Comissão Interamericana de Direitos Humanos visita a Maré

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Soledad García, relatora especial sobre Direitos Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais ouviu denúncia dos moradores 

Na última sexta-feira (16), o Conjunto de Favelas da Maré recebeu Soledad García Muñoz, relatora da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, e representantes da Washington Brasil Office (WBO), uma instituição especializada em pensar sobre o Brasil e em apoiar ações que fortaleçam o papel da sociedade civil e das instituições dedicadas à promoção e à defesa dos direitos humanos.

No roteiro da visita, a relatora esteve no Memorial de Vítimas da Violência Armada no território, localizado na Rua Ivanildo Alves, no Parque Maré. Após a visita, as mães que enfrentam a dor da perda de seus filhos caminharam pelas ruas com uma bandeira erguida, exibindo as fotos das vítimas, até chegarem ao Observatório de Favelas, onde junto a outras organizações e movimentos locais, denunciaram violações de Direitos Humanos vivenciadas pelos moradores.

Durante a caminhada, a fala de uma moradora na varanda de casa chamou a atenção. Ela gritou palavras de força para as mães: “eu não perdi filhos nessa violência, mas a dor de uma mãe é a dor de todas”, disse seguido de palmas. 

Leia também: ADPF das Favelas: ‘desrespeito à decisão do STF é grave por ser afronta contínua à democracia’; Memorial homenageia vítimas de violência

Em entrevista para o Maré de Notícias, Soledad falou sobre a criação do Memorial. 

“Esse Memorial é importantíssimo pela memória, verdade, justiça e reparação dessas mães que precisam de um espaço para fazer seu luto, cerimônias, e honrar a memória de seus familiares. Me sinto honrada de compartilhar esse momento de vê-las acendendo velas para seus filhos”. 

Soledad García Muñoz, relatora da Comissão Interamericana de Direitos Humanos
Durante a cerimônia no memorial, familiares se emocionaram e leram um manifesto em memória das vítimas | Foto: Gabi Lino

Soledad ressaltou a força das mulheres diante o luto. “É um privilégio conhecer a força dessas mulheres, mas também sinto tristeza pela dor que eu percebi e senti nelas. Tenho admiração, desejo de justiça e reparação para elas, seus filhos e filhas que foram mortos. Como relatora especial que está encarregada do direito à saúde na comissão, eu fico muito preocupada também pela saúde mental dessas mulheres que por mais que sejam fortes, precisam de muito acompanhamento psicossocial de saúde para que elas possam tentar reconstruir suas vidas.”

Mobilização para denúncia de violações na Maré

Durante o encontro no Observatório de Favelas, Renata Trajano, do Coletivo Papo Reto, do Complexo do Alemão, enfatizou o não cumprimento da ADPF das Favelas atribuindo a conivência do Ministério Público para operações policiais. Além disso, Renata relembrou que o Brasil foi condenado pela Corte Interamericana no caso das chacinas de Nova Brasília em 1994, e 1995 no Alemão, nas quais as sentenças não foram cumpridas.

 “Fico pensando se essa será mais uma vez que todos nós, movimentos sociais e mães de vítimas sentaremos aqui para ficar pedindo intervenção no Brasil? Que o Brasil seja condenado mais uma vez, assim como foi na chacina de Nova Brasília e isso não ser respeitado? O Ministério Público segue ignorando e a ADPF das favelas caiu por terra pra mim porque o MP do Rio é conivente com as operações. Até quando o estado e grandes instituições internacionais vão fechar os olhos para o que acontece aqui?”

Renata Trajano, do Coletivo Papo Reto,

Bruna Silva, mãe de Marcus Vinicius, de 14 anos, assassinado em 2018 enquanto ia para escola na Vila do Pinheiro, falou sobre as ações dos estados que não recebem punição.

“Precisamos falar sobre a impunidade do estado. Eles entram na favela matando os nossos com a certeza da impunidade. O caso do meu filho está mais perto de ser arquivado do que solucionado porque há cinco anos se encontra como inquérito, parado. É como se estivessem matando o Marcus de novo”, desabafa Bruna que compõe o coletivo Mulheres em Movimento da Maré.

Bruna Silva, mãe de Marcus Vinicius luta por justiça há cinco anos pela morte do seu filho | Foto: Gabi Lino

Representantes de outras organizações, coletivos e instituições como a Redes da Maré, Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT), Conexão G, Federação das Associações de Favelas do Rio de Janeiro (FAFERJ), Frente Favela Brasil (FFB), Instituto Maria e João Aleixo, Instituto Vladimir Herzog, LabJaca, MNU, UNEGRO, também estiveram presentes. Ao final do encontro, o grupo Mulheres em Movimento da Maré entregou à relatora um manifesto com suas assinaturas.

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