Juntos pela primeira infância

Data:

Número de vagas em creche é ampliado por meio de parcerias

Por Hélio Euclides

Buscar um local de confiança para deixar o filho pode ser uma missão complicada, além disso, contar com esse serviço perto de casa é importante especialmente para quem trabalha longe. Mas é essencial lembrar: o direito à creche não é das mães trabalhadoras, e sim das crianças. E são as creches conveniadas (que hoje usam a denominação parceiras) que, no passado, foram as primeiras a assegurar o direito da criança na Maré. 

A Constituição Federal, em seu artigo 208, inciso IV, determina que o dever do Estado para com a educação da criança de 0 a 6 anos será efetivado mediante a garantia de atendimento em creches e pré-escolas, apontando o caráter educacional desses estabelecimentos. Hoje, a Maré conta com sete creches municipais e 14 Espaços de Desenvolvimento Social (EDIs). Para suprir a demanda do território, os moradores têm à disposição ainda nove creches parceiras, que são administradas por instituições, juntamente com a Prefeitura. 

Entre elas, a de menor porte é a Creche Escola Octacílio Batista (CEOB) no Parque Maré, mas nem por isso deixa a desejar: tem instalações reformadas e prima pela limpeza. Luciane dos Santos Silva é a gestora do espaço, que conta com dez funcionários e trabalha há sete anos de forma particular — só este ano conseguiu essa parceria. Segundo ela, é preciso assinar um termo de contrato para o repasse de verba, com garantia do atendimento adequado à criança. O contrato é anual, com prestação bimestral de contas.

Cada escola parceira tem autonomia, mas é preciso que siga o plano pedagógico municipal. “Isso faz com que andemos em conjunto com a Secretaria Municipal de Educação. Contudo, o nosso esforço é maior, pois também temos responsabilidade como sociedade civil”, avalia. Na parede próxima à sua mesa é possível ver o calendário oficial do ano letivo, seguido à risca pela creche. A gestora assegura que trabalhar em parceria é ótimo para a escola e para as famílias: o ensino gratuito alivia o orçamento doméstico (antes, cada criança pagava R$ 450). 

O que chama atenção é que, mesmo com a criação dos EDIs, as creches parceiras não perderam espaço. “A demanda de criancinhas é grande e a natalidade no território é alta. Nosso maior diferencial é ter uma pedagogia voltada para as crianças com deficiências, o Plano Educacional Individualizado (PEI). A Prefeitura ofereceu dois dias de palestras para ajudar na implantação desse método de inclusão”, conta Luciane. O PEI é elaborado pelo professor a partir de uma avaliação do aluno com necessidade educacional específica. 

Este ano, a creche já trabalhou os temas reciclagem e meio ambiente, com a participação das mães e pais na coleta de matérias-primas. Mesmo em período de adaptação, a parceria já arrecadou elogios dos responsáveis: “Gosto bastante do trabalho desta creche. Depois das atividades desenvolvidas, meu filho de dois anos chega mais esperto em casa”, conta Brenda Luiza, moradora da Nova Holanda.

De mãe para filhas

Maria Euzinete, mais conhecida como Dona Nete, foi administradora da Creche Comunitária Sagrado Coração de Maria, no Parque Maré, por mais de duas décadas (trabalho que foi reconhecido com um prêmio oferecido por um jornal carioca). Afastada por problemas de saúde, ela deixou um legado em prol das crianças agora assumido por suas duas filhas, que mantêm o mesmo padrão de qualidade da creche e viram seu papel ser valorizado. 

“A parceria com a Prefeitura só trouxe melhorias. Vivíamos de doações porque o valor repassado por criança era muito baixo — o  aumento ocorreu há três anos. Vivemos outro mundo, com material e alimentação à vontade”, diz Sueli de Melo, uma das gestoras.

A creche funciona há 35 anos; ali trabalham 24 funcionárias, sendo cinco professoras, dez auxiliares de sala, três profissionais de cozinha e três de limpeza, duas gestoras e uma coordenadora pedagógica. A unidade escolar ainda conta com a parceria de uma nutricionista, que monta um cardápio balanceado para as crianças. “Isso é importante, pois sabemos de muitas não têm alimento em casa”, aponta Sueli. 

Segundo ela, “a Maré tem à disposição EDIs e creches municipais, mas muitas mães necessitam do nosso trabalho, que é renomado. Todo ano preenchemos o qualitativo de vagas e, mensalmente, recebemos visitas da supervisão da 4ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) que sempre rendem  elogios”.. 

Outra gestora do território também mostra o carinho do trabalho com a creche. À frente do Centro Cultural Educar, Irani Alves administra o trabalho de cerca de 25 funcionários. Há cinco anos a creche é parceira da Prefeitura. “Só tivemos benefícios ao integrar a maior rede municipal de educação do Brasil. Essa parceria nos proporcionou não só cuidar das crianças da nossa comunidade, como proporcionar a elas o devido apoio pedagógico e nutricional”, diz Irani.

Com o trabalho das unidades parceiras, as mães compreendem que a creche é um lugar onde as crianças encontram aprendizagem, brincadeiras e socialização. “As professoras cuidam bem da minha filha, sempre há atividades”, diz Raiana Macedo, moradora do Morro do Timbau, mãe de uma menina de três anos matriculada na unidade. 

Como ser parceira

A Secretaria de Educação explica que a parceria da Secretaria de Educação é feita com creches privadas sem fins lucrativos e comunitárias. Um chamamento público é divulgado no Diário Oficial do Município; as creches que tenham interesse em trabalhar com a Prefeitura apresentam os documentos exigidos e, depois de análise, é assinado um termo de colaboração, e a parceria é oficializada.


Lista das nove creches parceiras

  • Creche Aprendiz da Maré – Núcleo de Ação Comunitária e Desenvolvimento Social (Nacodes): Rua Nilton Cordeiro, 19 — Parque União. Capacidade: 200 crianças
  • Creche Escola Mimi Filial: Rua Roberto da Silveira, 81 — Parque União. Capacidade: 94 crianças
  • Creche Escola Mimi: Rua João Araújo, 237 — Parque Rubens Vaz. Capacidade: 125 crianças
  • Espaço de Educação Infantil Vila do João: Rua Cinco, s/nº — Vila do João. Capacidade: 217 crianças
  • Sociedade Tereza Cristina: Rua Negrão de Lima, 21 e 21-a — Parque União. Capacidade: 210 crianças
  • Centro Cultural Educar: Rua Nioac, 6 — Baixa do Sapateiro. Capacidade: 145 crianças
  • Instituto de Educação Euclides dos Santos: Avenida Brigadeiro Trompowski, 220 — Parque União. Capacidade: 143 crianças
  • Creche Escola Octacílio Batista: Rua Joaquim Nabuco, 75 – Parque Maré. Capacidade: 37 crianças
  • Creche Sagrado Coração de Maria: Rua Carmela Dutra, 24 — Bonsucesso. Capacidade: 125 crianças

Creche Comunitária Sagrado Coração de Maria é mais uma das instituições que funciona em parceria com a Prefeitura do Rio – Foto: Matheus Affonso

Compartilhar notícia:

Inscreva-se

Mais notícias
Related

Por um Natal solidário na Maré

Instituições realizam as tradicionais campanhas de Natal. Uma das mais conhecidas no território é a da Associação Especiais da Maré, organização que atende 500 famílias cadastradas, contendo pessoas com deficiência (PcD)

A comunicação comunitária como ferramenta de desenvolvimento e mobilização

Das impressões de mimeógrafo aos grupos de WhatsApp a comunicação comunitária funciona como um importante registro das memórias coletivas das favelas

Baía de Guanabara sobrevive pela defesa de ativistas e ambientalistas

Quarenta anos após sua fundação, o Movimento Baía Viva ainda luta contra a privatização da água, na promoção da educação ambiental, no apoio às populações tradicionais, como pescadores e quilombolas.

Idosos procuram se exercitar em busca de saúde e qualidade de vida

A cidade do Rio de Janeiro tem à disposição alguns projetos com intuito de promover exercícios, como o Vida Ativa, Rio Em Forma, Esporte ao Ar Livre, Academia da Terceira Idade (ATI) e Programa Academia Carioca