Por Leo Motta em 11 /03/2021 às 9h
Novos rostos e histórias chegaram nesse período. Triste realidade. Se sair dessa situação sozinho é quase que impossível, imagina com uma pandemia? No primeiro momento veio uma chuva de solidariedade. Porém hoje, após um ano, muita coisa mudou. A ajuda vista no começo já não é a mesma, e a cada dia parece que a coisa fica mais difícil.
Convencer quem não tem um endereço a usar máscara, muito menos fazer distanciamento é complicado. Para quem só sobrevive tendo como companheira a dureza da calçada e a frieza de um papelão, os cuidados nem sempre conseguem ser os primordiais. As urgências são outras. A rua é casa de muitos, mas deveria ser mesmo de ninguém.
Os projetos sociais que permanecem passam por dificuldade, inclusive o meu, criado em 2019, o qual batizei com o que eu acredito. Aos sábados, atendemos 150 pessoas em situação de rua. Além de pessoas, encontro também incertezas. Com uma piora e aumento de contágio, medidas restritivas, a situação só pode agravar. Sem ter direito ao Auxílio Emergencial, pois muitos não têm sequer documentos, como vão comer?
A preocupação maior agora é com a vacina. Não se tem relatos específicos da população de rua que fez testes, de casos confirmados, muito menos de óbitos. Será então agora que vão lembrar de quem está na calçada? A imunização vai chegar?
Da criança ao jovem, de homens, mulheres e trans; de idosos, gestantes a dependentes químicos e alcoólicos, além dos que têm transtornos mentais. Essas pessoas merecem acolhimento, não o sentimento de que o mundo não é para elas. Elas também merecem e devem receber a dose, assim como alimento e moradia.
Leo Motta fez parte da população em situação de rua e é escritor