Home Blog Page 510

Fique ligado! Dia 25 de outubro o sinal analógico das TVs do Rio será desligado

0

Famílias inscritas em programas sociais do governo têm acesso ao Kit digital de graça

No dia 25 de outubro de 2017, o sinal analógico de televisão será desligado na cidade do Rio de Janeiro e em mais 18 municípios do entorno. A programação dos canais abertos de televisão será transmitida apenas pelo sinal digital. Para continuar assistindo aos programas, todas as residências precisam ter uma antena digital e um aparelho de televisão preparado para receber o sinal.  Famílias inscritas em programas sociais do Governo Federal têm direito a receber os kits gratuitos com antena digital, conversor e controle remoto. É só acessar o site www.sejadigital.com.br/kit ou ligar gratuitamente para o número 147, com o NIS [Número de Identificação Social] em mãos e fazer o agendamento. “Os kits são entregues no local, dia e horário que as famílias escolhem quando fazem o agendamento pelo site ou pelo telefone”, afirma Vivian Bilhim, gerente regional da Seja Digital no Rio de Janeiro. “Já estamos trabalhando para que a informação sobre o desligamento do sinal analógico de TV chegue a toda população e todos possam se preparar com antecedência, pois o sinal digital já está disponível”, afirmou Vivian.

Escolas unidas pela Paz

0

Mais de mil escolas no Rio realizaram atos contra a violência em diferentes regiões da cidade no último dia 17 de agosto. Os encontros descentralizados fazem parte da mobilização da comunidade escolar pela Campanha “Aqui é um lugar de Paz”, que vem sendo desenvolvida desde maio nas escolas, com o apoio da Secretaria Municipal de Educação. Espaços importantes da cidade, como o Museu de Arte do Rio (MAR), Engenhão, Parque Olímpico, Lona Cultural João Bosco (Vista Alegre), Arena Carioca Jovelina Pérola Negra (Pavuna), a Cidade das Crianças (Santa Cruz) e a Vila Olímpica da Maré se transformaram em territórios de paz para brincadeiras e jogos da garotada. A Campanha não tem data para acabar. A violência no Rio já provocou o fechamento de 381 escolas desde o início do ano, deixando 131.783 alunos sem aulas e expõe centenas de vidas ao risco de morte diariamente.  “As escolas vão aos jornais na condição de vítimas da violência, isso é verdade, mas não é toda a verdade. As escolas são polo de resistência de civilização contra a barbárie, desenvolvendo um trabalho cotidiano para disseminar uma cultura de paz”, disse o Secretário Municipal de Educação, César Benjamin, que esteve na Vila Olímpica da Maré, participando das atividades da Campanha. Rebeca Neves, de 13 anos, aluna da Rede pública municipal da Maré, espera que a realidade triste que vive esteja próxima do fim: “é triste não conseguir estudar por causa dos tiros. Eu gostaria muito de poder aprender e evoluir, mas a cidade está muito violenta. ”

Artigo: Uma Onda de Artes com Maré Potente

0

Eduardo Alves

A favela da Maré, assim como o amplo, diverso e múltiplo território das periferias, é um impactante ambiente de criação, invenção e superação das condições de vida impostas pelo poder dominante. Nesse grande mar, destacam-se as intervenções artísticas com beleza e com falas que apresentam as potências existentes. A arte chega na Maré como uma onda, que faz o mar de pessoas se movimentar para ampliar a vida em todos os seus aspectos.

São comunicações públicas, com profunda humanização em todos os aspectos, impregnadas de amor e empatia, que circulam nas ruas ou pulsam nas telas dos computadores de mão (celulares) ou nos computadores de mesa. Amplia-se, assim, a aproximação de todos os corpos existentes, por meio de uma ação coletiva, que faz registrar na cidade uma significativa e atual pedagogia de potência da periferia por direitos, para garantir a vida com dignidade.

São artistas produzindo o espelho e o que queremos da vida nas várias favelas desse grande e apaixonante complexo. Música, dança, artes cênicas, artes visuais das mais variadas, saraus, teatro seguem aproximando todos os corpos existentes em um reconhecimento de sujeitos das grandes mudanças que precisamos construir no novo século.

No rastro desta perspectiva, artistas das periferias ocupam a centralidade na cidade. Isso ocorre em toda a Maré, seja no Bela Maré, no Centro de Artes, na Praça do Parque União, na Lona da Maré, na Rua Principal, na Teixeira Ribeiro, nos campos de futebol, nas diversas rodas de encontros e manifestações criativas nos vários locais desse grande complexo com mais de 140 mil habitantes. Pigmenta, em todas as ruas, além de Nova Holanda e Parque Maré – centralidades que abrigam as sedes da Redes da Maré e do Observatório de Favelas -, uma criatividade intensa, que tem a marca, a identidade e os objetivos das pessoas que fazem o território das periferias ganhar seu significado de potência. A arte circula e penetra na vida todo o tempo na comunidade. Há a arte que produz críticas sobre a realidade existente na Maré e na cidade, e alternativas para ações por mais direitos e vida digna, como ocorre com o Travessias ou com as entusiasmantes peças da Cia Marginal (companhia de teatro). Há a arte que explode na criação de culturas, com estéticas, atitudes, sinais comuns, formas de vestir, danças, sons próprios e comportamentos de várias artes que transbordam no funk, no rock, no samba e na música nordestina.

Há ainda a arte que brota daquilo que está guardado mais internamente, manifesto em expressões absolutamente livres e espontâneas, em cartazes nas ruas, escritos e desenhos diversos em telas populares. Seja como for, a produção artística que percorre toda a extensão da Maré torna-se um convite para os olhos brilharem em identificação de uma cor, um desenho, um som, que chamam a atenção de muitos. A arte ocupa papel e dimensão contundentes na vida de cada uma das pessoas. Mas, muitas vezes, passa despercebida, sem sacudir cada corpo para sua grande importância.

Esse papo sobre arte, por meio das letras, tem o grande objetivo de convidar cada pessoa para uma ação de conquistas por mais direitos na Maré. Conquistar o direito à vida, acabando com a onda de violência letal. Conquistar a dignidade na vida, com mais direitos ao transporte, à educação, a tratamentos das várias doenças e para a manutenção da saúde. Unificar essa grande multidão das favelas, parte desse imenso grupo da periferia, para conquistar uma cidade de direitos e ser reconhecido por todos e todas, na cidade, como potência – e não carência, como predomina na ideologia dominante.

A onda de artes existente na Maré, por si, já mostraria a centralidade do território e superaria os discursos de que há bandidos, coitados e carentes. Aquilo que aparece como carência para os vários olhares paralisados é produto das desigualdades existentes que colocam o lucro e os interesses privados acima da vida. Justamente o contrário do que é produzido com as artes na Maré, pois trata-se de uma grande explosão de vida, pungente, para a superação das situações atuais e para a criação de uma nova realidade, com direitos, nas favelas e em toda a cidade.

A Baía de Guanabara em debate na Maré

0

Fórum Itinerante é realizado no Centro de Artes

Hélio Euclides

 “Quem seria capaz de descrever as belezas que apresenta a Baía do Rio de Janeiro, esse porto que, na opinião de um dos nossos almirantes mais instruídos, poderia conter todos os navios da Europa? ” Há 164 anos, o pensador francês Saint-Hillaire fez esse relato a respeito da Baía de Guanabara.  Um dos símbolos mais importantes da nossa cidade, desde a chegada dos portugueses, já foi descrito por muitos famosos e anônimos, desde escrivães das frotas e viajantes, até cronistas, poetas e estudiosos. Mas mesmo com tamanha importância histórica e ambiental, a Baía de hoje não tem nada a ver com aquela que os europeus avistaram. Toneladas de lixo foram despejadas, junto com bilhões de reais em projetos de “despoluição” que nunca foram concluídos.  O ex-morador da Maré, Edson Diniz, lembra que a região era formada por oito ilhas: Cabra, Catalão, Baiacu, Fundão, Pontal do França, Bom Jesus, Sapucaia e Pinheiro. “O aterro da Avenida Brasil e para a construção de habitações prejudicou o Canal do Cunha. Recordo, com carinho, da infância, quando ia tomar vacina no Centro Municipal de Saúde Américo Veloso, e depois frequentava a Praia de Ramos. Hoje esse lazer é impossível, a Baía virou um banheiro, com esgoto lançado in natura”, destaca.

Fórum Baía Viva

Dado o estado periclitante que está a Baía de Guanabara, estudiosos, representantes da sociedade civil e moradores resolveram criar um Fórum Itinerante, para mobilizar a população e também o Governo. Na Maré, no dia 27 de julho, aconteceu o 5º Fórum Itinerante, que teve como tema “Saneamento Ambiental do Complexo de Favelas da Maré e dos Rios do Canal do Cunha e Políticas para a Pesca Artesanal”, de dez que já foram realizados, na área da bacia hidrográfica da Baía de Guanabara.  Ao todo, os dez encontros reuniram cerca de 500 pessoas e 100 instituições para a elaboração de uma carta-programa, para a saúde ambiental das Baías de Guanabara e Sepetiba. “Essa carta será encaminhada aos órgãos públicos, e vamos batalhar para virar políticas públicas setoriais. O objetivo é obter o reconhecimento dos povos que vivem das baías, cerca de dez milhões de pessoas”, detalha Sérgio Ricardo, ambientalista.

“O Fórum da Maré foi um dos mais ricos em debate. Isso comprova o histórico de mobilização social da favela. Todos ficaram impressionados com o documentário “Pescadores da Maré”, que mostra um grupo de trabalhadores que busca seu sustento, e no final acaba reprimido pela Marinha. Enquanto os órgãos ambientais e a própria Marinha fazem “vista grossa” para as diversas formas de poluição da Baía, como o fundeio das embarcações (ato de ancorar), que não tem licença do IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e nem do INEA (Instituto Estadual do Ambiente) ”, expõe o ambientalista.

Ronaldo Lúcio de Souza Teixeira, da Diretoria de Serviços Norte da Comlurb, disse que só da Maré são recolhidas 150 toneladas de lixo por dia. “A coleta é feita na porta e por meio dos “laranjões”. O lixo da cidade é 40% passível de reciclagem, mas por falta de investimento só 5% são realizados”, declarou. Os participantes no evento avaliaram que a cidade necessita de uma gestão do lixo urbano, educação ambiental e a coleta seletiva nas favelas.

 Já Carlos Braz, da Diretoria de Engenharia da Cedae, relatou que houve investimento em estações de tratamento, mas faltou verbas para realizar as ligações até elas. “É preciso concluir a segunda fase, de construir as redes coletoras e extinguir algumas elevatórias. Para o tronco coletor da Zona Norte é necessário o valor de 35 milhões de reais. A novidade será um encontro que a Cedae terá com o Ministério das Cidades. Estamos preparando uma carta-consulta, para entregar ao Governo federal, com a possibilidade de financiamento de uma obra para a Maré”, revelou.

Depressão não é frescura, é doença

0

Como se prevenir da doença que mata por ano 800 mil pessoas de todas as raças, sexos, crenças e classes sociais no mundo

João Ker

Ela atingiu 322 milhões de pessoas entre 2005 e 2015, um aumento de 18% ao longo desses 10 anos. É também a maior responsável pela incapacitação profissional em todo o mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Já foi chamada de Mal do Século e, mesmo entre países mais desenvolvidos e economicamente mais estáveis, cerca de metade dos seus enfermos sequer sabe que está com a doença. São essas as cores que pintam o quadro assustador da depressão em 2017. Mas se esse transtorno tem mostrado uma abrangência tão assustadora nos últimos anos, por que o acesso à informação e ao seu tratamento continuam tão precários em todo o mundo, inclusive no Brasil, País com maior incidência dos casos em toda a América Latina?

“A saúde mental ainda é um dos problemas mais complicados no que se refere à saúde pública no País”, aponta Sérgio Gomes, Doutor em Psicologia Clínica pela PUC-Rio e Supervisor de Estágio do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. E, de fato, são 11,5 milhões de brasileiros que são acometidos por esse distúrbio, o que equivale a quase o dobro da população do Rio de Janeiro. Entretanto, um dos principais impasses no combate à depressão é a própria identificação da doença, uma vez que seus efeitos e motivos podem ter as mais diferentes origens, onde “cada caso é um caso”. “Tudo vai depender de como a pessoa reage aos seus sintomas. Por definição, a depressão é um distúrbio afetivo que pode acometer qualquer pessoa saudável. Os sintomas mais comuns são a tristeza, o pessimismo, a autoestima diminuída e, não raro, todos esses ao mesmo tempo”, explica Sérgio, ressaltando que o prolongamento dessas manifestações por mais de duas semanas já configura um quadro preocupante.

Claro, há uma grande diferença entre a tristeza “comum”, aquela que aparece ao longo do dia em situações específicas, e a depressão como doença diagnosticada no ser humano. Então, o que faz com que uma pessoa comum e saudável se torne depressiva? “Pode se tratar de variações químicas no cérebro, principalmente no que se refere ao nível de neurotransmissores – ou seja, hormônios do bem-estar, tais como a serotonina e a noradrenalina e, em menor proporção, a dopamina. Todas essas substâncias transmitem impulsos nervosos entre as células e podem se encontrar diminuídas, causando a depressão”, observa Sérgio.

Decepções gerais também podem desencadear uma reação mais intensa do organismo, inclusive serem o passo inicial na diminuição desses hormônios necessários ao cérebro. “A depressão pode ser causada por algum fator interno que pode ou não ser um reflexo de fatores psicológicos ou sociais. Perda de um parente próximo, final de um relacionamento, perda de um animal de estimação, demissão, reprovação na escola ou em alguma matéria na faculdade, etc. Quando isso acontece, precisamos verificar a idade e a vida cotidiana da pessoa, para identificarmos os fatores causadores da depressão e tentar ajudar na recuperação do que provocou isso”, aponta o psicanalista.

Após identificada a doença, é hora de procurar o tratamento. E, novamente, ele vai depender das particularidades de cada caso, na maioria das vezes combinando um tratamento entre psicólogo e psiquiatra. Mas além do uso de remédios, há algumas outras linhas que podem ser seguidas para combater a depressão, como fototerapia (exposição à luz intensa) e terapia comportamental.

Dentre todas as alternativas possíveis, encontra-se a psicanálise, linha defendida por Sérgio: “a aposta psicanalítica é que tenhamos uma escuta para o sofrimento do sujeito que nos procura e possamos ajudá-lo a compreender os motivos reais que o levaram a desenvolver seus sintomas depressivos. Quanto a isso, temos pontos positivos e negativos. O positivo é que buscamos entender as razões inconscientes que fizeram com que esse indivíduo desenvolvesse a doença, vamos direto na raiz do problema. Logo, o analista deve ser mais ativo em suas intervenções. O ponto negativo, para alguns, é o fator tempo. Mas eu divirjo disso: nem sempre um tratamento psicanalítico é longo demais. Isso depende do paciente e depende da sensibilidade do analista”, argumenta.

A existência de abordagens mais alternativas também é possível, principalmente quando há a relutância do paciente quanto aos efeitos colaterais dos remédios ou até mesmo a impossibilidade financeira de manter o tratamento da forma apropriada: “não devemos desconsiderar outras opções para a melhora dos sintomas, como uma alimentação saudável, exercícios físicos e um apoio social para a pessoa deprimida, sobretudo quando não se quer fazer uso de medicamentos”, afirma.

 

Suicídio: o ponto final da depressão

No último 20 de julho, a notícia de que Chester Bennington (1976 – 2017), o vocalista da banda Linkin Park, havia cometido suicídio com apenas 41 anos de idade pegou o mundo de surpresa. Dois meses antes, o mesmo tipo de questionamento foi levantado quando Chris Cornell (1964 – 2017), líder dos grupos Soundgarden e Audioslave, suicidou-se em um quarto de hotel. Antes deles, outros ícones como o humorista Robin Williams (1951 – 2014) e Kurt Cobain (1967 – 1994), do Nirvana, também haviam encontrado o mesmo destino.

De acordo com a OMS, 800 mil pessoas se suicidam por ano em todo o mundo. Isso dá no mesmo que uma morte a cada 4 segundos, em que é inegável a ligação da grande maioria com a depressão e seus possíveis desdobramentos. Como forma de combater e mudar essa realidade, a Associação Internacional de Prevenção ao Suicídio criou o “Setembro Amarelo”, campanha mundial de conscientização, cujo objetivo é alertar a população para essa realidade e que funciona no Brasil desde 2014.

Sinead O’Connor

Depressão é doença, não é frescura. Não precisa de sexo, raça, credo, origem ou poder aquisitivo específicos para se desenvolver em uma pessoa. “O estigma também não se importa com quem você é. De repente, todas as pessoas que deveriam estar te amando e cuidando de você, te tratam como um nada”, relatou a cantora irlandesa Sinead O’ Connor, em um vídeo emocionante, no qual desabafa por mais de 12 minutos sobre a sua própria experiência pessoal com o distúrbio.

Como mencionado por ela, ao discutir a depressão é impossível não tocar no estigma social e no isolamento que seus enfermos sofrem por grande parte da sociedade, muitas vezes sendo incompreendidos no trabalho, no convívio entre amigos e também no âmbito familiar. Não à toa, o tema da última campanha mundial lançada pela OMS foi “Depressão: Vamos conversar”. Com a abertura de um canal para o diálogo, o órgão pretende não apenas disseminar os possíveis tratamentos e curas para o transtorno, mas também fazer com que a discussão não tenha o atual tom de “tabu”. Mais ainda: a assistência psicológica que um amigo ou um parente podem dar ao depressivo é fundamental e inestimável para que ele consiga sair do buraco.

Em tempos nos quais a forma como nos relacionamos uns com os outros tem mudado na velocidade da luz graças à internet, amigos e familiares de adolescentes precisam ter um olhar mais apurado e atento para conseguirem abrir um canal de diálogo com esses jovens. Smartphones, redes sociais e a constante exposição a estilos de vida e padrões inatingíveis e superficiais de felicidade também funcionam como um golpe diário na autoestima, que naturalmente já passa por um estado frágil nessa faixa etária. Por isso, é importante lembrar que a luta de um depressivo para vencer a doença é semelhante a de um dependente químico: um esforço diário, que requer perseverança e foco constantes para não cair de volta na mesma armadilha. A depressão é como uma nuvem cinza pairando no céu que, para quem já a sentiu, está pronta para chover a qualquer momento.

 

Mobilização salva CIEP

0

Moradores enfrentam fogo e tiros para salvar escola

Hélio Euclides

Incêndio em favela sempre traz destruição. Esse era o meu maior medo quando vi o CIEP Presidente Samora Machel, na Nova Holanda, em chamas. Quando eu e Elisângela Leite, repórter fotográfica, chegamos, percebemos dezenas de pais tentando apagar o fogo com extintores. Ouvi de um deles: “se a educação daqui não se encontrava tão bem, imagine agora”. Bom, penso que de momentos difíceis sempre há algo que nos fortalece. E fazer parte dos moradores que enfrentaram labaredas para salvar uma escola não teve preço. Os bombeiros, quando chegaram, foram aplaudidos como forma de agradecimento. Os moradores, que podem se considerarem heróis, não abandonaram o local, e ainda ajudaram os bombeiros.

O lado mais triste desse episódio foi quando percebi pessoas correndo no pátio, para se abrigar de tiros, vindo de blindados. O mesmo Estado que deveria se empenhar em atender pessoas que pediam socorro, num ato de insensibilidade, envia mais uma vez a repressão. Não existe explicação plausível para os blindados entrarem daquele jeito, num momento tão difícil. Com a ajuda e a garra de todos, o incêndio chegou ao fim. Não tinha muito o que comemorar, apesar de não ter nenhum ferido pelo fogo, tinha uma vítima das balas, uma professora do Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI) Azoilda Trintade atingida de raspão.

No meio de funcionários da escola, pais e moradores, Nilo Albuquerque, administrador regional da 30ª RA, tentava achar uma solução para o caos daquele momento. “Na manhã do dia do incêndio, eu já tinha visitado a escola, para buscar solucionar a questão dos mosquitos. Quando soube do que ocorria, voltei à escola com o extintor do carro. Conseguimos retirar as crianças e dei orientação às pessoas para evitar vítimas. Comecei a ligar para as autoridades, foi quando chegou os bombeiros, meu coração acalmou”, disse Nilo.

A calma durou pouco tempo. Como todos que estavam em frente ao CIEP, Nilo não esperava que a situação fosse agravar. “Comecei a escutar uma gritaria, o motivo era uma operação da Polícia Civil, do Core (Coordenadoria de Recursos Especiais). Me senti na obrigação de intervir nesse ato violento. Para piorar, tinha muitas crianças na rua. Então, me posicionei na direção do caveirão, e comecei a explicar a situação. Foi nesse momento que veio o disparo, que pegou no carro, ao meu lado. Comecei a chorar e pedi a Deus que ninguém fosse atingido. Essa ocorrência atrapalhou no controle do fogo, pois os bombeiros ficaram encurralados. O rescaldo foi feito com a ajuda de moradores. Não sou contra incursão policial, mas aquela não foi feita numa hora certa. Não quero ensinar ninguém a trabalhar, mas o que vimos foi pouca preparação. A Maré tem uma fama muito feia lá fora, precisam saber que somos cidadãos dignos, que pagamos nossos impostos. O que ficou desse episódio foi que os moradores abraçaram a escola”, afirma.

A circunstância foi tão grotesca, que nem Aline Oliveira, diretora do CIEP Presidente Samora Machel, escapou de ficar encurralada, e precisou se proteger das balas. “Eu estava vindo de van, que me deixou na porta da escola, no meio dos tiros”, resume. Quando se percebeu a presença de polícias na favela, alguns moradores falaram que podia ser para escoltar os bombeiros. Engano, apesar de ser cotidiano alguns serviços serem escoltados por moradores para entrar nas comunidades. O SAMU, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, por exemplo, sempre entra na Maré na companhia de um morador.  Nesse episódio ocorreu o mesmo. “Houve uma preocupação por parte da escola de enviar um professor para acompanhar o caminhão dos bombeiros da Avenida Brasil até dentro da Nova Holanda.  Mas não aconteceu, pois além do fogo, todos tiveram de ficar presos nas escolas, para se proteger dos caveirões. Foi lamentável, muito triste essa ação da polícia”, desabafa Fernanda Alvarenga, professora do EDI Pescador Isidoro Duarte – “Doro”. O bombeiro Sílvio Rodrigues de Oliveira inclusive confidenciou à diretora Aline que não foram os bombeiros que pediram o apoio da polícia.

 

A união faz a força

Naquela tarde de 19 de junho, foram muitos moradores anônimos que não deixaram o fogo se alastrar pelas salas. Cesar Serralheiro foi um dos primeiros a chegar no local. “Quando cheguei ainda tinha crianças no prédio, e a primeira coisa que fizemos foi a retirada delas. A fumaça era densa, então os alunos foram levados para o CIEP Elis Regina. Acredito que deveria ter socorristas nos prédios públicos. Depois do espaço evacuado, abrimos um buraco na sala para facilitar o acesso dos bombeiros; o problema foi a ausência de água nas caixas-abrigos de mangueiras”, reclama. Para Cesar, todos que participaram da ação saíram ganhando. “O que senti na hora, e os outros companheiros também, foi a obrigação de se mobilizar em prol da nossa escola. Isso me emociona”, destaca.

A união veio de todos os lados. A vontade de salvar o colégio era maior que o medo. “Tínhamos extintores, que não foram suficientes, então outras escolas emprestaram. Outro ponto, foi a quantidade de responsáveis que vieram ajudar, mas ficamos preocupadas, já que todos inalavam muita fumaça, lembra Tatiane Peixoto, diretora adjunta do CIEP Presidente Samora Machel.

“Realmente foi a comunidade que salvou a escola, pois o tempo de deslocamento foi grande, e sem a população o estrago seria maior”, disse o bombeiro Sílvio à diretora do CIEP. “O incêndio nos deixou abalados. Tristeza à parte, esse fato nos enriqueceu de alguma maneira. A palavra final é gratidão. Com ajuda, todos saíram em segurança. A comunidade não deixou o fogo chegar nas salas da diretoria e secretaria, protegeu os documentos”, informou a diretora Aline.

Profissionais de ensino disseram que a suspeita da causa do incêndio foi um curto-circuito num ar condicionado na sala de informática. Já os bombeiros informaram que as causas são apuradas pela Polícia Civil. Sobre a falta d’água no sistema de incêndio do colégio, o Corpo de Bombeiros explicou que a instalação e a manutenção dos equipamentos do sistema preventivo são de responsabilidade do administrador legal da edificação.

Depois do incêndio

Após o trabalho de rescaldo, havia uma escola com salas inundadas, fios em curto, escuridão e um cheiro muito forte de fumaça. Um local impossível para funcionamento. Um plano para que os alunos não ficassem sem aula foi logo organizado, e todos foram recebidos na Escola Municipal Osmar Paiva Camelo. De novo, a solidariedade falou mais alto. “Para a mudança de escola, precisávamos carregar o material, tínhamos apenas dois funcionários disponíveis, mas a população nos ajudou. Dessa forma, em uma semana já estávamos com aulas normais. A Escola Osmar Paiva nos recebeu de braços abertos, com união, dessa forma, o trabalho funciona muito bem”, revela a diretora Aline.

Os pais, hoje, têm o desejo de que as aulas voltem ao local antigo. “Todo dia tem responsável pedindo a volta para o CIEP, estão ansiosos. Entendemos o porquê do desejo de voltar para o CIEP, pois lá é um local de resistência, de momentos difíceis, mas que superamos. O problema que passamos hoje é que o CIEP ficou ocioso, e já sofre com violações. Todos os dias vamos à escola, o que encontramos são cadeados quebrados. Materiais desapareceram e fiação foi furtada, o que pode causar demora no retorno. A obra de reforma está sendo feita, e deverá ser concluída em dois meses”, desabafa a diretora.

Uma boa notícia é que apesar das dificuldades, nenhum profissional pediu transferência da unidade escolar.

Bombeiro preso

Ao final do incêndio, o perigo recomeçou, com um tiroteio próximo ao CIEP. Na era da internet tudo é registrado no celular, e logo postado. Foi o que fez o subtenente do Corpo de Bombeiros Sílvio Rodrigues de Oliveira. Ele filmou o momento em que interrompeu o serviço para se abrigar dos tiros, depois divulgou a gravação. Sílvio foi detido por nove dias no quartel do Méier, por divulgar imagem indevida.

A Associação de Bombeiros Militares do Estado do Rio de Janeiro (ABMERJ) manifesta desacordo com o ocorrido. “Nós expressamos, na época, nossa opinião que foi de total repúdio à atitude de privar um pai de família, que estava no cumprimento de seu dever, em função de expor as mazelas em que os profissionais de Segurança Pública e a própria população têm sido expostos no dia a dia. A pergunta é: os bandidos que atiraram, algum foi preso? O Comando cometeu uma grande injustiça pelo excesso de rigor da punição”, declara a Associação.

A assessoria de imprensa da Secretaria de Estado de Defesa Civil e Corpo de Bombeiros alegou que a sanção ao militar foi determinada pelo descumprimento de norma interna da instituição, no que diz respeito à produção e à divulgação de imagens de ocorrências. O vídeo produzido não configura material oficial da corporação.

Sobre a segurança dos bombeiros, a assessoria enfatizou que os militares seguem um protocolo interno da corporação; que o objetivo da corporação é garantir que o atendimento seja prestado, sem descuidar do zelo pela integridade física dos bombeiros.