Jornada de mães como empreendedoras esbarra em desigualdades sociais e raciais

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Reportagem: Redação data_labe
Entrevistas: Maria Ribeiro
Dados: Samantha Reis
Artes: Messias

“Quando meu marido faleceu, tive que sair do trabalho de carteira assinada. Minha filha tinha apenas um ano e pouco. Quis voltar pra minha terra natal, porque eu tinha medo, achava que não ia conseguir ficar com ela sozinha na cidade grande, pagar aluguel para me manter”. Faz 20 anos que Maria Casciana de Araújo, 42, decidiu pedir demissão para estar mais perto da filha Ana Beatriz. Assim como Casciana, milhões de mulheres têm trilhado o mesmo caminho. Segundo dados do Sebrae, a cada dez empreendedoras, sete afirmam que a decisão de abrir o próprio negócio foi influenciada pela necessidade de cuidar dos filhos. 

O empreendedorismo, no entanto, ainda não é um campo estruturado para acolhê-las. A pesquisa “Empreendedorismo no Brasil 2023” aponta que, entre as pessoas que administram um negócio próprio, as mulheres gastam quase o triplo de tempo diário em cuidados familiares e tarefas domésticas em comparação aos homens. Não à toa, o estudo revela uma queda de 15% na criação de novos empreendimentos por mulheres entre 2002 e 2023.

Um dos maiores desafios para as mães empreendedoras é conciliar as demandas do negócio com a maternidade. “Quando comecei, meu filho era muito criança ainda. E como trabalho à noite, tinha que deixar minha filha de dez anos com o irmão de seis anos para eu poder trabalhar, porque não tinha com quem ficar”, conta Casciana, que gere um trailer de bebidas na Praça do Parque União.

É na cozinha da própria casa que ela prepara cookies, brownies e outras delícias que entrega por encomenda e por delivery. “Nesses três anos de confeitaria eu sou a equipe. Faço tudo: eu limpo, eu entrego, eu faço reposição”. 

| Já leu essas?

Segundo o Censo de Empreendimentos da Maré, publicado pela Redes da Maré em 2014, cerca de 40% dos empreendimentos da Maré são administrados por mulheres, quantidade bem próxima dos índices registrados pelo estado do Rio de Janeiro. O que chama atenção nos dados é a diferença na realidade entre mulheres brancas e negras.

A cada dez mulheres que são donas de negócio e operam estabelecimentos comerciais como loja, escritório, etc, apenas quatro são negras. A discrepância também fica evidente em relação ao tipo de serviço. Confira a tabela no site do data___labe.

Adriele conhece de perto a realidade contada pelos dados. Antes de mergulhar no ramo da confeitaria, trabalhou como diarista, assim como sua mãe. Como empreendedora, observa o quanto o racismo e o machismo dificultam a trajetória das mulheres negras no mercado.

Apesar dos muitos “nãos” ditos pela sociedade, Adriele projeta voos mais altos. O primeiro deles: separar o CPF do CNPJ.

“Tenho um forno industrial, geladeira, mesa e estoque separados dos equipamentos de casa. Estou sempre comprando algum tipo de utensílio ou maquinário para a cozinha do ateliê, que vai ser linda, até mesmo para trazer conforto, tanto para a empresa quanto para mim em casa. E tem meu sonho de poder contratar outras pessoas para estar me ajudando, gerando renda, ajudando outras pessoas financeiramente”, projeta.

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