jornalista não pode ser substituto da polícia e da justiça. O jornalista faz o seu papel de investigar, mas não substitui a lei”, revela o palestrante.

Por fim, a mesa “Jornalismo Performático” trouxe o jornalista argentino Sebastian Hacher. Para ele, o jornalismo necessita de investigação, narração, interpretação e criação. Ele falou da importância de se encontrar novas formas de se comunicar. “Muitas vezes, para se passar a mensagem ao receptor é preciso criatividade, com novos métodos. Para esse trabalho, foi criado o laboratório de jornalismo performático, que revela a inclusão de vários elementos da arte ao jornalismo”, expõe. Contudo, esse pensamento foi muito contestado por jornalistas mais experientes, gerando muito debate.

No último dia do festival, os trabalhos foram abertos com a mesa “Desafios Éticos no Jornalismo Atual”. A jornalista chilena Mônica González destacou que o jornalista precisa informar qual o caminho certo a seguir e nunca ser corromper. “O profissional de jornalismo sofre com os desafios de ética nas redações, mas é preciso lembrar sempre que a profissão é uma vocação de serviço público para a construção de uma cidadania”, conta.

Em seguida, houve a mesa “Africamericanos”, com o fotógrafo brasileiro Bruno Morais. Ele fez uma exposição no local, que retratou a religiosidade de matriz africana. Na sua fala fez crítica ao momento fascista no Brasil e a quebra de uma placa de rua, de uma líder, Marielle Franco, uma violência contra o corpo negro. Ele destacou o momento de escravidão do Brasil e que o fim foi camuflado, já que os fazendeiros precisavam de mão de obra barata. Outro momento da história foi a reforma do prefeito Pereira Passos, onde não se podia ter imagens africanas, andar descalço e praticar capoeira. “Até hoje, essas imagens africanas estão presas num quartel da polícia. Hoje, a violência contra o negro é visível nas favelas, com operações policiais que sempre acarretam em balas perdidas, e atingem, na maioria das vezes, pessoas pobres, mulheres e negros”, afirma.

O encerramento da manhã foi com a mesa “O Poder da Sátira Jornalística”. Falou-se que a caricatura é a válvula de escape, que precisa ser valorizada, pois usa investigação jornalística. A sátira contribui para o debate público e o exercício democrático. É um gênero jornalístico que participa da crítica política. À tarde, acompanhamos a mesa “Rotas de Conflitos”. O jornalista Óscar Parra mostrou sua criação, em conjunto com uma equipe, de uma plataforma que estuda casos de massacre na Colômbia. “Para se avançar no estudo dos conflitos armados é indispensável o estudo de dados e aprofundamento na reconstrução da memória. O projeto narra histórias da vida, a partir dos testemunhos e dados captados. É um projeto jornalístico sobre a situação de conflito. Um dos dados é que na Colômbia aconteceram 728 massacres ocorridos de 1982 a 2013. Numa só cidade foram 34 massacres. A equipe conseguiu o depoimento de 40 sobreviventes e familiares, histórias valiosas de vida. “É importante se criar ferramentas para estudo de dados da violência. A divulgação dos fatos pelo jornalismo é importante para a efetivação de dados”, conclui.

Das 23 palestras oferecidas no Jardim Botânico de Medellín, acompanhamos 14 delas. Com o encerramento das mesas, ficou marcada a fala do jornalista mexicano, Daniel Moreno. “Nossa profissão é uma metodologia. O jornalismo é mais do que uma inspiração de vida. É bonito o amor à profissão, mais precisamos mais do que isso, é necessário lembrar que somos servidor do leitor. O jornalismo é um princípio de vida, e, por isso, não podemos mentir, temos que ter o respeito ao leitor, só assim poderemos olhá-lo de frente”, finaliza.

Os momentos finais do intercâmbio

No sábado, dia 6 de outubro, o grupo visitou uma feira de produtos locais, a intenção era conhecer a cultura dos artesãos, que deixavam expostos os seus trabalhos. Na parte da tarde, ocorreu a visita ao Carabantu/Cepafro, instituição que defende a cultura afrodescendente em Medellín. Fomos recebidos por Milo Castilho, Cristian Lewis, Angela Jimemez, Ramon Perea e David Cabezus. A instituição declarou que no país há muito racismo, é preciso uma luta constante. O trabalho é feito nas comunas e em cinturões de misérias. O grupo criou o primeiro sindicato de mulheres negras domésticas. Também foi feito um estudo para se identificar povoados de negros e a presença de 4.500 indígenas em Medellín. Para o incentivo ao resgate da história e da cultura, a instituição exibe filmes afro e proporciona cursos de fotografia e cinema.

No domingo, dia 7 de outubro, já de malas prontas, o grupo ainda arrumou um tempinho para apreciar a cidade. A metade retornou a Comuna 13, que conheceram no primeiro dia, o objetivo era entender a economia local. O restante do grupo visitou o Museu Casa De La Memória, que tinha a Exposição Memórias Vivas. Ela faz refletir sobre momentos de violência e violações dos direitos humanos, que fazem parte da história da Colômbia. O museu retrata o desaparecimento de pessoas, as mortes de indivíduos anônimos, de professores e jornalistas. Ressalta que violência traz traumas para todos os envolvidos.

O que cada um dos oitos comunicadores sentiu no intercâmbio pode ser entendido pelas palavras de Michele Silva, do Fala Roça. “Essa experiência abriu meus olhos para as questões da América Latina e como elas são parecidas com as questões do nosso país, seja sobre violência ou sobre cultura, tudo é muito parecido. Me sinto mais parte de um continente do que de um único país desde então, e quero continuar participando de ações que integrem mais povos, como essa”, reflete.

Revelações da Maré em 2018

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Maré de Notícias #95 – Dezembro de 2018

Conheça pessoas, organizações e movimentos que fizeram a diferença na Maré neste ano

Por: Jéssica Pires

A capacidade de a Maré se reinventar para garantir o acesso a direitos básicos nós conhecemos bem, mas, por vezes, deixamos “passar batido” coisas incríveis que produzimos.  Na nossa última Edição de 2018, resolvemos dar o devido reconhecimento a profissionais, organizações e pessoas comuns que, dentro de seu segmento de atuação, trabalharam duro e fizeram a diferença neste ano tão complexo. Conheça algumas das muitas pessoas que se destacaram na Maré em 2018.

CAUSAS SOCIAIS

Especiais da Maré – mães solidárias em busca de direitos

O Especiais da Maré começou com um desejo da mãe de Pedro, de nove anos, morador do Parque União, que nasceu com paralisia cerebral. Alusca Cristina sempre teve de “correr atrás” para garantir as necessidades especiais do filho. Com isso, percebeu quantas outras mães passavam pelas mesmas questões e desafios que ela. Alusca e mais seis jovens mães da Maré estão à frente de um grupo de 110 mães de crianças e jovens especiais, que se organizam para ajudarem umas às outras. E elas têm um grande objetivo: garantir que um Centro de Reabilitação passe a funcionar na Maré. Coragem e garra é o que não faltam a essas grandes mulheres.

“É o início de uma caminhada longa, mas com vitórias. Não será fácil trazer para Maré um centro de reabilitação, mas não iremos desistir. Está sendo uma grande conquista poder dividir com tantas mães tudo o que eu consegui para meu filho. Nosso maior retorno é conseguirmos tirar uma criança de casa com sua mãe e ver essa mãe indo atrás dos direitos que o filho tem”.

 

ATIVISMO

Andreza Jorge – ativista da Maré

Andreza Jorge é ativista e escritora. Atua em projetos sociais voltados para questões raciais, equidade de gênero, empoderamento feminino, diversidade e sexualidade há mais de 10 anos. É coordenadora pedagógica da Casa das Mulheres da Maré, coordenadora e idealizadora do Projeto Mulheres ao Vento. Em 2018, conquistou o Prêmio da Revista Claudia, o maior da América Latina, na categoria “Revelação”.

“Toda minha vida foi dedicada ao desenvolvimento de trabalhos sociais não só no meu território, mas em diferentes espaços de favelas e periferias. No entanto, hoje posso dizer que consegui afinar meu desejo pessoal com o profissional, ao unir o trabalho social à arte e às agendas que mobilizam e impulsionam a mover estruturas de desigualdade”.

 

COMUNICAÇÃO

data_labe – organização que trabalha com dados e narrativas na favela da Maré

Dados, narrativas, jornalismo e favela. O data_labe se define como um “laboratório de dados”. Localizado na Nova Holanda, é composto por jovens de diversos bairros da cidade. A organização produz oficinas, reportagens e projetos com base em dados para entender melhor a cidade e as políticas públicas com foco nas favelas e seus moradores. Este ano, o grupo produziu matérias sobre a comunidade angolana da Maré, mulheres encarceradas, visibilidade lésbica e fake news, entre outras.

“Para nós, esse reconhecimento é uma honra! Acreditamos que a Maré está no centro dos debates mais importantes pra cidade. Sonhamos com um Rio mais justo, onde a favela e seus moradores sejam reconhecidos como parte fundante da cidade e mereçam os mesmos direitos que todos”. (Compilação dos depoimentos da equipe do data_labe).

EMPREENDEDORISMO

Wallace Costa – “O Rei das Unhas”

Foi fazendo a unha de uma amiga que Wallace Costa, o manicuro da Kelson, descobriu o gosto e o talento para a função. Quando percebeu que a profissão poderia lhe render frutos, Wallace deixou qualquer preconceito de lado e começou seu caminho como empreendedor. No início, eram de quatro a cinco clientes por semana, que ele atendia em um espaço cedido por um vizinho. Com o tempo, sua linha de serviços se expandiu: atualmente também aplica unhas de porcelana moldada, banho de gel, design de sobrancelhas, e ainda ministra cursos.

 “Ser revelação do empreendedorismo na Maré em 2018, pra mim é mais uma motivação para continuar e saber que estou indo pelo caminho certo. Se já cheguei até aqui, acredito que falta pouco pra chegar ainda mais longe, porque o sonho não para”.

ESPORTE

Rebeca de Lima Santos – boxeadora

Rebeca de Lima é uma das jovens que passaram pelas aulas de boxe da Organização Luta pela Paz. Porém, entre muitas de todo o Brasil, foi a primeira a conquistar medalha em um campeonato mundial juvenil. Seu interesse pelo esporte surgiu aos 7 anos, ao ver outras meninas treinando na Vila Olímpica da Maré. De lá pra cá, foram muitos treinos e também conquistas: a jovem já acumula o Campeonato Nacional de Boxe (2016), um cinturão de ouro na IV Copa Internacional de Boxe (2018, Guayaquil/Equador) e Medalha de Prata no Campeonato Continental (2018, Estados Unidos).

“O peso é tão grande que, às vezes, penso que não sei a grandiosidade da imagem que represento. Ouvir uma criança dizer que quer ser como você quando crescer é algo maravilhoso, pois elas são puras. É muito importante que se tenham exemplos a serem seguidos, histórias interessantes e surpreendentes para motivar, de pessoas que vivem uma vida não muito diferente da sua, que vieram do mesmo lugar que você”.

 

LITERATURA

Matheus de Araujo – poeta

Matheus de Araujo é da favela Rubens Vaz, estudante de Letras-Literaturas na UFRJ e teve seus poemas publicados na antologia poética “Poesias Flup Pensa 2016” e “Seis temas à procura de um poema”, em 2017, também na Festa Literária das Periferias. Este ano, lançou o livro “Maré cheia” e participou da programação oficial da 16ª Feira Literária Internacional de Paraty, a FLIP 2018. Além disso, é baterista, fotógrafo, amante do basquete e da dança e suas principais referências são os poetas negros.

“Ser uma revelação da Maré para a própria Maré é alçar voos por esse mundo sem esquecer da própria raiz. É poder falar dos nossos valores, nossa cultura, nossa própria história e mostrar para nós mesmos que nossa força sempre foi maior. Se existimos hoje, mesmo depois de décadas de chacinas autorizadas, é porque essa força é maior, sabemos o que é agir”.

MEIO AMBIENTE

Val – gari

Valdenise Brandão Ferreira é gari há 10 anos. Desses, e dois anos e meio na Maré. Ela planta, faz arte nos pneus e tudo o que está ao seu alcance para a transformação dos espaços públicos e do meio ambiente na Maré. Val é moradora de Belford Roxo, conta que antes mesmo de entrar para a Comlurb já se preocupava com as questões ambientais e considera que, principalmente, as favelas deveriam receber mais atenção.

“A Maré precisa de uma atenção melhor em relação à reeducação ambiental e a projetos como esses de plantio. Ela é carente de informação, tendo em vista que aqui é um dos únicos bairros onde tem coleta diária. Se colocassem árvores frutíferas ou hortas na margem do Rio, seria ótimo”.

MODA

Alessandro Fêrcar – modelo, bailarino e turbanista

Ainda pré-adolescente, Alessandro Fêscar descobriu a dança e nela identificou uma forma de autoexpressão, conhecimento e realização e se tornou bailarino afro. Atualmente, além de bailarino, trabalha como modelo e turbanista. A arte de confeccionar turbantes começou por volta de 2013, quando viu pela primeira vez uma pessoa usando o adereço, em um bloco afro na Lapa.

“Como parte desta “missão” que eu mesmo me coloquei, em toda a oportunidade que posso, incluo no meu trabalho algo que represente não só a mim, mas aos meus, para que outros possam reconhecer no meu trabalho os seus próprios corpos. Moda é representatividade, e quando não precisamos fazer com que se torne [moda]”.

MÚSICA

MC Natalhão

Seu envolvimento com o rap começou em 2014, quando participou das batalhas de rima na Roda Cultural de Bonsucesso. A rapper da Maré já participou da organização da Roda Cultural do Parque União, do Coletivo CJG e do Coletivo 226. Além disso, Natalhão é responsável pelo projeto social Maré de Rimas e já subiu no palco ao lado de nomes como Mos Def (de quem abriu o show com o coletivo Brutal Crew, responsável pela Batalha do Real) e Black Alien.

“Nossos sonhos são possíveis e na Maré há uma infinidade de pessoas talentosas que se perdem no caminho, às vezes por necessidade ou por não terem a oportunidade de exercitarem o melhor de si.É como se eu gritasse por todas essas pessoas que tiveram seus sonhos ceifados. A favela é o centro do universo, e ser revelada aqui dentro significa muito pra mim”.

Começa a contagem regressiva para 2019

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Foto: Douglas Lopes

Maré de Notícias # 95 – Dezembro de 2018

Conheça histórias de pessoas que não abrem mão de passar a festa na Maré e também as opções oferecidas

Por: Maria Morganti

Há quem diga que demorou para passar. Mas tem quem discorde e diga que mal piscou os olhos e o ano já está acabando. O que é praticamente unânime é que, com a chegada do último mês do ano, além do Natal, dos comes e bebes, todo mundo quer saber o que fazer na virada do ano. Grandes festas de Réveillon como a de Copacabana, que conta sempre com a presença de grandes artistas como a cantora Anitta, que levantou a multidão no último Réveillon, costumam reunir milhões de pessoas. No entanto, há quem não abra mão de passar a virada, aqui, na Maré. Seja para evitar o perrengue do trajeto, de ônibus e metrô lotados, seja por não gostar de muvuca, ou simplesmente porque quer fazer sua própria festa, perto da família e dos seus amigos.

“Família sem limite”

Esse é o caso da família Jesus Rodrigues, “cria” da Nova Holanda. “A família sem limite”, adjetiva, rindo, Ana Jussara, uma entre sete irmãos que há anos organiza a festa de passagem de ano que vai – fácil – até a manhã do dia 1º do ano, com a participação de mais de 20 pessoas, entre pais, irmãos, filhos, sobrinhos e agregados, na casa da matriarca. “Os agregados não podem faltar”, confessa Jussara. A família que tem fama de festeira (“eles fecham a rua”, comenta um vizinho), tem até um kit para datas comemorativas como o ano novo: são três barracas três por três [metros], um aparelho de som, dois forninhos elétricos para esquentar a sopa, os caldos, e a churrasqueira. As mesas e as cadeiras, normalmente são alugadas.

Do outro lado da Maré, outra moradora que não abre mão de passar o Réveillon no bairro é a vendedora de 21 anos, Geovana de Oliveira da Cunha, “cria” do Piscinão de Ramos. “Eu prefiro passar o Réveillon no Piscinão que em outros lugares. Aqui eu não preciso pegar condução, não preciso sair cedo. E quando eu vejo que os fogos acabaram, eu venho pra casa, faço a ceia com a minha família. E quando uma pessoa vai pra fora, já vi experiências como a do meu avô, de ir pra Copacabana, que tem de ir cedo por causa do metrô, e na hora de vir embora, é horrível, não tem condução suficiente. Por isso, eu prefiro ficar aqui”.

                A Riotur, empresa de turismo do município do Rio de Janeiro, organiza o evento da virada com queima de fogos e shows na Avenida Guanabara, no Piscinão de Ramos. Até o fechamento desta reportagem, a programação para a festa da virada de 2018 para 2019 ainda não estava disponível. Ano passado, passaram pelo palco do Piscinão DJs, a dupla Lucas & Orelha, escolas de samba como a Acadêmicos do Grande Rio e a Beija-Flor de Nilópolis, e o grupo de pagode “Tá na mente”.

Programação Réveillon na Maré

Baile de Réveillon no Parque União

Dia: 31/12

Horário: a partir das 17h.

Local: Na Principal, na altura da Rua Ari Leão.

Baile de Réveillon na Nova Holanda

Dia: 31/12

Horário: a partir das 17h.

Local: Na Principal, na altura da Rua Sargento Silva Nunes.

Baile de Réveillon na Vila do João

Dia: 31/12

Horário e local ainda não definidos

 

Missas
Paróquia Sagrada Família

Dia: 31/12

Local: Rua Tancredo Neves, s/nº – Nova Holanda.

Horário: 19h

 

Paróquia São José operário

Dia: 31/12

Local: Via A1, nº 150 – Vila do Pinheiro

Contato: (21) 3868-1056

Horário: ainda não definido

 

  • Consultadas, instituições de outras vertentes religiosas não forneceram informações sobre cerimônias e cultos até o fechamento desta Edição.

Origem do Réveillon

Segundo o dicionário de símbolos, o Réveillon é uma palavra de origem francesa usada para denominar a passagem de um ano para o outro. Em muitas culturas, como a nossa, a virada do ano é festejada e simboliza recomeço, renovação, renascimento.

“No calendário gregoriano, o ano novo se inicia no dia 1º de janeiro. Nas culturas ocidentais que seguem o calendário gregoriano, o Réveillon é comemorado no dia 31 de dezembro, último dia do ano”.

Por aqui, grande parte das superstições tem origem africana. Nesta época, muitos fiéis e simpáticos de religiões como umbanda e candomblé oferecem flores, velas, perfumes e outros objetos à Iemanjá, considerada a Rainha do Mar.

O que esperar dos políticos

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Maré de Notícias #95 – Dezembro de 2018

Se não sabe, leia esta reportagem com muita atenção. Assim, você poderá cobrar dos políticos em quem votou as atribuições que lhes foram delegadas por seus eleitores

Por Hélio Euclides

 

O ano de 2018 teve Copa do Mundo de Futebol, mas também foi marcado por eleições que definirão o futuro da nação. Elegeram-se Presidente da República, senadores, governadores, deputados federais e estaduais, que assumem os seus cargos no primeiro dia de 2019. Mas será que sabemos as atribuições de cada cargo político?  Para Edvaldo de Oliveira, morador da Vila do Pinheiro, a resposta é não. Segundo Edvaldo, é preciso ter mais conhecimento sobre os cargos políticos. “Falta informação na sociedade. A população precisa entender o papel dos âmbitos municipal, estadual e federal. Se eu tenho um problema do esgoto, não adianta ir à Prefeitura, se a questão é da Cedae, um Órgão estadual. Para reverter isso, é preciso que as pessoas que entendem de lei, como as [pessoas] dos gabinetes, para informar, e assim surgirem multiplicadores de qual a esfera certa que o cidadão deve procurar”, sugere.

Philippe Guedon, cientista político, entende que o conhecimento sobre os cargos em disputa e as suas responsabilidades é escasso. “É dado pela cultura de distanciamento da política, do entendimento equivocado, de que a política não se faz presente no cotidiano do cidadão. Não é incomum que os eleitores não se lembrem em quem votaram nas últimas eleições”, avalia.

Por outro lado, ele acredita que há mudanças importantes: “a morte da vereadora Marielle Franco demonstra, ainda, que há incômodo de setores sociais com a insurreição de movimentos reivindicatórios por direitos das classes minoritárias na política. A resposta das urnas, com eleição de mulheres negras e com corte de renda, reforça a ideia de que a representação desses setores é um caminho inevitável de reconhecimento da política como caminho viável e que, agora, chegaram para ficar e reafirmar a necessidade de ocupar esse espaço. Muito saudável para a nossa democracia e para nossa sociedade”.