Favela por Favela: a construção do Conjunto Bento Ribeiro Dantas ou ‘Fogo Cruzado’

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Apelidado no passado de “fogo cruzado”, Conjunto Bento Ribeiro Dantas vive dias de paz e orgulho para os moradores

Edição #160 – Jornal Impresso do Maré de Notícias

A comunidade de Bento Ribeiro Dantas surgiu em 1992, com o mesmo nome da via principal que ligava a Maré a Bonsucesso, antes de se tornar Linha Amarela. O Conjunto Bento Ribeiro Dantas foi construído onde no passado existiu a praia e o Porto de Inhaúma.

Localizado de frente para o Conjunto Pinheiros e, ao lado do Morro do Timbau, os primeiros moradores vieram de outras favelas, por meio do Programa Morar Sem Risco, da prefeitura do Rio, que contemplava comunidades com perigo de desabamentos.

Formada por 541 casas, a favela foi construída pela Companhia Estadual de Habitação (CEHAB). Inicialmente, recebeu o apelido pejorativo de “Fogo Cruzado”, devido aos confrontos frequentes. Para Felipe Dias, presidente da Associação de Moradores do Conjunto Bento Ribeiro Dantas, esse passado ficou distante.

“Aqui é tranquilo, os moradores são excelentes e apoiam o trabalho. Nosso desafio como sucessor da grande presidente Cremilda Vicente é trazer melhorias nas áreas de saneamento básico, iluminação, lazer e projetos para os jovens”.

Cremilda foi uma liderança feminina importante do território, engajada nas lutas por melhores condições de vida. Ela faleceu em janeiro de 2023, aos 58 anos, após viver por 30 anos no conjunto.

Arquitetura singular

De acordo com o publicação Maré que Queremos, sistematizado pela Redes da Maré, o projeto da favela é de inspiração pós-modernista, utilizando o tijolo e o concreto aparentes. 

O Laboratório de Habitação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), revela que o projeto foi vencedor de um concurso público que buscava diversidade, promovido pela Prefeitura de São Paulo, em 1991. O arquiteto Luiz Fernando de Almeida Freitas e a empreiteira Co.Opera.Ativa, receberam o Prêmio Arquiteta Adina Mera, na categoria Espaço da Cidade/Desenho Urbano, do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), em 1993, pela construção do Condomínio Popular Bento Ribeiro Dantas.

Apesar do investimento na arquitetura, quando o conjunto foi inaugurado, as ruas não tinham asfalto e não existia comércio próximo às casas. Os moradores mais antigos contavam apenas com o suporte de  quitandas, mas quando precisavam de algo como açougue, era necessário ir a outras favelas.

Evolução

Muitos desses moradores iniciais vinham da favela da Varginha, em Manguinhos, e não se adaptaram à arquitetura do conjunto habitacional. Por isso, venderam as casas. Edna Palmeira vivia em uma casa alugada no Morro do Timbau e comprou a casa própria no conjunto há 30 anos. 

Para Edna a construção era confusa, com escadas invasivas, e com a água e o esgoto em conjunto entre as casas. As habitações eram de dois andares, que pareciam ser da mesma família, mas não eram. 

Hoje, os 541 domicílios se transformam em 943, com uma população estimada em 3.553 habitantes (Censo Maré 2013). Edna conta que as casas têm preços mais altos do que as das favelas vizinhas, como Vila do João e Morro do Timbau. Ela acredita que isso ocorra pela facilidade no acesso aos transportes e pela organização e limpeza das ruas. “Aqui parece um grande condomínio!” , afirma.

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