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Se beber, se cuide

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Providências simples, mas eficientes, ajudam a reduzir os efeitos indesejáveis do álcool

Maré de Notícias #99

Por: Camille Ramos

Sabe quando aquele amigo pede uma garrafa de água depois de uma cerveja no bar? Sabendo, ou não, ele está utilizando um recurso de redução de danos –  uma das estratégias de saúde pública para ajudar pessoas que fazem uso de álcool e outras drogas a diminuírem os prejuízos e problemas associados ao consumo.  Discutir cuidados que devemos ter com o consumo de álcool é de extrema importância num País onde a regulamentação da bebida é falha de muitas formas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil está entre os países que mais consomem bebidas alcoólicas na América Latina. A idade de iniciação no consumo do álcool começa cada vez mais cedo e a quantidade e diversidade de bebidas cada vez maior.

O grande objetivo da redução de danos é fazer com que as pessoas tenham noção dos riscos diretos e indiretos que o consumo das drogas lícitas e ilícitas provocam e que, assim, adotem medidas menos arriscadas enquanto estiverem fazendo uso.  A prática é pautada nos Direitos Humanos e busca auxiliar os usuários e dependentes químicos de acordo com seus direitos básicos e suas necessidades.

 A redução de danos não prevê, necessariamente, abstinência, mas trabalha o caminho para quem quer e pode eliminar de uma vez, e faz uma mediação entre aqueles que desejam diminuir os prejuízos causados. Para isso, o jeito é esclarecer de que forma as pessoas podem consumir substâncias, diminuindo o risco que podem causar à saúde e às pessoas. Com isso, foi criado o programa de redução de danos, que surgiu no final da década de 1980 devido à epidemia de HIV causada, entre outros motivos, pelo compartilhamento de seringas no uso de drogas injetáveis. No Brasil, a primeira ação de danos aconteceu em Santos, em 1989, quando foram distribuídas seringas descartáveis para usuários de cocaína injetável, buscando impedir a disseminação do vírus.

No caso das bebidas alcóolicas, a importância de se falar sobre redução de danos é equivalente à generalização de seu uso, uma vez que se trata de uma substância lícita, com o uso muito difundido e incentivado em nossa cultura.

No entanto, muitos são os problemas relacionados ao abuso de álcool, cujas consequências causam grande impacto sobre as pessoas e suas famílias. Além disso, o consumo de bebidas alcoólicas ocupa o terceiro lugar entre os principais fatores de risco de doenças no mundo. Segundo documento divulgado pela OMS, estima-se que o uso nocivo do álcool cause 2,5 milhões de mortes todos os anos – uma proporção considerável corresponde aos jovens. A mesma pesquisa demonstra que a idade inicial do contato com o álcool vem diminuindo cada vez mais, o que aumenta os prejuízos psicológicos que essa prática pode trazer.

Bebida e adolescência

A adolescência, compreendida entre 12 e 18 anos, é geralmente a fase onde começa o contato com o álcool. João Silva (nome fictício), com 45 anos, não bebe há mais de 25. Ele conta que seu primeiro contato com o álcool foi durante o Ensino Médio, na escola, por volta dos 16 anos. A partir dali a frequência com que bebia foi aumentando consideravelmente com o passar dos anos. “A gente bebia depois das aulas. Quando acabou o colégio, continuamos a nos encontrando para beber. Comecei a beber todo dia. Uma senhora que conhecia a mim e ao meu grupo começou a observar que nossa frequência de bebida poderia ser prejudicial e nos convidou para fazer parte de um grupo de Alcoólicos Anônimos jovens. Eu tive muita vergonha e comecei a perceber que a bebida não me fazia bem, não era saudável para mim”, conta.

Segundo pesquisa divulgada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), 80% dos adolescentes já beberam alguma vez na vida, e 33% dos alunos do Ensino Médio consumiram álcool excessivamente no mês anterior à pesquisa. Outro estudo, realizado pela Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) com universitários, mostrou que 22% dos jovens estão sob o risco de desenvolver a dependência de álcool.

De acordo com Andrea Gallassi, professora e coordenadora do Centro de Referência sobre Drogas e Vulnerabilidades Associadas da UNB, quando mais precipitado o envolvimento do jovem com as drogas, mais prejuízos ele pode ter em seu desenvolvimento. “A experimentação das drogas começa pelo álcool, na adolescência. Mas o adolescente não deve fazer uso de nenhuma droga, inclusive o álcool, por uma simples razão: o sistema nervoso central do adolescente ainda está em formação. Se ele tem contato com uma substância que é psicoativa, nesse momento, isso prejudica o seu desenvolvimento”, diz, acrescentando: “Quanto mais tarde [o jovem] iniciar o uso de álcool, menos chances terá de desenvolver problemas com a bebida, como por exemplo, a dependência. Também menos chances de desenvolver problemas de comportamento, como a depressão”.

                Infelizmente, culturalmente, o contato com o álcool é incentivado. Seu uso, mesmo por adolescentes, é aceito e diretamente associado à diversão e seus usuários considerados descolados. Além disso, as legislações que proíbem o consumo para menores de idade são burladas e sua fiscalização é ineficiente. Em países como os Estados Unidos e o Canadá, por exemplo, é ilegal beber em praias, ruas e parques e para transportá-las é necessário que estejam dentro de sacos ou embalagens que não mostrem seu conteúdo. Outra diferença é que, no Brasil, se pode adquirir bebidas alcoólicas em qualquer lugar. No Canadá, as bebidas são encontradas em lojas específicas e licenciadas.

            Por fim, pouco (ou quase nada) é divulgado sobre os malefícios do álcool para o desenvolvimento de adolescentes nas mídias televisivas que são, hoje, um dos principais meios de divulgação das propagandas de cerveja.

Dependência pode surgir em qualquer idade

Apesar de ser um problema crescente entre os jovens, a dependência do álcool pode acontecer com qualquer pessoa e em qualquer idade. O problema é agravado, porque reconhecer que se está em uma situação de vulnerabilidade ou risco não é uma tarefa simples. De acordo com especialistas, o usuário de bebidas alcóolicas deve sempre estar atento ao ambiente em que se encontra, assim como a seu estado emocional e físico, além de buscar informações sobre o que está consumindo.  É importante, ainda, procurar ajuda para amenizar os riscos com o consumo de álcool e outras drogas, tão logo observe-se em uma situação de exagero ou dependência.

Espaço Normal: uma ajuda a mais

Na Maré, os familiares e dependentes de álcool e outras drogas têm uma ajuda a mais. Trata-se do Espaço Normal, que funciona como um ambiente que se propõe a desconstruir os estigmas e preconceitos que, geralmente, atingem pessoas que usam drogas. Além de promover atividades conjuntas com as diferentes instituições de saúde e de assistência no território, o espaço trabalha em uma dinâmica de rede: realiza encaminhamentos de pessoas para esses serviços e também recebe pessoas encaminhadas pelas instituições, sempre prezando pelo cuidado e respeitando a individualidade de cada caso. “A redução de danos trabalha a partir do respeito ao sujeito, do que ele pode e quer fazer naquele momento, construindo estratégias de cuidado, acolhimento e alternativas”, afirma Luna Arouca, coordenadora do Espaço Normal.

Espaços de Referência para cuidados com o álcool na Maré

• Espaço Normal – Rua das Rosas 54 – Nova Holanda

• Igreja dos Navegantes – Rua Luiz Ferreira, 217

• Igreja Jesus de Nazaré – Rua Evanildo Alves – Baixa do Sapateiro, 83

• AA: Nova Holanda – Rua Teixeira Ribeiro, 637 2º andar

• AA: Vila do João – Rua Quatorze, 234

• AA: Bonsucesso – Av. Roma, 310, sala 101

Passarelas: problemas persistem

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Após meio ano, pouco ou nada mudou nas passarelas que atendem à Maré

Maré de Notícias #99

Por: Hélio Euclides

Já se passaram seis meses desde que a Edição 92 do Maré de Notícias abordou o tema. E hoje? Como estão as passarelas, essas importantes ferramentas de mobilidade? Infelizmente, pouca coisa mudou e os moradores continuam tendo seu direito de deslocar-se livremente, em parte, cerceado, uma vez que atravessar a passarela, única opção para os transeuntes irem de um lado para o outro da Avenida Brasil, oferece riscos potenciais e reais à integridade física.

Para se ter uma ideia, são cinco passarelas na Avenida Brasil, as do Conjunto Esperança, Posto Saci (8), Rubens Vaz (10), Borgauto (11) e Praia de Ramos (12) no trecho que contempla a Maré, feitas de tubos de ferros e madeiras. As estruturas foram criadas para serem provisórias, mas o problema é que se tornaram permanentes. Para que o temporário se tornasse definitivo, a Prefeitura cobriu com cimento os pisos de madeira e borrachas. Simples assim. Os moradores que, ao que tudo indica, possuem mais discernimento que as autoridades, ficaram receosos – e com razão – com o aumento no peso da estrutura. Outras passarelas, originalmente projetadas para serem permanentes, também necessitam de reparos urgentes. Buracos no piso e arames soltos são os problemas mais comuns.

Insegurança diária

Quem precisa atravessar a Avenida Brasil, diariamente, não vê a hora da reconstrução das passarelas. É o caso de Priscila Lins, moradora de Roquete Pinto. “É preciso oferecer um serviço seguro para o pedestre, algo que não sentimos ao trafegar pela passarela”, revela.

No mês de março, foi inaugurada a passarela 6 que servirá de acesso ao BRT da Vila do João/Fiocruz . Próxima a ela, encontra-se a passarela do Conjunto Esperança, em pior estado. Além de uma escadaria que, em alguns pontos o corrimão está remendada com tábuas e arames. “É preciso melhorar a segurança. Ando com dificuldades nela”, conta Auxiliadora Ferreira, moradora do Conjunto Esperança.

Na Passarela 8, até derrubaram a estrutura metálica, mas refizeram outra igual para substituí-la. De acordo com Heitor Pereira, administrador regional da 30ª Região Administrativa, a aparente incoerência teve motivo. “A Passarela 8 estava com problema e foi colocada uma provisória no local. Com a construção das estações, todas as passarelas metálicas serão removidas para a colocação das permanentes”, explica.

Outro problema levantado pelos moradores é o furto de peças nas estruturas provisórias, o que precariza, ainda mais, as condições das passarelas e as deixam mais perigosas para o morador.

As passarelas de cimento se deterioram

Chegar à Clínica da Família Diniz Batista dos Santos, próxima ao BRT Transcarioca Maré,

na Avenida Brigadeiro Trompowski, em frente ao Parque União, não é fácil. O paciente precisa descer 35 degraus para se consultar. “Tinha de ter uma rampa para descer cadeirantes e pessoas de idade. Quando tive chikungunya fiquei sem condição de ir ao médico, por causa da escadaria”, conta Nelita Pereira, moradora do Parque União.

 Questionada pelo Maré de Notícias, a Secretaria Municipal de Infraestrutura e Habitação informou que estão sendo realizadas ações de reparo nas passarelas, ao longo da Avenida Brasil e que a primeira a se beneficiar será a 12. De acordo com a Secretaria, as reformas estão sendo feitas de forma constante e as passarelas provisórias são seguras e não apresentam risco de queda, apesar da grande depredação sofrida. Sobre o piso de cimento, a Secretaria declarou que não há risco e que foi feito um estudo para amparar tal ação.  Espera-se que tais informações sejam verdadeiras e embasadas por especialistas, e que as promessas de melhorias virem compromissos, a serem cumpridos urgentemente.

Reclamações e dúvidas sobre as passarelas:

http://www.1746.rio/portal/servicos

Telefone: 1746

O povo fala:

 “Acredito que as passarelas tinham de ter manutenção constante, pelo menos de seis em seis meses”. André Luiz, morador do Parque União.

Piscinão pede socorro

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Inaugurado com a promessa de ser um polo de lazer, Piscinão chega aos 18 anos necessitando de reformas e manutenção

Maré de Notícias #99

Por: Hélio Euclides

“Cada mergulho é um flash!” Esse bordão da personagem Odete, interpretada por Mara Manzan na novela O Clone, deixou ainda mais conhecido o Piscinão de Ramos. Corria o ano de 2001 e ambos, a novela e o Piscinão, faziam o maior sucesso. No entanto, passados 18 anos de sua inauguração, muita coisa mudou – e infelizmente para pior – no nosso Piscinão. Atualmente, o lago artificial não está mais na mídia e, com isso, o investimento minguou. Um exemplo é a antiga lona cultural, chamada de Circo Voador, na qual primeiro vieram os rasgos na cobertura, depois a deterioração da estrutura e, por fim, a retirada de toda armação metálica pela Prefeitura. O local virou um estacionamento e até a sede administrativa foi ao chão.

Além do lago artificial, a área do Piscinão é composta por quadras de esporte, campo sintético, áreas de lazer com churrasqueiras e mesas para jogos, praça com brinquedos e banheiros – uma estrutura e tanto. O problema é que tudo isso carece – e muito – de reparos e manutenção. É isso o que afirma Amaury Junior, vice-presidente da Associação de Moradores de Roquete Pinto e Praia de Ramos. “Começaram a reforma dos banheiros e não terminaram. É preciso podar as árvores do entorno, reformar os campos, retomara lona cultural e retirara carcaça de barco da praia”.

Problemas

O local, que recebe banhistas de muitos lugares, em especial da Baixada Fluminense e periferia da cidade do Rio, enfrenta muitos problemas. Entre eles, a falta de banheiros adequados aos usuários. Com cinco pontos existentes desde a sua inauguração, atualmente os banheiros perecem com a ausência de chuveiros, telhas, água e luz.

Outro problema é a qualidade da água da piscina.O Maré de Notícias, Edição 85, de fevereiro de 2018, revelou que não ocorria a limpeza há um ano, o que aconteceu apenas antes desse verão. Um morador, que preferiu não se identificar, disse que o período de limpeza só durou 20 dias, diferentemente de outros anos, em que ficava interditado por três meses. Segundo ele, o tempo foi muito curto para a manutenção do lençol freático, remoção de areia do fundo, retirada de impurezas e colocação de caminhões de areia limpa.

Os problemas vão além. Ao andar pela orla, é possível ver lixo na areia e na água, bancos quebrados, arquibancadas deterioradas, fios expostos nos postes de iluminação, campo com ausência de grama sintética e grades estragadas. Bruno Soares, comerciante do Parque União e da Vila do Pinheiro, joga há dez anos no campo sintético. “Houve uma tentativa de reforma e corrigiram algumas coisas. Mas há grades furadas e o remendo no piso sintético não ficou bom”, avalia.

Para o fim do descarte de lixo em local inadequado, a Comlurb instalou papeleiras feitas de pallet na orla e na areia. “A papeleira feita de madeira não agride a natureza, além de aproveitarmos material reciclado”, comenta um funcionário da empresa municipal de limpeza, que não se identificou. A Comlurb informou que os serviços de poda na região acontecem quando são identificados pela associação de moradores e/ou pelo 1746. Alegou ainda que, no último mês de dezembro, foram realizados cerca de 300 manejos nos vegetais e a remoção de árvores invasoras na área do piscinão e no local onde existia o Circo Voador.

Também procurado pelo Maré de Notícias, a Fundação Rio-Águas informou que realiza manutenção periodicamente no lago artificial e que a última foi em dezembro de 2018. Declarou, ainda, que o Piscinão é esvaziado para a realização dos seguintes trabalhos: desinfecção da areia, remoção de microalgas, reparo na manta e manutenção da Estação de Tratamento de Ramos. Destacou que o tratamento é diário e a qualidade da água é constantemente monitorada, que o resultado das análises dos últimos laudos para a balneabilidade do Piscinão de Ramos foi excelente.

Entramos em contato com a Empresa Municipal de Urbanização (Riourbe), sobre a questão dos banheiros; com a Superintendência local, sobre os chuveiros e obras; e com a Secretaria Municipal de Conservação, sobre a reforma dos bancos e fios expostos. Os três órgão não responderam os questionamentos, o que mostra que estão satisfeitas com as condições do local – ao contrário dos frequentadores. Os que frequentam esse espaço merecem respostas sobre as atuais falhas no funcionamento do Piscinão – um lugar que poderia ser um verdadeiro oásis no meio do deserto de lazer e cultura das regiões periféricas do Rio de Janeiro. 

O povo fala:

 “Venho de Irajá e acho maravilhoso esse lugar; o que falta é alguns chuveiros”.  Lúcia Helena.

“Não precisa mudar muito, acho que a única coisa é recuperar os banheiros. Essa reforma ajudaria muito as pessoas que frequentam aqui”. Michele Zacarias, moradora de Bangu.

“É preciso reformar os banheiros existentes e construir outros, pois são poucos. Isso diminuiria o número de pessoas que fazem as suas necessidades nas águas”. Joísse Farias, moradora da Praia de Ramos.

 “A limpeza do Piscinão deve ser feita mais vezes por ano”. Jonathan Vieira, morador da Praia de Ramos.

Juntos, somos muitos e fortes!

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Fórum Basta de Violência! Outra Maré é Possível promove ações pela garantia da segurança pública aos moradores da Maré – e, em menos de dois anos, já colhe frutos

Maré de Notícias #99

Por: Jéssica Pires

Dos três últimos anos, 2017 foi o que contabilizou o maior número de mortes na Maré, em decorrência de operações policiais e de confrontos armados. Foram 42 vidas (25 a mais que em 2016) interrompidas, devido a uma política de segurança pública que se mostrou, e se mostra, cada vez mais ineficiente para o território. Foi em meio a esse cenário sombrio que nasceu o “Fórum Basta de Violência! Outra Maré é Possível”.

O Fórum é resultado da articulação dos habitantes das favelas da Maré, das associações de moradores, instituições públicas e não governamentais do território e coletivos, entre outros. Essas pessoas e iniciativas se reúnem para debater caminhos que, em curto, médio e longo prazos garantam o direito à segurança pública nas 16 favelas da Maré. “A princípio, era só uma atividade ou algo que pudesse chamar a atenção, mas a gente entendeu, naquele momento, que era importante construir um espaço de diálogo permanente sobre segurança pública. A ideia não é só agir em casos de urgência, mas pensar em como a gente pode também fazer propostas em relação ao campo da segurança pública, prevendo a garantia desse direito”, explica Shyrlei Rosendo, integrante do Fórum e pesquisadora do Eixo de Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré.

Os encontros do Fórum têm como objetivo gerar discussão e construir caminhos e espaços coletivos de escuta, acolhimento e formulação de propostas que façam os moradores agirem e enfrentarem, de forma organizada, o processo de conquista ao direito à segurança pública na Maré.

Participação para articulação

Se você está entre as pessoas que não acham natural as mortes que acontecem aqui na Maré, você pode e deve participar das reuniões do Fórum Basta de Violência! Outra Maré é Possível. Para a moradora, assessora parlamentar e integrante da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ), Flavinha Cândido, a importância da existência do Fórum está no fato de ser uma mobilização espontânea e que envolve os moradores – os mais impactados nesse contexto. “O Fórum, além de mobilizar uma melhor segurança pública dentro da favela da Maré, também mobiliza pessoas que são a base, que são moradores, e que vivenciam opressões dessa segurança pública que não é preventiva, e está, sim, em uma fase mais de execução dos nossos corpos pretos e favelados”.

A participação de moradores que atuam em setores que são muito impactados pela negação à segurança pública na Maré também é algo marcante nas atividades do Fórum. Marcam presença agentes de saúde e professores, entre outros. Em 2017, foram 35 dias sem aulas na Maré e 45 dias com postos de saúde fechados. Segundo Angélica Souza, moradora da Nova Holanda e agente de saúde da Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva, esses profissionais são importantes multiplicadores das trocas que acontecem no Fórum. “Ainda mais no meu caso, que tenho contato direto com a população. Então, ainda que seja um trabalho de formiguinha, a gente está repassando e tentando de alguma forma conscientizar a população”.

Próximos Passos

Um dos principais objetivos do Fórum, em 2019, é acompanhar e garantir que as determinações da Ação Civil Pública da Maré (ACP), conquistada em 2017, sejam implementadas. E que as pessoas, sobretudo moradores, se apropriem desse marco, entendam as determinações da ACP e sejam também multiplicadores e fiscalizadores dessas ações. Continua sendo objetivo manter essa vivência entre moradores, organizações e movimentos, para que dessas discussões saiam pautas que, de fato, espelhem o tipo de política de segurança pública que se deseja para a Maré.

Para o jovem Arthur Vianna, morador da Maré e também integrante do Fórum e do Eixo de Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré, a disputa por narrativas é outro objetivo do Fórum. “Em março, nós tivemos a maior apreensão de armas já feita no Estado do Rio de Janeiro, e ela não foi feita dentro de uma favela. Aí a gente vê que as pessoas, diante disso, não foram rotuladas como bandidas, traficantes, ou algo do tipo”, fala Arthur. Para ele o posicionamento da mídia tem grande influência em como o poder público age dentro dos territórios favelados. “Como morador jovem, preto e favelado, eu entendo que a disputa de narrativas tanto na Maré, quanto na cidade, é muito importante para a gente entender qual é o perfil dos ‘criminosos’ que a mídia focaliza e discrimina”, conclui.

Pacote “anticrime”

O atual ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, apresentou um pacote de leis “anticrime” para aprovação no Congresso Nacional.  O pacote propõe 19 alterações em trechos de 14 leis diferentes, editadas entre os anos de 1940 e 2018.

A lei atual isenta de culpa o policial que age “usando moderadamente os meios necessários” para defender-se de “agressão, atual ou iminente”. A proposta de Moro é aumentar o número de situações que se enquadram na categoria de legítima defesa. Se, atualmente, as operações policiais apresentam um alto índice de mortes, com ações como esta a tendência é que o cenário piore.   

O Fórum já fez:

  • Maio/2017: Surge o Fórum Basta de Violência Outra Maré é possível. A carta-manifesto, marco da criação do Fórum, pode ser lida em  http://goo.gl/qn6yw3  
  • 24 de maio de 2017: Marcha contra a Violência da Maré reúne cerca de 5 mil pessoas
  • 4 de dezembro de 2017: Debate Público na Escola Municipal Bahia;
  • Dezembro/2017: Construção do Plano de Redução de Danos às Violências na Maré, que deu origem à Ação Civil Pública (a primeira ACP elaborada para redução de danos de violência pública em uma favela);
  • 5 de julho de 2018: Debate Público “Perdendo o Juízo” no Centro de Artes da Maré, com a presença da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, Ministério Público e Poder Judiciário.
  • 18 de setembro de 2018: Debate com os Candidatos a Governador do Estado do Rio de Janeiro para 2019, no Centro de Artes da Maré.

Participe!

Página no Facebook: facebook.com/forumbastadeviolencia/

Site Redes da Maré: http://redesdamare.org.br/br/info/21/forum-basta-de-violencia-outra-mare-e-possivel

Reuniões mensais, sempre às segundas-feiras, na Escola Municipal Bahia (Passarela 7 da Av. Brasil). Acompanhe para participar e fortalecer esse movimento que é de todos nós da Maré!

Opinião

Quais são os desafios, ou o principal desafio dessa mobilização (o Fórum) no atual contexto de política de segurança pública praticada na Maré e demais favelas do Rio de Janeiro?

“Os desafios são inerentes a qualquer processo de mobilização que tem a ver com o cotidiano de trabalho, estudo e deslocamento que todo mundo enfrenta para conseguir se encontrar e pensar junto. A mobilização para tratar de um tema como o da segurança pública enfrenta, ainda, o desafio do medo que é real e cada vez mais forte. As políticas de segurança pública praticadas historicamente na Maré sempre tiveram como objetivo o silenciamento dos seus moradores e trabalhadores. Acredito que romper esse silêncio e o medo seja o nosso maior desafio. Isso só é possível coletivamente e com muito cuidado, pois o medo vem de episódios reais de violência, vividos cotidianamente. Vai além de uma sensação, como em outras partes da cidade”. Lola Werneck, coordenadora de liderança juvenil da Luta Pela Paz, organização que também integra o Fórum.

Jogo Sujo: a grande vilã do jogo

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Na última reportagem da série, o tema é Baía de Guanabara, uma das áreas mais degradadas do Rio

Maré de Notícias #99

Por: Equipe do data_labe

Um ponto fundamental no debate sobre saneamento carioca é a Baía de Guanabara, um dos maiores exemplos de como não lidar com o esgoto. A região, que resume grande parte dos problemas de saneamento do estado do Rio de Janeiro, abrange o Complexo da Maré – o que gera consequências diretas na vida dos moradores.

Cláudio, morador do Complexo, trabalha há quatro anos em uma cooperativa de pesca às margens do Canal do Cunha, uma das áreas mais degradadas da Baía de Guanabara. O pescador relata que, diariamente, encara o total abandono da região pelas autoridades. “Essa água do Canal do Cunha é podre. No período de seca, o fedor é terrível”, conta Cláudio ao falar sobre o incômodo diário com o lixo e o esgoto despejados ao longo da Baía.

Atravessar o Canal também é uma provação diária. O pescador conta que, na maioria das vezes, é preciso remar além do Canal do Cunha, já que o motor do barco não funciona em meio ao lixo. “Se ligar, o motor é capaz de quebrar”. Mesmo com o cuidado, Cláudio perdeu as contas de quantas vezes foi obrigado a entrar nas águas contaminadas para livrar o motor do barco dos detritos.

Essa relação entre a Maré e a Baía é antiga. Na década de 1950, as primeiras casas de palafita foram construídas próximas ao Canal do Cunha, um dos poucos lugares secos da região, que era um mangue. Durante os anos 1960, começou um processo de industrialização muito forte próximo à Maré, por causa da sua posição estratégica na Cidade: o eixo da Avenida Brasil e da Via Dutra, importantes caminhos de escoamento de mercadorias. Morador da Maré, geógrafo e diretor do Museu da Maré, Lourenço César conta que a condição de vida na região foi ficando cada vez mais precária. A chegada das indústrias na Baía aumentou a poluição e prejudicou o território. “São tantos impactos ambientais que, sinceramente, é difícil imaginar uma solução, ainda mais se perceber que a Baía de Guanabara passou por vários governos e nenhum conseguiu despolui-la. A Baía é degradada e, ao mesmo tempo, uma área muito valorizada comercialmente”, revela.

A Refinaria de Duque de Caxias (Reduc), instalada neste período de industrialização, era a principal fonte poluidora da região, chegando a ser responsável por quase 20% da poluição total da Baía de Guanabara até a década de 1990. Segundo Sérgio Ricardo, ecologista e membro-fundador do movimento Baía Viva, o governo da época chegou a admitir a responsabilidade da Reduc. “Houve uma desindustrialização muito grande depois dos anos 1990. Muitas empresas da região da Zona Norte, que nós chamamos de bacia hidrográfica do Canal do Cunha, fecharam”. O ecologista afirma que esse processo é citado pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea) como uma das causas de uma possível diminuição da poluição da Baía, mas que não há muitos dados disponibilizados para confirmar se houve mesmo uma melhoria.

Sérgio ressalta que a situação da poluição da Baía tem se tornado cada vez mais complexa, ainda mais com a falta de disposição dos governos em divulgar informações. A equipe do data_labe foi em busca dos dados do Inea, via Lei de Acesso à Informação (LAI), sobre o número de indústrias que jogam seus resíduos na Baía de Guanabara. A resposta não foi nada animadora: não há uma sistematização dessas empresas e levaria cerca de um ano para enviar a resposta sobre o tema. A falta desses dados é alarmante e dificulta a definição de prioridades para a despoluição da Baía.

Além disso, outro vilão recente começa a afetar – e muito – a situação já problemática da Baía de Guanabara: o chorume. Sérgio Ricardo explica que grandes lixões ocupavam terrenos no entorno da Baía. Os lixões de Gramacho, em Caxias, e Itaoca, em São Gonçalo, os maiores do estado, já tinham um prazo para serem desativados de acordo com a Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos. No entanto, com a Rio+20*, o fechamento desses lixões foi adiantado, sem espaço para um planejamento melhor. O resultado não é dos melhores. “Os lixões foram desativados, mas não foi exigida a implantação da estação de tratamento de chorume. Então, a Baía está com algo em torno de um bilhão de litros de chorume por ano. É uma coisa terrível que está impactado muito os manguezais e a pesca”, lamenta o especialista.

Difícil passar de fase

A discussão sobre saneamento ambiental adequado é um tema de preocupação mundial. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), saneamento “constitui o controle de todos os fatores do meio físico do homem, que exercem ou podem exercer efeitos deletérios sobre seu estado de bem-estar físico, mental ou social”. Saúde e meio ambiente estão intimamente ligados e são pontos centrais quando o assunto é a questão sanitária. Garantir que a população mundial tenha acesso ao saneamento ambiental adequado é garantir o acesso à água potável e impedir a proliferação de doenças, como leptospirose, disenteria, esquistossomose, entre outras. Além de colaborar para a extinção da epidemia de dengue, chikungunya e zika.

Com a intenção de construir uma agenda global, a Organização das Nações Unidas (ONU) construiu uma série de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que devem ser cumpridos pelos países que fazem parte da Organização, garantindo um futuro sustentável até 2030. Saneamento e acesso à água potável são tópicos do objetivo 6 da agenda da ONU. O desafio foi lançado!

*Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, foi realizada de 13 a 22 de junho de 2012, no Rio de Janeiro.

Jovens que concluíram o curso da ELDM embarcam nesta sexta, 5, para a Bélgica

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Luyd e Marllon participam da segunda etapa de seleção para a escola Parts, uma das mais renomadas da Europa

Nesta sexta, 5, Luyd Carvalho e Marllon Araujo embarcam para Bélgica. Os
jovens que concluíram o curso do Núcleo de Formação da Escola Livre de Dança da Maré (ELDM) irão participar da segunda etapa da seleção para um curso de três anos na Escola Parts, referência em dança contemporânea no mundo.  Em entrevista ao Maré Online, os jovens disseram estar confiantes sobre o resultado – esta é a segunda vez que tentam a vaga. “Voltaremos este ano muito mais experientes e seguros”, diz Luyd.

A audição final será em Bruxelas, entre os dias 9 e 14 de abril. As passagens foram doadas pela Lia Rodrigues Companhia de Dança e o dinheiro para as despesas foi conseguido por doações on-line.

Formação profissional 
A ELDM atua em dois eixos principais: os Núcleos 1 e 2. O Núcleo 1 oferece oficinas contínuas de dança de salão, dança de rua, dança contemporânea, balé, yoga, consciência corporal e danças afro-brasileiras para moradores da Maré de todas as idade. O Núcleo 2 é um projeto de formação técnico, artístico e profissional continuada, com aulas diárias, teóricas e práticas, de dança contemporânea e de balé clássico. O projeto nasceu em 2012, idealizado pela coreógrafa Lia Rodrigues ao lado da professora Silvia Soter, e, atualmente, conta com 16 integrantes, todos selecionados em audições artísticas.