Em ano olímpico, Maré segue em busca por mais investimentos no esporte

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Atletas driblam desafios para sobreviver das modalidades esportivas

Em ano olímpico, os holofotes se voltaram para as modalidades esportivas e, a falta de investimentos no esporte no Brasil é um debate comumente levantado nessa época. Nas olimpíadas, Brasil ficou na 20ª posição com 20 medalhas conquistadas, sendo três ouros, sete pratas e 10 bronzes. Já nas Paralimpíadas, que só acabam no próximo dia 8, Brasil ja ocupa a sexta posição com 50 medalhas sendo 14 ouros, 12 pratas e 24 bronzes. Após o atleta brasileiro de decatlo José Fernando Ferreira, conhecido como Balotelli, afirmar não ter recebido um material adequado à quantidade de provas que disputa, a discussão voltou a ganhar força durante os jogos olímpicos. 

A primeira Vila Olímpica da cidade do Rio de Janeiro foi inaugurada na Maré, a Vila Olímpica Seu Amaro, em 1999. O equipamento sócio desportivo da prefeitura possui 25 atividades gratuitas como ginástica, natação e jiu-jitsu e juntamente com o Luta Pela Paz, instituição que atua há 24 anos na Maré, são os principais formadores de atletas do território. 

Ao Maré de Notícias, Roberto Custódio, coordenador de Projetos da Luta Pela Paz, conta que os projetos esportivos sociais são os meios formativos para desenvolver e apoiar jovens talentos, mesmo sem ter o alto rendimento como uma meta: “A vivência esportiva e o alto rendimento são formativos, e que para além das práticas físicas, extraindo as habilidades e competências para vida, como os valores e suas intencionalidade pedagógica”, explica. 

Embora a história desportiva na Maré seja marcada por pioneirismos, outro fator importante desafia a juventude que enxerga no esporte uma forma de sobreviver às violações de direitos e desigualdades sociais. Segundo a 7ª edição do Boletim Direito à Segurança Pública na Maré, produzido pela Redes da Maré e publicado em março de 2023, em 2022 ocorreram 27 operações, deixando a Vila Olímpica fechada por quase um mês. Este ano já foram mais de 20 incursões policiais no território. 

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Cadê o investimento na base?

Poucos dias antes do início dos Jogos Olímpicos de Paris, uma pesquisa do Serasa, realizada em todo o Brasil, revelou que a maioria dos atletas brasileiros não têm condições financeiras para seguir na carreira. O estudo constatou que 74% dos esportistas não contam com nenhum tipo de apoio financeiro ou investimentos. E quando o recorte é em espaços de favela, a situação é ainda mais preocupante.

Para Roberto, o acesso ao esporte está cada vez mais restrito: “A falta de investimentos no trabalho de base e de melhores estruturas para os demais esportes ainda deixa muito a desejar. O esporte está cada vez mais elitizado, onde quem tem um poder aquisitivo consegue acessos que outros(as), até talentosos (as), encontram muita dificuldade ou nem chegam”, afirma.

Em recente entrevista ao SporTV, após conquistar o pódio inédito na Marcha Atlética para o país, Caio Bonfim desabafou sobre a situação dos atletas brasileiros: “”Eu brinco que o Brasil tem dois esportes: o futebol e o outro é o que está ganhando. Então, se você quer aparecer, tem que estar no outro que está ganhando. Agora, somos medalhistas olímpicos. Tomara que essa medalha possa abrir portas e ter investimento”, conta. 

Apesar da dificuldade, Caio faz parte do grupo de atletas com apoio financeiro do governo federal, o Bolsa Atleta. Embora passados 14 anos sem reajuste, os valores atuais do Bolsa Atleta ainda demonstram a urgência de maiores investimentos no esporte brasileiro. O valor destinado aos atletas de base e aos atletas de alto rendimento compromete o desenvolvimento do esporte de base no país. Enquanto um atleta olímpico recebe cerca de R$ 3.400, um atleta de base, que está iniciando sua carreira, recebe apenas R$ 410. 

A cria da Maré, Rebeca Lima é atleta da seleção brasileira de boxe. Com a realidade semelhante à da maioria das crianças mareenses, sua mãe trabalhava e para ocupar o tempo, matriculou a pequena Rebeca na Vila Olímpica Seu Amaro. Na ciclovia ali perto, ela viu outras meninas treinando boxe, ficou encantada e iniciou na modalidade aos 7 anos na Luta Pela Paz. Ela conta que o começo é muito difícil para a base:

“Outro momento complicado é a transição de atleta juvenil para atleta elite. Quando você cresce, você se vê em uma posição em que precisa trabalhar, treinar ou estudar e treinar. Tem a necessidade de fazer renda e muitas vezes a galera desiste da modalidade”, diz Rebeca. 

Hoje, como atleta da seleção e do exército brasileiro, ela consegue se manter na profissão, mas reforça: “Comecei com nada, tinha uma ajuda de custo de transporte que o projeto social me fornecia até ser campeã do campeonato nacional. E então passei a receber a bolsa. Sem isso seria muito difícil permanecer, até porque já é difícil com.” 

Os desafios para os atletas e moradores de favela são grandes e assim como Rebeca Lima, há outros exemplos de mareenses que seguem tentando viver do esporte. Douglas Antônio é um deles. O jovem lutador de Jiu Jitsu, de 19 anos, conseguiu os investimentos após ter a sua história contada aqui no Maré de Notícias. Para isso, é fundamental o investimento em políticas públicas para territórios favelados para que não tenhamos exceções e sim maioria na disputa olímpica.

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