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Ao mestre, com carinho

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Maré de Notícias #93 – 02/10/2018

Mesmo enfrentando inúmeros problemas, mestres lutam pela educação pública na favela

Hélio Euclides

“…Testemunho que não deve faltar em nossas relações com os alunos é o da permanente disposição em favor da justiça, da liberdade, do direito de ser”. A frase, do educador Paulo Freire, revela o que é ser professor, e diz muito mais, ao docente que mora ou já morou no mesmo local onde leciona. Aqui, na Maré, encontramos vários mestres nessa situação, onde educar é valorizar a qualidade de vida de seus vizinhos.

Alguns professores não são moradores da Maré, mas se tornam residentes “honorários” com o passar do tempo. É o caso de Anna Maria Antunes, diretora da Escola Municipal Armando de Salles Oliveira. Tudo começou com o sonho do pai para que ela exercesse o magistério. “Fiz o concurso, passei e escolhi a Praia de Ramos, porque era próximo de casa. Falei que ia ficar só seis meses e já se passaram 30 anos. Comecei como professora e, com o passar do tempo, veio a direção da Escola. Aqui há uma relação boa de moradores com a escola e posso dizer que fiz muitas amizades”, afirma.

Quem olha para Marcelo Belfort dando suas pedaladas pelas ruas da Nova Holanda não imagina que ele está indo para o Colégio Estadual Professor João Borges de Moraes, onde é diretor. Ele atua, há anos, na sala de aula e relembra o que o motivou a ser um professor: “quando fiz História, foi para entender a minha família, a favela, a desigualdade social e a injustiça. Uma vontade pessoal de interferir, mas nunca me imaginei professor. O meu objetivo fundamental de ser professor é a busca do diálogo”. Ele acredita que um bom professor inspira outros. “Meu termômetro é minha filha que adorava assistir as minhas aulas. E agora segue o caminho: fez graduação em Filosofia e já é mestranda”, orgulha-se.

Para Viviane Couto, diretora-adjunta da mesma escola que Belfort, um bom mestre pode interferir na vida de um aluno. Ela mesma teve uma experiência tão positiva com uma professora, que a homenageou, colocando o nome dela em sua filha. “Minha professora tinha um canal de comunicação muito bom conosco. Ela conseguia entender algumas questões que não entendíamos, e isso nos fazia sentir amparados. Hoje, me inspiro nela e, por isso, fiz essa homenagem”. Para Viviane, é gratificante fazer pequenas revoluções na favela onde mora. “Ver o aluno mudando a perspectiva pela educação é o que nos faz continuar a trabalhar”, ressalta.

 

Atuar aqui não é só dar aulas e nem olhar só para o umbigo; é mais do que só desejar receber o salário no final do mês ou querer que dê tiro para não ir trabalhar. Trabalhar onde mora é entender o ambiente, é desejar uma aproximação, é estar no dia a dia do aluno”. (João Lanzellotti, diretor do CIEP Professor Cesar Pernetta e professor do PEJA na Escola Municipal Clotilde Guimarães e da UNISUAM).

 

A arte de ser professor e morador

Priscila Alves, professora de Filosofia no Colégio Estadual Professor João Borges de Moraes, conta que, na faculdade, entendeu o poder revolucionário da educação. “Decidi que a minha revolução seria na Maré, algo que não é fácil. A partilha do conhecimento, num território onde isso é negado”. Ela se lembra que alguns professores tiveram importância na sua trajetória. “Não me esqueço de Isabel Cristina, da Escola Clotilde Guimarães, que falava: “não é para quem pode, é para quem quer! E isso desabrochou o meu desejo de lecionar”.

“Quando entro em sala, penso em devolver o que aprendi, e que preciso lecionar na favela, no lugar do qual eu venho. Na minha prática, tento trazer para a sala de aula o cotidiano do aluno, como a operação policial, que traz angústia, algo que sinto na pele, pois tenho acesso ao mesmo lugar”, desabafa Priscila. Ela resume que a sua motivação vem diariamente do diálogo com os estudantes. “Isso se reverte numa boa aula. Algo que tem de ser planejado, um ritual de cada aula, esse é o diferencial, a fuga da rotina”, relata.

Quando essa sensação de educar o seu território contagia uma família, de oito irmãos, cinco acabam envolvidos com a educação e, desses, dois na Maré. Stela Lanzellotti é professora na Escola Municipal Escritor Ledo Ivo; seu irmão, João Lanzellotti, é diretor no Centro Integrado de Educação Pública (CIEP) Professor Cesar Pernetta, e leciona no Programa de Educação de Jovens e Adultos (PEJA) na Escola Municipal Clotilde Guimarães, além de trabalhar com disciplina pedagógica na UNISUAM. O diretor lembra, com carinho, que já deu aula para três gerações de alunos na Maré.

João tem uma história interessante. Na década de 1970, estudou na Escola Clotilde e hoje retorna como professor. “Nunca pensei em voltar à mesma escola, só que agora dando aulas. Retornar como professor numa sala de aula da Maré é uma experiência prazerosa. Entendo que é bom esse convívio com os alunos e responsáveis. Acaba a formalidade da reunião e se cria um vínculo. Atuar, aqui, não é só dar aulas, e nem olhar só para o umbigo, é mais do que só desejar receber o salário no final do mês ou querer que dê tiro para não ir trabalhar. Trabalhar onde mora é entender o ambiente, é desejar uma aproximação, é estar no dia a dia do aluno. Além de ser um luxo, não precisamos pegar ônibus”, brinca.

Ele acha que o Dia dos Professores precisa ser lembrado como um momento de luta. “É triste, na nossa carreira, ver um governador pedir para policiais levantarem os cassetetes para bater nos professores. O desrespeito continua quando há operações policiais, que impedem o nosso trabalho. Outro fato que não valoriza o profissional é o salário, o resultado é a sobrecarga, já que precisamos lecionar em vários locais. O professor não tem tempo nem de cuidar da saúde! Só se aproxima do magistério quem tem prazer. A maior parte do meu dia passo na escola, é minha segunda casa”, avalia o professor João.

Desvalorização profissional: eis um grande problema

Francisco Valdean é fotógrafo e professor nos Colégios Estaduais Bahia e Professor João Borges de Moraes. “Estudei aqui no Bahia e trabalhar onde estudei é a possibilidade do retorno do conhecimento, de um território que eu estudo no meu mestrado, que é a Maré”, afirma Francisco.

“Aqui na Escola Bahia trabalho a Sociologia da cultura local e um dos temas é a bibliografia de moradores; são inúmeros anônimos e outros conhecidos, como o cantor Naldo e a vereadora Marielle. Já na Professor João Borges de Moraes o tema é a história da Maré, uma exploração local. Na Maré, dou aulas para filhos de amigos meus. Isso é um prazer”, conta o professor Francisco. Para ele, a tristeza da educação é ver uma sociedade que reconhece o papel do profissional, mas por outro lado, falta investimentos no ensino público.

Cleber de Lira, professor do Colégio Estadual Tenente General Napion destaca que é satisfatório dar aulas onde mora e que sempre entra em sala de coração aberto. “Dessa forma, percebo um jovem da comunidade que busca enxergar as expectativas. Essa percepção faz com que a aula deixe de ser só um mero conteúdo”, revela. Como todos os professores, a valorização é a palavra-chave. “É necessário valorizar o servidor público, com salário digno e estrutura de trabalho. Passamos por uma batalha diária e precisamos ter disposição, apesar da ausência de condições. Mesmo na limitação, tentamos passar o máximo que podemos fazer. Mostramos que a educação é a alternativa concreta para a melhoria da condição social”.

Elas e eles sabem o que querem

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Maré de Notícias #93 – 02/10/2018

Jovens da Maré expressam suas expectativas com relação às eleições e pós-eleições

Jéssica Pires

A geração dos “primeiros votos” da Maré apresenta muitas demandas e se sente pouco representada: essa é a primeira constatação ao questionar os jovens do Complexo da Maré sobre o atual momento político. Boa parte dos entrevistados faz parte dos 1,4 milhões de adolescentes de 16 e 17 anos que tiraram Título de Eleitor, este ano, para participarem do pleito do dia 7 de outubro, segundo o Tribunal Superior Eleitoral. O dado apresenta o inverso do que o senso comum mostra – o jovem quer, sim, ir às urnas para garantir pautas e direitos.

Apesar da expectativa para as eleições não ser das melhores, diante do cenário político turvo em que o País se encontra, a ansiedade e a busca pela garantia de direitos não são pequenas. E os jovens da Maré sabem muito bem o que querem: “na escola, o inglês é muito mal o ‘verbo To be’”, disse Nívea Mariana (22 anos), moradora da Maré, que pretende prestar vestibular para Enfermagem.

Na pauta, educação

A garantia por uma educação de qualidade é um ponto em comum entre as demandas dos jovens eleitores da Maré. Não é para menos. As escolas das favelas da Maré funcionam das 8h às 16h, uma hora a menos que as de outros territórios. Isso porque a Maré é considerada uma área de risco. O Fundo das Nações Unidas para a Infância– Unicef (http://uni.cf/2Dl7nzc)) definiu, no documento “Eleições 2018 – Mais que Promessas – Compromissos reais com a infância e a adolescência no Brasil”, as prioridades para o debate dos candidatos nas Eleições 2018.  Uma delas é a “promoção de uma educação de qualidade para todos”. Esse é um documento-base, importante para a análise das propostas dos candidatos.

Em 2017, foram 35 dias sem aulas nas escolas das favelas da Maré em decorrência de operações policiais, segundo dados do Eixo de Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré. Ellen Batista, de 14 anos, jovem moradora da Maré que se prepara para os concursos de escolas de Ensino Médio técnico, indagou aos candidatos ao Governo do Estado do Rio de Janeiro presentes no Debate Público na Maré, promovido pelo Fórum Basta de Violência – Outra Maré é Possível, ocorrido no dia 18 de setembro: “como vocês pretendem melhorar a Segurança Pública para evitar que a gente perca aula, já que toda hora tem operação policial?” Em conversa com o Maré de Notícias, Ellen Batista acrescentou: “quando tem operação policial aqui, eu fico com medo. A Maré fica com medo”.

O debate reuniu cerca de 400 pessoas no Centro de Artes da Maré. O público do debate foi formado, em sua maioria, por jovens, que participaram ativamente, apresentando demandas diversas, sobretudo, sobre Segurança Pública, acesso à Saúde e à Educação. Dos 12 candidatos ao Governo do Estado do Rio de Janeiro, apenas quatro marcaram presença no debate: Marcia Tiburi (PT), Dayse Oliveira (PSTU), Luiz Eugênio Honorato (PCO) e Ivanete Conceição da Silva (candidata a vice-governadora de Tarcísio Motta, do PSOL).

Confiança e representatividade

De acordo com Pesquisa Datafolha, a percentagem de votos nulos e brancos dobrou em relação a 2014 e 13% dos eleitores dizem que não votarão em um candidato específico. Essa é a maior percentagem em 16 anos, segundo a Pesquisa. O número confirma a fala dos jovens da Maré: há falta de representatividade entre os candidatos em relação às demandas dos jovens, e pouca confiança nos políticos.

Alessandra Justino, de 20 anos, moradora da Maré, que pretende cursar Relações Internacionais e vota pela primeira vez nesta eleição, diz não se identificar com os candidatos. “Você deve buscar pessoas com quem você se identifique”. Já para Ellen Batista, a jovem de 14 anos que mobilizou aplausos com o questionamento aos candidatos presentes no debate público, afirma: “essa coisa de representatividade é muito difícil, porque não sou só ‘eu’ que tenho que ser representada. Somos todos nós”.

Creusa Maria, estudante de Produção de Eventos da Faetec, acredita que apesar de o jovem ter mais espaço de fala atualmente, essa voz não é ouvida: “eles não dão importância à nossa fala. Eles não chegam aqui, tudo para na Avenida Brasil (…) colocam a gente em uma bolha, e não tem como se sentir representado. É impossível”.

Além da questão da representatividade, os recentes casos de corrupção em todos os níveis de cargos públicos no País fazem o jovem repensar esse modo de fazer política. No ranking global publicado em fevereiro deste ano, pela Transparência Internacional, organização internacional dedicada à luta contra a corrupção, o Brasil ocupa o 96º lugar no Índice de Percepção da Corrupção, entre 180 países analisados. A pesquisa aponta que esta é a pior colocação do Brasil nos últimos cinco anos. “Às vezes é difícil acreditar nas pessoas. Principalmente para nós que estamos na Maré”, acrescenta Nívea Mariana, que acredita ser a falta de credibilidade dos elegíveis a maior dificuldade para a escolha de um candidato.

Juventude participativa não é novidade no Brasil

“A juventude foi protagonista no processo de redemocratização do País”, diz Tamyres Ravache, doutoranda em Ciência Política da UERJ. Este ano, completamos 30 anos do processo de redemocratização. Em 1988, a Constituição que rege as leis brasileiras até hoje foi elaborada com participação popular e garantiu o avanço na validação de direitos trabalhistas, liberdade de expressão, entre outros.

“Os jovens são vanguarda de muitos movimentos progressistas. A juventude é articulada, é criativa e, sobretudo, capaz de realizar muitas mudanças. A voz dos jovens deve não ser apenas ouvida, mas procurada. O jovem precisa ser consultado. Afinal, é fato que os jovens de hoje serão o futuro do País daqui a algumas décadas”, explica Tamyres, que complementa: “os jovens têm criado cada vez mais maneiras inteligentes e sofisticadas de passar mensagens políticas. Essas ações têm potência positiva sobre a questão da participação e representação da juventude no futuro”.

Segundo a especialista, apesar de o jovem de favela e da periferia não se verem representados no atual modelo político do País, ele cria estratégias de ativismo em busca dessa representação e participação. “Podemos observar isso nas atividades culturais, intervenções artísticas que grupos de Slam, teatro e rap, por exemplo, promovem nas praças, nos transportes e nas mídias sociais, atingindo e atraindo seus pares para um olhar mais crítico e interessado na sociedade”, conclui.

A Maré, diga-se de passagem, é um exemplo claro de múltiplas ações de jovens em diversos meios. Os fundamentos do modelo de política adotado pelo Estado, portanto, não contemplam os anseios dos jovens eleitores. Sobretudo, dos jovens da Maré e suas especificidades. Porém, a criatividade potente, que desde sempre percorreu os movimentos criados nesse território, chega também para “fazer política”, diferente desse modelo.  “São inúmeros grupos de jovens negras e negros, pobres, moradores de comunidades envolvidos em atividades de arte e cultura, ocupando e revitalizando espaços urbanos, inventando maneiras de comunicação. Isso sem falar da força jovem nos movimentos mais amplos que lutam por direitos progressistas nas áreas de saúde, moradia, educação, direito a terra, direitos quilombolas e indígenas”, comenta Tamyres Ravache.

Uma Maré cheia de “crespinhos”

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Maré de Notícias #93 – 02/10/2018

Projeto criado por jovem moradora da Maré fortalece a autoestima de crianças com cabelo afro

Maria Morganti

Fortalecer a autoestima de crianças com cabelo crespo e cacheado e, de quebra, revigorar a sua própria aceitação. Foi o que a criação do Projeto “Maré de Crespinhos” fez na vida de Mainara Silva, de 20 anos. “Cria” de Vigário Geral, a jovem se apaixonou pela Maré quase à primeira vista. “Eu não sou cria [da Maré], estou me criando. Quando eu entrei aqui pela primeira vez, eu olhei e falei: ‘caraca, eu quero morar aqui’. E estou aqui há mais ou menos três anos. A Maré é um lugar cheio de vida, eu cheguei aqui e me identifiquei. Não quero mais sair daqui para morar em outro lugar, já criei o meu cotidiano”.

Da paixão pelo conjunto de favelas nasceu a vontade de fazer algo pela região e, ao mesmo tempo, por si mesma. Frequentando as oficinas do programa Active Citizens, uma parceria entre o Consulado Britânico e a Redes da Maré, que estimula a capacitação de líderes comunitários, Mainara pensou: “eu gosto daqui; me identifico, quero ter alguma coisa que, pelo menos, mostre que eu passei por aqui e fiz algo”. Assim nascia o “Maré de Crespinhos” -um projeto para que as crianças não passem por algo que Mainara sentiu e ainda sente na própria pele: o racismo e o preconceito com seu cabelo crespo.

“Cabelo duro existe?”

O Projeto promove oficinas em escolas da Maré, onde, de acordo com a faixa etária da turma, Mainara faz uma roda de conversa e depois põe em prática, mostrando e fazendo penteados nos cabelos das participantes. Para isso, utiliza um kit de produtos específicos para cada cabelo, obtidos com recursos do Active Citizens.  Em uma dessas oficinas, realizada numa tarde de sexta-feira para uma turma do 8º ano da Escola Municipal Bahia, com cerca de 20 alunos, a jovem chegou perguntando: “vocês acham que cabelo duro existe?”

Com a resposta positiva da turma de pré-adolescentes quase em uníssono, Mainara rebateu: “vocês sabiam que isso é preconceito?” Segundo ela, a ideia é mudar a visão que as crianças têm delas mesmas. “No início, a gente pergunta como elas se sentem, fala sobre a beleza do cabelo, vai conversando pra ver o que elas pensam do próprio cabelo. Eu reparei que elas praticam racismo com elas mesmas, sem saber nem o que é. Então, a ideia também é mudar um pouco isso, mudar essa visão para fazer a criança se aceitar desde pequena, porque tem muita criança com cabelo crespo que fica falando que queria ter o cabelo liso. Para que elas possam aceitar sua identidade, suas origens, e ver que já nasceram lindas e não precisam mudar, não serem igual a um padrão”, conta.

Maianara fala com a propriedade de quem teve sua autoestima afetada por preconceitos. Por querer se adequar a esse “padrão”, a jovem relembra que, como muitas crianças, chegou a pensar que seu cabelo “não tinha jeito”. “Quando eu era mais nova, a minha mãe colocou química no meu cabelo, que ressecou. Passei a ter um pouco de desgosto de cuidar do meu cabelo, porque eu achava que não ia ter jeito. E, antes, não tinha esse cuidado todo que hoje em dia tem. Não tinha internet pra gente ver vídeos [sobre cabelo afro] e coisas do tipo”.

 

“Todas são lindas”

Ao fim da roda de conversa na sala de aula da Escola Bahia, Mainara pediu para que os alunos fizessem um desenho em uma folha de papel. Um deles continha três mulheres, cada uma com o cabelo diferente, uma cacheada, outra lisa e, a última, ondulada. Em cima, escrito com letras bem grandes, estavam os seguintes dizeres: “todas são lindas!”

Indústria da marquinha

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Maré de Notícias #93 – 02/10/2018

Negócio, encabeçado em sua maioria por mulheres, movimenta a economia da Maré o ano inteiro

Maria Morganti

Tanto faz qual seja a estação do ano. De verão a verão, inverno a inverno, ela está lá no corpo de várias mulheres da Maré: a “marquinha”. O nosso clima tropical ajuda, mas manter o bronze ficou mais fácil por causa do trabalho de “profissionais da marquinha”, como a Laudjane Silva de Araujo Nobre, de 25 anos, personal bronze, empresária de beleza e dona da laje de bronzeamento natural “Elite Bronze”, que fica na Rua da Praia, beco 23, casa 7, no Parque União. “Sempre fui fanática por marquinha e seguia canais no YouTube com dicas para um bronzeamento duradouro, um bronzeamento que não descascasse. E, um belo dia, vi uma moça chamada Erika Bronze. Só ela aqui no Rio fazia bronzeamento natural. E eu falei: caraca! Que top, quero ir lá. E comecei a seguir essa moça. E, nossa! As marquinhas delas são perfeitas”, relembra Laudjane.

Vai Malandra!

Erika Bronze, a quem Laudjane se refere, ficou mundialmente conhecida após fazer o biquíni de fita isolante para a cantora Anitta estrelar o clipe “Vai Malandra”, do seu Projeto “Check Mate”, que consistia em lançar um videoclipe inédito por mês. “Este ano está sendo uma coisa de louco! Desde que a Anitta me convidou para fazer o biquíni de fita que ela usa no clipe, ganhei milhares de seguidores, e vi o meu negócio triplicar”, declarou Érika Bronze ao Jornal Extra à época do lançamento do vídeo, em dezembro do ano passado.

Ainda enquanto “futucava” vídeos no YouTube, a personal bronze, que já era cabeleireira, descobriu um curso de bronzeamento on-line, o da personal bronze de Goiânia, L’uana Toledo Cosmetics. “As aulas eram via YouTube, mas ao vivo. Isso foi em 2015. Aí eu fiz o curso on-line só para fazer em mim. Depois disso, percebi que a Érika Bronze estava bombando e a laje dela era lotada. Aí, eu falei: poxa! Aqui na Maré as meninas adoram marquinha e tal. Acho que eu vou tentar. Comecei a fazer o bronze em mim, na minha cunhada, nas minhas primas, nas vizinhas… Nada pra ganhar dinheiro, só questão de bronzeamento mesmo. Só pra gente pegar aquele famoso bronze na laje. Só que aquilo começou a dar muito certo, os produtos que eu tinha comprado para uso pessoal, as minhas cunhadas, minhas primas, minhas colegas, queriam também. Chegou um tempo que eu trabalhava mais do que me bronzeava”.

A sogra ofereceu a laje “supersimples, humilde”, como conta Laudjane. Mas a compra de cinco cadeiras de praia já foi   suficiente para a empreendedora anunciar o serviço no Facebook e começar a “trabalhar, trabalhar, trabalhar”, sem conseguir parar.  O espaço chamado de “Elite Bronze” funciona nos dias de sol – não importa qual seja a estação do ano – das 11h às 15h30.

Contraindicações médicas

Segundo a dermatologista clínica e cosmiátrica [subespecialidade dentro da Dermatologia que usa o conceito de cosmiatria para realizar procedimentos e tratamentos que tenham como finalidade a manutenção da beleza e a melhora da aparência da pele], Bruna Melhoranse, o recomendado é se expor ao sol sempre antes das 10h e depois das 16h. “Usando protetor solar, roupas com proteção ultravioleta ou protetor com fator acima de 30, chapéu, óculos escuros, boné”, recomenda a médica, que alerta sobre os perigos da exposição ao sol sem proteção. “Se a pessoa se expor cronicamente, se for à praia várias vezes sem proteção, no pior sol, das 12h às 16h, que é o sol que tem mais incidência dos raios solares ultravioletas, a pessoa vai acumulando fotodano, o que gera fotoenvelhecimento, rugas e até câncer de pele”.

A médica esclarece, ainda, o engano da maioria que pensa que “pegar pouco sol” não tem problema algum. “Isso é um mito muito grande. Porque quando a pessoa se expõe a poucas horas de sol, ela já pode, em meia hora, ter queimadura, ter piora do melasma, ter uma cicatriz de cirurgia marcada para o resto da vida”.

 

Negócio movimenta a economia da região, além de constituir novos espaços de interação e lazer; cuidados com o excesso de exposição ao sol devem ser tomados | Jéssica Pires

 

Laje x Praia

No entanto, jovens como Analisa Ramalho, de 22 anos e moradora da Rubens Vaz, não se importam muito com isso. “Ah, cara! Sendo bem-sincera, eu não ligo, não. Sei que não faz bem, essas coisas todas, até porque tem de ficar passando hidratante na cara, protetor, e eu não ligo não”, confessa. Analisa frequenta o espaço “Elite Bronze” há um ano e meio, e é só elogios: “o atendimento é maravilhoso, é um ambiente bem-descontraído. Eu me sinto em casa. Ela é muito educada, superatenciosa, fiz diversas amizades, e o resultado é incrível”. Analisa retoca a marquinha uma vez por mês: “na maioria das vezes, nem é necessário, fica tão perfeito que demora bastante pra sair”. Mas por que a laje e não a praia? A jovem enumera as vantagens, respondendo com ênfase: “é prático, não tem necessidade de pegar trânsito, não é o mesmo tempo de ficar na praia, mofando, pra pegar uma marquinha, o resultado é super-rápido, não tem aquele nervoso da areia no meu corpo. E ela me deixa bem à vontade, coloca vermelho e preto no biquíni, sempre com água bem-geladinha, refrigerante e boas risadas”, conta rindo a flamenguista fanática.

Pacote simples ou completo

O valor da sessão completa, que inclui esfoliação corporal, montagem do biquíni de fita da marca Decorlux, aplicação do acelerador de bronzeado, óleo de coco, banho de lua, que é a mistura que descolore os pelos, e finalização com massagem corporal com creme hidratante e pós-sol custa R$ 70. O bronzeamento simples, que oferece esfoliação, biquíni e acelerador, óleo e banho de lua sai a R$ 50. É necessário levar toalha e sabonete e, para ser atendida, a recomendação é que a marcação seja feita um dia antes pelo WhatsApp (21) 99824-5166 ou pela página do Facebook @elite.bronze01 ou do Instagram laudjane.nobre.

Laudjane explica que, após a aplicação dos produtos, a cliente fica um tempo médio de 40 minutos de frente e, em seguida, o mesmo tempo de costas. Tudo depende da cor e do tom da pele. Brancas, pardas e negras usam um tipo de produto diferente, específico para aquela pele. “Os meus produtos são da marca L’uana Toledo mesmo. Todos têm certificado da Anvisa, composto por extratos naturais. A gente tem 12 meses pra usar eles, tudo certinho. Da própria marca também tem o pós-sol e um hidratante de beterraba”.

 

Bônus e ônus da profissão

Prestes a ir à segunda edição do Congresso Nacional de Personal Bronze, no Rio de Janeiro, Laudjane é uma entusiasta da nova profissão. Graças a ela, conseguiu dar a entrada na casa própria, que acabou de quitar. “Eu trabalho há dois anos com bronzeamento. O primeiro ano, eu trabalhei pra juntar dinheiro pra dar entrada na casa. E, este mês, graças a Deus, eu quitei”. E completa: “É bom, ganha dinheiro. Para quem tem dinheiro para investir, é bom. Eu, por exemplo, no verão, consigo tirar R$ 3 mil por mês. Mas por quê? O meu espaço é limitado, eu só tenho capacidade para cinco clientes confortavelmente. Aí eu consigo fazer dois turnos, um de manhã e outro à tarde. Assim consigo atender 10 clientes por dia. Mas, se o meu espaço fosse maior, eu conseguiria atender muito mais clientes que isso. O problema é o espaço e aqui dentro da Maré a gente tem muita dificuldade de arrumar laje, essas coisas, é muito difícil. Eu não consegui parceria com nenhuma laje grande, espaçosa. Até consegui, mas um aluguel absurdo de R$ 2 mil por mês. No verão, eu consigo pagar todas as minhas contas só com o dinheiro do bronze”.

 

Nunca é tarde para viver bem

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Maré de Notícias #93 – 02/10/2018

Idosos mostram que nunca é tarde para a prática de atividades físicas

Hélio Euclides

De acordo o IBGE, o Rio de Janeiro já ocupa o segundo lugar no ranking das cidades com o maior número de idosos do País. Já o Censo Maré, de 2013, apresenta o número de 10.294 pessoas na faixa dos 60 anos. Elas hoje vivem ativamente e necessitam de atrações que envolvam cultura, esporte e lazer. Na Maré, alguns espaços são abertos para atividades nesta faixa etária, como Igrejas, Centro de Artes, Vila Olímpica, Clínicas da Família e Academias da Terceira Idade.

Para muitos idosos não é só o corpo que precisa ser trabalhado, mas também a mente. “Caminho e pratico yoga, assim fiquei sem dor no joelho. Além disso, há o convívio com as amigas”, conta Maria José Ferreira, de 64 anos. Para uns, trabalhar a cabeça é fundamental. “Pratico yoga, dança afro, consciência corporal, dança de mulheres ao vento, hidroginástica e água cross. A psicóloga me recomendou atividades e agora me sinto viva”, admite Rosemere Gomes Viana, de 57 anos.

“Não quero outra vida. Antes tinha crise nervosa, mas as atividades de ginástica aeróbica, alongamento e equilíbrio me ajudaram muito. O convívio com as pessoas nos faz esquecer dos problemas”, argumenta Maria Claurete, de 55 anos. Adriana Kapppaun, instrutora de hidroginástica da Vila Olímpica da Maré trabalha com a terceira idade e vê o diferencial. “Elas vêm participar e trabalham o corpo e a mente, se sentem mais novas. Elas necessitam de bate-papo, uma forma de conhecer quem está do lado, e o mundo precisa disso. O restante do planeta está conectado, mas o mundo deles precisa de carinho”, revela.

Os cuidados necessários

Para a prática das atividades são necessárias indicações médica e acompanhamento profissional. Mas nem todos seguem a receita. “Sempre pratiquei esporte. O meu problema é que não tenho continuidade. Também não tenho orientação, pois sou meu médico”, conta Alex Alves, que se exercita na Academia da Terceira Idade, ao ar livre, na Praça do 18.

Outro cuidado necessário é com a vida sexual. Segundo os últimos dados do Ministério da Saúde, cerca de 4% a 5% da população acima de 65 anos têm o vírus HIV, um aumento de aproximadamente 103% nos últimos 10 anos. Especialistas indicam que é preciso, antes de tudo, a prevenção, que supere o preconceito contra o uso de preservativo.

 

Saiba onde se divertir, se cuidar e viver ainda melhor

Está em casa sem fazer nada? Mude o jogo. O Maré de Notícias dá dicas de onde encontrar lazer, práticas saudáveis e muito mais. Confira!

* Algumas instituições de ensino oferecem o Programa Universidade Aberta à Terceira Idade (Unati), no qual, além de orientação nutricional e psicológica, os idosos também podem fazer diversas atividades e cursos. Unati Unisuam (Tel.: 3882-9797) e Unati UERJ (Tel.: 2334.0053).

* Os parques são uma ótima opção de lazer ao ar livre. A seguir, alguns deles:

– Parque do Flamengo: aproveite e visite o Museu de Arte Moderna (MAM) e o Museu Carmem Miranda.

– Parque Ari Barroso: funciona todos os dias, das 8h às 17h, e fica próximo ao Hospital Getúlio Vargas, na Penha.

– Quinta da Boa Vista: ótimo lugar para piqueniques e comemorações em família (Avenida Pedro II, s/nº, São Cristóvão).

* Feira de São Cristóvão: para matar as saudades da cultura, dos sabores e dos ritmos nordestinos. Tem arrasta-pé dos bons e karaokês para você soltar a voz. Tel.: 2580-5335.

* Praias e ensaios das escolas de samba: aproveite que você mora numa das cidades mais bonitas e alegres do planeta. Curta uma prainha e depois caia no samba – porque ninguém é de ferro.

Um pedacinho do Nordeste

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Maré de Notícias #93 – 02/10/2018

Migrantes nordestinos contam sua história, uma trajetória que enriqueceu o Rio de Janeiro com seu trabalho, sua cultura, sua culinária, seu vocabulário e tudo o mais que se possa imaginar

Hélio Euclides

 

Na Maré, quem não é nordestino, é filho, neto, outro parente ou amigo de alguém da Região Nordeste. O Censo Maré, de 2013, detalha que a favela tem uma concentração de 35.884 nordestinos, 25,8% dos 139.073 moradores. Esses números revelam, portanto, que a formação da Maré passa pela cultura do povo do Nordeste.

Quando se pergunta sobre o fluxo de nordestinos, a resposta é sempre parecida: a busca por melhores condições de vida e a procura de se unir aos parentes. Na Maré, o Estado que prevalece é a Paraíba, que reúne 14.597 conterrâneos, ou seja, 10,5% da população total. Uma delas é Maria Ferreira, de 71 anos, que veio de Retiro, antigo nome do município Pedro Régis, na Paraíba. Lá, trabalhou na roça até os 20 anos. “Meu pai falava que o Rio de Janeiro não era lugar para moça, que eu ia embuchar logo. Provei para ele que eu era certinha, casei com meu marido depois de três meses de namoro”, revela.

Severina Martins Santos e seus filhos Marcos e Márcia: vida na Maré, das palafitas à Vila Olímpica, uma trajetória de muito trabalho | Douglas Lopes

Sua conterrânea, Severina Martins Santos, de 62 anos, tem sua origem em Araçagi e chegou ao Rio com 17 anos. “Quando cheguei queria desistir, era muito trabalho em casa de família, mas percebi que, para vencer, é preciso entender que a batalha diária não faz mal a ninguém. Que temos a necessidade de ter um objetivo na vida. Aqui, na época em que vim morar, era palafita. Onde hoje é a Vila Olímpica era nossa casa. À noite, íamos dormir e sentíamos o barraco balançar, além de uma mosquitada. Minha irmã pedia emprestado o ‘ola’, para pegar água, e tinha de devolver cheio”, comenta. Severina ainda trabalhou em fábricas de cerâmica, de vidro de relógio e foi cobradora de ônibus, profissão na qual atuou por 30 anos.

“Nasci no Rio de Janeiro, mas me identifico como parioca, mistura de paraibano com carioca. Sou fã da cultura nordestina, do respeito e da luta, é um povo guerreiro. Minha mãe é ‘braba’ como Maria Bonita. E, por isso, tiro o chapéu para ela”, diz Marcos Martins, filho de Severina.

 

Histórias do Nordeste e do Rio

Raimunda Simplício, de 53 anos, é do interior de João Pessoa, local que até hoje não é asfaltado. Sua decisão de largar tudo e vir para o Rio, em 1980, foi por ser uma adolescente rebelde que queria ter as coisas. “Lá tinha festa junina, ciranda e quermesse, forró e dança de roda, mas meu pai não me deixava participar. Certa vez, colocou o meu namorado para correr, acho que corre até agora. Então, com 16 anos, decidi vir com uma amiga”, explica.

Na Cidade Maravilhosa, Raimunda foi trabalhar como empregada doméstica. “Comecei a dormir no trabalho, no bairro da Barra da Tijuca, para juntar um dinheiro. Então comprei um barraquinho na Maré. Ao chegar do Nordeste, o primeiro lugar que vi foi a Nova Holanda, e me acostumei: tudo é perto e o transporte é bom. Sair daqui só para minha terrinha”, afirma. Ela acrescenta que na Maré tem muito nordestino, que influenciou na mudança local. Raimunda estuda na Escola Clotilde Guimarães, onde convive com muitos conterrâneos.

Hoje, como diarista, já pensa em guardar um dinheirinho para visitar parte da família, já que dos seis irmãos, cinco estão aqui. “Quero matar a saudade do fogão de lenha; gosto da comida nordestina, da cultura de fazer bolinha de feijão verde com farinha e comer com a mão. Lá na terrinha tudo é plantado, como é chamado aqui de orgânico. A alimentação é mais saudável. Aqui a fava é muito cara, R$ 23 reais. Quando alguém vem do Nordeste, peço para trazer fava, cará, feijão de corda, feijão mulatinho, farinha e urucum, conhecido aqui como colorau. Só não peço para trazer galinha caipira”, brinca.

O seu objetivo é voltar de vez ao se aposentar. “Porque sem dinheiro é complicado, pois lá falta chuva. Quero voltar a falar ôche, vice, tá danado, tá com a molesta, bexiga taboca, oxente. Pois, quando chego lá e não tenho mais essa linguagem, dizem que eu imito carioca. Desejo beber água do pote de barro, na caneca de alumínio e, se necessário, um remédio caseiro. Tudo isso animado pelas músicas de Amado Batista, Marinês, Elba Ramalho e Marcio Greyck”, planeja.

 

A música para matar saudades

Com 75 primaveras, Geralda Farias Pereira é uma verdadeira contadora de histórias. Sua vinda de Campina Grande, em 1952, foi um dilema, que durou oito dias, num pau de arara, com banco sem estofamento. Quando atolava, todos desciam e tentavam ajudar. Ela conta: vieram eu, meu pai, minha mãe e uma amiga. Nesses dias, recordei nossa vidinha, onde os tios moravam no mesmo sítio e os primos se misturavam e eram muitas brincadeiras. Meu pai era muito festeiro, todo final de semana tinha forró”.

Ao chegar, foram morar de aluguel em Ramos. Os amigos deram a sugestão da compra de madeiras que todos iam ajudar na construção. “Assim nasceu, na Praia de Ramos, um barraco, em cima da maré, na palafita. Para andar tinha de ter cuidado com as tábuas. Pelo meu medo, nos mudamos para outro local, aterrado por serragem”.  Ela conta que trabalhou na linha de montagem da TV Emerson até o seu casamento.

Apesar da distância da terra, o amor veio de lá, um rapaz de Aroeiras, também na Paraíba, e eles se casaram em 1959. “Ele era niquelador, dava banho de níquel nos para-choques de caminhões. Mas o seu sonho era a música, então foi contratado pela gravadora Chantecler e lançou o primeiro LP. Aí foi trabalhar com música, em 1960. Depois foi para a gravadora Cantagalo, e no total foram 22 LPs”, ressalta. Adolfinho dos Oito Baixos tocava o instrumento que virou seu sobrenome, uma sanfona menor que o acordeom. Ele também consertava sanfona e eletrificou a primeira no Rio.

“Ele tocava no forró de Pedro Sertanejo, pai de Oswaldinho do Acordeom. O Luiz Gonzaga vinha na minha casa e foi padrinho da minha filha. Em retribuição, íamos para o sítio de Luiz Gonzaga, em Santa Cruz da Serra. Lá, o cardápio era buchada de bode. Outro presente na minha residência, era Sivuca”, revela. Numa casa famosa, a família cresceu. Foram quatro filhas, sete netos e sete bisnetos. Para a família, ela confessa que ainda faz galinhada com arroz mole. “Nós somos um pouquinho paraibanos, em especial quando se fala de comida”, resume Vanessa Pereira, sua neta.