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Clima de apreensão na maior favela do Rio

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Artigo de Eliana Sousa Silva, diretora da Redes, publicado dia 22 de fevereiro de 2013 no jornal O Globo , sobre a chegada da UPP na Maré.

A notícia da entrada da UPP na Maré, maior favela do Rio de Janeiro, chega precedida de forte especulação. Afinal, não se sabe quando e como será instalada. Diante disso, os moradores aguardam a confirmação da ação com expectativa e apreensão. Em geral, eles entendem que essa iniciativa representa a chegada, embora tardia, do direito à segurança pública. Sem duvida, a garantia desse direito é um passo importante para a legitimação da condição de cidadão dos moradores desses territórios.

Há muitos desafios a serem considerados na extensão da UPP, por ser uma ação no campo da segurança que intenciona, avalio, de maneira progressiva, tornar-se política pública. A complexidade em pauta que intriga e aviva governantes, estudiosos do tema, profissionais da área e todos que vivem nesse estado, precisa ser considerada com matizes que combinem bom senso e reconhecimento do que já se produziu até aqui. Diante disso, a população não pode ser apenas testemunha do que estar por vir e que chega carregada com ares de espetacularização.

No caso da Maré não se pode deixar de considerar o histórico de luta e conquistas de seus moradores que, desde a formação de cada uma das 16 favelas ali existentes, buscaram ampliar e efetivar direitos básicos. Em função disso, a região possui variados equipamentos públicos, incomuns na grande maioria das favelas cariocas. Mas isso não é suficiente. Ainda falta qualidade nos serviços prestados, assim como muitos outros direitos ainda são negados.

Chamo atenção, ainda, para a articulação das Associações de Moradores da Maré que de maneira singular protagonizaram no tempo todas as conquistas assinaladas e, mais recentemente, se fazem representar a partir do movimento “A Maré que Queremos”. Essa iniciativa que, desde fevereiro 2010, vem reunindo mensalmente as 16 instituições comunitárias e outras organizações formulou um documento com as demandas estruturais para a Maré e vem, de maneira paulatina, discutindo com os diferentes órgãos públicos como garantir qualidade e ampliação dos serviços e direitos básicos para a região.

Como se pode observar, há um longo e frutífero trabalho que já se conforma na Maré, mas, sem dúvida, um direito ainda a ser perseguido é o da segurança pública. E ai chegamos a um ponto que devemos assinalar, qual será a agenda da segurança pública para a Maré com a chegada da UPP?. Veremos acontecer iniciativas inerentes a esse campo, como identificação e enfretamento das violências relacionadas ao abuso de crianças e adolescentes, de mulheres, de mediação de conflitos, de acesso à justiça?. Os direitos dos moradores de ir e vir, de privacidade e de expressão serão preservados?

Como já noticiado, a Redes da Maré, a Anistia Internacional e o Observatório de Favelas iniciaram a campanha “Somos da Maré e Temos Direitos” no intuito de contribuir para a garantia desse conjunto de direitos e fortalecer as políticas públicas no campo da segurança, através do esclarecimento do morador sobre os
seus direitos e deveres no momento de uma abordagem policial: nada de dificultar a ação dos policiais, mas o Estado deve respeitar premissas básicas, tais como não entrar nas casas sem a permissão dos moradores.

Desse modo, não assistiremos de forma passiva à ação das forças de segurança. Elas devem representar a chegada efetiva de uma perspectiva de presença republicana do Estado e não funcionar como um “Exército de Ocupação”, considerando que está em um território de guerra e com seus moradores sendo considerada a “população civil do exército inimigo”.

Como cidadãos, o reconhecimento do direito à segurança pública dos moradores da Maré, dentre todos os outros, deve ser o ponto de partida. E essa é a nossa perspectiva diante da possibilidade de chegada da nova estratégia de segurança pública que vem sendo construída pelo governo estadual.

Eliana Sousa Silva
Diretora da Redes da Maré; diretora da Divisão de Integração Universidade Comunidade da UFRJ.

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O GLOBO

 

Apprehension atmosphere in the largest Rio favela

 

ELIANA SOUSA SILVA

News of UPP entry in Maré, Rio de Janeiro’s largest favela, comes preceded by great speculation. After all, no one knows when or how it will be implemented. Thus, residents await confirmation with anticipation and apprehension. They understand that this initiative represents the coming, though late, of the right to public security. In fact, the guarantee of this right is an important step to legitimize the citizen status of residents in these areas.

Many challenges must be considered in the expansion of the Pacifying Police Unit (UPP), for being an action in security intended to progressively become a public policy.  The complexity of this issue that intrigues and encourages the area leaders, researchers, professionals and all those who live in this state should be considered with nuances that combine common sense and recognition of what has already been done to date. With this in mind, people should not just watch what is about to come, something that comes with an air of spectacle.

In Maré one mustn’t fail to consider the history of struggle and achievements of its residents who, since the formation of each of its 16 existing favelas, have sought to extend and bring about basic rights. As a result, the region has various public facilities, uncommon in most Rio’s favelas. However, this is not enough. Quality of services rendered is still lacking, and many other rights are still denied.

An aspect that also deserves attention is the articulation among Maré Residents’ Associations which, in a unique way were able to secure many achievements and more recently have joined in the movement “A Maré que queremos” (The Maré We Want). This initiative has, since February 2010, brought together on a monthly basis the resident associations and other organizations of all 16 communities that constitute Maré. They have formulated a document with structural demands and together with the different public organs, have been gradually discussing how to guarantee the quality and extension of services and basic rights to the region.

So, there is a long and fruitful work already in place in Maré, but public security remains a right to be pursued. And then we come to a point worth highlighting: what will be the agenda for public safety in Maré with the arrival of the UPP? Will we see initiatives inherent to this field, such as identification and addressing of violence against children, adolescents and women, mediation of conflicts, access to justice? Will residents’ rights to come and go, to privacy and to freedom of expression be protected?

As has been reported, Redes da Maré (Maré Development Network community NGO), Amnesty International, and Observatório de Favelas (Public Interest Civil Society) launched the campaign ‘Somos Maré e Temos Direitos’ (We are from Maré and we have rights), intended to contribute to ensure this set of rights and strengthen public policies in security, by explaining to residents what their rights and duties are at the moment of a police approach: do nothing to render difficult police action, but the State must respect basic principles, like not entering houses without resident permission.

Hence, we won’t passively watch the security forces’ actions. They should represent the effective arrival of the presence of a republican state and not work as an “Army of occupation,” considering that they are in a war zone and looking upon its residents as the “civil population of the enemy army”.

As citizens, the recognition of the right to public security of Maré residents is, among all others, the starting point. And this is our point of view in face of the possible arrival of a new public security strategy being built by the state government.

Eliana Sousa Silva is Redes da Maré Director and Rio de Janeiro Federal University Community Integration Division Director

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Maré de Notícias #37

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[toggle title=”Essa rua é toda minha…”]

Por Aramis Assis

Primeiras ruas começam a receber placas de identi?cação feitas em azulejo pintado à mão

Crianças e adolescentes participaram da confecção das primeiras placas de  azulejo com os nomes das ruas da Maré,  inicialmente da Nova Holanda, comunidade onde a experiência teve início. A ideia básica é o resgate das histórias das ruas pelos moradores como forma de se criar uma   identidade própria para cada uma delas. Essa ação complementa as intenções do Censo Maré, realizado pela Redes em parceria com o Observatório de Favelas.

A arte-educadora e azulejeira Márcia Queiroz conta que iniciou o trabalho com as crianças e adolescentes por meio do Guia de Ruas da Maré, lançado no ano passado pela Redes, trazendo o mapeamento das 16 favelas. O guia é fruto da primeira fase do Censo Maré, que mapeou todo o bairro. Foi quando ela percebeu que muitos não têm conhecimento da cidade em que vivem, nem mesmo da própria comunidade. “Apropriar-se e gostar do lugar onde se vive é fundamental, pois a partir da observação as crianças se tornam mais críticas, se sentem seguras para agir dentro do seu espaço”, explica.

A atividade é fruto do trabalho pedagógico realizado pelo Projeto Maré de Ruas e Histórias, iniciado no segundo semestre de 2012, por meio da oficina de Arte sobre Azulejos. A ação é uma iniciativa da Redes, por meio do Programa Criança Petrobras na Maré (PCP-Maré).

O comerciante Sebastião Felício dos Santos foi um dos entrevistados pelo projeto sobre a origem do nome da Rua 15 de Janeiro. Ele se orgulha de ter sido um dos antigos moradores que ajudaram a escolher o nome devido à data em que Tancredo Neves venceu a eleição das Diretas Já, em 1985. “Todos gostaram do nome que ajudei a escolher. Moro na Maré há 50 anos, conheci minha esposa e criei meus filhos aqui. Gosto muito daqui e não pretendo sair nunca”, conta.

A aluna da oficina Andressa Henrique é uma das crianças participantes do projeto. Em um dos encontros ela fez um desenho comparando as ruas da Maré com as da Paraíba, evidenciando que lá há mais praças e árvores. Ela diz que adora a Maré e queria que as ruas tivessem mais espaço para brincar com as amigas.

Pertencimento e apropriação do espaço

O projeto piloto prevê, inicialmente, a colocação de 32 placas na Rua Sargento Silva Nunes e transversais. As ruas que tiveram a origem do nome identificada pelos moradores trazem na placa o motivo da escolha. “A proposta, iniciada juntamente com Eliana Sousa Silva, umas das diretoras da  Redes, envolve a confecção das placas junto com os moradores, não só para organizar e ordenar o espaço urbano, mas para trabalhar uma ideia mais concreta sobre o lugar onde se vive”, afirma Laura Taves, arquiteta e coordenadora do projeto Formatura da turma do Maré de Sabores
em dezembro: formação em gastronomia, gênero e cidadania O projeto é pensado como uma ação efetiva que envolva diretamente os moradores. A partir dessa primeira ação na Nova Holanda, objetiva desenvolver diversas atividades que tornem possível a mobilização e envolvimento dos moradores na elaboração de um “Plano Territorial para a Maré”, adianta Eliana.

As ruas contam histórias e nomeá-las não significa apenas um ato de identificação, mas também de pertencimento e apropriação daquele espaço. Para se exercer o direito à cidade é primordial o reconhecimento do espaço em que se vive, para torná-lo visível. É essencial que os moradores sejam protagonistas nesse processo e o Maré de Ruas e Histórias alça voo nesse sentido, pretendendo alcançar o reconhecimento de toda a cidade.

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[toggle title=”Não à tuberculose”]

Por Fabíola Loureiro

Maré oferece tratamento gratuito e e?caz

O Centro Municipal de Saúde Samora Machel vem desenvolvendo palestras e oficinas voltadas para a promoção da saúde, com ênfase na tuberculose. Entre os objetivos estão detectar possíveis pacientes com a doença, divulgar a importância do tratamento – que é público, gratuito e eficaz – e diminuir o preconceito.

A agente comunitária de saúde, Márcia Cristina Pereira, diz que a tuberculose é uma doença altamente contagiosa, afetando principalmente os pulmões, mas também pode ocorrer em outros órgãos, como ossos e rins. Na região da Coordenadoria de Saúde da Área de Planejamento 3.1 (CAP 3.1), que envolve Ilha do Governador e Zona da Leopoldina, houve um total de 47 óbitos por tuberculose no primeiro semestre de 2012, sendo 10 na Maré. Com o Programa Saúde da Família, os casos podem ser descobertos e tratados a tempo.

“Há uma dificuldade em assumir a doença. Por isso, as unidades de saúde estão buscando os pacientes e possibilitando o tratamento. Quando chega um paciente, toda a família é investigada e é feito um histórico dos seus contatos: família, amigos, vizinhos”, explica.

O tratamento dura seis meses e não pode ser interrompido. Porém, depois de 15 dias, muitos pacientes sentem uma melhora e acabam abandonando o tratamento. Com isso, eles se tornam resistentes aos medicamentos e continuam contaminando amigos e familiares. Segundo Márcia, o paciente pode escolher se busca a medicação no posto ou se o agente comunitário leva em seu domicílio. Ela lembra ainda que as crianças também estão vulneráveis, mas que  os sintomas são diferentes dos adultos. Se a criança tiver contato com algum paciente, deve procurar a unidade para efetuar os exames.

Maria José Barreto, moradora do Parque Maré, conta que seu filho pegou tuberculose, fez todo o tratamento e agora está curado. “Quando ficamos sabendo, nós o apoiamos e eu sempre fiquei muito presente. No início tivemos um pouco de cuidado para não ter contaminação, mas depois de 25 dias de tratamento o médico disse que já poderia ter contato com a família, pois não tinha mais risco de contágio”, revela Maria José.

De olho nos sintomas:
-Tosse seca e contínua por mais de três semanas;
-Cansaço excessivo;
-Febre baixa, geralmente à tarde;
-Sudorese noturna;
-Falta de apetite;
-Palidez e fraqueza;
-Emagrecimento acentuado;
-Rouquidão e dificuldade na respiração.

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[toggle title=”Solidariedade para pacientes da Maré”]

A campanha Natal Sem Fome na Maré surgiu de uma reunião na Unidade de Saúde da Família Hélio Smidt. O propósito da ação foi de arrecadar alimentos para ajudar na ceia de pacientes. A coleta começou no local, depois a campanha se estendeu para o Facebook. No total foram conseguidas 113 cestas básicas, que além de alimentos tinham também materiais de limpeza e higiene. Todas foram distribuídas na manhã de 21 de dezembro.

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[toggle title=”Receita: Torta de limão”]

Enviada pelas alunas do Maré de Sabores

Massa:
– 250g de farinha de trigo
– 100g de manteiga
– Uma colher de sobremesa de açúcar
– 100 ml de água

Misture todos os ingredientes em uma bacia até a massa soltar das mãos e ficar macia. Forre uma forma de fundo falso, fure com um garfo e
ponha para assar em forno médio por 10 minutos ou até ficar dourada.

Recheio:
– Duas latas de leite condensado
– Duas latas de creme de leite sem soro
– Suco de seis limões

Bata tudo no liquidificador e coloque na forma junto com a massa assada.

Cobertura:
-Três claras
-Três colheres de açúcar

Bater na batedeira até virar suspiro. Colocar por cima do mousse de limão, fazendo uns biquinhos com o garfo. Jogue um pouco de raspa de limão
por cima e leve ao forno até dourar. Espere esfriar, leve à geladeira por 1 hora e desenforme.

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Maré de Notícias #36

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[toggle title=”Parabéns”]

Por Fabíola Loureiro e Hélio Euclides

O nosso Maré de Notícias está fazendo aniversário; já são três anos que você, morador,  e nossas 16 comunidades, são a notícia mais importante. É a Maré fazendo e contado a própria história.

Neste mês de dezembro comemoramos três anos do Maré de Notícias. O jornal, que está em sua 36ª edição, foi idealizado para responder a uma demanda da população revelada por uma pesquisa implementada pela Redes da Maré: ao mesmo tempo em que os moradores e as moradoras têm o hábito de leitura de jornais, eles sentiam a necessidade de obter informações sobre a Maré.

A primeira edição, publicada em dezembro de 2009, saiu sem nome, mas lançava o concurso “Por um jornal da Maré: Diga que nome você quer”, para a escolha da marca do jornal. Mais de 500 pessoas participaram, e oito sugeriram o nome selecionado pela comissão julgadora. Na terceira edição o Maré de Notícias já estava batizado.

Hoje o jornal tem uma tiragem de 40 mil exemplares, todos eles distribuídos nas residências das 16 comunidades, nas associações de moradores, instituições parceiras e em algumas escolas locais. Nesses três anos, o jornal também ganhou visibilidade fora da Maré, tendo sido premiado pelo Conselho Regional de Serviço Social (Cress/RJ), além de ter pautado veículos da grande imprensa, que se interessaram pelos temas tratados no nosso jornal comunitário.

O Maré é disponibilizado ainda no site da Redes, podendo ser acessado por pessoas do mundo todo. Seu uso também tem ganhado as salas de aula. Conheça ao lado algumas iniciativas:

Na Maré, na Babilônia e no Chapéu Mangueira 

“Todo mês eu levo o jornal e realizo trabalhos em sala. Dar aulas de Biologia é falar da vida, do cotidiano. A forma como eu trabalho é respeitando o que os alunos acham interessante e o conhecimento prévio de cada um. Aqui na Maré utilizo o jornal desde sempre e na Babilônia e Chapéu-Mangueira desde o ano de 2011, sendo um meio de os alunos de Educação de Jovens e Adultos (EJA) conhecerem um pouco a Maré. Essa última matéria sobre a abordagem policial fez com que meus alunos do EJA ficassem admirados sobre o fato de existir uma campanha para mostrar ao morador os direitos que eles têm, e a forma correta de agir nesses casos. Já um pequeno texto sobre o Maré de Sabores rendeu um trabalho bem legal sobre as questões da alimentação saudável e pude também fazer uma relação com os inúmeros fast foods que têm pela cidade. O jornal é um recorte de algo que está acontecendo na cidade.”

Fábio Barglini é professor de Biologia e especialista em ensino de Ciências e Biologia. Ele utiliza o jornal em suas aulas do curso Preparatório para o Ensino Médio e para o Pré-Vestibular, ambos da Redes da Maré, e com uma turma de Educação de Jovens e Adultos no projeto do Sesi, nas comunidades Babilônia e Chapéu Mangueira, no Leme.

Jornal na escola do Conjunto Esperança
“Eu sempre acreditei que trabalhar textos vivos, ou seja, a realidade do aluno é importante. Trabalhar o Maré de Notícias em sala de aula traz vários benefícios, como o incentivo à leitura e à informação sobre a comunidade, pois o jornal fala do morador que produz cultura e que busca melhorar sua qualidade de vida, ao contrário dos outros jornais nos quais a Maré é sempre citada como local de violência. O jornal introduz os vários gêneros textuais, como a charge, por exemplo. Meus alunos já produziram poesia, texto e desenho para o jornal. Eles ficam eufóricos quando suas produções são publicadas. Eles também gostam muito do humor no jornal, em especial das piadas, e dos enigmas, das palavras cruzadas, dos caça palavras. A partir dessa experiência do uso do jornal estou elaborando um projeto de mestrado que aborda o ensino da língua portuguesa por meio de textos vivos. O desafio é que o jornal não seja apenas um instrumento de recurso didático usado na sala de aula só para se obter uma boa nota, e sim um instrumento de interação e informação. Eu já vejo isso, e avalio como resultado positivo quando o aluno posta o jornal no Facebook, por exemplo”.

Viviane Couto é professora do segundo segmento do Ensino Fundamental das escolas Teotônio Vilela, no Conjunto Esperança, e Ciep 476 – Elias Lazaroni, em Nova Campinas

Aluno se vê nas coisas boas da Maré

“Comecei a trabalhar com o jornal em sala de aula no Programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA). A linguagem facilita o entendimento. Ele favorece a integração do aluno com a realidade. É uma fonte de informação de grande força. Aqui no Ciep trabalhamos o jornal com as crianças. Já fizemos até uma apostila para os professores sobre como devemos trabalhar o jornal na sala de aula. No jornal, o aluno se vê não nas coisas ruins, que são divulgadas em outros veículos, mas nas coisas boas da Maré. Temos um trabalho político pedagógico chamado ‘No meio da Maré’, do ambiente que temos ao que queremos. Nesse âmbito, o jornal é importante, pois nos fornece dados sobre o bairro. Em junho deste ano realizamos o evento ‘A atuação transforma ’, braço do projeto político pedagógico Por uma escola sustentável. Para esse projeto, os alunos usaram o jornal como resgate de suas origens.”

Carmem Lúcia Ferreira da Silva é diretora do Ciep Ministro Gustavo Capanema, da Vila do Pinheiro

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[toggle title=”Aprovado o Plano de Direitos Humanos da Maré”]

Centenas de pessoas estiveram envolvidas no processo de construção coletiva do texto do Plano Local de Direitos Humanos da Maré, que teve sua versão final aprovada no dia 28 de novembro no espaço Luta Pela Paz. A ideia é que o documento se desdobre, traga novas discussões e ações e seja entregue para o Poder Público.

O projeto é uma iniciativa do Iser, Redes da Maré, Observatório de Favelas e Luta Pela Paz, em parceria com a ONU Habitat. Também são parceiros a Ação Comunitária do Brasil, o Centro de Referência de Mulheres da Maré, o coletivo Entre sem Bater, a Vila Olímpica e o Vida Real.

O Plano é um projeto piloto, desenvolvido coletivamente pela comunidade ao longo de 2012, por meio de debates em encontros com diferentes grupos e organizações da Maré e também de oficinas com jovens. Foram estabelecidas diversas propostas de ação divididas em seis eixos temáticos: Espaços de Participação Popular; Grandes Empreendimentos, Moradia e Meio Ambiente; Garantir Direitos Respeitando as Diferenças; Segurança Pública, Acesso à Justiça e Combate à Violência; Educação em Direitos Humanos; Ditadura Civil-Militar e a Memória da Maré.

O encontro também se tornou um espaço de luto e discussão sobre os desdobramentos da tentativa de realização da Conferência em 1º de setembro, quando uma operação militar resultou na morte de dois jovens.

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[toggle title=”Todo mundo já pra escola!”]

Por Hélio Euclides

Programa envolve pais, alunos, professores, diretores e equipes de apoio administrativo de sete escolas e uma creche local

A cada 15 dias, os Grupos de Pais, do Programa Criança Petrobras na Maré (PCP-Maré), reúnem em média 50 responsáveis, além de representantes dos diversos segmentos que compõem a comunidade escolar: professores, pessoal de apoio, diretores. A ideia é tratar de temas variados que busquem intensificar uma organização coletiva. A grande motivação da Equipe Social do PCP é a percepção de que para envolver a criança e o adolescente de forma integral é necessário trabalhar com a sua família. Não basta tornar a escola mais interessante para a criança; é imprescindível que seus responsáveis percebam a importância de sua permanência e contribuam para que isso aconteça.

“A proposta é trazer os pais para a vida escolar dos filhos. O grupo de pais quer mostrar a importância de estar lado a lado, com o desenvolvimento de temas do cotidiano que venham da escola e com continuidade em casa, aprofundando a participação dos responsáveis”, explica Maira Spilak, uma das coordenadoras do PCP-Maré, programa que atinge sete escolas públicas locais e uma creche comunitária.

“Trata-se de uma oportunidade de todos debaterem temas sobre a realidade das famílias. É um processo para se chegar a um grupo participativo”, explica a assistente social do projeto, Alessandra Alves. Jussara Cosme, diretora do Ciep Elis Regina, entende que o trabalho se soma ao que é feito pelos professores. “É bom, pois não temos pernas para isso. Trabalhamos o pedagógico e aqui unimos ao temático”, observa.

Encontros promovem troca

A técnica de educação e saúde, Andrea Barbosa, elogia a iniciativa. Segundo ela, os temas são bem enfocados e o número de participantes possibilita a troca e a atenção de todos. “É melhor do que uma reunião de pais”, compara ela. Mas a bem da verdade as duas reuniões são importantes, cada uma com suas finalidades. “Um dos fundamentos do PCP é o trabalho com a comunidade escolar. Não atuamos só com as crianças e sim com todos os atores que compõem o ensino. Acreditamos que deva haver uma ação de todos, proporcionando a aproximação da escola com a família em prol do sucesso escolar dos alunos; só assim existe a educação”, ressalta a também coordenadora do programa, Júlia Ventura.

Os responsáveis envolvidos desenvolvem uma visão de formação, ação e mobilização. “É importante; sempre venho para discutir temas como bullying e violência doméstica. Recomendo a participação, pois aprendemos muito e podemos repassar a outros”, comenta uma das mães de aluno, Núbia Marques.

As reuniões são uma motivação para o envolvimento na vida escolar, possibilitando transformações. Cláudia Conceição é mãe e avó de alunos. Para ela, os encontros favorecem a convivência. “Se aprende muito do que é necessário, nos orienta na vivência com as crianças”, relata.

Conheça mais sobre o PCP-Maré
O PCP-Maré é uma parceria do Programa Petrobras Desenvolvimento & Cidadania, da Secretaria Municipal de Educação e da Redes de Desenvolvimento da Maré, que propõe contribuir para a melhoria da qualidade da educação pública de ensino fundamental no conjunto de 16 favelas localizadas na Maré. A atuação é promovida a partir de quatro eixos: ensino-aprendizagem, mobilização social, articulação institucional, interações educativas e diagnóstico do cenário da educação. Os atores envolvidos são: alunos, pais,  responsáveis, professores, diretores, coordenadores e apoio administrativo, além da equipe do programa.

As atividades acontecem no 1º e 2º segmentos do ensino fundamental em sete escolas municipais: E. M. Bahia, E. M. Tenente General Napion, Ciep Elis Regina, E. M. Armando de Salles Oliveira, Ciep Ministro Gustavo Capanema, Ciep Leonel de Moura Brizola e Ciep Hélio Smidt. Nessas unidades são oferecidas oficinas de Artes Visuais, Grafite, Circo, Marefestação, Comunicação, Teoria e Prática Musical, Teoria Musical e Canto, Marecatu, Marebatuque, Iniciação Musical, Teatro, Contação de histórias, Hip hop Dance e Complementação Escolar.

Na Creche Comunitária Cléia Santos de Oliveira, as oficinas lecionadas são Iniciação Musical e Contação de histórias. Na sede da Redes acontecem as oficinas de Artes Visuais, Arte sobre Azulejos, Grafite, Cordas Dedilhadas, Break, Hip Hop Dance, Maracatu, Contação e criação de histórias e Preparatório para 6º ano.

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[toggle title=”A caminho da facul!”]

Por Fabíola Loureiro

Trezentos jovens da Maré festejam a conclusão do Ensino Médio, alguns já pensando na faculdade

O dia 1º de dezembro foi marcado pela emoção na formatura de aproximadamente 300 alunos do Supletivo Maré, que aconteceu no Auditório do Centro Tecnológico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Este é o segundo ano do supletivo, que surgiu a partir de demandas levantadas pelo projeto A Maré que Queremos, que reúne associações de moradores e instituições locais com o objetivo de lutar por melhorias estruturantes para as comunidades.

O ensino supletivo é uma modalidade educativa e tem como meta suprir os períodos não concluídos na escola por adolescentes ou adultos, por diversos motivos, entre eles questões familiares, profissionais e falta de tempo por causa do trabalho ou de perspectiva em relação aos estudos. Turma que cursou o Supletivo na Ação Comunitária do Brasil (ACB), na Vila do João. Com a intenção de oferecer uma oportunidade de concluir os estudos, para depois cursar a universidade, o Supletivo Maré, organizado pela Redes, oferece o Ensino Fundamental e Médio para os moradores com idades entre 18 e 23 anos. Em 2011 houve 520 inscritos e 183 se formaram. Este ano foram 570 inscrições, chegando a 305 formandos. As aulas aconteceram em diferentes locais da comunidade, como nas associações de moradores, igrejas, Lona Cultural e na ACB.

A manicure Eliane Barreto Pinheiro, também de 23 anos e moradora da Nova Holanda, não concluiu seus estudos porque se casou muito cedo, teve dois filhos e precisou trabalhar para sustentá-los. Voltou a estudar pela facilidade do horário (à noite e com aulas presenciais duas vezes na semana), permitindo que ela conciliasse com o trabalho.

“Fiz o 1° ano até chegar aos nove meses de gravidez, mas minha filha nasceu e parei de estudar. Com essa oportunidade consegui terminar meus  estudos e agora quero dar continuidade fazendo o curso Pré-Vestibular, pois tenho vontade de fazer faculdade de Informática ou de Estética. Na formatura fiquei muito emocionada e feliz, foi legal jogar o chapéu (capelo) pro alto no fim da cerimônia igual a gente vê nos filmes. Finalmente conclui meus estudos”, diz Eliane.

O artista circense Jorge da Silva Lira, de 23 anos, disse que nunca teve problema para estudar, mesmo sendo de uma família pobre da periferia do Distrito Federal. Ele e seus irmãos estudavam e tiravam boas notas, mas aos 14 anos ele parou os estudos, pois começou a ter vários conflitos em casa, de onde acabou fugindo.

“Morei um tempo na rua, comecei a trabalhar com malabares e circo e, aos 17 anos, comecei o supletivo mais não terminei. Antes eu estudava porque era obrigado pelo meu pai, que mesmo tendo estudado até a 4° série, queria ver todos os filhos formados no 2° grau. Com 18 anos comecei a me interessar por cursos e oficinas, devido ao gosto da arte circense e do teatro e, aos 20 anos vim para o Rio de Janeiro. Fiquei sabendo do curso na Maré por uma namorada que tive. Corri atrás dessa oportunidade e levei a sério, pois terminar o 2° grau era o primeiro objetivo de muitos outros que tenho. A formatura me emocionou. Não imaginava que teria uma formatura mesmo terminando os estudos tarde. E ainda ser escolhido para representar a turma sendo o Orador e ver minhas tias presentes na cerimônia me deixou muito feliz. Dificuldades a gente sempre vai ter e essa foi uma vitória que conquistamos”, relata Jorge.

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Maré de Notícias #35

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[toggle title=”Muay thai na Maré”]

Por Hélio Euclides

Criado por monges na Tailândia há mais de um século, com o objetivo de defesa, o muay thai se tornou uma das artes marciais mais completas, exercitando punhos, cotovelos, joelhos, canelas e pés. O mestre Nélio Naja trouxe as técnicas para o Brasil e ensinou a diversos alunos, entre eles Jefferson Correia, que repassa o que aprendeu a 15 alunos na Vila do João. Os atletas aprendem movimentação, luta, técnica, defesa pessoal e disciplina.

Uma das regras é a proibição de brigar fora das competições. Tirar boas notas no colégio também faz parte do jogo. Caso contrário, o aluno ficará fora do treino. Segundo Jefferson, esta regra se torna um incentivo aos estudos, porque ninguém quer deixar de treinar.

Apesar de o aluno aprender a bater em partes específicas, Jefferson diz que o muay thai não é uma arte violenta. “É uma arte como outra qualquer.
O importante é respeitar que o que se aprende deve ficar na academia e na competição. Anderson Silva (lutador brasileiro) teve sua origem nessa luta, e por isso é tranquilo e técnico”, destaca o instrutor.

Por ser uma luta que libera adrenalina, é comum verificar mudança no comportamento de quem começa a treinar, principalmente dos jovens mais
rebeldes, revela Jefferson. “O atleta procura sempre o conselho do mestre ou instrutor e também a união com a família. Quando os alunos começam a treinar o muay thai, eles encontram a necessidade de esforço e de doutrina”, explica o instrutor, que há oito anos apura as técnicas e hoje já é graduado em azul claro com azul escuro. Para levar a doutrina do muay thai, ele é acompanhado de perto pelo mestre Gustavo Muniz.

Um dos momentos de maior empenho é a competição, que consiste em três rounds de dois minutos cada, com uso de capacete, caneleiras, luvas e protetor bucal. Contudo, o aluno só vai à competição com total preparação.

Treinos:
Academia do Aroldo: R. Seis – Vila do João.
2ª, 4ª e 6ª pela manhã
Custo: R$ 20 (para compra de materiais). Aceita alunos a partir de 16 anos

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[toggle title=”Feijoada de frutos do mar da Jurema”]

Ingredientes:

1 kg de camarão graúdo
1 kg de badejo ou dourado
½ kg de carne de siri
1 kg de feijão mulatinho
Três maços de coentro

Tempero:
2 cebolas
2 pimentões
1 cabeça de alho grande
Sal e pimenta a gosto

Modo de preparar:
Tempere e cozinhe o peixe, o camarão e o siri, separadamente;
Lave a casca do camarão, bata no liquidificador, deixe escorrer e peneire;
Coloque o feijão para cozinhar com o caldo da casca de camarão;
Depois do feijão cozido, misture os frutos do mar e refogue com alho, coentro, pimenta e sal a gosto.
O segredo está no coentro; por isso, ele tempera tanto os frutos do mar quanto o feijão.

Dica da Jurema: Com feijão mulatinho o prato fica melhor. O feijão branco, se ficar muito cozinho, desmancha todo. Serve 20 pessoas.

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[toggle title=”Pelo fim da violência contra as mulheres”]

O Centro de Referência de Mulheres da Maré Carminha Rosa (CRMM-CR) convida para a campanha “16 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres”. As atividades começarão após 25/11, Dia Internacional pela Não Violência contra as Mulheres. O CRMM-CR reconhece como agressão tanto a violência física, que é mais visível, como a psicológica, que envolve, por exemplo, o controle excessivo do marido. “O centro é um espaço de orientação e reflexão. Trabalhamos a perspectiva de reconhecimento da mulher como sujeito de direitos, que pode decidir se vai trabalhar, se vai voltar a estudar, se vai sair com as amigas. Aqui, compartilhamos experiências e isso é muito rico”, explica a assistente social Izabel Gomes. A equipe do centro conta com 18 profissionais especializados, entre advogados, psicólogos e assistentes sociais.

Veja a programação e o calendário de oficinas regulares do CRMM, que é gerenciado pela UFRJ e fica na Vila do João:

26 /11 às 13h30: Oficina artística “Um bairro seguro para as mulheres”, no CRMM, na Rua 17, s/n. Vila do João.

27 /11 às 11h: Panfletagem de divulgação da Campanha e do CRMM, no bandejão central da UFRJ, no Fundão.

28 /11 às 13h: Cine-pipoca Especial: “Chocolate”, no CRMM.

29 /11 às 10h: Mesa redonda “Violência contra a mulher, políticas públicas e intervenção profissional”, no Hospital Federal de Bonsucesso.

04 /12 às 13h30: Debate “Saúde da mulher”,no CRMM.

06 /12 às 10h: Mesa redonda “Violência contra a mulher e questão de gênero”, não auditório Manoel Maurício, na UFRJ da Praia Vermelha.

Oficinas
Dança 1: 2as e 5as às 9h30 / 3as às 13h30

Dança 2: 5as às 13h30

Crochê: 3as às 9h30 e 13h30

Fuxico: 4as às 9h30 e às 13h30

Culinária latino-americana: 4asàs 9h30 e 13h30

Bordado: 5as às 9h30 e 13h30

Curso de direitos humanos: 2as às 13h

Curso de Cuidadoras de Crianças: 2as às 13h

Leitura: 2as às 13h30

Aprendizagem: 4as às 13h30

Cine-pipoca : última 4as do mês às 13h30

Roda de conversa: penúltima 5as do mês às 13h30

CRMM-CR fica na Rua 17, s/n. Vila do João
2ª a 5ª, de 9h às 12h e de 13h às 16h.
Tel: 3104-9896

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[toggle title=”SOS doações à biblioteca”]

A Biblioteca Nelida Piñon, em Marcílio Dias, pede o apoio de todos para a compra de um novo prédio. A atual sede, alugada, não comporta mais a quantidade de livros. Até a sala de informática precisou ser desativada para virar depósito. Além do acervo de cerca de 6.000 livros, a biblioteca oferece cursos de artesanato, alfabetização e supletivo; disponibiliza assessoria jurídica e exame de vista; e organiza passeios para as crianças. Por enquanto, segundo o administrador Geraldo Oliveira, a venda de óleo de cozinha usado vem ajudando a quitar as despesas.

Para doações: Associação Semear – Banco Itaú, agência 6504, conta-corrente 06190-1.

Mais informações: [email protected].

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Maré de Notícias #34

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[toggle title=”Meu filho tem down…”]

Por Rosilene Miliotti

Programa piloto na Maré cria uma rede para facilitar o acesso ao tratamento para que os moradores com Down ganhem independência

A moradora da Nova Holanda, Francine Deodoro de Souza, mãe da pequena Gabrielle, é um exemplo a ser seguido. Desde que soube que a fi lha tinha síndrome de Down, ela lida com a situação com a maior naturalidade. “Tenho outros fi lhos sem Down e só soube que ela tinha quando nasceu. A médica me perguntou se eu havia notado algo de diferente na minha filha e eu respondi que não. Aí ela disse que a Gabrielle tinha um probleminha. Eu respondi que tudo bem”, relata.

Francine, que é diarista, acha apenas que vai ter dificuldade para voltar a trabalhar, pois imagina que não será fácil deixar Gabrielle com alguém. “Sei que ela vai me dar um pouco de trabalho”, afirma.

Uma parceria entre o Movimento Down, o Observatório de Favelas e a Redes da Maré – responsável pela pesquisa inédita sobre síndrome de Down nas comunidades locais, a partir do Censo Maré – já identificou, além de Gabrielle, outras 20 pessoas portadoras de Down na comunidade. Mas a projeção é que existam 32.

Uma das constatações da pesquisa é que, por falta de opções na Maré, as famílias precisam encaminhar os fi lhos para tratamentos e terapias em outros bairros da cidade, dificuldade que pode levar ao abandono das atividades. E assim como Francine, a maior parte das mães de crianças com Down tem medo de deixar seus filhos com outra pessoa e, por isso, não consegue voltar à rotina de trabalhar fora, por exemplo.

De posse dos dados já coletados pelo censo, os assistentes sociais da Redes vêm realizando visitas às casas dos moradores cada vez que é identificada a presença de uma pessoa com síndrome de Down. A família é encaminhada a uma equipe composta por psicólogos e assistentes sociais que fornecem informações e orientações sobre o desenvolvimento, estimulação, saúde, legislação e outras questões que envolvem a melhoria da qualidade de vida das pessoas com a síndrome.

Para a assistente social Alessandra Alves, os serviços de estimulação e a fonoaudiologia são os mais deficientes na comunidade. “Mas estamos bem servidos quando o assunto  é acesso à educação, esporte e cultura”, comemora.

Filhos criados sem restrição

O projeto de criar uma rede na Maré para as pessoas com Down é um piloto para a cidade do Rio, que pode ser adotado em outras partes do mundo. Além de identificar as famílias, é feito um acompanhamento para saber as demandas e identificar as dificuldades. Todos os meses, as mães se reúnem para discutir e falar sobre tratamento ou sobre o que desperta interesse nos filhos.

“Queremos fazer com que eles se tornem independentes. Esse é um projeto de acessibilidade e a intenção é criar um livro de recursos onde estarão incluídas todas as instituições da Maré que estão abertas a atender crianças com Down”, revela a assistente social.

Alessandra diz que aqui na Maré houve uma surpresa, pois nem todos os portadores apresentavam problemas de visão, no coração e fala. “As pessoas até brincam dizendo que a água da Maré deve fazer bem, já que todos falam, com dificuldade, mas falam, e as mães criam seus filhos sem restrições. Os filhos com e sem Down são criados da mesma forma”, observa.

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[toggle title=”Nosso atleta é OURO!”]

Por Victor Domingues

Após um histórico de lesões e correndo pela primeira vez com um guia com quem não havia sequer treinado junto, Felipe Gomes surpreendeu ao conquistar a medalha de ouro nos 200 metros na Paraolimpíada 2012, em Londres, no mês de setembro. Deficiente visual desde criança, o atleta, que é morador da Nova Holanda, conta que foi para os jogos com o guia que sempre o acompanha nos treinamentos e competições. Este guia, porém, chegou a Londres lesionado, com um estiramento de grau 3, e teve que voltar para o Brasil. Felipe, então, precisou correr com outros dois guias. O atleta nunca tinha treinado junto com o guia que ganhou com ele os 200 metros. “A gente só fez o aquecimento juntos. Não treinamos nada, fomos direto pra corrida”, revela.

Felipe chegou a Londres com o 5º melhor tempo do mundo nos 100 metros, modalidade em que era cotado para ganhar. Mas nos 200 metros, não era cotado nem para chegar ao pódio. Felipe conta que até então, em todas as competições deste ano, não se sentia muito seguro, pois ainda se lembrava do “trauma” dos Jogos Pan-Americanos de 2011, em Guadalajara, no México, quando teve um estiramento durante a final dos 100 metros. “Em Guadalajara, quando tudo estava caminhando para um sucesso – na eliminatória fiz 11s40, o melhor tempo; na semifinal, alcancei 11s23 e bati o recorde pan-americano –, tive essa infelicidade de me machucar na final da competição”, lembra.

Sonhada medalha paraolímpica

Felipe, que começou no atletismo em 2003, vem de um histórico de lesões. Mudou a estratégia e passou a investir mais na fase de alongamento e começou a praticar pilates. Apesar das lesões, o atleta possui uma coleção de medalhas conquistadas em eventos internacionais.

Felipe nasceu com glaucoma congênito, teve catarata e descolamento de retina aos 4 anos de idade. Ainda criança, ouviu do médico que ele não poderia pular, nem gritar e correr, pois assim fi caria cego. Perdeu a visão completamente aos 14 anos. Ele acredita que, de   qualquer maneira, perderia a visão e declara: “Hoje eu corro e sou campeão paraolímpico”. Além disso, ele é estudante de direito. Teve que trancar a faculdade para se dedicar ao esporte, mas pretende retornar aos estudos no próximo período.

Felipe sugere que os pais de deficientes coloquem seus fi lhos para praticar esporte, estudar braile e usar o computador, o que, por sinal, ele faz com desenvoltura. “Não apague o talento que seu fi lho pode ter. Vamos mostrar que ele é capaz de trabalhar, estudar, praticar esporte, viajar, namorar”. Ele conta ainda que o esporte o proporciona, além da possibilidade de subir ao pódio, a felicidade de viajar, conhecer novas culturas, pessoas e lugares diferentes.

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[toggle title=”Exposição reproduz a Maré dos anos 1970″]

Por Mirella Domenich

Recriar a Maré da década de 1970. Esse é o objetivo da exposição de artes plásticas “A Cor da Maré”, do pintor Chico Moreira. São 12 telas de couro pintadas com tinta acrílica, utilizando a técnica de pirografia, que reproduzem imagens do cotidiano da Maré de 40 anos  atrás. A exposição está exposta no Centro de Artes da Maré durante todo o mês de outubro, com entrada gratuita.

“Como a Maré de hoje, a Maré de 40 anos atrás também é cheia de vida, cheia de cores”, afirma Moreira. O pintor se baseou em fotos preto e branco da época para reproduzir imagens do cotidiano da região. Suas telas retratam cenas corriqueiras dos anos 1970, como a de mulheres transportando água com rola-rola (barril de vinho deitado na horizontal com pneus acoplados em suas extremidades e puxados com cabos de madeira), lençois estendidos nos varais, fachadas dos barracos e barcos usados para pesca.

Morador da Maré por 20 anos, Moreira é pintor autodidata e, atualmente, aos 54, dedica-se exclusivamente à arte, depois de se aposentar como gestor de recursos humanos. Em “A Cor da Maré”, ele pretende trazer aos que hoje ainda vivem na favela a reflexão sobre o passado, as lutas e os avanços na região. “A Maré sempre foi um lugar de oportunidades”, afirma ele, que veio com a família do Espírito Santo para a Maré quando era criança. “Meu pai veio para o Rio de Janeiro, para a Maré, em busca de dar melhores condições
de estudo para os quatro filhos”, lembra.

As cores da vida

Em suas telas, Moreira procura direcionar o olhar do observador, pintando com cores alguns elementos, e deixando outros em preto e branco. “Quero que as pessoas de hoje consigam ver o colorido do passado”, afi rma. Ao percorrer a exposição, o visitante tem a oportunidade de observar as fotos da época e entrar na alma do pintor, que retrata partes da cena geral, focando no que para ele ainda está mais vivo – e colorido- – em suas lembranças. Um exemplo é o amarelo das fachadas das casas construídas para habitação provisória. “A cor desse tipo de habitação, sempre igual, não refletia a diversidade das pessoas que por lá viviam”, afirma.

Outro destaque fica para a escolha do pintor em retratar o universo feminino da época e a presença marcante da mulher nas atividades rotineiras da Maré. “As mulheres lutavam muito. Eram elas que tinham o contato mais próximo com esse dia a dia da Maré. Elas lavavam suas roupas e também faziam serviços de lavadeira por encomenda, coletavam água, jogavam o lixo fora”, relembra.

Moreira avalia que houve mudanças positivas significativas para os moradores e as moradoras da Maré nas últimas quatro décadas. Com as telas, seu objetivo é captar a oportunidade para essas mudanças. “É fundamental que as pessoas não se esqueçam desse passado de lutas”, conclui.

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[toggle title=”Plano de Direitos Humanos em debate”]

Por Silvia Noronha

Moradores, trabalhadores e visitantes da Maré estão desde já convidados para o evento

A Conferência de Direitos Humanos da Maré será remarcada, com o objetivo de ampliar o debate sobre o Plano local de Direitos Humanos. O evento estava previsto para 1º de setembro, dia da operação policial que resultou na morte de dois jovens moradores, o que transformou o encontro em momento de solidariedade e mobilização em prol da apuração dos crimes.

Uma das vítimas é Fabrício de Souza Melo, de 18 anos, que portava seus documentos, foi levado com vida pela polícia primeiro para o Batalhão da Maré e depois para o Hospital, onde foi registrado já morto, como indigente, por estar estranhamente sem os documentos.  Desde então, os organizadores da conferência (Iser, Luta pela Paz, Observatório de Favelas e Redes) vêm acompanhando o caso, em conjunto com a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Ainda no dia da operação, uma senhora teve sua casa invadida pela PM e, de lá, foi furtado o dinheiro que ela juntava para uma cirurgia.

A operação acabou por reforçar a importância do Plano de Direitos Humanos da Maré, que posteriormente será levado ao governo do estado.

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Maré de Notícias #33

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[toggle title=”A ponte que cai”]

Por Hélio Euclides

Depois de cinco meses da reclamação no Maré de Notícias (edição nº 28, de abril de 2012) sobre a necessidade de reforma da ponte que liga as comunidades Salsa e Merengue e Vila do João, pouco foi feito. Apenas um compensado foi instalado no local, que, evidentemente, não vem resistindo bem à chuva, sol e ao grande movimento de pedestres. Essa passagem é a única ainda de madeira na localidade. As  outras cinco já foram reformadas.

“Precisa fazer o piso de cimento, pois além de pessoas que a utilizam, ainda têm bicicletas e motos. Só faltam carros”, ironiza a moradora do Salsa e Merengue, que se identificou como Luzinete. A moradora da Vila do João, Sílvia dos Santos Carneiro, compartilha do mesmo pensamento. “Se não fizerem a base de cimento, depois de pouco tempo vai ficar do mesmo jeito”, observa.
“As pontes que atravessam os valões nos ajudam muito. Antes era muito ruim sem elas”, explica a moradora da Vila do João, conhecida por Nina.

A Associação de Moradores da Vila do João informa que as pontes foram reivindicadas junto à prefeitura, que nunca atendeu os pedidos. A instituição, então, se uniu à iniciativa privada. Espera-se a colocação de piso de concreto até o final de setembro.

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[toggle title=”…até quando?”]

Por Luciana Bento

Operação violenta da PM, em setembro, reforça a importância de a Maré elaborar seu próprio Plano de Direitos Humanos

A coincidência não poderia ser mais triste: no dia em que seria realizada a Conferência Livre de Direitos Humanos da Maré, no sábado, 1º de setembro, a Polícia Militar fez uma operação na favela e matou dois jovens. Com isso, a Conferência foi substituída por uma reunião, no Centro de Artes da Maré (CAM), na Nova Holanda, que discutiu estratégias de mobilização e denúncia de mais um caso de violência policial.

O camburão blindado da Polícia Militar, apelidado de “caveirão”, chegou cedo à Maré. Por  volta das 8h30 já havia troca de tiros na Nova Holanda. Segundo relatos de moradores, a ação policial desconsiderou a presença de pessoas inocentes nas ruas e uma saraivada de balas foi disparada a esmo, atingindo os dois jovens.

Um deles, Fabrício de Souza Melo, de 18 anos, estava indo para o trabalho quando foi atingido por uma bala e colocado em um camburão da Polícia Militar ainda com vida. Ele estava com todos os seus documentos no bolso, segundo relatou sua mãe, Elza de Souza. Mas Fabrício foi registrado, já morto, como indigente no Hospital Federal de Bonsucesso. A mãe, ainda chocada com o fato, foi acolhida no CAM e levada à delegacia, junto com dezenas de pessoas, para registrar queixa.

“Com este acontecimento, a construção de um Plano de Direitos Humanos da Maré ganha ainda mais importância”, ressalta a diretora da Redes de Desenvolvimento da Maré, Eliana Sousa Silva. “Temos que pensar a segurança pública a partir das necessidades dos moradores da favela, que tem que ser respeitados e protegidos como um morador de qualquer outra região da cidade”.

Roubo na casa de D. Deuzenir
Para completar, uma moradora teve sua casa invadida por policiais enquanto ela trabalhava em sua barraca na feira da Maré. A porta estava trancada e foi aberta com uma chave mestra. O cômodo que fica no segundo andar foi revirado e de lá roubados R$ 1.460 da moradora, que estava economizando para realizar uma cirurgia de catarata.

Todos os fatos ocorridos foram registrados na Delegacia de Bonsucesso e seus desdobramentos serão acompanhados por um  advogado contratado pelas entidades organizadoras da Conferência de Direitos Humanos: Instituto de Estudos da Religião (ISER), Luta Pela Paz, Redes e Observatório de Favelas. “Não podemos apenas nos indignar, é preciso reagir a estes absurdos e mostrar que a população não aceita este tipo de comportamento da Polícia, que deveria proteger os moradores”, assinala Eliana.

Nosso Plano de Direitos Humanos

A Conferência de Direitos Humanos seria o momento de revisar e finalizar o texto elaborado por moradores da comunidade durante oficinas de direitos humanos, realizadas desde maio deste ano. A ideia de construir um documento local surgiu após o processo de revisão do Plano de Direitos Humanos Estadual de 2010, realizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com a participação da pesquisadora do Iser, Noelle Resende. Uma das idealizadoras do projeto na Maré, Noelle defende a produção de planos de ação para contextos específicos, mas que dialoguem com uma visão geral da questão no estado do Rio.

O plano será entregue a representantes do governo.Cerca de 200 pessoas estiveram envolvidas na construção do documento, entre elas moradores que participaram das oficinas. “Mais do que fazer um Plano de Direitos Humanos, trata-se de promover as condições para que as favelas escrevam o seu próprio plano. A possibilidade de participar da construção de suas próprias políticas públicas é um direito que deveria ser dado a todos os cidadãos, mas sabemos que não é assim que acontece”, explica Alice de Marchi, coordenadora e oficineira do projeto.

Alice esclarece que o Plano da Maré será um importante instrumento de luta. “Se a comunidade efetivamente se apropriar desse documento, ele pode servir não só para indicar o que precisa ser melhorado e servir de proposta de ação, como também ser uma forma de mostrar a capacidade de organização da população local”, ressalta.

Ela cita exemplos como o do Complexo do Alemão, onde a comunidade escreveu um Plano de Ação antes da entrada das Forças Armadas no final de 2010, e a Vila Autódromo, que apresentou à Prefeitura um Plano de Urbanização, fortalecendo a luta dos moradores para impedir que a favela seja removida em função da Copa e das Olimpíadas, como deseja a prefeitura.

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[toggle title=”E a ética no orçamento público?”]

Artigo escrito a quatro mãos por Luiz Mario Behnken, economista, e Talita Araújo, estudante de economia (UFRJ), do Fórum Popular do Orçamento.

Já há muito associam política, orçamento à corrupção, roubo. Mensalão, escândalo Cachoeira-Delta, privatizações etc., uma sucessão de escândalos sem fim. Em todos os casos foi apresentado o crime como um problema de natureza individual, isto é, o Brasil seria maravilhoso se os nossos governantes fossem éticos. Há ainda um pensamento mais ousado (e perigoso) de que o ideal seria acabar com os políticos, pois estes nasceram apenas para roubar o nosso dinheiro.

Sem querer aliviar nenhum corrupto ou corruptor – cadeia neles! – o problema vai muito além de um desvio de caráter. É preciso compreender que as maiores imoralidades da nossa sociedade são a desigualdade social e a concentração de renda e estas, juntamente com a corrupção e o suborno, são favorecidas pelas instituições e o sistema econômico que nos governam. Ora, não existe corrupção maior do que a política que transfere para os banqueiros a maior parte da riqueza produzida por toda a nação! Então, o quê fazer?

Conhecer, participar e lutar sempre! O Orçamento Público é o melhor instrumento para termos uma cidadania ativa. Na verdade, é na disputa orçamentária que se define como o nosso dinheiro é distribuído. O orçamento cheio de códigos e números parece muito complexo e difícil. E é assim justamente para impedir a participação popular! Desta forma, as negociações obscuras acontecem para que os governantes decidam, por exemplo, gastar em propaganda ao invés da creche ou reduzir os impostos daquele famoso  empresário que contribuiu em sua campanha.

Portanto, é nas decisões orçamentárias que o povo pode e deve saber quem paga e quem recebe o dinheiro público. É preciso exigir que os governos façam seus negócios à luz do dia,  explicando tintim por tintim – o porquê, como e para quê será feito qualquer gasto público. Assim, teremos menos corrupção e escândalos.

Transformar o orçamento num verdadeiro instrumento do povo é o desafio. Preparamos a cartilha “De Olho no Orçamento” para que todos possam participar dessa luta.

Mobilize-se para abalar os alicerces dos poderosos que fazem do orçamento um meio dos ricos ficarem mais ricos e os pobres mais pobres. Sem ética não há mudança e sem mudança não há ética!

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[toggle title=”Rock da MarYEAH!”]

Comunidades cedem cada vez mais espaço para o rock, contribuindo para divulgar as bandas locais

Por Victor Vianna

O rock nunca foi novidade na Maré. Desde anos 1980, o som já tocava por aqui. Isso contribuiu para a consagração do estilo na  comunidade e também serviu de influência para futuras bandas que representam hoje o movimento dentro da favela da Maré. Atualmente existem pelo menos 12 bandas em atividade e vários projetos voltados para a “tribo” do rock.

Henrique Gomes é morador da Maré, guitarrista da banda Café Frio e figura importante na divulgação do rock nas comunidades locais. Para ele, o ritmo sempre teve seu espaço. O predomínio de outros estilos, como o funk, pagode e forró, é que diminuem a visibilidade do rock, mas isso tem melhorado bastante de um ano pra cá, com a retomada dos espaços de apresentação dos grupos em vários pontos do bairro.

“O rock sempre esteve presente dentro da Maré, sempre teve público pra isso. Lembrome do começo dos anos 1990, uma banda muito presente no cenário musical da Maré era a Dartherium”, comenta Henrique. Ele acredita que grande parte do incentivo vem dos próprios moradores que curtem o som e estão sempre presentes nas apresentações.

Um dos instrumentos fundamentais na difusão do estilo e na divulgação das bandas é o Favela Rock, festival mensal organizado pela Lona Cultural Herbert Vianna,a Lona da Maré, evento que também conta com o apoio de Henrique. “No início, o festival ajudou bastante, mas não tinha muito a cara do que acontecia aqui na Maré. Foi quando a produtora da lá me convidou para ajudar na produção da festa. A partir disso fui chamando bandas daqui pra tocar e deixei o festival mais no estilo do que acontece aqui dentro”.

Além dos bares que voltaram a ceder espaço para apresentação das bandas, como o Zé Toré, no Timbau, e do Leandro, no Parque União, ressurgiu mais um point em setembro: a praça da Nova Holanda, onde, no dia 1º, rolou apresentações de rock, grafite e skate. “O evento ‘A Praça é Arte’ significou muito para nós porque os moradores mais jovens puderam se apropriar novamente da praça. Além disso, o skate voltou para cá e localizamos novos artistas na Maré”, ressalta Letícia Sousa, uma das organizadoras.

Há também o projeto Metanóia, onde a galera se encontra pra discutir religião e tocar um rock’n roll ao final dos encontros, entre outros projetos.

Bandas também tocam fora da Maré

Quem tem aproveitado bastante esse período é a banda Algoz, que está em atividade há 10 anos. “Na nossa adolescência tivemos muita influência de pessoas mais velhas que ouviam rock. Isso acabou ajudando na formação da nossa personalidade musical. A vontade de tocar um instrumento veio depois de conhecer o rock; então acabamos nos aproximando para tocar juntos”, conta o guitarrista Diogo Nascimento.

Embora o cenário seja promissor, o grupo conta que, durante esses 10 anos, o número de bandas diminuiu bastante. O pouco retorno financeiro dificulta e faz com que muitos músicos tenham outros trabalhos, mas a animação do público sempre compensa. “Tocamos em vários lugares do município do Rio e fora. Sempre há lugares novos nos convidando. A resposta tem sido muito positiva, mas tocar aqui dentro da Maré é sempre muito mais explosivo, pois o público conhece muito bem nossas músicas, canta junto e vivencia nosso dia a dia, o que acaba sendo muito gratificante para nós”, ressalta Diogo.

Montar uma banda não é fácil, torná-la conhecida pode parecer impossível, mas a Maré tem feito um bom trabalho. Luta e persistência são características importantes do mundo do rock, porque se fosse fácil não seria rock’n roll.

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