Inovação faz parte do Método Wolbachia, conduzido no Brasil pela Fiocruz, e que já tem demonstrado eficácia no combate às arboviroses
Por World Mosquito Program e Fundação Oswaldo Cruz, em 02/02/2021 às 15h
Sabemos que a pandemia do novo coronavírus tomou espaço de todas as manchetes e modificou o cotidiano da população brasileira. Em meio à preocupação e cuidados com a doença desconhecida, esquecemos de outras que são constantes no Brasil, como Dengue, Zica e Chikungunya. Anualmente, milhares de pessoas são contaminadas com uma das três doenças, ambas transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti. Deve-se ficar atento ao período do verão, tendo em vista as altas temperaturas e as chuvas, prato cheio para se desenvolver criadouros de mosquitos.
Nas sete primeiras semanas de 2020, ainda antes do novo coronavírus chegar ao país, foram notificados 181.670 casos de dengue, 5.980 de chikungunya e 579 de Zika no país, segundo Boletim Epidemiológico de fevereiro do Ministério da Saúde. No mesmo período em 2019, o boletim apresentava 54,7 mil casos de dengue, o que significa que de um ano para o outro o número de casos mais que triplicou. Para que não se tenha aumento nos casos de dengue como aconteceu em 2020, é necessário ficar atento a possíveis focos de desenvolvimento do mosquito, mas existe outra forma de se combater as doenças, em especial na Maré.
A partir de fevereiro, moradores da Vila do João e Vila dos Pinheiros, na Maré, Zona Norte do Rio de Janeiro, poderão participar da liberação dos Wolbitos, os mosquitos Aedes aegypti que integram o Método Wolbachia. Semanalmente, moradores dessas duas favelas poderão buscar um kit de liberação de ovos de Aedes aegypti com Wolbachia. Estes mosquitos não são transgênicos e não transmitem doenças. Pelo contrário, eles ajudam a combater as arboviroses. A inovação faz parte do novação do World Mosquito Program (WMP) para o combate a dengue, Zika e chikungunya, e que é implementada no país pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
O Método Wolbachia tem eficácia comprovada, com redução de 77% dos casos de dengue na Indonésia, onde foi conduzido um estudo epidemiológico. No Rio de Janeiro, existem os Wolbitos estão sendo liberados desde 2016 e a expectativa é que até o próximo ano, os resultados epidemiológicos da iniciativa no município já estejam disponíveis. Em Niterói, dados preliminares já apontam a redução de 75% dos casos de chikungunya nas áreas onde os mosquitos com Wolbachia foram liberados.
Wolbitos nComplexo da Maré
No Conjunto de Favelas da Maré, os mosquitos foram liberados em 2018 e já estão em estabelecimento no território. Para reforçar a proteção à comunidade, uma nova rodada de liberações será feita em parceria com a Prefeitura do Rio de Janeiro. A diferença é que, desta vez, serão utilizados ovos de mosquitos para esta ação e a população poderá participar ativamente da iniciativa.
“Em outros países onde o WMP atua, são utilizados ovos de Aedes aegypti com Wolbachia, o que tem demonstrado um bom resultado. Nós, aqui no Brasil, já havíamos utilizado os ovos nas áreas piloto, em Tubiacanga, na Ilha do Governador, e em Jurujuba, Niterói, também com ótimo resultado. A novidade agora é que a população poderá participar da liberação e, ao mesmo tempo, participar de um game com desafios semanais. Quem chegar até o final terá uma premiação surpresa”, destaca o líder do Método Wolbachia no Brasil e pesquisador da Fiocruz, Luciano Moreira.
Os kits com ovos de Wolbito serão distribuídos no período da manhã, às segundas e quartas-feiras, no Centro Municipal de Saúde da Vila do João, e às terças e quintas-feiras na Clínica da Família Adib Jatene, na Vila dos Pinheiros. O kit contém uma cápsula com ovos de mosquitos com Wolbachia, instruções de instalação e brindes para as crianças. Cada família poderá pegar um kit por semana. Quem quiser participar dos desafios semanais terá que fazer um cadastro no Point do Wolbito, área que funciona nas duas unidades de saúde. Para retirar o kit é preciso ser maior de idade.
Com a cápsula de ovos de Wolbito em mãos, o morador vai ser orientado, via WhatsApp, a preparar um recipiente onde deverá colocar água e a cápsula. Duas semanas depois, os mosquitos com Wolbachia já estarão voando e ajudando a proteger a comunidade. “O processo é simples e pode ser feito com alguns recipientes que as pessoas já têm em casa. A equipe do WMP Brasil, junto com as equipes de vigilância em Saúde, da Prefeitura, estarão a postos, nas unidades da Vila do João e da Vila dos Pinheiros, para orientar a população”, reforça Moreira.
Para conhecer mais detalhes sobre o jogo de combate à dengue e a liberação comunitária dos Wolbitos é só acessar @wmpbrasil ou @maredenoticias no Facebook ou Instagram. Esta ação é uma realização do WMP Brasil/Fiocruz, em parceria com o projeto Heróis contra a Dengue, Maré de Notícias e Redes da Maré, e conta com financiamento do Ministério da Saúde, com contrapartida institucional da Fiocruz e, também pela Universidade de Monash, com recursos da Fundação Bill e Melinda Gates.
O que é o Método Wolbachia?
A Wolbachia é um microrganismo intracelular presente em 60% dos insetos da natureza, mas que não estava presente no Aedes aegypti, e foi introduzida por pesquisadores do WMP, iniciativa global sem fins-lucrativos que trabalha para proteger a comunidade global das doenças transmitidas por mosquitos.
Quando presente no Aedes aegypti, a Wolbachia impede que os vírus da dengue, Zika, chikungunya e febre amarela se desenvolvam no inseto, contribuindo para a redução destas doenças. Não existe modificação genética neste processo. O Método Wolbachia consiste na liberação de Aedes aegypti com Wolbachia para que se reproduzam com os Aedes aegypti locais e seja estabelecida uma população destes mosquitos, todos com Wolbachia. Veja a ilustração abaixo.
O Método Wolbachia é complementar às demais atividades de controle das arboviroses realizadas pela prefeitura. A população deve continuar a realizar as ações de combate a dengue, Zika e chikungunya que já realizam em suas casas e estabelecimentos comerciais.