Chacina da Penha: sobe para 24 número de vítimas em operação que despreza decisão do STF

Data:

Sete pessoas estão internadas no Hospital Getúlio Vargas 

Por Jéssica Pires e Edu Carvalho, em 25/05/2022 às 10h15.

A operação policial que ocorreu no Conjunto de Favelas da Penha ontem (24/5), nas primeiras horas da manhã, sendo encerrada após contabilizar 12 horas, resultou, até o momento, na morte de 24 pessoas – configurando-se como a 2ª mais letal da história do Rio de Janeiro. Outras sete estão internadas no Hospital Getúlio Vargas, na Zona Norte. 

Nas redes sociais, ativistas e moradores apontam que as mortes ocorridas apresentaram sinais de execução sumária. Através de posts, também relataram o pânico durante a ação que interrompeu o funcionamento de 19 escolas da região, além do impacto às unidades de saúde, que tiveram de estabelecer atividades internas – sem que haja mobilização no território.

Mesmo com a ADPF 635 (popularmente chamada pelas organizações de favelas e de segurança pública como #ADPFDasFavelas), que limita a realização de incursões policiais a caráter de excepcionalidade desde junho de 2020, a região metropolitana do Rio de Janeiro registrou 61 chacinas no ano de 2021, de acordo com monitoramento da plataforma Fogo Cruzado, sendo as ações policiais responsáveis por três a cada quatro episódios destes, vitimando 195 civis. 

Ainda segundo o instituto, só em 2022, o Grande Rio contabilizou 21 chacinas, sendo 16 delas de responsabilidade de agentes de segurança pública. No total, somam-se 98 mortes, das quais 72 em intervenções de agentes da lei. 

Os autores da #ADPFDasFavelas cobraram respostas sobre o caso, além de um novo plano para redução da letalidade no Rio. No plano apresentado pelas entidades, é pedido a convocação em audiência pública para discussão das propostas, bem como a elaboração de protocolos de uso proporcional e progressivo da força e de abordagem policial. 

Uma carta coordenada pelo Observatório de Favelas com apoio de mais organizações foi publicada ao longo do dia, com objetivo de chamar atenção para o episódio. ‘’A situação é de explícita calamidade, e requer que as agências de Estado se mobilizem imediatamente e de forma articulada para suspender a ação das forças policiais, sob o risco de ainda mais pessoas tornarem-se vítimas dessa barbárie’’, dizia o texto. ‘’Chacina não é absoluta excepcionalidade. Chacina não é compatível com o Estado Democrático de Direito. É preciso parar o extermínio da população negra’’.

Segundo a Secretaria de Estado de Polícia Militar, a operação policial foi conduzida pelo Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) que atuaram conjuntamente na Vila Cruzeiro, na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro. “A ação teve por objetivo localizar e prender lideranças criminosas que estão escondidas na comunidade, inclusive criminosos oriundos de outros Estados do país (Amazonas, Alagoas, Pará entre outros).”

No fim desta terça-feira, o Ministério Público Federal anunciou que vai investigar a conduta dos policiais envolvidos na operação, com intuito de apurar eventuais violações a dispositivos legais e as responsabilidades de agentes federais. 

Na contrapartida, o presidente Jair Bolsonaro parabenizou os agentes pelo caso em sua conta do Twitter. ‘’Parabéns aos guerreiros do BOPE e da @PMERJ que neutralizaram pelo menos 20 marginais ligados ao narcotráfico em confronto, após serem atacados a tiros durante operação contra líderes de facção criminosa. A ação contou com apoio da DRE (@policiafederal ) e @PRFBrasil ‘’. 

O governador Cláudio Castro também fez declarações em defesa da ação, em seu perfil. ‘’Quem aponta uma arma contra a polícia está apontando uma arma contra toda sociedade. Isso jamais vamos tolerar. Eu luto por um Rio de paz. Toda morte é lamentável, mas todos sabemos que nossas responsabilidades impõem que estejamos preparados para o confronto.’’

Compartilhar notícia:

Inscreva-se

Mais notícias
Related

Sementes de Marielle; confira segunda parte da entrevista com Mãe da vereadora

Nessa segunda parte da entrevista, Marinete fala sobre as sementes deixadas por Marielle, do protagonismo de mulheres negras em espaços de poder e a partir do contexto do assassinato da vereadora, como acreditar em justiça.

‘Não há uma política de reparação’, diz Mãe de Marielle sobre vítimas do estado

Além de criticar o Estado e o Judiciário, que, em diversas instâncias, colaboraram pela impunidade do crime, Marinete aproveitou para reforçar o sonho que a família tem: inaugurar, via Instituto, o Centro de Memória e Ancestralidade