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Driblando a crise com criatividade

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Maré de Notícias #92 – 03/09/2018

Outras possibilidades de renda são criadas para enfrentar a crise

Hélio Euclides

O termo “empreendedorismo” se refere à busca de novas oportunidades por meio da inovação e da autonomia. A definição de empreendedorismo pressupõe colocar em prática uma ideia nova, oferecendo uma maneira criativa de fazer algo que já existe. Para isso é necessário pensar, planejar, organizar o plano de negócio e, claro, formalizá-lo.

Segundo Carol Machado, consultora do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), existem duas formas de se tornar microempreendedor. “Para quem não precisa emitir Nota Fiscal, é só entrar no Portal do Microempreendedor, fazer o Cadastro Nacional de Pessoal Jurídica (CNPJ), emitir o Documento de Arrecadação do Simples Nacional (DAS) para pagamento mensal e fazer a declaração de morador de favela, que fica isento de impostos. Já para quem necessita da Nota, primeiro é preciso entrar no Portal da Prefeitura, o Nota Carioca Digital, e fazer a consulta sobre o local, e verificar se é viável a atividade no endereço. Se a Prefeitura aprovar, faz-se o CNPJ e emite-se os DAS. Depois gera-se o alvará definitivo, no Nota Carioca Digital. Deve-se também solicitar no mesmo site, pela inscrição municipal, a concessão da Nota. Qualquer dúvida é só procurar o Sebrae Maré”, lembra a consultora.

Segundo o Portal do Empreendedor, mais de sete milhões de pessoas já pertencem à categoria Microempreendedor Individual (MEI). O número de MEIs no País cresceu 14,4% em fevereiro de 2018 na comparação com o mesmo mês do ano passado, aponta pesquisa da empresa de consultoria Serasa Experian. O aumento do número de MEIs também está ligado ao crescimento do desemprego no Brasil e à falta de oportunidades, em especial para os jovens que procuram o primeiro emprego, ou para aqueles que já passaram dos 50 anos de idade.

Para que o empreendedor não tenha prejuízo, é necessário também elaborara um plano de negócio, para planejar os passos que devem ser dados para que os objetivos sejam alcançados, diminuindo os riscos e as incertezas. “Resumidamente, pode-se dizer que o planejamento procura responder três questões principais: Onde estamos? Para onde queremos ir? Como chegar lá? Para tanto, faz-se necessário seguir uma linha de orientação do trabalho: análise do cenário, definição de objetivos, definição de estratégias e elaboração de um programa de ações”, enfatiza Carol.

A visão de empreendedor: enxergar uma oportunidade para abrir o próprio negócio é o desejo de muitos

Alzira Ramos, de 60 anos, ficou desempregada. Resolveu fazer bolos e vender fatias no botequim ao lado da casa. De uma história de superação, nascia no ano de 2008 a primeira loja da Fábrica de Bolo Vó Alzira, no bairro da Tijuca. Esse início de trajetória reflete a experiência de muitas pessoas que, ao perder o emprego, se transformam em empreendedoras.

Com dificuldades na aposentadoria, Neuza Josefa, de 61 anos, é conhecida como a Tia do brownie. Ela vende brownie e bolo de pote pelas ruas e instituições da Nova Holanda. A Naná Doces acabou virando um negócio da família. A nora de Neuza, Aline de Oliveira, é quem bota a mão na massa. “A minha filha Geovana faz a planilha, com entrada, saída e fluxo de caixa. Minha sogra assumiu a função da venda, algo que ajuda na nossa renda”, afirma Aline.

Muitos trabalhadores não se veem como empreendedores, como é o caso de Virginia Lúcia, de 39 anos. “Não sei se sou empreendedora, mas procuro aprender para crescer, e lutar por uma vida melhor”, diz. Ela trabalhou em pensão e tinha o desejo de trabalhar por conta própria. Então veio a ideia de trabalhar com um carrinho de bolos e salgados pelas ruas da Nova Holanda. Ela sobrevive dos seus quitutes, paga dois aluguéis, da casa e da loja onde prepara os lanches, que ela chama de minifábrica. “Meu sonho é ter uma “empadaria”, que fabrica empadas e bolos”, conta.

A criatividade é a palavra de ordem

No momento mais difícil de sua vida, David Portes descobriu que podia ser empreendedor. Em 1986, sem emprego, sem casa, pediu emprestado o equivalente a R$ 12,00, seguiu seu instinto e arriscou: deixou de comprar remédios para a esposa, que estava grávida, para adquirir alguns doces para revenda. Em menos de uma hora nas calçadas do Centro do Rio, ele já tinha arrecadado o dobro do que havia investido. Resolveu se estabelecer no local como camelô. Hoje, faz sucesso com sua história de superação, dando palestras ao redor do mundo.

Cristian Gomes, de 20 anos, relembra a história de David. Cristian começou fazendo cursos profissionalizantes de administração e, na época, trabalhava na pizzaria da tia. “Ela me deu a sugestão de abrir um negócio próprio. Tentei várias coisas, ter um negócio é muito complexo. Pensei em doces, mas faltava conhecimento, alguém para me guiar. Em 2006, no pré-vestibular tive outra visão de mundo. Então, fui estudar, seguir uma trajetória”, detalha.

Seu único capital era R$ 90,00, que tinha reservado para quitar uma dívida. “O que me fez mudar de ideia foi ver no Facebook uma página de cone de chocolate. Isso ficou martelando na minha cabeça. Assim nascia os cones Chocorela, o nome que mistura chocolate com muçarela, queijo que Cristian tanto manuseou na pizzaria onde trabalhava. Três lojas adotaram o produto e mais cinco parceiros venderam aos amigos. “Um passo foi um curso no Sebrae, para ter um olhar profissional. Penso numa faculdade para me qualificar ainda mais”, destaca. O preço de cada cone é R$ 5,00.

Uma rede de conhecimentos

Para obter sucesso no empreendedorismo é vital uma rede de contatos. Cristian criou um grupo no WhatsApp. “São empreendedores, que trocam ideias, e um ajuda o outro. Nem todos sabem lidar com o empreendedorismo. Uma pena que não tenho tanto tempo para assessorar. A pessoa começa o negócio e desiste por não obter resultados sólidos em curto prazo”, acrescenta.

No futuro, ele deseja ter um canal no You Tube que possa ajudar na vivência dos empreendedores. “Falar das questões, pois há pessoas que nem sabem que têm cursos gratuitos, que não há procura”, revela. Uma das pessoas que participam dessas trocas de ideias é uma amiga formada em Administração. Ela acrescenta o teórico e Cristian, a prática, uma via de mão dupla. “Também faço consultoria na Unisuam, são vários projetos locais, durante o ano. Lá, aprendo sobre gestão e planejamento. Tem pessoas da comunidade que têm medo de ser empreendedor. O conselho é insistir e tentar entender o negócio”, enfatiza.

Onde encontrar ajuda

A Coordenação Comunidade Sebrae atua nas favelas para apoiar pequenos negócios, oferecendo os seguintes serviços: orientações sobre a formalização e como se tornar um MEI; indicações sobre a obtenção de alvará e nota fiscal; oficinas e cursos sobre gestão. Há ainda calendários de capacitações, com cursos, oficinas e palestras sobre gestão de negócios. O Sebrae Maré funciona às segundas e às terças, das 10 às 16h, na sede da Redes da Maré. O Sebrae Maré oferece as seguintes capacitações: “Como atrair, conquistar e manter clientes” (25 de setembro, às 14h); “ Sua empresa no Facebook” (30 de outubro, às 14h) e “Preparando-se para o Natal” (27 de novembro, às 14h).

A Luta pela Paz, em parceria com a Aliança Empreendedora, oferece um curso intensivo voltado para jovens entre 18 e 35 anos, com sete encontros. O conteúdo programático busca oferecer aos empreendedores algumas ferramentas de gerenciamento de negócio, inovação e gestão. O objetivo é a formação de 100 empreendedores, com valorização da vivência, conhecimento e rede de contatos. Inscrições e informações na Rua Teixeira Ribeiro, 900, Nova Holanda, ou pelo e-mail: [email protected].

A Unisuam oferece o programa de Pré-aceleração, uma iniciativa do Pólen – Polo de Inovação e Empreendedorismo. A próxima etapa consiste no processo de entrevistas, em que são selecionados os empreendedores participantes da Pré-aceleração, que ocorre durante seis meses. No programa, os empreendedores, por meio dos módulos ministrados, recebem instruções de como construir e consolidar um negócio. Eles aprendem sobre: Canvas (ferramenta de planejamento estratégico), modelagem de negócio, marketing, gestão financeira, análise de risco, estudos de mercado, entre outros assuntos. Mais informações podem ser obtidas na Diretoria de Inovação & Novos Negócios (tel.: 99726-1277).

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Sarampo: prevenir para não remediar

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Maré de Notícias #92 – 03/09/2018

Erradicada no Brasil desde 2015, vírus volta a ser motivo de preocupação

Hélio Euclides

Os casos recentes de sarampo no País reacenderam o alerta sobre a doença. Muito comum entre crianças brasileiras, o sarampo tinha desaparecido do Brasil. O último caso relatado da doença tinha ocorrido no Ceará, em julho de 2015. Este ano, porém, foram novamente registrados casos da doença. A Secretaria Municipal de Saúde reforça a orientação de que a vacina é a única forma de prevenção ao sarampo. “Não é recomendado deixar de vacinar uma criança. É a saúde dela que está em jogo”, enfatiza Kelly Alves, mãe de um menino de quatro anos.

O dia D da vacinação foi em 18 de agosto, com uma boa adesão na Maré. Só na Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva, na Nova Holanda, foram vacinadas cerca de 700 crianças. “As carteirinhas de vacinação dos meus três filhos estão em dia, nenhum deles teve sarampo. A vacina é uma proteção, não só para a família, mas para a vizinhança. Agora se fala do sarampo, mas são várias doenças existentes, e precisa estar com as vacinas atualizadas”, destaca Andrea Vieira, mãe de dois meninos, um de três anos e outro de quatro anos, e de uma menina de seis meses.

 

Unidades de Saúde da Maré possuem a vacina

Otto Faber Júnior, médico da equipe técnica do Serviço de Vigilância em Saúde do Centro Municipal de Saúde Américo Veloso, da Praia de Ramos, diz que apesar de não existir casos na Maré, não se pode deixar de aplicar a vacina tríplice viral, que protege de três doenças: sarampo, caxumba e rubéola. “Essa proteção está disponível, conforme calendário de vacinação, para crianças aos 12 e aos 15 meses. É importante destacar que a vacina contra o sarampo, para adultos até 49 anos, é direcionada às pessoas que não foram vacinadas anteriormente. Quem já tiver esquema completo, não precisa se vacinar novamente”, explica o médico.

Quem necessitar de mais informações deve procurar uma Unidade de Saúde, levando a caderneta de vacinas para avaliação. “A vacinação acontece de segunda a sexta, das 8 às 17h, nas Unidades de Atenção Primária da Maré: as Clínicas da Família Diniz Batista dos Santos, Adib Janete, Augusto Boal e Jeremias Moraes da Silva e os Centros Municipais de Saúde Vila do João, Américo Veloso e João Cândido”, esclarece Dr. Otto. A convocação acontece para crianças até quatro anos, 11 meses e 29 dias.

As contraindicações para as duas vacinas, Tríplice Viral e Tetra Viral, são: hipersensibilidade grave conhecida a algum componente do insumo, imunodeficiência, pessoas com HIV e quem tenha história de evento adverso grave em dose anterior da vacina. E também levar a Caderneta de Vacinação! Em caso de dúvidas, os pais ou responsáveis poderão pedir orientação ao profissional na unidade de saúde.

Maré Longboard, um estilo de vida

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Maré de Notícias #92 – 03/09/2018

A história do coletivo que integra e multiplica esporte, mobilidade e cultura

Maria Morganti

Um grupo de amigos começou a se reunir nas ruas da Nova Holanda por causa da paixão em comum pelo skate. Se reunir e dar rolés. Muitos, vários, por todos os cantos da cidade. Da repetição desses encontros – e desses rolés – nasceu, em 2014, o coletivo Maré Longboard. “Nasceu em frente a essa instituição (a Redes da Maré). A gente parava aqui pra conversar, fazer debates. Todos os integrantes são “crias” da Maré, somam desde sempre, moram aqui”, relembra Diego Reis, o DG, de 21 anos, e um dos 10 integrantes do coletivo.

 O estouro do Longboard

 Além de Diego, Allan Santos, de 21 anos e Marvin Pereira, de 24, já andavam de skate da favela para Madureira “todo domingo”; davam rolés pelas praias de Copacabana, na Zona Sul, mas, segundo eles, o boom de skates aconteceu quando a Maré foi ocupada pelo Exército entre abril de 2014 e junho de 2015. “Eu sempre via nosso grupo andando junto, ia pra Madureira todo domingo. A galera via e queria fazer parte disso. Quando teve a ocupação do Exército, em que as motos pararam de circular, começaram a tomar como opção as bicicletas e o Longboard”, conta Allan.

Assim como a ocupação do Exército, o fechamento da Avenida Brasil para as obras do BRT Transbrasil, no início de 2015, é considerado pelos integrantes outro marco na história do Maré Longboard. “Foi lindo. Rolou tudo, churrasco, todos os esportes, rolimã, patins, bambolê, pique e pega…”, conta Marvin, o mais velho do grupo e um dos primeiros do coletivo a começar a andar de skate. “Ali, a gente pôde ver que a questão não é que a galera não goste de fazer esporte, que a galera é sedentária. É que, realmente, não tem um espaço para desenvolver aquilo ali. Quando teve o espaço disponível, a galera fez coisa pra caramba”, comenta Allan.

“Minha mãe quebrou três skates meus”

“Bem no início, a minha mãe achava coisa de doido”, conta, rindo, DG. Até que ele começou a ganhar campeonatos. Em um deles, voltou para casa com uma caixa de Guaravita. “Eu saía e voltava com alguma coisa ou com alguma parada que demonstrasse felicidade e ela foi agarrando, foi agarrando, e hoje em dia super apoia”. Para Marvin, a desaprovação dos pais rendeu três skates quebrados, de diversas maneiras. “Minha mãe já quebrou três skates meus. Já jogou da janela, já quebrou, já jogou fora inteiro”.

Entre um rolé e outro para fora da favela, e alguns tombos também, confessa Marvin mostrando as cicatrizes, o grupo pensou:  “por que não fazer algo dentro da própria favela? A gente começou a pensar como podia atuar dentro da nossa favela. Já que a gente estava saindo muito, buscando os rolés de Zona Sul, buscando os rolés de Madureira. Pô, mas a gente só vai pra Madureira, só vai pra Zona Sul? Vamos fazer alguma coisa aqui dentro, para as crianças, vamos fazer um evento na Maré”, relata DG.

De lá pra cá, o grupo já realizou, por meio de parcerias, cinco eventos beneficentes. Um dia não só com o skate, mas reunindo nas ruas da favela, grafite, batalha de MCs, apresentação de Slam (espécie de declamação de poesias). Uma edição chegou a contar com a apresentação de nomes da música, como o Ghetto Zn e MV Bill. Agora, estão na produção do sexto, previsto para acontecer no Dia das Crianças, 12 de outubro.

Maré Longboard nas escolas

Olhando para trás, DG avalia que o coletivo, que não tem hierarquia – por isso não existe um “presidente”, está vivendo um processo de solidificação e estruturação. O programa mais atual é o “Maré Longboard nas Escolas”, que duas vezes por semana oferece aulas teóricas e práticas, de 1 hora, sobre temas, como equilíbrio, estratégia para evitar quedas de risco e entendimento de consciência corporal, na Escola Municipal Bahia. Segundo DG, a ideia é atender todas as escolas da região Maré, ficando dois meses em cada. “O nosso objetivo geral sempre foi tentar trazer oficinas e incentivar a juventude, crianças e adolescentes, no setor desse esporte Longboard e mostrar que ele pode ser usado como objeto de transporte, socialização e mobilização”.

Reconhecimento do trabalho

As demonstrações do reconhecimento desse trabalho de quatro anos do coletivo Maré Longboard vêm dando frutos. O grupo foi selecionado no programa Active Citizens, uma parceria da Redes da Maré com o Consulado Britânico, para desenvolver projetos na Maré. Eles também receberam a doação de um imóvel, feita por um morador da própria comunidade, que é usado pelo grupo como escritório. Aberto ao público, o escritório disponibiliza livros, filmes, brinquedos e jogos como dama e dominó. Sobre o futuro do Maré Longboard, DG deixa em aberto: “eu não sei onde a gente vai chegar, o céu é o limite”.

Como participar do Maré Longboard:

 

Se identificou com os valores do Maré Longboard? Quer interagir com o que eles fazem? Chegar junto para somar?

Entre em contato pelas redes sociais ou chegue no escritório:

Facebook: @MLongboard 

Instagram: @marelongboard 

Endereço do escritório:  Rua Almirante Tamandaré, nº 48, fundos, Nova Holanda.

Um provisório que se tornou permanente

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Maré de Notícias #92 – 03/09/2018

Pedestres sofrem ao trafegar por passarelas feitas de metal e madeira

Hélio Euclides

A Maré é atendida por 14 passarelas, que são utilizadas pelos moradores todos os dias. Dessas 14, dez estão localizadas na Avenida Brasil, duas na Linha Amarela e outras duas na Avenida Brigadeiro Trompowski. As maiores críticas são dirigidas a seis, que ficam onde serão construídas as estações do BRT Transbrasil. As passarelas fixas foram substituídas pelas feitas de andaimes, madeiras e piso de borracha. O que surpreende é que nem as de cimento escapam das reclamações, como é o caso da Passarela 9, com arames soltos, e a do BRT Transcarioca, que liga a Clínica da Família Diniz Batista dos Santos ao Parque União. Nesta, há um buraco no piso.

Durante uma semana, a equipe do Jornal Maré de Notícias fez um tour pelas passarelas em torno da favela. E presenciou inúmeras dificuldades e diversas queixas de pedestres. A mais antiga das passarelas de tubos metálicos fica próxima ao Conjunto Esperança, na Avenida Brasil, e foi feita após a mudança de local do ponto de ônibus. “Já presenciei uma moça ajudando um senhor a subir muitas escadas dessa passarela. Ela ainda é estreita (alguns pontos com apenas 1,30 m). Quando será feita uma passarela de cimento? E olha que é bem em frente ao Instituto Oswaldo Cruz! Quando pisamos, o piso afunda, como se as madeiras estivessem ruins”, argumenta Sara Alves, moradora da Vila do João.

Para Antonio Jorge, morador da Vila do Pinheiro, o caso é vergonhoso. “Essa do Conjunto Esperança não tem proteção para se segurar, uma criança pode cair. Ela tem degraus e é alta, é um sacrifício para mim, que tive chikungunya”, explica. Sara entende que tudo começou quando mudaram o ponto de ônibus, na pista de subida da via, que abordamos no Maré de Notícias, na Edição 27, em julho de 2012. Essa mudança aflige a todos. “É um caminho estreito e sem manutenção, furtaram as grades de proteção e não foram recolocadas, estamos abandonados”, revela.

Por várias vezes, o Jornal abordou esse tema tão preocupante para a população. O Maré de Notícias, na Edição 51, em março de 2014, trazia a passarela próxima ao Conjunto Esperança como tema. A pergunta que não teve resposta era: com quantas tábuas se faz uma passarela? No mesmo ano, o Sindicato dos Funcionários da Fiocruz (ASFOC), colocou faixas de protesto na via e protocolou Ofício na Prefeitura do Rio, solicitando providências e um retorno formal sobre a previsão para a construção de uma passarela definitiva, ligando os dois lados da Avenida Brasil. Neste documento, a ASFOC ressaltava o risco a que a população e os trabalhadores são submetidos diariamente. Até hoje, não houve desdobramento do Ofício. Pedro dos Santos, presidente da Associação de Moradores do Conjunto Esperança, espera, pelo menos, por manutenções mais eficientes. “Aguardamos, com urgência, a reforma da passarela de madeira”, resume.

Para doentes e funcionários da Fiocruz, o dilema é diário na Passarela da Vila do João. “Está tudo ruim, quando passamos há o sentimento de que vamos cair. Não é segura. O triste é ver a outra de cimento inacabada”, comenta Maurício Oliveira, morador de Duque de Caxias, paciente que precisa de remédios do Instituto Oswaldo Cruz. Divânia Carvalho e Laura Martins são funcionárias da Fiocruz e compartilham do mesmo pensamento. “Muito ruim e perigoso, a estrutura pode desabar. Quando chove, fica cheia d’água. Tenho medo de passar à noite, é escura”, revelam.

Seis passarelas de andaimes em nossas vidas

Para Charles Gonçalves, presidente da Associação de Moradores da Baixa do Sapateiro, essa situação já passou do limite. “Elas não são plausíveis, pois apesar de serem provisórias, já estão há muito tempo, não é normal essa estrutura há mais de três anos”, reclama. Jorge Rodrigues, morador da Baixa do Sapateiro tem a mesma opinião. “Nós que pagamos o aluguel para manter essas estruturas metálicas. A Prefeitura ainda fala que está sem dinheiro. Os gastos com esses andaimes poderiam ser revertidos para fazer as definitivas”, declara.

Para os mototaxistas que trabalham perto da Passarela 8, é tudo um absurdo. “Isso é passarela? Para mim é uma estrutura montada, tipo andaime, só para enganar o povo”, supõe Emilio Souza. Outro profissional das duas rodas conta algo gravíssimo: “já vi gente arrancar ferros, é um risco de acidente grave. A sorte é que devolveram e um morador colocou no lugar”, denuncia Roberto Luís. Para Carlos Antônio, vendedor ambulante, é puro descaso. “Além de não ser limpa, empoça bastante água, chegando ao tornozelo. O pessoal da Prefeitura vem e faz algo para enganar. Já sumiram com duas das quatro estruturas de sustentação da laje da antiga passarela, a sorte é que foi reposta”, detalha.

Na Passarela 12, os mesmos problemas. “Eu e minha filha já escorregamos, pois o tapete já não está antiderrapante. Tem madeira aparecendo, não tem segurança para o pedestre, é uma bagunça fora do normal”, revela Cristiano Reis, presidente da Associação de Moradores da Roquete Pinto e Praia de Ramos. As opiniões dos moradores são semelhantes. “As coisas estão uma bagunça. Já assisti gente tropeçar, coisa que não é novidade aqui”, diz Arlindo Sousa, morador da Praia de Ramos.

As Passarelas 10 e 11 também são metálicas. “Quando pisamos, as madeiras estão rangendo e os pregos estão saindo e ficam prendendo no sapato”, confessa Sebastião Fernandes, motorista de ônibus. Mateus Francisco, morador da Roquete Pinto tenta entender o descaso: “é isso que oferecem para o povo, e o pior que desejam que nos contentemos”. A falta de pontos de luz é outra preocupação de quem precisa atravessar a via. “As travessias são perigosas à noite, pois estão na escuridão da Avenida Brasil. Na Passarela 11 já tentaram me roubar”, conta Flávio Alves, morador do Parque Maré. Na área de cobertura da 21ª Delegacia Policial (que além da Maré, abrange Bonsucesso, Higienópolis, Manguinhos e partes de Ramos e Benfica), somente nos cinco primeiros dias de agosto, foram registrados 75 roubos de celulares. Desse total, 42 ocorrências, ou seja 56%, foram efetuadas na Avenida Brasil, no trecho da Maré.

Nem as de alvenaria escapam dos problemas

“Aqui na Passarela 9, as grades de proteção só servem para pegar a roupa e machucar”, essa reclamação de Wanderlei Lima, morador da Nova Holanda, também foi feita por vários pedestres. Na passarela no BRT Transcarioca, próximo à estação Maré, dois são os dilemas dos usuários: o primeiro é um grande buraco em pleno piso. “Aparenta estar em bom uso, mas tem um buraco, algo perigoso para as crianças, em especial pela manhã, quando tem grande acesso para a escola”, diz Taís Pereira, moradora do Parque União. O segundo refere-se à acessibilidade não é respeitada para chegar à Clínica da Família Diniz Batista dos Santos. “Todos reclamam dos degraus. Já vi idoso passar mal, e cheguei a socorrer um. Para uma mãe chegar com seu filho cadeirante à clínica da família, ela desce com ele no colo, deixa comigo, depois sobe para pegar a cadeira de rodas. Poderiam colocar rampa ou um sinal de trânsito na pista de descida da Brigadeiro Trompowski”, sugere Nazaré Santos, vendedora ambulante.

 

Como ficam as passarelas?

A Assessoria de Imprensa do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) declarou que a Avenida Brasil é uma Rodovia Federal (BR-101/BR-116/BR-040), cuja operação e manutenção está a cargo da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, por força de Convênio.

A Secretaria Municipal de Infraestrutura e Habitação garantiu que todas elas são seguras e vão permanecer provisórias até a finalização da obra do BRT Transbrasil, quando serão substituídas pelas definitivas de alvenaria, com acessibilidade para pessoas com necessidades especiais. O órgão municipal revelou que as passarelas do Conjunto Esperança e da Praia de Ramos serão vistoriadas. Sobre a Passarela 6, explicou que será restaurada.

Ir e vir, uma batalha diária

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Maré de Notícias #92 – 03/09/2018

Para trabalhar ou se divertir, os moradores da Maré enfrentam dificuldades para se locomoverem

Maria Morganti

Por volta das 5h45 da manhã, o despertador toca na casa de Célia Silva, moradora do Parque União. Às 6h30, ela precisa estar com os pés na rua se quiser ir para o trabalho, em Ipanema, sentada em um dos ônibus da linha 483. Se chegar um pouco mais tarde na fila – que é grande – para pegar o ônibus, corre o risco de fazer a viagem em pé. De qualquer jeito, vai em um ônibus quebrado, velho e sem ar-condicionado. Se tiver chovendo, tudo piora. Para ninguém ficar encharcado, a janela precisa ser fechada. Não importa a quantidade de pessoas que estiverem amontoadas. Pra ficarem secos, precisam suportar o calor. A volta é ainda mais sacrificante: Célia precisa pegar dois ônibus. “Infelizmente é muito precário. Horrível. É uma batalha todos os dias, essa guerra aí”, desabafa a empregada doméstica que faz esse percurso cinco dias por semana, há nove anos.

                E nos fins de semana? “Fazer coisas perto de casa, que não precise pegar ônibus. A gente ainda tem uma vantagem que, aqui, na Maré, tem dança, teatro, vários programas. Tem vários projetos que ajudam nesse quesito, mas coisas fora da Maré são complicadas para ir. Ainda mais por causa da passagem, porque do jeito que o País está, a gente não está tendo nem condição de manter nossa comida, que dirá passeios assim, com passagem! Infelizmente a gente deixa de sair da Maré por causa do transporte público”, afirma Antônio Ferreira, estudante de 17 anos e morador da Nova Holanda.

 

A realidade de muitos

                A realidade de Célia e Antônio não é muito diferente dos outros quase 140 mil moradores do conjunto de favelas da Maré. Para 40% dessa população, a locomoção na cidade é considerada uma questão muito importante no seu dia a dia, segundo a pesquisa “1ª Amostra sobre Mobilidade Urbana na Maré”, realizada em 2014, fruto da parceria entre a Redes da Maré, o Observatório de Favelas e o Centro para Excelência e Inovação na Indústria Automóvel. Dos que responderam que ir e vir é uma questão “muito importante”, mais de 40% justificam que é por causa do deslocamento para trabalhar; e 16% atribuem a afirmação à necessidade, hábito ou direito de circular na cidade, ou de se deslocar para outros lugares.

Das pessoas que responderam que é pouco importante ou sem importância a locomoção na cidade no dia a dia, a maioria afirmou que o motivo da resposta é por não ter o costume de sair de casa ou da Maré. E desse total de pessoas que saem da Maré, quase 50% respondem que é só para ir trabalhar. Segundo o professor e especialista em mobilidade urbana do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPUR/UFRJ), Mauro Kleiman, apesar de o Rio de Janeiro ter vários modais presentes, não existe um planejamento que os integre e garanta o direito de mobilidade. “No Rio de Janeiro, especificamente, você tem todos os modais presentes: trens, metrôs, barcas, VLT, ônibus, vans, mototáxis. Apesar disso, não existe nenhum planejamento de integração entre eles e muito menos uma integração entre transportes e uma política de território, de planejamento”.

Haja sola de sapato

Com área de 4,3 km² e com mais de 5 km de extensão, correspondendo a quase 10% do total de uma das vias mais importantes da cidade, a Avenida Brasil, o bairro Maré pode ser considerado um exemplo dessa “falta de planejamento”. “A gente anda muito, ainda mais porque a gente não tem transporte. Os transportes que têm são vans e Kombis. Ônibus, nem pensar”, conta Adriana Ferreira, que mora na favela Marcílio Dias e trabalha na Academia Luta Pela Paz, na Nova Holanda e, por isso, faz o trajeto de uma favela para a outra todos os dias. Atualmente, não existe nenhuma linha de ônibus regular que garanta aos moradores o acesso ao direito de ir e vir entre as 16 favelas da Maré.  Outros ônibus que faziam o trajeto daqui para fora da Maré, como as linhas 330 da Empresa Ideal (com o percurso do Castelo, no Centro, até o Parque União), só passa na Maré uma vez ao dia. A grande maioria não existe mais, como o 320 – Praça XV / Parque União, 955 e 957, que faziam Maré/Alvorada, o 405, de Ramos ao Cosme Velho, e o 452, que saía da Maré com destino à Copacabana. Perguntada sobre o motivo da extinção das linhas, a Secretaria Municipal de Transporte afirmou que “as linhas 442 (Maré x Copacabana – via Santo Cristo), 443 (Maré x Leblon – via Central) e 444 (Maré x Copacabana – via Santa Bárbara) saem da Maré. Apenas a 442 e a 955 estão ativas. A linha 431C é intermunicipal. As demais não constam na relação de linhas ativas da SMTR”.

“Por motivo de segurança”

Quem pode e tenta pegar um táxi ou um Uber para sair de casa ou voltar para a favela, pode ouvir do motorista: “não entro em favela”. A Central 1746 de Atendimento ao Cidadão recebeu, no período de janeiro de 2017 a julho de 2018, o total de 879 solicitações e reclamações sobre táxis na cidade. Apesar de ser uma concessão pública, o que na teoria deveria garantir o acesso desse tipo de transporte à favela, segundo a Secretaria Municipal de Transportes eles “não têm normas que recomendem tráfego em comunidades. Os passageiros/usuários de táxi e aplicativos têm o direito de escolher que rota seguir. Lembrando que violência nas vias é questão de segurança pública”.

Ana Clara Alves, 19 anos, é moradora do Morro do Timbau e, num sábado à noite, pediu um Uber para transportá-la com a família. Ela estava na cabine policial da Linha Amarela, na altura da Passarela do Pinheiro e queria ir para a Praça do Parque União. O motorista da empresa mandou, pelo chat disponível do aplicativo, a seguinte mensagem: “Boa noite, qual destino?” Após a estudante responder, ele cancelou a viagem. Na segunda tentativa, o motorista, pelo mesmo chat, perguntou para onde Ana ia, “por questões de segurança”. Ela respondeu, “o senhor não vai entrar na favela”. A mensagem foi notificada como “lida”, mas o motorista não respondeu, a família da Ana não conseguiu embarcar e, segundo ela, ele nem cancelou a viagem. “Não foi a primeira vez”, desabafa a estudante de jornalismo. Entramos em contato com a assessoria de imprensa da empresa Uber, mas não obtivemos resposta.

Mototáxi que salva

Mototaxista Luan Farias: há 11 anos auxiliando os moradores a se deslocarem pela cidade | Foto: Jéssica Pires

Alguns carros particulares como o “Uber Maré” e outros transportes executivos prestam esse serviço na favela (ver boxe). No dia 24 de setembro, é comemorado o dia nacional de um dos meios de transporte mais usados em favelas de toda a cidade: o mototáxi. Segundo descrito no Projeto da Lei, sancionado em 2007, “no Brasil, em menos de 10 anos de existência, a atividade de mototáxi, exercida predominantemente por jovens, consolidou-se nos mais diversos centros urbanos de todo o País, em especial nas regiões menos assistidas pelo poder público, constituindo uma realidade irreversível no transporte de passageiros. No contexto do desenvolvimento social, no qual se conjugam a pobreza e a possibilidade de remuneração, o mototáxi se configura como uma realidade de mercado para as comunidades mais pobres, contribuindo para a superação da vulnerabilidade de deslocamento”.

No Rio, o Decreto que regulamentou o serviço de transporte de passageiros por moto, o trabalho de mototaxista, foi assinado em março deste ano, e estabeleceu que para exercer a profissão é obrigatório ter mais de 21 anos e habilitação da Categoria A. Luan Farias, “cria” da Maré e mototaxista há 11 anos, confessa que não sabia do dia dedicado à sua profissão. Atualmente, trabalha no ponto da Passarela 7, na Escola Bahia, e conta que leva por dia cerca de sete pessoas durante as 8 horas de trabalho que cumpre diariamente. Perguntado se ao longo desses anos alguma história o marcou, Luan diz que são tantas, que nem consegue lembrar. “São tantas que, pra eu lembrar aqui, acho até difícil”. Se gosta da profissão? “Sim, claro que eu gosto. É o que me sustenta, né? A credibilidade de comprar minhas coisas, não depender de ninguém, só eu trabalhar. E me ajuda em tudo, já comprei uma casa, já comprei carro, comprei moto”.

Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro visita à Maré no pós-operação

Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro visita à Maré no pós-operação

A ação, realizada na última segunda-feira (20), deixou saldos negativos; Defensoria e outras organizações seguem se articulando para apurar violações de direitos

Em 22/08/2018

A Redes da Maré e outras organizações da região circularam nos pontos críticos da operação policial realizada na última segunda (20), acompanhando a Defensoria Pública do Estado. A Defensoria integra o Circuito Favelas por Direito, um conjunto de organizações da sociedade civil e instituições públicas que se mobilizam para ir aos territórios impactados pelas operações e promoverem uma escuta qualificada dos moradores.

O objetivo é coletar informações de violações de direitos para produzir relatórios unificados das operações. No fim do ano, os dados são consolidados em um documento geral, englobando todas as visitas. Acredita-se que essa é uma forma de monitorar as violações no contexto da intervenção militar.

A visita, realizada no dia seguinte à operação, pôde avaliar um momento importante desse processo: a tensão dos habitantes na retomada do cotidiano. Estiveram presentes, Daniel Lozoya, defensor público do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos da Defensoria (NUDEDH); Rodrigo Pacheco, subdefensor-geral; e Pedro Strozenberg, ouvidor-geral da Defensoria Pública do Estado. Junto à equipe do Eixo de Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré e outras organizações, os defensores visitaram o local onde um jovem foi torturado e morto na operação e ouviram moradores e representantes de associações. “A ação policial é discriminada na favela por causa disso. Eles chegam e falam que é pra bater, é pra matar. O policial falou: ‘hoje eu quero ver sangue aqui na comunidade’”, relatou um morador que prefere não se identificar.

O Maré de Direitos segue trabalhando em busca da garantia e ampliação de direitos e acesso à justiça dos moradores da Maré. São realizados atendimentos ao público às sextas-feiras, de 9h às 13h, na sede da Redes da Maré (Rua Sargento Silva Nunes, 1012, Nova Holanda), e acolhimento a denúncias de violações de direitos em dias de operações policiais pelos telefones 3105-5531 e 99924-6462. Além disso, são realizados plantões, que se revezam quinzenalmente, na Lona Cultural da Maré e na Associação de Moradores da Vila do João às quartas-feiras, de 9h às 12h.