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Deixa na régua

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O que é e o que tem o “Corte do Jaca”, estilo que saiu da favela e ganhou o mundo

Em 01/11/2018 – Por Maria Morganti

Página bombada nas redes sociais, vídeo “viralizado”, tema de filme, barbearias sempre lotadas. O “Corte do Jaca” saiu da favela e já ganhou a cabeça do mundo. Mas o que será que tem de especial o tal “disfarçadinho”? Quem usa? Como é? Quem faz? No “Salão do K-Beto – entra feio sai bonito”, na Nova Holanda, estão as respostas para todas essas perguntas. Segundo K-Beto, como gosta de ser chamado, barbeiro há mais de 20 anos, a procura é tanta que chega a atender de 40 a 50 pessoas por dia. Ele conta que todos os clientes – que mantêm a frequência semanal – pedem o corte estilo “disfarçadinho”.

Para alguns, o corte nasceu no Jacarezinho, favela da Zona Norte, por isso o nome: “Corte do Jaca”. Para outros, como K-Beto, o estilo começou a fazer sucesso em 2004. Lucas Lima, um dos administradores da página no Facebook “Eu mando o Corte do Jaca”, criada em 2012 para divulgar os cortes e com mais de 500 mil seguidores, defende a primeira tese e afirma que quem criou foi o “Barbeirinho do Fundão”, uma localidade do Jacarezinho. Bom, seja lá qual for o criador, o que não falta é gente atrás do “Corte do Jaca”. “Bem graduado, com uma boa finalização, com tintura ou não”, define Lucas como seria um corte perfeito.

Nas telas do cinema

“O barbeiro da maioria dos jogadores de futebol é de comunidade”, revela Lucas.
Além da cabeça dos craques, o tipo de corte também ganhou as telonas. O cineasta Emílio Domingos estava gravando o seu primeiro filme, “Batalha do Passinho”, de 2011, quando algo despertou sua curiosidade:  “todos os dançarinos do passinho tinham o ‘Corte do Jaca’ e aquilo me chamou atenção. Muitas vezes, eu tentava me encontrar com os dançarinos na sexta-feira, e eles nunca podiam, porque iam ao barbeiro e eu ficava intrigado com aquilo. Aí, eu vi que o salão era um lugar muito interessante, onde ficavam vários jovens conversando sobre a vida, sobre tudo, não só cortando cabelo. O filme não é sobre o ‘Corte do Jaca’, mas ele permeia o filme todo”.

 Vaidade masculina

Em pesquisa sobre o mercado de beleza masculina realizada, em 2016, pela Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC), 45% dos homens se declararam vaidosos. Alison Willian Fidelis é um desses que mantém um ritual de cuidado religioso. Faz hidratação no cabelo duas vezes por semana, atualiza o corte “em dégradé” e o cavanhaque semanalmente na barbearia, além de ter cuidados com a pele, como limpeza facial. E se não conseguir se cuidar por algum motivo?  “Me sinto feio e desleixado”, confessa.

Boom de barbearias

O Censo de Empreendimentos da Maré, realizado em 2013, confirma o aumento cada vez maior e a solidificação de negócios envolvendo a vaidade masculina. A categoria “beleza e estética” teve o segundo maior número de empreendimentos de toda a Maré, 307, perdendo apenas para o número de bares, 660. Isso antes do boom de barbershops, espécie de barbearia com oferta de bebidas como cerveja, venda de roupas e outros artigos de beleza masculina, ressalta o coordenador geral do estudo, Dalcio Marinho. “A onda que fez proliferar os chamados barbershops na Maré, e em toda a cidade, é bem recente. Quando o Censo de Empreendimentos da Maré foi realizado, em 2013, ainda não havia tantos como se vê atualmente. A quase totalidade dos estabelecimentos do ramo era de barbearias comuns, daquelas mais convencionais. Havia 33 empreendimentos na Maré que eram denominados como barbearias por seus proprietários. Mas a barba também era cuidada em pontos comerciais, que são chamados de salão de cabeleireiro, o que nos leva a admitir que o número de pontos com este serviço era mais elevado. Não sabemos quantos babershops surgiram nos últimos anos na Maré. Só uma nova pesquisa poderia revelar. Mas é certo que o número de barbearias aumentou bastante com essa tendência, que responde a uma nova demanda dos homens em relação à aparência”, afirma.

Galpão do Banco do Brasil na Marcílio Dias é leiloado

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Maré de Notícias #94 – 01/11/2018

Moradores do entorno que tiveram suas construções removidas foram encaminhados à Defensoria Pública

Eliane Salles

O imóvel de cerca de 20 mil metros2 do Banco do Brasil, localizado na Marcílio Dias, foi arrematado em setembro, segundo informações obtidas em um site especializado em publicação de editais, por uma empresa de reprografia de publicações e livros, por cerca R$ 1,3 milhões. O leilão foi realizado uma semana após 25 casas de alvenaria, que estavam sendo construídas no entorno do galpão, terem sido derrubadas por agentes da Prefeitura. Antes da remoção, havia no local, conhecido como Favela do Arroz, 59 barracos (alguns de alvenaria, outros de madeira); alguns abrigavam famílias de até quatro pessoas. “Minha casa estava quase pronta. Os funcionários da Prefeitura disseram que não podia construir no local, mas não tinham ordem de despejo. Ainda falaram para os que ficaram sobre o prazo de dois meses para sair, e inventaram a mentira de que a Associação sabia da operação”, diz Simone do Nascimento, de 31 anos.

De acordo com a Associação de Moradores da Favela Marcílio Dias, não havia funcionamento regular no galpão, apenas a circulação de vigilantes e seguranças de uma empresa privada e nem a Associação nem os moradores foram notificados da remoção das construções. “A Prefeitura veio com a Guarda Municipal e policiais, para derrubar os barracos. O absurdo foi que informaram aos moradores que teriam notificado a Associação. Isso foi uma calúnia! Fomos ao local com um advogado que pediu algum documento que autorizasse a desocupação. Eles não apresentaram nenhum papel e, na mesma hora, foram embora”, conta Jupira de Carvalho dos Santos, presidente da Associação de Moradores de Marcílio Dias.

 

Acesso à Justiça

Acompanhados por representantes da Redes da Maré, 20 moradores (dez em cada reunião) foram atendidos pelo Núcleo de Terras e Habitação da Defensoria Pública do Estado (NUTH), especializado em remoções. O Núcleo informou que, do ponto de vista legal, casas em construção em lugar irregular não configuram direito à moradia (usucapião) e que, portanto, aqueles moradores não poderiam ser atendidos pelo Núcleo. Na ocasião, foram orientados que procurassem a Vara de Fazenda Pública, onde poderia ser avaliada a possibilidade de indenização por danos materiais. Aos moradores que tinham suas casas construídas e que já residiam no local, o NUTH sugeriu que aguardassem uma possível notificação de remoção.

O acompanhamento dos moradores à Defensoria Pública faz parte de um processo de orientação que a Redes, por meio de seu Projeto Maré de Direitos, vem dando aos moradores da Maré, que alegam terem tido suas casas demolidas pela Prefeitura sem mandado ou notificação prévia. O Projeto Maré de Direitos busca garantir e ampliar o acesso a direitos e interferir em práticas sociais que dificultam o acesso à Justiça.

Resistir é preciso

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Maré de Notícias #94 – 01/11/2018

Espaços culturais da periferia lutam pela existência e iniciativas públicas têm sido fundamentais para que a população da periferia tenha acesso à cultura.

Hélio Euclides

O acesso à cultura ainda é privilégio de poucos. Enquanto o Centro e a Zona Sul da cidade concentram as mais variadas opções de lazer, a população da periferia tem de usar a criatividade ou enfrentar muitas horas de transporte público para usufruir do direito à cultura. Para resistir a essa situação, os próprios moradores e instituições da periferia arregaçam as mangas para prover de cultura a população. A única alternativa têm sido os espaços pertencentes à Prefeitura ou que contam com seu apoio financeiro.

Apesar das dificuldades, as manifestações artísticas da periferia são ricas e, mesmo sem os espaços físicos tradicionais, pessoas engajadas tentam promover transformações sociais pela arte. Uma dessas pessoas é Adailton Medeiros, do Ponto Cine, um projeto de difusão do Cinema brasileiro, por meio de ações sociais, incluindo cursos, diálogos e festivais que, por falta de recursos e apoios, interrompeu as atividades por nove meses, reabrindo somente em 11 de outubro deste ano. “Estamos distantes dos cartões postais do Rio. Ainda sofremos por falta de empenho não só do poder público, mas também do setor privado. Cultura deveria ocupar sempre um lugar de destaque nos programas de desenvolvimento do País”, diz.

O Ponto Cine começou com um projetor de lente de cristal líquido que Adailton comprou, montando o primeiro espaço de exibição, a Casa de Artes de Anchieta. Mas logo o espaço ficou pequeno e foi então exibir filmes nas calçadas, praças, ruas e escolas. Até que, com um grupo, montou a Lona Cultural Carlos Zéfiro e levou o cinema para as lonas. Participou do Projeto CinemaBR em Movimento e, numa das exibições alternativas na praça de alimentação do Guadalupe Shopping, foi convidado, pela administração, para montar uma sala no local. Atualmente, o Ponto Cine é o cinema mais premiado do Brasil e um dos mais estudados por faculdades e universidades. Um modelo original e único.

Para Egeu Laus, coordenador de Economia Criativa da Secretaria de Cultura e Turismo de Duque de Caxias, é muito importante levar cultura a regiões periféricas. “Historicamente, sabemos que as periferias são centros potentes de produção cultural. Daí surgiram duas frases emblemáticas que circulam entre operadores culturais dessas regiões:  “toda periferia é um Centro e periferia não é carência, periferia é potência”, afirma. Para Egeu, o principal problema é que essas regiões ainda são pouco assistidas pelo poder público.

Iniciativas na Maré

A Lona Cultural Municipal Herbert Vianna foi aberta em 2005, com um show da banda Paralamas do Sucesso. Em 2009, a Redes da Maré assumiu a cogestão da Lona, numa parceria com a Secretaria Municipal de Cultura. O equipamento oferece espetáculos artísticos, cursos, oficinas e palestras. Na Lona, funciona também a Biblioteca Popular Municipal Jorge Amado. “É um espaço para crianças, que aprendem e se divertem. Além de diversão, é de graça, felicidade em dobro. Se não existisse esse ambiente, as crianças iam ficar na rua, como antes. É um lugar eclético, com circo, rock, funk, samba e teatro”, detalha Hudson Alves, pescador e morador da Nova Maré.

Com um público anual de 6 mil pessoas, a Lona conta com apresentações mensais como o Favela Rock Show, com bandas independentes do cenário carioca, levando sempre um grande público à Lona. No teatro, o destaque recente foi a encenação do espetáculo “O Pequeno Príncipe Preto”, que teve lotação máxima, com presença de crianças da Rede Municipal de Ensino. A Lona dispõe, ainda, de atividades principalmente voltadas para a arte e a educação, como oficinas de complementação pedagógica, iniciação musical, robótica e educação ambiental.

Aberto em 2009, o Centro de Artes da Maré (CAM) se encontra num galpão de 1,2 mil metros2 próximo à Avenida Brasil, na Nova Holanda. O Ponto de Cultura é fruto da parceria entre a Lia Rodrigues Companhia de Danças e a Redes da Maré, idealizado para a criação, formação e difusão das artes. “O importante, para nós, é a afirmação da dificuldade da manutenção de atividades de um espaço cultural sem apoio, bem como da importância das leis de incentivo nesse sentido e do entendimento dos apoiadores na valorização da arte e da cultura”, ressalta Isabella Porto, coordenadora da Escola Livre de Dança da Maré. O espaço vem se constituindo numa referência genuína para romper com a segmentação existente entre os diferentes territórios da cidade no campo do direito à arte.

Além de local de eventos, o CAM oferece oficinas – no momento são sete de dança e uma de teatro – atendendo a todas as faixas etárias. No CAM, há projetos da Escola Livre de Dança da Maré, que funciona desde 2011. Um ano depois, veio o Teatro em Comunidades, em parceria com a UNIRIO. “São ações continuadas promovidas no espaço. Além disso, há cineclube, shows musicais, debates, aulas públicas realizadas em parceria com diferentes parceiros”, lembra Isabella. Ela destaca a parceria com Lia Rodrigues, que realiza sua residência no local e um corpo de bailarinos cria e ensaia trabalhos, diariamente.

Alguns dos destaques do CAM foram a realização da Temporada Maré de Artes Cênicas, a estreia dos espetáculos da Lia Rodrigues Cia de Danças, entre eles: “Pororoca”, “Para que o Céu não Caia”, entre outros; o projeto “Ocupação”, com a apresentação da CIA Marginal, oficinas de Azulejaria e show da cantora Céu.

O Pontilhão Cultural, por sua vez, é tocado por um coletivo local e faz uso criativo do espaço debaixo da Linha Amarela. A iniciativa transformou, com sucesso, esse local de prática de esporte num point para eventos artísticos e culturais, que é usado por grupos de jovens em alguns finais de semana. No local, já ocorreu show de Frank Aguiar e diversos eventos dos funks das antigas, tudo a preços populares. Durante a semana, há atividades de lazer, como skate, escolinha de futebol, ginástica e outras práticas esportivas.

 

 

Casa das Mulheres da Maré completa dois anos

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Maré de Notícias #94 – 01/11/2018

Atendimentos psico-sociojurídicos e cursos profissionalizantes já beneficiaram mais de 400 mulheres

A Casa das Mulheres da Maré acaba de completar dois anos com muitos motivos para comemorar. O espaço já realizou cerca de 400 atendimentos tanto nos serviços sociojurídicos, com advogadas, assistentes sociais e psicólogas, como nos cursos profissionalizantes de cabeleireiro, o “Maré de Belezas”, e o de gastronomia, o “Maré de Sabores”. Porém, o mais importante: a Casa é, para muitas mulheres da Maré, uma referência quando se pensa em um lugar de trocas de experiências, acolhimento e interação – e isso não pode ser quantificado.

Ana Maria de Oliveira Silva, de 44 anos, e moradora do Parque União desde os 8, é uma dessas mulheres. Ela, que frequenta o espaço desde a inauguração, conta que o lugar é um “refúgio”, e que depois que passou a frequentar a Casa, pôde “abrir a mente”. Ana Maria fez cursos de gastronomia e já se inscreveu no de cabelereiro, mas, pelo que diz, sua relação com a Casa vai muito além disso. “Eu adoro estar na Casa das Mulheres. É gostoso, aconchegante. Elas nos recepcionam hiperbem. Fora as aulas que nós temos. Principalmente as de gênero, que eu acho que, pra muitas, inclusive pra mim em alguns casos, foi bom pra ir pegando um pouco mais de informação. Eu era muito rígida de pensamento. Agora, a mente vai abrindo um pouquinho e eu consigo ser mais maleável”.

Além da própria experiência, Ana conta que conhece três mulheres que eram muito “desanimadas” e que, depois de frequentarem a Casa das Mulheres, passaram a ser “mais ativas, mais felizes”. Pra mim, a Casa das Mulheres é como se fosse uma terapia”, afirma.

Profissionalização e trocas

Segundo Andreza Jorge, coordenadora pedagógica da Casa e ganhadora do Prêmio Cláudia 2018 na categoria Revelação, todos os cursos profissionalizantes que acontecem na Casa das Mulheres sempre são acompanhados de aulas teóricas que associam temas relacionados à mulher na sociedade. Fora a realização das rodas de conversa.  “A ideia das rodas de conversa abertas e espontâneas é que elas aconteçam de dois em dois meses, sempre com um tema que também vai estar aliado a um calendário anual, uma data importante que marca alguma luta das mulheres e aí a gente convida pessoas para facilitar um bate-papo, composto pelas próprias alunas da Casa e outras mulheres que sempre venham aqui pra trocar”, explica.

Balanço de dois anos

 “É a realização de um sonho que era sonho mesmo e virou realidade”, conta Shirley, relembrando o tempo de idealização da Casa. Olhando para trás, a coordenadora avalia que o balanço do trabalho é positivo. “De fato, existe uma demanda muito grande de mulheres por um espaço não só que elas possam aprender alguma coisa, mas que possa ajudar a gerar renda para si mesmas, e também um lugar de acolhimento, de criação de vínculo. Onde elas acessem a Justiça com uma advogada, onde elas acessem uma assistente social. A nossa ideia é entender o que aquela mulher traz, precisa e quer, tentar encaminhá-la pra outro serviço, se esse for o desejo dela, ou incorporá-la à Casa por outras vias”.

Segundo Shirley, o atendimento interdisciplinar é um dos diferenciais mais importantes para as mulheres atendidas ou que simplesmente frequentam a Casa. “Às vezes, a queixa principal da pessoa é voltada para o direito, tem muita essa coisa do enfoque do direito, da advogada, da coisa legal. Mas, às vezes, você vai ver, o direito é o menor dos problemas dela”.

Para a coordenadora, todo o trabalho vale a pena quando vê a mudança no olhar das mulheres. “Elas descem com um sorriso de orelha a orelha, com uma cara, numa felicidade, numa alegria. Tudo vale a pena quando eu vejo o olhar delas mudar. Trabalho o ano inteiro pra isso mesmo”, conta, satisfeita.

Maré de Sabores e afetos

Parte do sonho realizado, ao qual Shirley se refere, é o que hoje se transformou no buffet comercial “Maré de Sabores”, que nasceu, antes mesmo da Casa das Mulheres, por iniciativa das primeiras mulheres formadas pelo projeto desenvolvido pela Redes da Maré, também chamado Maré de Sabores. Com oito anos de existência, a Empresa Maré de Sabores já serviu 40 mil pessoas em mais de 2 mil eventos, gerando renda direta para mais de 200 mulheres da Maré. “A gente imaginava que a formação em gastronomia ia fazer com que as mulheres tivessem autonomia, ou que elas se reconhecessem como lideranças nos empreendimentos comerciais da Maré e que elas pudessem ter esse tino de abrir seus próprios negócios. É um serviço que rompe com os estigmas da favela. A gente acaba levando para outros espaços essa potência e fazendo com que as pessoas experimentem essa potência. Isso é uma grande experiência”, conta a coordenadora da Empresa Maré de Sabores, Mariana Aleixo.

O Buffet Maré de Sabores funciona no 1º andar da Casa das Mulheres. Lá, são elaboradas as delícias que conquistaram a Maré e a cidade. O 2º andar da Casa é reservado para a cozinha-escola, onde, em parceria com a Casa das Mulheres, o buffet realiza oficinas para as mulheres da Maré que desejem aprender a arte da gastronomia. Já no 3º piso da casa, funciona o salão das aulas do Maré de Belezas.

Futuro da Casa das Mulheres

Com motivos de sobra para comemorar, no último dia 27 de outubro, a Casa das Mulheres celebrou os dois anos de existência. A comemoração contou com aula de yoga, barracas de artesanato, brechó e apresentações de dança. Questionada sobre os planos para o futuro, Shirley explica que a ideia é consolidar o espaço como ambiente de discussão. “Uma necessidade vital é manter o que já está acontecendo, a equipe trabalhando, fazer o 4º andar, a horta orgânica. Queremos fazer do espaço mais do que tem sido. E já tem sido coisa à beça. Que possa ser realmente um lugar de discussão sobre o feminismo, sobre a condição das mulheres, do feminismo negro, a condição das mulheres trans, do público LGBT. Então é fazer aquela roda continuar rodando, potencializar isso, e trazer mais mulheres, mais atividades”. Se depender da força das nossas tecedoras e das mulheres da Maré estes e muitos outros sonhos se concretizarão. E em breve.

 

Shirley Viella e Eliana Sousa Silva no momento da inauguração da Casa das Mulheres há dois anos | Foto: Elisângela Leite

A Maré tem drywall

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Saiba mais sobre a técnica que tem mudado a cara das obras da Maré e gerado renda para os profissionais que a dominam

Maré de Notícias #94 – novembro de 2018

Por: Jéssica Pires

A técnica chegou ao Brasil na década de 1970, mas sua presença ainda é discreta nos canteiros de obra. O drywall é composto por placas de gesso e estruturas metálicas. O termo, que em Português significa “parede seca”, surge da pouca utilização de água para sua confecção. E esse é apenas um dos seus benefícios. O método também produz menos entulho em relação à alvenaria, e seus resíduos são recicláveis. Além dos benefícios ecológicos, o drywall também garante mais leveza na estrutura, flexibilidade, rapidez e possibilidade de isolamento acústico e térmico.

De acordo com os profissionais, se o serviço for executado conforme as normas técnicas existentes, não há com o que se preocupar em relação à umidade e à resistência, para citar alguns exemplos. Quanto ao custo que, de fato, é maior que o da alvenaria, Carlos Alberto Anacleto afirma: “se você for comparar o custo x benefício, você vê que vale a pena pela agilidade. Consigo entregar uma obra em três meses em vez de seis. Nesse tempo, o comerciante consegue voltar a lucrar mais rápido ou o morador a deixar de pagar aluguel e voltar pra sua casa”. Carlos Alberto trabalha na área há doze anos e é professor do Curso de Drywall da Redes da Maré.

Engana-se quem associa o rebaixamento de teto ao drywall e acha que essa é a única possibilidade. O sistema serve, por exemplo, para esconder tubulações, engrossar paredes, cobrir aberturas, dividir ambientes e, até mesmo, construir uma casa inteira, incluindo os móveis fixos.

Maré tem profissionais qualificados na técnica

Você sabia que por aqui temos muitos profissionais qualificados que trabalham com drywall? O Curso, promovido pela Redes da Maré com o patrocínio e parceria das empresas Knauff do Brasil e Ireso, acontece desde 2013 e já formou cerca de 150 profissionais.

Flavio Dantas, estudante e morador do Parque Maré, é um dos alunos da atual turma do Curso de Drywall. “Depois que você começa a reparar, você vê que aqui na Maré tem muita gente trabalhando com isso, um mercado de trabalho muito grande”, conta o jovem que já construiu uma parede para dividir cômodos da casa da mãe com os conhecimentos adquiridos no Curso.

Jonatham Pereira e Cleberson Coelho são moradores da Nova Holanda e amigos desde a infância. Atualmente, são sócios e prestam serviços de drywall. Jonatham fez o Curso em 2015, e Cleberson, a convite do amigo, em 2017. Para eles, a princípio, o Curso representava apenas uma tentativa de reinserção no mercado de trabalho. Não imaginavam que a partir dali se tornariam empreendedores: “a gente vive só do drywall hoje e sustentamos nossas famílias com isso”, conta Jonathan.

Segundo os jovens, o que aprenderam no Curso também foi importante para o processo de formalização como microempreendedores, o que hoje garante mais acesso a crédito e a possibilidade de prestar serviços para empresas. “Para ser um microempreendedor são quatro requisitos: não pode ter empresa aberta, não pode ter sócios, não se deve ultrapassar R$ 81 mil de faturamento anual, e tem de ter apenas um ponto de atendimento” esclarece Ana Carolina, consultora do Sebrae, responsável pelos atendimentos realizados na sede da Redes da Maré (leia mais no boxe Benefícios e Obrigações de um Microempreendedor).

Clientes satisfeitos

Ascendino Procópio é morador da Maré e, após a indicação da irmã, contratou profissionais para rebaixarem o teto da sala de sua casa, na Nova Holanda. O aposentado afirmou que o maior benefício da técnica é o fato de não gerar muita poeira. Ascendino, mais conhecido como Dininho, afirma: “minha irmã é extremamente exigente e, assim como ela, fiquei muito satisfeito com a escolha do drywall e dos excelentes profissionais aqui da Maré”.

Benefícios e obrigações do Microempreendedor

Benefícios

  • Sair da informalidade
  • Acessar crédito (ter uma conta jurídica ou máquina de cartão)
  • Comprar materiais com desconto
  • Emitir notas fiscais
  • Contribuir para a Previdência Social (e ter direito a benefícios como a aposentadoria)
  • Isenção de impostos
  • Ter um funcionário de carteira assinada

Obrigações

  • Pagar contribuição mensal. Comércio R$ 48,70; Prestação de Serviços R$ 52,70, os dois R$ 53,70 (R$ 46,70 INSS, R$ 1,00 para quem comercializa e R$ 5,00 para quem presta serviços)
  • Declarar faturamento anual

Para mais informações, acesse www.portaldoempreendedor.gov.br ou vá ao atendimento do Sebrae na sede da Redes da Maré (Rua Sargento Silva Nunes, nº 1012), segundas e terças-feiras, das 10h às 16h. Participe também do grupo no Facebook “Empreenda Maré” para ficar por dentro das dicas do Sebrae, capacitações e formações sobre empreendedorismo e gestão.

Redes da Maré oferece curso de Drywall

A Redes da Maré promove um curso de formação em drywall, com o importante patrocínio e parceria das empresas Knauff do Brasil e Ireso. O Curso é composto por 280 horas e oferece aulas teóricas e práticas. Seu objetivo é propiciar aos jovens da Maré a qualificação técnica e teórica em drywall e gestão, para ampliação de oportunidades profissionais. Com duração de cinco meses, o Curso é destinado a moradores da Maré, de 18 a 30 anos, que tenham o Ensino Fundamental completo. Mais informações: 3105-5531.

Fotos: Douglas Lopes
Ficou interessado no drywall e quer o contato de um dos profissionais formados pelo Curso da Redes da Maré? Ligue: (21) 3105-5531.

Em defesa da democracia

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Em defesa da democracia

Em 23/10/2018 – Diretoria da Redes da Maré

A Redes da Maré nasceu das lutas democráticas dos moradores da favela da Maré. Lutas por educação de qualidade, saúde, moradia e respeito a direitos básicos, como a garantia da vida. Por conta dessa origem e de sua atuação cotidiana, a Redes da Maré vem a público se posicionar diante do atual quadro político/eleitoral brasileiro.

Vivemos um momento dos mais preocupantes. Isso porque o regime democrático brasileiro se vê seriamente ameaçado por uma “onda de autoritarismo” – próxima ao que vivemos com o golpe civil-militar de 1964 – que toma conta das ruas, praças, casas e instituições. O avanço dos discursos e práticas de ódio, efetuados por determinados grupos políticos e materializadas nas ameaças e agressões físicas a oponentes, é prova cabal dos perigos que rondam a democracia brasileira hoje.

Ora, sem democracia e os direitos que ela assegura o que sobra é a “lei do mais forte”. Ou seja, passamos a viver debaixo da força bruta e da barbárie. Diante dessa perspectiva, valores como a liberdade de ideias, a defesa da igualdade, os direitos humanos e a justiça para todos ficam seriamente comprometidas.

O fato é que, em todos os lugares onde não há democracia, quem mais sofre é a população pobre, justamente a que vive nas favelas, no campo e nas periferias das grandes cidades. Os mais pobres são os mais atingidos porque seus direitos, em regimes autoritários, são desrespeitados e suas vidas ficam expostas a violências de toda ordem.

Uma sociedade que abre mão da democracia e aceita o autoritarismo caminha para um abismo profundo. Nesse cenário, candidaturas de políticos que incitam a violência colocam em risco todas as pessoas e instituições – mesmo aqueles que defendem as próprias concepções autoritárias – e joga o país numa espiral de caos social cujas consequências podem ser terríveis.

Não podemos aceitar, sob nenhuma hipótese, que grupos ou candidatos flertem com práticas fascistas – eliminação de adversários, desinformação, incitação à violência e ao ódio – e as naturalizem como armas políticas. Precisamos defender a democracia!

Por conta desse momento histórico tão difícil, a Redes da Maré reafirma seus compromissos com o regime democrático. Defendemos a vida, os direitos humanos, a igualdade, a liberdade de crítica e, acima de tudo, defendemos um país onde as pessoas possam viver em paz, com segurança e compartilhando valores os democráticos.