Hélio Euclídes
Hum…se você também sente desconforto, uma sensibilidade ao mastigar alimentos quentes ou frios, não deixe chegar nesse ponto para procurar um profissional dentista. Para evitar problemas bucais são necessários hábitos diários como escovação e limpeza da boca. O consultório também deve ser visitado pelo menos duas vezes ao ano, como um ato de prevenção de doenças. Ao andar na rua da cidade é comum receber anúncios de profissionais particulares, o que é proibido pelo código de ética. Contudo, moradores da Maré podem realizar a visita ao dentista sem sair da favela e de forma gratuita.
Quando se pensa em ir ao dentista, muitos pensam logo no medo da dor ou no receio de gastarem muito dinheiro. Enfrentar a dor é possível realizando a prevenção. Já a questão financeira pode ser enfrentada concretizando o tratamento no serviço público. Nos dois casos os moradores devem procurar as clínicas das famílias e os centros municipais de saúde. Mas alguns moradores reclamam que esbarram com a dificuldade da falta de profissionais. O Maré de Notícias visitou duas unidades de saúde da favela e conferiu que no momento os quadros das equipes estão completos.
Na Clínica da Família (CF) Augusto Boal, em frente ao Morro do Timbau, uma funcionária que preferiu não se identificar, garantiu que a unidade conta com dentistas, auxiliares e técnicos de saúde bucal, com quadro completo. Já a CF Jeremias Moraes da Silva, na Nova Holanda, abriu o consultório dentário em janeiro. Um funcionário que optou por não informar o nome também afirmou que tiveram dificuldades no mês passado com a ausência de um dentista, mas que agora em abril a clínica já conta com os dois cirurgiões. E que apesar da grande demanda na unidade, todo mês a equipe ainda visita as 16 escolas municipais que estão no seu entorno, fazendo o trabalho educacional de saúde dos dentes.
Maria Aline, moradora do Morro do Timbau, que realizou consulta dentária na CF Augusto Boal, aprovou o atendimento. “Foi ótimo, precisei de uma restauração e foi concluída com sucesso”, diz. Já Raquel Moreira, também moradora do Morro do Timbau, questionou o procedimento. “Estou vindo pela primeira vez e pretendo fazer uma extração dentária, até me deram remédio, mas o problema é que vai precisar de raio-x e a unidade não realiza”, reclama.
Na CF Adib Jatene, na Vila dos Pinheiros, Leônidas Araújo, moradora da favela, tem duas opiniões sobre a saúde bucal. “A gengiva estava inflamada e desejava um antibiótico, mas o dentista queria romper o inchaço, algo que não autorizei, pois tenho diabetes. O profissional não gostou, só depois de muita insistência passou o remédio. Já com meu pai que necessitava de uma extração deu tudo certo”, avalia. Creuza Oliveira, moradora da Vila dos Pinheiros, ficou triste na primeira consulta. “Queria fazer uma limpeza dentária, mas no dia que procurei a unidade não estavam fazendo o procedimento”, comenta. Ao saber que a unidade já realiza a técnica, ela pretende marcar uma nova consulta.
Em 2020, o Maré de Notícias contou a situação do Centro Municipal de Saúde (CMS) Vila do João, que após ser atingido por fortes chuvas ficou interditado. O local mais atingido era justamente o consultório dentário. A unidade de saúde passou por uma reforma e a reabertura dos consultórios em setembro de 2022. E no início deste mês o consultório dentário da Vila do João passou por reparos de equipamentos, voltando ao atendimento. Contudo, os pacientes ainda não ficaram sabendo da conclusão dos trabalhos. Funcionários pedem que moradores retornem para suas consultas e atendimentos de serviços como limpeza, tratamento de cárie e restauração e outros.
A importância da prevenção
Atuando no Centro Municipal de Saúde (CMS) Américo Veloso, na Praia de Ramos, Karla Gomes dos Santos, cirurgiã-dentista, incentiva a prevenção para evitar as doenças bucais.
“É questão de valorização da boca, que é o cartão de visita, a porta de entrada do corpo. A saúde bucal fornece sinais de advertência aos médicos para uma gama de problemas e doenças, incluindo cardíacas. Explicamos a necessidade de escovar três vezes ao dia, com uso do fio dental. Reavaliação de um profissional a cada seis meses. Nosso trabalho é de prevenir, promover a saúde”,
afirma a profissional.
Numa visita ao profissional, a boca do paciente é investigada, o que descobre precocemente ou pode evitar infecções.
Para ela, é preciso levar a sério a boca, pois a cárie pode atingir o nervo dental, ocasionando um processo inflamatório que, se não tratado, poderá virar algo perigoso. Um dos trabalhos realizados na Maré de maior importância é o Saúde na Escola, que mostra que cuidar dos dentes tem que começar cedo. “Eles voltam para casa sabendo a importância da escovação, da prevenção e da visita aos consultórios. Ocorre a multiplicação das informações, pois as crianças levam o que aprendem para os responsáveis”, diz.
O trabalho dos consultórios dentários do Sistema Único de Saúde (SUS) chega a prevenir o óbito, que pode ser ocasionado por meio de uma infecção. A atenção básica de saúde mostra que a retirada do dente nem sempre é a solução, mas um tratamento, a restauração e uma limpeza podem ser o caminho. “Para os adultos é preciso explicar que extrair um dente deve ser o último recurso. Ao realizar uma extração, há uma transformação na mordida e traz consequências com impactos nos outros dentes. Outro caso é só procurar o profissional quando sente dor, por causa de uma cárie. É preciso mudar esse comportamento. Por isso, orientamos o tratamento melhor para cada caso”, comenta.
Desde que a criança nasce, é necessário a orientação para a saúde bucal, em especial quando há a primeira erupção, ou seja, quando começa a nascer o primeiro dente. “Mostramos que a limpeza pode ser uma diversão e se tornar um hábito na vida da criança”, conta. A cirurgiã detalha que também encontra casos de vítimas de trauma e violências, que não querem sorrir e se socializar. Já em outras ocorrências as inflamações causam o inchaço do rosto, atingindo outros órgãos, o que impacta a auto-estima. “Tem paciente que chega no consultório chorando. Para evitar aborrecimentos a saúde bucal é fundamental como pontapé inicial para uma vida saudável”, conclui.
A saúde bucal é crucial na manutenção da saúde integral e na qualidade de vida do cidadão. Além da preservação dos dentes, algumas doenças sistêmicas podem ser causadas ou agravadas por problemas com a saúde bucal, como problemas cardíacos e diabetes. O atendimento de saúde bucal ajuda, por exemplo, no diagnóstico precoce de câncer de boca e de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) com manifestações na cavidade oral.
A saúde bucal na Maré
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que a rede de saúde bucal na Maré conta com sete unidades, não havendo falta de profissionais. Já os pacientes do CMS João Cândido, em Marcílio Dias, que não há consultório dentário, há a recomendação que procurem atendimento dessa especialidade no CMS Américo Veloso, também na Maré.
A SMS confirmou que além de procedimentos restauradores, também é ofertado o tratamento preventivo com ações educativas e de promoção à saúde, por meio de atividades nas escolas com o Programa Saúde na Escola (PSE), na própria unidade e com visitas domiciliares. O território da Maré conta com 15 Equipes de saúde bucal composta por 15 cirurgiões dentistas, cinco técnicos de saúde bucal e 15 auxiliares.
Sobre os dados, a secretaria mostrou que até o dia 27 de março deste ano, as equipes da região realizaram 5.700 consultas, 97 atendimentos domiciliares e 526 casos de urgência. Em 2022, foram realizadas 15.820 consultas e mais de 1.900 atendimentos de urgência. Além disso, até o momento, na Maré foram feitas 530 atividades educativas. No ano passado foram mais de 1.280 ações.