Vírus atinge famílias mais vulneráveis na Maré

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Das famílias com casos de coronavírus atendidas pela Redes da Maré, 70% delas vivem com, no máximo, um salário mínimo

Acompanhando o histórico de chegada e transmissão do coronavírus no Brasil, é simples concluir que a Covid-19 chegou e acometeu primeiro a uma parte mais privilegiada de pessoas e aos poucos foi chegando nas classes econômicas e sociais mais vulneráveis. Na Maré, os impactos para as famílias com menor renda já são percebidos. A condição socioeconômica dos moradores da Maré com suspeita ou confirmação de Covid-19 liga o alerta de organizações locais que seguem mobilizadas a fim de garantir condições mínimas para famílias onde o vírus chegou.

De acordo com a Edição 7 do Boletim “De Olho no Corona!”, que apresentou uma análise sobre a situação da renda e trabalho de cerca de 509 famílias na Maré, 98 destas famílias vivem sem nenhuma renda; 29 com até meio salário mínimo e 198 entre meio e um salário mínimo. Vale destacar que a média de pessoas que vivem em um mesmo domicílio na Maré varia entre 2 ou 3, chegando a 5, e tendo casa que abrigam até mesmo 12 pessoas – como foi o caso de uma família atendida pela equipe. De acordo com os dados do IBGE, a renda domiciliar per capita no Brasil, em 2019, foi de R$ 1.439.

Ainda que a pandemia tenha desestabilizado a economia de todo o país e a taxa de desemprego tenha subido para 12,6 ainda em abril, a falta de políticas que atendam as necessidades sanitárias e de geração de renda dos territórios de favela alarmam. Como indica o boletim “o isolamento social não pode ser a única resposta para o enfrentamento do problema, pois este deve ser acompanhado de políticas públicas que protejam as famílias mais vulneráveis do contágio  da perda de renda e que, também, assegurem o pleno acesso aos serviços de saúde e de assistência social”

O Painel Rio Covid-19 apresentou nesta quinta (18/6) 46.255 casos de coronavírus e 5.508 óbitos na cidade do Rio e 279 casos e 71 óbitos na Maré. Já os dados do boletim, que vem desenvolvendo um canal direto com os moradores da Maré, apontam que até o dia 15 de junho, a Maré tinha 921 casos de pessoas confirmadas ou suspeitas de coronavírus. Desse total, 258 casos foram confirmados pelo Painel Rio Covid-19, e outros  663 casos suspeitos e 29 mortes foram identificadas pelo  “De Olho no Corona!”  como casos suspeitos sem acesso a teste ou diagnóstico.

 Dificuldades após a perda de renda

São diversos os relatos de famílias que perderam renda na Maré. Porém, o custo para arcar com o tratamento de um paciente de coronavírus sem o suporte ideal do Estado, tem sido alto. João Lopes, pai do fotógrafo do Maré de Notícias Douglas Lopes, está em tratamento da Covid-19 há cerca de um mês e só uma das receitas com remédios indicados somou o total de R$249,47. Nenhum dos sete remédios prescritos para o tratamento estavam disponíveis na farmácia popular, hospital ou clínica da família. Além dos gastos com medicamentos, a alimentação adequada e materiais de higiene e limpeza necessários também pesam no orçamento dos pacientes sem recursos.   

Receita médica de João Lopes. Morador gastou quase R$250 com medicamentos

Muitas dessas pessoas ainda não conseguiram também acessar o auxílio emergencial do Governo Federal. Tanto por dificuldade no entendimento do cadastro, quanto por atraso e confusão por parte do governo. Só agora, depois de 3 meses de pandemia, a Cristina Maia, moradora do Parque União, teve o pedido de auxílio emergencial aprovado. Ela está desempregada e a família composta por mais duas adolescentes e uma criança, e no momento conta apenas com a renda do marido. “Quase não acreditei quando vi o ‘aprovado’, já não sabia mais o que fazer, vendo que só a renda do meu marido não estava dando mal para aluguel e compras e eu não tinha como procurar um emprego agora”, relatou.

Uma das frentes da campanha “Maré diz NÃO ao Coronavírus”, da Redes da Maré, é a geração de renda para moradores. O Maré de Sabores, da Casa das Mulheres da Maré, conta com 26 cozinheiras, que estão preparando as refeições diariamente para a população em situação de rua. Já no Tecendo Máscaras e Cuidados, 54 costureiras estão produzindo máscaras para serem distribuídas à população das favelas da Maré. Todas haviam perdido renda neste momento. A organização também lançou uma chamada pública para apoiar financeiramente artistas e grupos locais que atuam na Maré, além de ter contratado motoristas para entrega das cestas básicas e kit de limpeza e higiene. 

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Os suspeitos são os irmãos Domingos Brazão e Chiquinho Brazão, atual conselheiro do Tribunal de Contas do Estado e deputado federal do Rio de Janeiro, respectivamente, e Rivaldo Barbosa, que é delegado e ex-chefe de Polícia Civil do Rio