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O presente está em chamas

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O presente está em chamas

Em 14/09/2018

Por Eliana Sousa – Diretora da Redes da Maré

 

O incêndio implacável que atingiu o Museu Nacional, localizado na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, no domingo, 02/09/2018, fere e toca nossa alma de forma profunda.  Não tem como não pensar que uma parte de cada um de nós, brasileiros, se vai junto com o que pegou fogo. Não há como não lamentarmos a perda de anos de nossa história.  Isso, porque faltam políticas públicas no campo da preservação do nosso patrimônio histórico e, ainda, o devido entendimento sobre o valor da arte e da cultura para a constituição do que somos e nos tornamos como povo.

Mas o sentimento que me acomete de tristeza, neste momento, me leva para um lugar objetivo/subjetivo e se relaciona com a ideia de passado e futuro, de perene e efêmero.  Remeto-me à violência em torno do número cavalar dos homicídios de nosso país, que chegou à marca de 62 mil ao ano.  Os atingidos por essa tragédia, basicamente, são jovens do sexo masculino, negros, oriundos de favelas e periferias. Nesse caso, mais uma vez, estamos diante da constatação de não termos políticas, no campo da segurança pública, que reconheçam o direito do conjunto da sociedade, independente do estrato social a que pertença.

Vemo-nos, no país, diante de um quadro desolador, que estampa não só o descaso dos governantes com o que chamamos de ‘coisa pública’, em muitas esferas, mas também com a falta de clareza sobre o envolvimento necessário que cada um de nós, como cidadãos e cidadãs, devemos assumir em tal construção. Nesse contexto, o Rio de Janeiro é a síntese do que há de mais crítico no atual quadro de crise que vivemos no Brasil.

As escolhas históricas no campo da gestão pública, até aqui, no Rio de Janeiro e no país, com algumas exceções, obviamente, têm mostrado a nossa incapacidade como sociedade de modelar processos estruturantes nas esferas política, administrativa, financeira, dentre outras. Vivenciamos, de forma sistemática, políticas pautadas numa lógica  de governos  que se alternam, sem considerar  a demanda  urgente de fortalecimento de um  Estado  que ainda não vivenciamos no Brasil.

O incêndio no Museu Nacional nos obriga a reafirmar o compromisso com tudo aquilo que nos possibilita reimaginar o presente, o qual se encontra constantemente comprometido pela tragédia cotidiana que nos assola ao vermos, por exemplo, o assassinato de adolescentes e jovens negros de maneira sistemática. Esses jovens têm suas vidas abreviadas e mal podem viver uma realidade onde o direito de existir esteja garantido. Entretanto, para além de reconhecer as atrocidades daquilo que aconteceu, que molda o que acontece, o passado é uma possibilidade de honrar a vida daqueles que foram silenciados, de fortalecer a partilha.

No caso do Museu Nacional, além da perda irreparável e do golpe que a arte e a cultura do país vêm sofrendo, há o aspecto do afeto e das memórias a que esse museu me remete.  Como moradora, à época, de uma das favelas da Maré, a Nova Holanda, costumava ir à Quinta da Boa Vista para passear e, em algumas dessas idas, ainda adolescente, fui levada pela primeira vez àquele espaço, que ficou marcado em mim pelo seu fascínio e capacidade de nos transportar para nossas raízes. Frequentei o local em muitos outros momentos, ao longo da minha vida. Tenho lembranças que, sem dúvida, também povoam o imaginário de muitas pessoas na cidade e no nosso país.

Temos muitas tragédias com que lidar neste momento. Temos, ainda, porém, o fato de que estaremos nos próximos 30 dias podendo escolher novos representantes para o legislativo e o executivo estadual e federal. É a chance concreta de uma perspectiva que precisa se renovar. Será?  Que Luzia, fóssil humano que se encontrava no Museu Nacional e que era fundamental para a compreensão sobre como se deu a ocupação do continente americano, renasça e se preserve em cada um de nós.

Na ONU, organizações denunciam violações cometidas durante intervenção federal no RJ

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Na ONU, organizações denunciam violações cometidas durante intervenção federal no RJ

Anistia Internacional, Conectas, Justiça Global, Redes da Maré e Observatório da Intervenção realizam evento paralelo à Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU no dia 20 de setembro, em Genebra

 

Em 12/09/2018

Cerca de sete meses após o decreto de intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro, organizações da sociedade civil alertam para as violações de direitos humanos e aumento de índices de violência que revelam a ineficiência do modelo adotado. Os confrontos entre facções, milícias e as forças de segurança se acentuaram, levando ao recorde histórico de 6 mil tiroteios registrados durante os meses da intervenção. Houve um aumento de 38% de mortes decorrentes de ação policial em relação ao mesmo período no ano passado.

O quadro de violações sistemáticas será debatido em evento paralelo à 39ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, no dia 20/9, em Genebra. O debate “Militarização da segurança pública: intervenção federal no Rio de Janeiro, execuções extrajudiciais e riscos para defensores de direitos humanos” reunirá representantes da Anistia Internacional, Conectas, Justiça Global, Redes da Maré, Observatório da Intervenção e também Monica Benício, companheira de Marielle Franco, defensora de direitos humanos e vereadora assassinada no Rio de Janeiro em março deste ano, já sob intervenção federal.

“Dos 44 decretos da Garantia da Lei e da Ordem, nos últimos 10 anos no Brasil, 17 aconteceram na cidade do Rio de Janeiro mostrando o agravamento da militarização da segurança pública no Brasil, sobretudo nas favelas cariocas”, explica Eliana Silva, diretora da Redes da Maré. Isso tem um impacto direto sobre o recrudescimento da violência e a ocorrência de violações, conforme a crítica de Guilherme Pontes, pesquisador do programa de Violência Institucional e Segurança Pública da Justiça Global, “uma política de segurança baseada em confrontos armados com altos níveis de letalidade e o crescente uso das Forças Armadas na segurança interna não são aceitáveis para Estados Democráticos de Direito com compromissos internacionais em Direitos Humanos”.

As organizações são unânimes ao dizer que a intervenção federal na segurança pública é uma medida drástica, que deveria ser acionada em condições excepcionais, o que não é o caso do Rio de Janeiro. As críticas ao decreto destacam a falta de transparência e a imprecisão em relação às competências dos entes públicos. Prova disso é que sete meses após sua instituição, ainda não há um orçamento detalhado ou um planejamento de ações definido. Outro ponto de atenção levantado pelas organizações é a impunidade em casos de crimes cometidos por militares.

“A militarização e o frequente uso das forças armadas não reduz a criminalidade e ainda resulta em diversas violações de direitos humanos. A impunidade nos casos de violações cometidos pelos militares só agrava o quadro de violência cometida pelos agentes do estado que se sentem autorizados a matar” afirma Renata Neder, coordenadora de pesquisa da Anistia Internacional Brasil. Camila Asano, coordenadora de programas da Conectas, ressalta que a intervenção é inconstitucional e “parte de uma lógica de guerra para lidar com a questão da segurança pública, que  possui falhas estruturais no Brasil e cuja solução passa pelo investimento em políticas públicas básicas, como educação e saúde, além de iniciativas que promovam a descriminalização das drogas, controle de armas e reforma das polícias”.

Desde fevereiro de 2018, o monitoramento do Observatório da Intervenção registrou mais de 450 operações policiais-militares, que mobilizaram um total de 180 mil agentes. Ao mesmo tempo, nota-se a escassez de ações de inteligência, capazes de desarticular grupos criminais sem violência, e de iniciativas dedicadas a enfrentar o histórico problema da corrupção nas polícias. “Precisamos de políticas de segurança que preservem vidas e não baseadas em operações, que geram poucos resultados e causam tiroteios e mortes, muitas vezes pelas próprias forças policiais, como tem ocorrido no Rio de Janeiro sob intervenção”, completa a coordenadora do Observatório da Intervenção, Silvia Ramos.

 

Sobre o assassinato de Marielle Franco

Marielle Franco era uma defensora de direitos humanos do Rio de Janeiro conhecida por seu histórico de defesa dos direitos de jovens negros de favelas e periferias, mulheres e pessoas LGBTI. Durante uma década atuou na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do estado do Rio de Janeiro e, em 2016, foi eleita vereadora no município do Rio de Janeiro.

No dia 14 de março de 2018, cerca de um mês depois do decreto da intervenção federal no Rio de Janeiro, Marielle Franco foi assassinada a tiros quando voltava de um debate. Anderson Gomes, o motorista do veículo onde ela estava, também foi morto. Marielle havia sido nomeada relatora da comissão criada na Câmara Municipal para monitorar a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro. Seu posicionamento era contrário à intervenção e à política de militarização da segurança pública.

Quase seis meses depois do assassinato, não há qualquer resposta sobre quem foram os autores do crime, os mandantes e a motivação. As informações divulgadas pela imprensa indicam que o assassinato de Marielle Franco foi um crime sofisticado, cuidadosamente planejado, e pode ter tido a participação de agentes do estado e das forças de segurança.

Serviço

Evento: “Militarização da segurança pública: intervenção federal no Rio de Janeiro, execuções extrajudiciais e riscos para defensores de direitos humanos”

Local: Sala XXVII, Palais des Nations, Genebra

Data e horário: 20 de setembro de 2018, de 12h30 às 13h30, horário de Genebra (7h30 às 8h30 horário de Brasília)

Participantes: Monica Benício (companheira de Marielle Franco); Camila Asano (Conectas); Renata Neder (Anistia Internacional); Pablo Nunes (Observatório da Intervenção); Eliana Silva (Redes da Maré)

Haverá transmissão online pela página da Red Internacional de Derechos Humanos no Facebook

 

Contatos para imprensa


Renato Cosentino – Anistia Internacional | [email protected]r | (21) 99730-3617

Luiza Bodenmüller – Conectas | [email protected] | (11) 99343-0669

Glaucia Marinho – Justiça Global | [email protected] | (21) 97688-2099

Luciana Bento – Observatório da Intervenção | [email protected].br | (21) 98103-7215

Daniele Moura – Redes da Maré | [email protected] | (21) 3105-5531

Fome oculta: “não passo fome mas tem dia que não tenho o que comer”

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Fome oculta: “não passo fome mas tem dia que não tenho o que comer”

Acompanhamos quatro histórias de pessoas em situação de insegurança alimentar moderada e grave em São Paulo

 

Caio Castor e José Cícero da Silva, da Agência Pública

4 de setembro de 2018

Rute Carvalho (zona sul), Givanilda Novaes (zona norte), Andreia Aparecida (centro) e Maria José Vicente (zona leste) são parte das pessoas que vivem em situação de insegurança alimentar moderada e grave em São Paulo.

As duas situações são caracterizadas pelo IBGE quando há redução da quantidade de alimentos entre os adultos, ruptura nos padrões de alimentação devido a falta de alimentos, redução da quantidade de alimentos entre as crianças ou quando alguém fica o dia inteiro sem comer por falta de dinheiro

 

O segundo episódio conta as histórias de Andreia e Zezé. Veja o primeiro episódio.

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A destruição começou antes do fogo

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Em 05/09/2018 – Direção da Redes da Maré

A Redes da Maré, vem a público manifestar sua tristeza e indignação com a tragédia da destruição do acervo do Museu Nacional. A Redes da Maré, que tem como um de seus eixos estruturantes de trabalho justamente a Arte e a Cultura, se solidariza com a população brasileira, os pesquisadores do Museu e a UFRJ.

No último domingo, o Brasil assistiu ao vivo pela TV, perplexo e indignado, a destruição de uma parte inestimável de sua memória. O Museu Nacional foi inteiramente consumido pelo fogo e o incêndio destruiu mais de 200 anos de história.

O Mapa étnico-histórico-linguístico original, com a localização de todas as etnias indígenas do Brasil, foi perdido para sempre, bem como toda a parte de linguística que registrava áudios de línguas indígenas que não se falam mais. Na verdade, a maior parte dos vinte milhões de itens que compunham o acervo do Museu Nacional foram consumidos pelo fogo. Esse acervo é insubstituível.  Não há, por exemplo, como substituir Luzia, o fóssil mais antigo encontrado no Brasil de aproximadamente 12 mil anos.

O Museu Nacional fica na Quinta da Boa Vista – uma antiga fazenda doada ao Rei D. João VI por um comerciante português – em São Cristóvão, na zona norte da cidade. O fato curioso é que a Quinta da Boa Vista e o Museu – quando ainda era o palácio dos reis -, eram o centro da vida da nobreza imperial. Porém, de espaço da realeza, passou a ser frequentado por milhares de cariocas de origem popular, sobretudo nos finais de semana, em busca de lazer e cultura. Muitos moradores da Maré, por exemplo, guardam boas recordações dos piqueniques no gramado da Quinta, a visita ao Zoológico e ao próprio Museu.

A verdade é que essa era uma tragédia anunciada: o governo federal cortou recursos fundamentais para a manutenção do acervo e a prevenção de incêndios como o que acaba de ocorrer. Desprezando-se a importância de um lugar como o Museu Nacional e ignorando os sucessivos avisos e pedidos de socorro, os cortes de verbas continuaram como política ativa de quem não se interessa pela memória e identidade dos brasileiros.

O resultado desse desprezo e descaso – muitas autoridades se apressam agora para se eximir de suas responsabilidades – é que as novas gerações de brasileiros nunca mais terão a oportunidade de conhecer o acervo do Museu Nacional. Isso porque mesmo que se recuperem alguns artefatos, documentos e outros objetos é impossível reconstruir o que se perdeu. O Museu era como uma pessoa, ou seja, insubstituível!

Fica aqui a tristeza de saber que a destruição do Museu começou bem antes do fogo que o consumiu por inteiro. Começou com o corte de verbas, a falta de investimentos em prevenção e o não reconhecimento da cultura como patrimônio maior do país.

Festa Cultural na Maré

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Maré de Notícias #92 – 03/09/2018

Hélio Euclides

O Espaço de Desenvolvimento Infantil Cleia Santos de Oliveira, na Nova Holanda, organizou no dia 11 de agosto, na Rua Sargento Silva Nunes, uma festa cultural. O evento nasceu da culminância do projeto anual da escola. O primeiro passo foi mostrar para os alunos a história do lugar, um recorte da construção da Maré, intitulado: “Eu, o outro e nós no mundo”, no qual a criança é o ator principal das atividades.

“A festa foi sobre a cidade do Rio de Janeiro. Cada turma escolheu uma personalidade carioca, como Chico Buarque, Arlindo Cruz, Cacique de Ramos e Vinícius de Moraes”, lembra Luciene Vieira, professora da Educação Infantil. O evento contou com barraquinhas e a presença da Escola de Samba Acadêmicos da Maré, antiga Gato de Bonsucesso, que homenageou Mercedes Baptista, a primeira bailarina negra do Teatro Municipal, com um samba da coirmã Cubango.